Preparar, discernir e diminuir. Nestes três verbos
está contida a experiência espiritual de São João Batista, aquele que precedeu
a vinda do Messias «pregando o batismo de conversão» ao povo de Israel. E o
Papa Francisco na solenidade da Natividade do Precursor, repropôs este trinómio
como paradigma da vocação de cada cristão, inserindo-o em três expressões
relativas à atitude do Batista em relação a Jesus: «Depois de mim, diante de
mim, longe de mim».
João agiu antes de tudo para «preparar, sem nada tomar
para si». Ele, recordou o Pontífice, «era um homem importante: as pessoas
procuravam-no, seguiam-no», porque as suas palavras «eram fortes» como «espada
afiada», segundo a expressão de Isaías (49,
2). O Batista «alcançava o coração»
das pessoas. E se «porventura teve a tentação de acreditar que era importante,
não caiu nela», como demonstra a resposta que deu aos doutores que lhe
perguntaram se era o Messias: «Sou voz, só voz — disse — de uma pessoa que
grita no deserto. Sou somente voz, mas vim preparar o caminho para o Senhor».
Portanto, a sua primeira tarefa é «preparar o coração do povo para o encontro
com o Senhor».
Mas quem é o Senhor? Na resposta a esta pergunta está
«a segunda vocação de João: discernir, entre muitas pessoas boas, quem é o
Senhor». E «o Espírito — observou o Papa — revelou-lhe isto». De forma que «ele
teve a coragem de dizer: “É este. Este é o cordeiro de Deus, o que tira o
pecado do mundo”». Enquanto «na preparação João dizia: «Depois de mim vem
outro...”, no discernimento, que sabe distinguir e indicar o Senhor, disse:
“Diante de mim... é este”».
Neste ponto, insere-se «a terceira vocação de João:
diminuir». Porque precisamente «a partir daquele momento — recordou o bispo de
Roma — a sua vida começou a abaixar-se, a diminuir para que o Senhor pudesse
crescer, até se aniquilar a si mesmo». Esta foi, observou o Papa Francisco, a
etapa mais difícil de João, porque o Senhor tinha um estilo que ele não
imaginou, a tal ponto que na prisão», onde foi mandado por Herodes Antipas,
«sofreu não só a escuridão da cela mas também a do coração». Foi assaltado pelas
dúvidas: «Mas será este? Terei errado?». A ponto que, recordou o Pontífice,
pediu aos discípulos que fossem ter com Jesus para lhe perguntar: «Mas és tu ou
temos que esperar outro?».
«A humilhação de João — frisou o bispo de Roma — foi
dupla: a humilhação da sua morte, como preço de um capricho», mas também a
humilhação de não poder distinguir «a história de salvação: a humilhação da
escuridão da alma». Este homem que «tinha anunciado o Senhor que vinha atrás de
si», que «o tinha visto diante de si», que «o soube esperar e discernir», agora
«via Jesus distante. A promessa tinha-se afastado. E acabou sozinho, na
escuridão, na humilhação». Não porque amasse o sofrimento, mas «porque se aniquilou
para que o Senhor crescesse». Acabou «humilhado, mas com o coração em paz».
«É bom — afirmou Francisco, concluindo — pensar na
vocação do cristão deste modo». De facto, «um cristão não se anuncia a si
mesmo, anuncia outro, prepara o caminho para outro: para o Senhor». Além disso
«deve saber discernir, saber discernir a verdade do que parece verdade e não é:
homem de discernimento». Por fim «deve ser um homem que saiba abaixar-se para
que o Senhor cresça, no coração e na alma dos outros».
Papa Francisco
(Meditações na Santa Missa celebrada na Capela de Santa Marta, 24 de junho de 2014)
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