sexta-feira, 27 de junho de 2025

 DOMINGO XIII DO TEMPO COMUM – 2025 – Ano C

Simão, filho de Jonas e irmão de André, foi o primeiro entre os discípulos a confessar que Jesus era Cristo, Filho de Deus vivo, por quem foi chamado Pedro. Paulo, o Apóstolo dos gentios, pregou Cristo crucificado aos judeus e aos gregos. Ambos, na fé e no amor de Jesus Cristo, anunciaram o Evangelho na cidade de Roma e morreram mártires no tempo do imperador Nero: Pedro, segundo a tradição, foi crucificado de cabeça para baixo e sepultado no Vaticano, junto à Via Triunfal; Paulo morreu ao fio da espada e foi sepultado junto à Via Ostiense. O triunfo dos dois Apóstolos é celebrado neste dia, com igual honra e veneração, em todo o orbe da terra.

Na 1ªleitura (Atos 12, 1-11) S.Lucas conta-nos um episódio da vida de S.Pedro que nos mostra como a Igreja nascente, logo de início foi sujeita a perseguições variadas. Por outro lado, percebe-se, neste texto,   a força da unidade dos primeiros cristãos e ainda a importância e a força da oração em Igreja: “Enquanto Pedro era guardado na prisão, a Igreja orava instantemente a Deus por ele.” Por fim, é claro o testemunho de fé que Pedro nos transmite. Que este grande santo seja para nós ajuda no caminhar e inspiração em todos os momentos. S.Pedro, rogai por nós!

Naqueles dias, o rei Herodes começou a perseguir alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, e, vendo que tal procedimento agradava aos judeus, mandou prender também Pedro. Era nos dias dos Ázimos. Mandou-o prender e meter na cadeia, entregando-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um, com a intenção de o fazer comparecer perante o povo, depois das festas da Páscoa. Enquanto Pedro era guardado na prisão, a Igreja orava instantemente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes pensava fazê-lo comparecer, Pedro dormia entre dois soldados, preso a duas correntes, enquanto as sentinelas, à porta, guardavam a prisão. De repente, apareceu o Anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela da cadeia. O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no ombro, e disse-lhe: «Levanta-te depressa». E as correntes caíram-lhe das mãos. Então o Anjo disse-lhe: «Põe o cinto e calça as sandálias». Ele assim fez. Depois acrescentou: «Envolve-te no teu manto e segue-me». Pedro saiu e foi-o seguindo, sem perceber a realidade do que estava a acontecer por meio do Anjo; julgava que era uma visão. Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade, e a porta abriu-se por si mesma diante deles. Saíram, avançando por uma rua, e subitamente o Anjo desapareceu. Então Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei realmente que o Senhor enviou o seu Anjo e me libertou das mãos de Herodes e de toda a expectativa do povo judeu».

Na 2ªleitura (2 Tim 4, 6-8.17-18) é o próprio S.Paulo que nos fala do que foi a sua vida ao serviço de Deus, na transmissão da sua fé em Jesus Ressuscitado. E a forma como o faz é verdadeiramente impressionante, pela clarividência que demonstra e pela força que transmite. Que fé a deste grande santo! Só quem vive verdadeiramente de Deus, no seu dia a dia, pode transpirar amor por Deus, por todos os poros, como faz S.Paulo. Deus seja louvado nos Seus Santos! S.Paulo, rogai por nós.

"Caríssimo:Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juíz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a Sua vinda. O Senhor esteve a meu lado e deu-me a força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todos os pagãos a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no Seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Ámen."

No evangelho (Mt 16, 13-19) S.Mateus coloca-nos num dos momentos mais significativos e marcantes da vida de S.Pedro, mas também na vida de todos os que seguiam Jesus mais de perto, ou seja, os discípulos. Ao mesmo tempo, este texto desafia-nos a abrir o coração, a alma, todo o nosso ser, à ação do Espírito Santo e a confiarmos totalmente em Jesus, como fez Pedro. 

“Naquele tempo, Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe e perguntou aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Jesus respondeu-lhe: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».

S. Pedro, neste , que é o teu dia, por excelência, peço-te que, junto de Jesus, intercedas por todos nós, pela Igreja e por este mundo em que vivemos, para que, inspirados em ti, sejamos verdadeiras testemunhas do amor de Jesus ressuscitado por cada ser vivente, junto daqueles que o Senhor colocou nas nossas vidas. 

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no Evangelho Jesus diz a Simão, um dos Doze: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18). Pedro é um nome que tem vários significados: pode designar rocha, pedra ou simplesmente seixo. E, com efeito, se olharmos para a vida de Pedro, encontraremos um pouco destes três aspetos do seu nome.

Pedro é uma rocha: em muitos momentos é forte e firme, genuíno e generoso. Deixa tudo para seguir Jesus (cf. Lc 5, 11), reconhece-o como Cristo, Filho de Deus vivo (cf. Mt 16, 16), mergulha no mar para ir depressa ao encontro do Ressuscitado (cf. Jo 21, 7). Além disso, com franqueza e coragem, anuncia Jesus no Templo, antes e depois de ser preso e flagelado (cf. At 3, 12-26; 5, 25-42). A tradição fala-nos também da sua firmeza diante do martírio, que teve lugar precisamente aqui (cf. Clemente Romano, Carta aos Coríntios, V, 4).

No entanto, Pedro é também uma pedra: é uma rocha e inclusive uma pedra, adequada para oferecer apoio aos outros: uma pedra que, fundamentada em Cristo, serve de sustentáculo para os seus irmãos na edificação da Igreja (cf. 1 Pd 2, 4-8; Ef 2, 19-22). Também isto encontramos na sua vida: responde ao chamamento de Jesus com André, seu irmão, Tiago e João (cf. Mt 4, 18-22); confirma a disponibilidade dos Apóstolos a seguir o Senhor (cf. Jo 6, 68); cuida de quem sofre (cf. At 3, 6); promove e encoraja o anúncio comum do Evangelho (cf. At 15, 7-11). É “pedra”, é ponto de referência fiável para toda a comunidade.

Pedro é rocha, é pedra e também seixo: a sua pequenez sobressai com frequência. Às vezes não compreende o que Jesus faz (cf. Mc 8, 32-33; Jo 13, 6-9); perante a sua captura, deixa-se dominar pelo medo e nega-o, depois arrepende-se e chora amargamente (cf. Lc 22, 54-62), mas não tem a coragem de estar aos pés da cruz. Esconde-se com os outros no cenáculo, com medo de ser aprisionado (cf. Jo 20, 19). Em Antioquia, tem vergonha de estar com os pagãos convertidos, e Paulo exorta-o à coerência neste ponto (cf. Gl 2, 11-14); por último, segundo a tradição do Quo vadis, procura fugir diante do martírio, mas ao longo do caminho encontra Jesus e readquire a coragem de voltar atrás.

Em Pedro há tudo isto: a força da rocha, a fiabilidade da pedra e a pequenez de um simples seixo. Não é um super-homem: é um homem como nós, como cada um de nós, que na sua imperfeição diz “sim” a Jesus com generosidade. Mas precisamente assim, nele – como em Paulo e em todos os santos – revela-se que é Deus quem nos torna fortes mediante a sua graça, quem nos une através da sua caridade, quem nos perdoa com a sua misericórdia. E é com esta verdadeira humanidade que o Espírito forma a Igreja. Pedro e Paulo eram pessoas autênticas, e nós, hoje mais do que nunca, precisamos de pessoas autênticas.

Agora, olhemos para o nosso íntimo e façamos algumas perguntas a partir da rocha, da pedra e do seixo. A partir da rocha: há em nós ardor, zelo, paixão pelo Senhor e pelo Evangelho, ou é algo que se desintegra com facilidade? E depois, somos pedras, não de tropeço, mas de construção para a Igreja? Trabalhamos pela unidade, interessamo-nos pelos outros, especialmente pelos mais frágeis? Por último, pensando no seixo: estamos conscientes da nossa pequenez? E sobretudo: nas debilidades, confiamo-nos ao Senhor, que realiza grandes coisas com quem é humilde e sincero?

Que Maria, Rainha dos Apóstolos, nos ajude a imitar a força, a generosidade e a humildade dos Santos Pedro e Paulo.

Papa Francisco
(Angelus, 29 de junho de 2023)

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Vaticano: Aquele dedo que indica - Papa Francisco (2016)

Preparar, discernir e diminuir. Nestes três verbos está contida a experiência espiritual de São João Batista, aquele que precedeu a vinda do Messias «pregando o batismo de conversão» ao povo de Israel. E o Papa Francisco na solenidade da Natividade do Precursor, repropôs este trinómio como paradigma da vocação de cada cristão, inserindo-o em três expressões relativas à atitude do Batista em relação a Jesus: «Depois de mim, diante de mim, longe de mim».

João agiu antes de tudo para «preparar, sem nada tomar para si». Ele, recordou o Pontífice, «era um homem importante: as pessoas procuravam-no, seguiam-no», porque as suas palavras «eram fortes» como «espada afiada», segundo a expressão de Isaías (49, 2). O Batista «alcançava o coração» das pessoas. E se «porventura teve a tentação de acreditar que era importante, não caiu nela», como demonstra a resposta que deu aos doutores que lhe perguntaram se era o Messias: «Sou voz, só voz — disse — de uma pessoa que grita no deserto. Sou somente voz, mas vim preparar o caminho para o Senhor». Portanto, a sua primeira tarefa é «preparar o coração do povo para o encontro com o Senhor».

Mas quem é o Senhor? Na resposta a esta pergunta está «a segunda vocação de João: discernir, entre muitas pessoas boas, quem é o Senhor». E «o Espírito — observou o Papa — revelou-lhe isto». De forma que «ele teve a coragem de dizer: “É este. Este é o cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo”». Enquanto «na preparação João dizia: «Depois de mim vem outro...”, no discernimento, que sabe distinguir e indicar o Senhor, disse: “Diante de mim... é este”».

Neste ponto, insere-se «a terceira vocação de João: diminuir». Porque precisamente «a partir daquele momento — recordou o bispo de Roma — a sua vida começou a abaixar-se, a diminuir para que o Senhor pudesse crescer, até se aniquilar a si mesmo». Esta foi, observou o Papa Francisco, a etapa mais difícil de João, porque o Senhor tinha um estilo que ele não imaginou, a tal ponto que na prisão», onde foi mandado por Herodes Antipas, «sofreu não só a escuridão da cela mas também a do coração». Foi assaltado pelas dúvidas: «Mas será este? Terei errado?». A ponto que, recordou o Pontífice, pediu aos discípulos que fossem ter com Jesus para lhe perguntar: «Mas és tu ou temos que esperar outro?».

«A humilhação de João — frisou o bispo de Roma — foi dupla: a humilhação da sua morte, como preço de um capricho», mas também a humilhação de não poder distinguir «a história de salvação: a humilhação da escuridão da alma». Este homem que «tinha anunciado o Senhor que vinha atrás de si», que «o tinha visto diante de si», que «o soube esperar e discernir», agora «via Jesus distante. A promessa tinha-se afastado. E acabou sozinho, na escuridão, na humilhação». Não porque amasse o sofrimento, mas «porque se aniquilou para que o Senhor crescesse». Acabou «humilhado, mas com o coração em paz».

«É bom — afirmou Francisco, concluindo — pensar na vocação do cristão deste modo». De facto, «um cristão não se anuncia a si mesmo, anuncia outro, prepara o caminho para outro: para o Senhor». Além disso «deve saber discernir, saber discernir a verdade do que parece verdade e não é: homem de discernimento». Por fim «deve ser um homem que saiba abaixar-se para que o Senhor cresça, no coração e na alma dos outros».

Papa Francisco

(Meditações na Santa Missa celebrada na Capela de Santa Marta, 24 de junho de 2014)

sábado, 21 de junho de 2025

  DOMINGO XII DO TEMPO COMUM – 2025 – Ano C

Hoje, as leitura levam-nos a questionarmo-nos sobre a nossa relação com Jesus. Afinal, quem é Jesus para mim, para ti? Ao responder sinceramente a  esta pergunta, direta e pessoal, encontraremos, cada um de nós, a qualidade, a profundidade da nossa fé. Deixemos que Jesus fixe em nós o Seu olhar de amor misericordioso e demos-Lhe a nossa resposta.

Na 1ªleitura (Zac 12, 10-11; 13, 1) o profeta anuncia a libertação e renovação de Jerusalém, mas a que preço! O seu Coração aberto tornou-se nascente de amor, a jorrar sobre todos os que para Ele olharmos com fé e confiança, purificando-nos dos nossos pecados. 

“Eis o que diz o Senhor: «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram, lamentar-se-ão como se lamenta um filho único, chorarão como se chora o primogénito. Naquele dia, haverá grande pranto em Jerusalém, como houve em Hadad-Rimon, na planície de Megido. Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».”

Na 2ªleitura (Gal 3, 26-29) é S.Paulo quem nos garante que somos herdeiros de Abraão, nosso  pai na fé e, por isso mesmo, herdeiros das promessas que Deus lhe fez. Mais do que isso, todos nós, pelo batismo, fomos revestidos de Cristo, logo n’Ele tornámo-nos filhos de Deus, objeto do Seu Amor infinito. Entreguemo-nos de coração, deixemo-nos amar por Ele.

“Irmãos: Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes batizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.” 

No evangelho (Lc 9, 18-24) é o próprio Jesus quem nos coloca a questão: - E, vós, quem dizeis que eu sou? À semelhança de Pedro abramo-nos à ação do Espírito Santo e deixemo-nos encontrar por Jesus. Abramos o nosso coração ao Messias, ao Filho de Deus feito homem, que nos habita, por inteiro. É Ele, o Amor, que move montanhas e nos faz elos de transmissão do Amor de Deus, aí, no lugar , no tempo em que nos movemos e existimos, junto de quem connosco partilha a vida. Sejamos instrumentos ao serviço de Deus Amor. 

“Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia». Depois, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».”

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No trecho evangélico de hoje, reapresenta-se a pergunta que atravessa todo o Evangelho(...): quem é Jesus? Mas desta vez é o próprio Jesus que a faz aos discípulos, ajudando-os gradualmente a enfrentar a questão da identidade. Antes de interpelar diretamente os Doze, Jesus quer ouvir deles o que pensam as pessoas sobre Ele — e sabe bem que os discípulos são muito sensíveis à popularidade do Mestre! Portanto, pergunta: «Quem dizem os homens que eu sou?». Sobressai que Jesus é considerado pelo povo um grande profeta. Mas, na realidade, não lhe interessam as sondagens e as bisbilhotices do povo. Ele não aceita sequer que os seus discípulos respondam às suas perguntas com fórmulas já preparadas, citando personagens famosos da Sagrada Escritura, porque uma fé que se reduz às fórmulas é uma fé míope.

O Senhor quer que os seus discípulos de ontem e de hoje estabeleçam com Ele uma relação pessoal, e assim o acolham no centro da sua vida. Por esta razão, incentiva-os a colocar-se em toda a verdade diante de si mesmos, e pergunta: «E vós, quem dizeis que eu sou?». Jesus, hoje, faz este pedido tão direto e confidencial a cada um de nós: “Tu, quem dizes que eu sou? Vós, quem dizeis que eu sou? Quem sou eu para ti?”. Cada um é chamado a responder, no próprio coração, deixando-se iluminar pela luz que o Pai nos dá a fim de conhecer o seu Filho Jesus. E pode acontecer também que nós, assim como Pedro, afirmemos com entusiasmo: «Tu és o Cristo». Contudo, quando Jesus nos comunica claramente o que disse aos discípulos, ou seja, que a sua missão se cumpre não no amplo caminho do sucesso, mas na senda árdua do Servo sofredor, humilhado, rejeitado e crucificado, então pode acontecer também a nós como a Pedro, protestar e rebelar-nos porque isto contrasta com as nossas expetativas, com as expetativas mundanas. (...)

Irmãos e irmãs, a profissão de fé em Jesus Cristo não pode limitar-se às palavras, mas exige ser autenticada com escolhas e gestos concretos, com uma vida caraterizada pelo amor de Deus, com uma vida grande, com uma vida cheia de amor pelo próximo.

Jesus diz-nos que para o seguir, para sermos seus discípulos, é preciso renegar-se a si mesmos, isto é, renegar as pretensões do próprio orgulho egoísta, e carregar a própria cruz. Depois dá a todos uma regra fundamental. E qual é esta regra? «Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á». Muitas vezes na vida, por vários motivos, erramos o caminho, procurando a felicidade só nas coisas ou nas pessoas que tratamos como coisas. Mas a felicidade encontramo-la somente quando o amor, aquele verdadeiro, nos encontra, nos surpreende, nos muda. O amor transforma tudo! E o amor pode mudar-nos também a nós, a cada um de nós. Demonstram-no os testemunhos dos santos.

A Virgem Maria, que viveu a sua fé seguindo fielmente o seu Filho Jesus, nos ajude também a caminhar pela sua estrada, dedicando generosamente a nossa vida a Ele e aos irmãos.

Papa Francisco
(Angelus, 16 de setembro de 2018)

quarta-feira, 18 de junho de 2025

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO - 2025

Hoje é dia de festa "maior" na Igreja, pois festejamos o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Eucaristia é o milagre do Amor de Deus, em que Jesus se torna verdadeiramente presente no pão e no vinho oferecidos e colocados no altar sagrado, quando sobre eles o sacerdote invoca do Pai o Espírito Santo. É Jesus, o Filho de Deus, que nos diz: sou Eu que estou aqui, vivo, ressuscitado, no meio de vós, neste vinho e neste pão partido que se reparte e chega a todos os que, de coração sincero, me querem receber e assim estarei sempre convosco até ao fim dos tempos. Nunca compreenderemos o mistério de Deus, mas percebemos muito bem que Deus nos ama infinitamente. A Eucaristia é a prova desse Amor inesgotável pela nossa humanidade e poder participar nela é uma graça sem fim.

Na 1ª leitura (Gen 14, 18-20) acompanhamos o sacerdote Melquisedec que sai ao encontro de Abraão e dos seus homens, louvando a Deus e abençoando-os. Oferece-lhes então pão e vinho como alimento. 

"Naqueles dias, Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho. Era sacerdote do Deus Altíssimo e abençoou Abraão, dizendo: «Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra. Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou nas tuas mãos os teus inimigos». E Abraão deu-lhe a dízima de tudo."

Na 2ª leitura (1 Cor 11, 23-26) S. Paulo coloca-nos na Última Ceia, na instituição da Eucaristia. Deixemo-nos alimentar por Jesus.

"Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha."

No evangelho (Lc 9,11b-17)  a multiplicação dos pães aparece-nos como um sinal da Eucaristia, que se parte, e reparte, de modo a fazer chegar o Amor de Deus a todos os homens dos vários tempos e lugares. A Eucaristia é o alimento que Jesus deixou a todos os que O quiserem receber de coração sincero.

“Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam. O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto». Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer». Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes... Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo». Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta». Assim fizeram e todos se sentaram. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.

 SEQUÊNCIA

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Celebramos hoje a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. A Eucaristia, instituída na Última Ceia, foi como o ponto de chegada de um percurso, ao longo do qual Jesus o tinha prefigurado através de certos sinais, especialmente a multiplicação dos pães, narrada no Evangelho da Liturgia de hoje (cf. Lc 9, 11b-17). Jesus cuida da grande multidão que o seguiu para ouvir a sua palavra e ser libertada de vários males. Ele abençoa cinco pães e dois peixes, parte-os, os discípulos distribuem, e «todos comeram e ficaram saciados» (Lc 9, 17), diz o Evangelho. Na Eucaristia, todos podem experimentar este cuidado amoroso e concreto do Senhor. Quem recebe o Corpo e Sangue de Cristo na fé não só come, mas fica saciadoComer e ficar saciado: são duas necessidades fundamentais, que na Eucaristia são satisfeitas.

Comer. «Todos comeram», escreve São Lucas. No início da noite, os discípulos aconselham Jesus a dispensar a multidão para que possam ir à procura de comida. Mas o Mestre quer providenciar também isto: para aqueles que o ouviram, quer dar-lhes também de comer. O milagre dos pães e dos peixes não se realiza de forma espetacular, mas quase reservada, como nas bodas de Caná: o pão aumenta à medida que passa de mão em mão. E enquanto come, a multidão apercebe-se de que Jesus cuida de tudo. Este é o Senhor presente na Eucaristia: Ele chama-nos a ser cidadãos do Céu, mas, entretanto, Ele considera o caminho que temos de fazer aqui na terra. Se tenho pouco pão na bolsa, Ele sabe e preocupa-se.

Por vezes existe o risco de confinar a Eucaristia a uma dimensão vaga e distante, talvez brilhante e perfumada com incenso, mas longe das veredas da vida diária. Na realidade, o Senhor preocupa-se com todas as nossas necessidades, começando pelas mais básicas. E quer dar o exemplo aos discípulos, dizendo: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (v. 13), às pessoas que o escutaram durante o dia. A nossa adoração eucarística encontra a sua verificação quando cuidamos do próximo, como faz Jesus: à nossa volta há fome de comida, mas também de companhia, há fome de consolação, de amizade, de bom ânimo, há fome de atenção, há fome de ser evangelizado. Encontramos isto no Pão eucarístico: a atenção de Cristo às nossas necessidades, e o convite a fazer o mesmo àqueles que nos rodeiam. É preciso comer e dar de comer.

Contudo, além de comer, não deve faltar o ficar saciado. A multidão saciou-se com a abundância de comida, e também com a alegria e a admiração de a receber de Jesus! Precisamos certamente de ser alimentados, mas também de ser saciados, ou seja, de saber que a alimentação nos é dada por amor. No Corpo e Sangue de Cristo encontramos a sua presença, a sua vida doada por cada um de nós. Ele não nos dá apenas a ajuda para continuar, mas dá-se a si mesmo: faz-se nosso companheiro de viagem, entra nas nossas vicissitudes, visita as nossas solidões, restituindo significado e entusiasmo. Isto sacia-nos, quando o Senhor dá sentido à nossa vida, à nossa obscuridade, às nossas dúvidas, mas Ele vê o sentido e este sentido que o Senhor nos dá sacia-nos, dá-nos aquele “mais” que todos procuramos: isto é, a presença do Senhor! Porque no calor da Sua presença a nossa vida muda: sem Ele seria verdadeiramente cinzenta. Enquanto adoramos o Corpo e Sangue de Cristo, peçamos-Lhe de coração: “Senhor, dai-me o pão de cada dia para ir em frente, Senhor, saciai-me com a vossa presença!”.

A Virgem Maria nos ensine a adorar o Jesus vivo na Eucaristia e a partilhá-lo com os nossos irmãos e irmãs.

Papa Francisco
(Angelus, 19 de junho de 2022)

sábado, 14 de junho de 2025

A Igreja, no dia de hoje,  celebra, mais festivamente, a festa do AMOR. Solenemente festeja Deus na sua totalidade e individualidade, Deus todo, que na totalidade da Sua Pessoa Se dá a cada um de nós e ao mundo inteiro.

A Santíssima Trindade é o Mistério de um só Deus em três pessoas. É como uma comunidade de amor vivida pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. Deus, como nos ensina S.João, é Amor. E o Amor é, ao mesmo tempo três e um:

-aquele que ama;

-aquele que é amado;

-o amor entre os dois.

Ao "Amor amante", chamamos Pai, ao "Amor amado" chamamos Filho e ao "Amor que circula entre os dois" e os abre para o mundo e para a humanidade chamamos Espírito Santo.

Na 1ªleitura (Prov 8, 22-31) o autor sagrado convida-nos  a escutar a Sabedoria de Deus, que se delicia em estar com os filhos dos homens. 

“Eis o que diz a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua atividade, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio, antes das origens da terra. Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas, já eu tinha sido concebida. Antes de se implantarem as montanhas e as colinas, já eu tinha nascido; ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos, nem os primeiros elementos do mundo. Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente; quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte, quando condensava as nuvens nas alturas, quando fortalecia as fontes dos abismos, quando impunha ao mar os seus limites para que as águas não ultrapassassem o seu termo, quando lançava os fundamentos da terra, eu estava a seu lado como arquiteto, cheia de júbilo, dia após dia, deleitando-me continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».”

Na 2ªleitura (Rom 5, 1-5) S.Paulo projeta-nos para a vida em comunidade e para a forma como o amor de Deus, derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, há de ser, o que dá sentido às nossas vidas, e, ao mesmo tempo, transforma as nossas relações com todos aqueles que o Senhor colocou nos nossos caminhos. 

“Irmãos: Tendo sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Mais ainda, gloriamo-nos nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”

No evangelho (Jo 16, 12-15)  Jesus insere-nos na dinâmica trinitária de Deus Amor. Diz-nos que  se nos deixarmos habitar por Ele e pelo Pai, o Amor virá a nós, habitar-nos-á, e o Espírito Santo guiar-nos-á para a verdade plena. 

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».” 

Neste momento Senhor entrego-te todos aqueles que te desconhecem assim, Amor infinito, por cada ser criado, mas que te procuram de coração sincero, para que Te encontrem, a Ti, se abram e descansem as suas cabeças no teu peito, no teu coração. Nestes  tempos  de hoje, que são os nossos, as dificuldades são tantas que, sem Ti, a vida parece um beco sem saída. Mas, é também nestes dias, que é bom escutarmos-Te e deixarmo-nos repassar, na totalidade do nosso ser, até ao mais recôndito de nós mesmos, por Ti, Amor Uno e Trino. Quando os nossos corações se abrirem, na totalidade, a este Amor assim, então seremos nestes dias, em que vivemos, verdadeiras testemunhas do Amor, porque é Ele que se dá e comunica através de todo aquele que n'Ele acredita realmente.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia e bom domingo!

Hoje é a solenidade da Santíssima Trindade, e no Evangelho da celebração Jesus apresenta-nos as outras duas Pessoas divinas, o Pai e o Espírito Santo. Do Espírito diz: «não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á». E depois, a propósito do Pai, diz: «Tudo o que o Pai possui é meu» (Jo 16, 14-15). Notamos que o Espírito Santo fala, mas não de si mesmo: anuncia Jesus e revela o Pai. E notamos também que o Pai, que possui tudo, porque é a origem de todas as coisas, dá ao Filho tudo o que possui: não reserva nada para si, doa-se inteiramente ao Filho. Ou seja, o Espírito Santo não fala de si mesmo, fala de Jesus, fala de outros. E o Pai, ele não se doa a si mesmo, doa o Filho. É a generosidade aberta, um aberto ao outro.

E agora olhemos para nós, para aquilo de que falamos e para aquilo que possuímos. Quando falamos, queremos sempre que se digam coisas boas sobre nós, e muitas vezes só falamos de nós mesmos e do que fazemos. Quantas vezes! “Fiz isto, aquilo…”, “Tinha este problema...”.  Fala-se sempre assim. Quanta diferença do Espírito Santo, que fala anunciando os outros, e o Pai anuncia o Filho! E, sobre o que possuímos, como somos invejosos, e como é difícil para nós partilhá-lo com outros, inclusive com aqueles que não têm o necessário! Com palavras é fácil, mas na prática é muito difícil.

É por isso que celebrar a Santíssima Trindade não é tanto um exercício teológico, mas uma revolução no nosso modo de viver. Deus, no qual cada Pessoa vive para a outra em relação contínua, não para si mesmo, provoca-nos a viver com os outros e para os outros. Abertos. Hoje podemos perguntar-nos se a nossa vida reflete o Deus no qual acreditamos: eu, que professo fé em Deus Pai e Filho e Espírito Santo, acredito realmente que para viver preciso dos outros, preciso de me entregar aos outros, preciso de servir os outros? Afirmo isto com palavras ou afirmo-o com a minha vida?

O Deus trino e único, queridos irmãos e irmãs, deve ser mostrado assim, com atos antes das palavras. Deus, que é o autor da vida, é transmitido menos através dos livros e mais através do testemunho da vida. Aquele que, como escreve o evangelista João, «é amor» (1 Jo 4, 16), revela-se através do amor. Pensemos nas pessoas boas, generosas e mansas que conhecemos: recordando a sua maneira de pensar e de agir, podemos ter um pequeno reflexo de Deus-Amor. E o que significa amar? Não só querer o bem e fazer o bem, mas antes de mais, pela raiz, acolher, estar aberto aos outros, dar espaço aos outros. Isto significa amar, pela raiz.

Para melhor o compreender, pensemos nos nomes das Pessoas divinas, que pronunciamos cada vez que fazemos o sinal da cruz: em cada nome há a presença do outro. O Pai, por exemplo, não o seria sem o Filho; do mesmo modo o Filho não pode ser pensado sozinho, mas sempre como Filho do Pai. E o Espírito Santo, por sua vez, é o Espírito do Pai e do Filho. Em suma, a Trindade ensina-nos que um nunca pode ficar sem o outro. Não somos ilhas, estamos no mundo para viver à imagem de Deus: abertos, necessitados de outros e necessitados de ajudar os outros. Então, coloquemo-nos esta última pergunta: na vida quotidiana, também eu sou um reflexo da Trindade? O sinal da cruz que faço todos os dias – Pai, Filho e Espírito Santo – aquele sinal da cruz que fazemos todos os dias, permanece simplesmente um gesto, ou inspira a minha maneira de falar, de encontrar, de responder, de julgar, de perdoar?

Que Nossa Senhora, filha do Pai, mãe do Filho e esposa do Espírito, nos ajude a acolher e testemunhar na vida o mistério de Deus-Amor.

Papa Francisco
(Angelus, 12 de junho de 2022)