SOLENIDADE DE PENTECOSTES - 2025
Eis-nos chegados ao fim do tempo litúrgico da Páscoa. Com a chegada do
Domingo de Pentecostes, termina a Páscoa e inicia-se o tempo da ação de
Espírito Santo. É, por excelência, o tempo da Igreja, da evangelização dos
povos, da proclamação do Amor de Deus no meio dos homens. Jesus não nos
abandonou, tal como prometeu, ficou sempre connosco, agora pelo e no Espírito
Santo, que nos habita, que faz Deus um connosco, no mais íntimo do nosso
coração, mas, ao mesmo tempo, na totalidade do nosso ser e estar. Deixemo-nos
moldar pelo sopro do Espírito de Deus e sejamos testemunhas vivas do Amor de
Deus lá, onde vivemos, nos movemos, ou existimos.
Na 1ªleitura (Atos 2, 1-11) S.Lucas, que coloca este dia a acontecer 50 dias
após a Ressurreição de Jesus, dá-nos conta da transformação dos apóstolos sob a
ação do Espírito Santo e de como, os que os ouviam, os entendiam nos seus
diferentes idiomas. Para o Espírito Santo não há barreiras de qualquer espécie,
nem de idioma! Deixemo-nos, também nós, à semelhança dos primeiros apóstolos,
habitar e transformar pelo Espírito Santo e proclamemos as maravilhas de Deus.
“Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no
mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a
forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então
aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma
sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar
outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam
em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do
céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois
cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados,
diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve
cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes
da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da
Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma,
tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas
nossas línguas as maravilhas de Deus».”
Na
2ªleitura (1 Cor 12, 3b-7.12-13) S. Paulo centra-nos na ação do Espírito Santo e
na unidade da Igreja em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Na verdade há um só Senhor,
um só Espírito, que atua em todos e, como somos diferentes uns dos outros, a
sua ação manifesta-se numa imensa diversidade de dons, que se complementam e
estão ao serviço de uma só Igreja, a de Jesus Cristo. Assim, nos abramos à Sua
ação em cada um de nós!
“Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do
Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é
o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas
operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam
os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos
membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim
também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e
homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só
Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.”
No evangelho (Jo 20, 19-23) S. João
coloca todos os acontecimentos, do tempo pascal, a acontecer no mesmo dia.
Independentemente da localização histórico-espacial, os acontecimentos
trazem-nos a certeza de que Jesus está vivo, presente no meio de nós e de que
nunca nos abandonou, ou abandonará. “Eu ficarei sempre convosco” esta é a
promessa que Jesus fez e na qual podemos pôr toda a nossa confiança. E, com
esta certeza, abramo-nos à ação do Espírito Santo, deixemo-nos habitar por Ele,
hoje e sempre, enquanto vivermos.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da
casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus,
apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto,
mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem
o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me
enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão
perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».”
Estimados irmãos e irmãs, bom
dia!
Hoje, Solenidade de
Pentecostes, o Evangelho leva-nos ao Cenáculo, onde os apóstolos se tinham
refugiado depois da morte de Jesus (Jo 20, 19-23). O Ressuscitado,
na noite de Páscoa, apresenta-se precisamente naquela situação de medo e
angústia e, soprando sobre eles, diz: «Recebei o Espírito Santo» (v. 22).
Assim, com o dom do Espírito, Jesus quer libertar os discípulos do medo, este
medo que os mantém fechados em casa, e liberta-os para que possam sair e
tornar-se testemunhas e anunciadores do Evangelho. Reflitamos um pouco sobre
aquilo que o Espírito faz: liberta do medo.
Os discípulos tinham fechado as
portas, diz o Evangelho, «por temor» (v. 19). A morte de Jesus tinha-os
perturbado, os seus sonhos tinham sido desfeitos, as suas esperanças tinham
desaparecido. E fecharam-se em si mesmos. Não apenas naquela sala, mas dentro,
no coração. Gostaria de sublinhar este facto: fechados dentro.
Quantas vezes também nós nos fechamos em nós mesmos? Quantas vezes, por causa
de uma situação difícil, de um problema pessoal ou familiar, do sofrimento que
nos marca ou por causa do mal que respiramos à nossa volta, caímos lentamente
na perda da esperança e na falta de coragem para continuar? Muitas vezes isto
acontece. E então, como os apóstolos, fechamo-nos dentro, barricando-nos no
labirinto das preocupações.
Irmãos e irmãs, este
“fecharmo-nos dentro” acontece quando, nas situações mais difíceis, deixamos
que o medo se apodere de nós e faça a “levante a voz” dentro de nós. Quando o
medo entra, fechamo-nos. A causa, portanto, é o medo: medo de não ser capaz de
enfrentar, de estar sozinho para enfrentar as batalhas diárias, de correr
riscos e depois ficar desiludido, de fazer escolhas erradas. Irmãos e irmãs, o
medo bloqueia, o medo paralisa. E também isola: pensemos no medo do outro, dos
estrangeiros, dos diferentes, dos que pensam de forma diferente. E pode até
haver medo de Deus: que me castigue, que se ressinta de mim... Se dermos espaço
a estes falsos medos, as portas fecham-se: as do coração, as da sociedade e até
as da Igreja! Onde há medo, há fechamento. E isto não é bom.
Contudo, o Evangelho
oferece-nos o remédio do Ressuscitado: o Espírito Santo. Ele liberta das
prisões do medo. Ao receberem o Espírito - que hoje celebramos - os apóstolos
deixam o cenáculo e saem pelo mundo para perdoar os pecados e anunciar a boa
nova. Graças a Ele, os receios são vencidos e as portas abrem-se. Pois é isto
que o Espírito faz: faz-nos sentir a proximidade de Deus e, assim, o seu amor
afasta o temor, ilumina o caminho, consola, sustenta na adversidade. Diante dos
medos e dos fechamentos, invoquemos então o Espírito Santo para nós, para a
Igreja e para o mundo inteiro: a fim de que um novo Pentecostes afaste os
receios que nos assaltam e reacenda o fogo do amor de Deus.
Maria Santíssima, a primeira a
ser repleta do Espírito Santo, interceda por nós.
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