sábado, 7 de junho de 2025

   SOLENIDADE DE PENTECOSTES - 2025

Eis-nos chegados ao fim do tempo litúrgico da Páscoa. Com a chegada do Domingo de Pentecostes, termina a Páscoa e inicia-se o tempo da ação de Espírito Santo. É, por excelência, o tempo da Igreja, da evangelização dos povos, da proclamação do Amor de Deus no meio dos homens. Jesus não nos abandonou, tal como prometeu, ficou sempre connosco, agora pelo e no Espírito Santo, que nos habita, que faz Deus um connosco, no mais íntimo do nosso coração, mas, ao mesmo tempo, na totalidade do nosso ser e estar. Deixemo-nos moldar pelo sopro do Espírito de Deus e sejamos testemunhas vivas do Amor de Deus lá, onde vivemos, nos movemos, ou existimos.

Na 1ªleitura (Atos 2, 1-11) S.Lucas, que coloca este dia a acontecer 50 dias após a Ressurreição de Jesus, dá-nos conta da transformação dos apóstolos sob a ação do Espírito Santo e de como, os que os ouviam, os entendiam nos seus diferentes idiomas. Para o Espírito Santo não há barreiras de qualquer espécie, nem de idioma! Deixemo-nos, também nós, à semelhança dos primeiros apóstolos, habitar e transformar pelo Espírito Santo e proclamemos as maravilhas de Deus.

“Quando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».” 

Na 2ªleitura (1 Cor 12, 3b-7.12-13) S. Paulo centra-nos na ação do Espírito Santo e na unidade da Igreja em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Na verdade há um só Senhor, um só Espírito, que atua em todos e, como somos diferentes uns dos outros, a sua ação manifesta-se numa imensa diversidade de dons, que se complementam e estão ao serviço de uma só Igreja, a de Jesus Cristo. Assim, nos abramos à Sua ação em cada um de nós!

“Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.”

No evangelho (Jo 20, 19-23) S. João coloca todos os acontecimentos, do tempo pascal, a acontecer no mesmo dia. Independentemente da localização histórico-espacial, os acontecimentos trazem-nos a certeza de que Jesus está vivo, presente no meio de nós e de que nunca nos abandonou, ou abandonará. “Eu ficarei sempre convosco” esta é a promessa que Jesus fez e na qual podemos pôr toda a nossa confiança. E, com esta certeza, abramo-nos à ação do Espírito Santo, deixemo-nos habitar por Ele, hoje e sempre, enquanto vivermos.

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».”

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, Solenidade de Pentecostes, o Evangelho leva-nos ao Cenáculo, onde os apóstolos se tinham refugiado depois da morte de Jesus (Jo 20, 19-23). O Ressuscitado, na noite de Páscoa, apresenta-se precisamente naquela situação de medo e angústia e, soprando sobre eles, diz: «Recebei o Espírito Santo» (v. 22). Assim, com o dom do Espírito, Jesus quer libertar os discípulos do medo, este medo que os mantém fechados em casa, e liberta-os para que possam sair e tornar-se testemunhas e anunciadores do Evangelho. Reflitamos um pouco sobre aquilo que o Espírito faz: liberta do medo

Os discípulos tinham fechado as portas, diz o Evangelho, «por temor» (v. 19). A morte de Jesus tinha-os perturbado, os seus sonhos tinham sido desfeitos, as suas esperanças tinham desaparecido. E fecharam-se em si mesmos. Não apenas naquela sala, mas dentro, no coração. Gostaria de sublinhar este facto: fechados dentro. Quantas vezes também nós nos fechamos em nós mesmos? Quantas vezes, por causa de uma situação difícil, de um problema pessoal ou familiar, do sofrimento que nos marca ou por causa do mal que respiramos à nossa volta, caímos lentamente na perda da esperança e na falta de coragem para continuar? Muitas vezes isto acontece. E então, como os apóstolos, fechamo-nos dentro, barricando-nos no labirinto das preocupações.

Irmãos e irmãs, este “fecharmo-nos dentro” acontece quando, nas situações mais difíceis, deixamos que o medo se apodere de nós e faça a “levante a voz” dentro de nós. Quando o medo entra, fechamo-nos. A causa, portanto, é o medo: medo de não ser capaz de enfrentar, de estar sozinho para enfrentar as batalhas diárias, de correr riscos e depois ficar desiludido, de fazer escolhas erradas. Irmãos e irmãs, o medo bloqueia, o medo paralisa. E também isola: pensemos no medo do outro, dos estrangeiros, dos diferentes, dos que pensam de forma diferente. E pode até haver medo de Deus: que me castigue, que se ressinta de mim... Se dermos espaço a estes falsos medos, as portas fecham-se: as do coração, as da sociedade e até as da Igreja! Onde há medo, há fechamento. E isto não é bom.

Contudo, o Evangelho oferece-nos o remédio do Ressuscitado: o Espírito Santo. Ele liberta das prisões do medo. Ao receberem o Espírito - que hoje celebramos - os apóstolos deixam o cenáculo e saem pelo mundo para perdoar os pecados e anunciar a boa nova. Graças a Ele, os receios são vencidos e as portas abrem-se. Pois é isto que o Espírito faz: faz-nos sentir a proximidade de Deus e, assim, o seu amor afasta o temor, ilumina o caminho, consola, sustenta na adversidade. Diante dos medos e dos fechamentos, invoquemos então o Espírito Santo para nós, para a Igreja e para o mundo inteiro: a fim de que um novo Pentecostes afaste os receios que nos assaltam e reacenda o fogo do amor de Deus. 

Maria Santíssima, a primeira a ser repleta do Espírito Santo, interceda por nós.

Papa Francisco
(Regina Coeli, 28 de maio de 2023)

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