quinta-feira, 31 de outubro de 2024

 SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

A comunhão dos santos ocupa um lugar muito importante na liturgia da Igreja. Já desde o século V que se faz a memória dos santos na oração eucarística e, ao longo do ano, em todas as paróquias se fazem festas aos patronos, ou se celebra a memória de santos particularmente ligados à devoção de cada comunidade.

       Contudo, ao longo dos tempos, numerosas pessoas simples e humildes deixaram, àqueles que viveram à sua volta, o testemunho autêntico e admirável da santidade. É justo celebrá-los ao lado daqueles que estão inscritos na lista das canonizações.

       A liturgia celebra o Deus três vezes santo rodeado de todos os eleitos santificados pela sua graça. Cada um não reflete senão uma parte ínfima da santidade infinita de Deus. A adoração de Deus é o centro da celebração de todos os santos e a solenidade faz-nos tomar consciência da multidão de todos os resgatados que nos precederam e do mundo invisível que nos espera. Por solidariedade, eles intercedem por nós.

       A Vida dos santos tem um valor pedagógico, ela encaminha-nos para Cristo. Os santos são o evangelho encarnado. O mistério da Igreja é a comunhão fraterna que existe entre os vivos e os mortos através da oração e dos sacramentos. Nós formamos um só corpo do qual Cristo é a cabeça. Que a intercessão e o exemplo dos santos nos ajudem a libertar o santo que se esconde em nós como um bloco de mármore, ainda não esculpido, que o amor de Deus quer cinzelar para que apareça a sua imagem.

       Celebramos a Solenidade de Todos os Santos (...) revisitando os artigos do Credo que nos pede que reafirmemos que acreditamos na ressurreição da carne e na vida que há de vir. Por isso, o mesmo Concílio afirma na Constituição Lumem Gentium:

“Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho” (LG 11).

       Ou seja, o Vaticano II lembra que a santidade é um caminho acessível a todos (é um direito) e, mais adiante, afirma que desde o batismo todos somos chamados (é um dever) à santidade:

“A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefetivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito o único Santo, amou a Igreja como esposa, entregou-se por ela, para a santificar (cf. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si como seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para Glória de Deus. Por isso, todos na Igreja são chamados à santidade (LG 39).

       A Solenidade de todos os Santos é inseparável da comemoração dos defuntos. A primeira celebração é vivida na alegria; a segunda está mais ligada à recordação daqueles que amamos. Não devemos nunca esquecer que o céu eternizará todos os atos de amor e de serviço que os homens cumpriram neste mundo. Sempre que os homens se convertem e fazem obras de justiça, de liberdade e de respeito pelos outros, o Reino de Deus deixa-se já ver e antecipa a pátria eterna para onde todos caminhamos.

Pe.João Carlos
(in site "Caritas in Veritate")

Na 1ª leitura (Ap 7,2-4.9-14) a visão dos que passaram pela grande tribulação e lavaram as túnicas no sangue do Cordeiro e dos 144 mil que foram marcados na fronte, desperta em nós a coragem de atravessar a vida dando o melhor de nós mesmos como pessoas de fé, porque na casa do Pai há mesmo lugar para nós.

www.aliturgia.com

"Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro»."

Na 2ª leitura (1Jo 3,1-3)  S. João desperta em nós um sentimento de gratidão e louvor a Deus, pelas maravilhas inimagináveis que opera nos homens de ontem, de hoje e de sempre. 

"Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro." 

No Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus apresenta uma proposta de Santidade: as bem-aventuranças. Que o Senhor nos ajude e o Espírito Santo nos ilumine para as vivermos, no dia a dia da vida, pois só  este caminho nos conduz à santidade. 

"Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa»."

Bendito e louvado sejas Senhor, hoje e sempre, pelo Teu Amor por cada um de nós e por toda a humanidade.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje celebramos Todos os Santos e na Liturgia ressoa a mensagem “programática” de Jesus, nomeadamente as Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 1-12a). Mostram-nos o caminho que conduz ao Reino de Deus e à felicidade: o caminho da humildade, da compaixão, da mansidão, da justiça e da paz. Ser santo significa caminhar por esta estrada. Concentremo-nos agora em dois aspetos deste estilo de vida. Dois aspetos que são próprios deste estilo de vida de santidade: alegria e profecia.

A alegria. Jesus começa com a palavra «bem-aventurados» (Mt 5, 3). É o anúncio principal, o anúncio de uma felicidade sem precedentes. A bem-aventurança, a santidade não é um programa de vida feito apenas de esforços e renúncias, mas é sobretudo a alegre descoberta de ser filhos amadas por Deus. E isto enche-nos de alegria. Não é uma conquista humana, é um dom que recebemos: somos santos porque Deus, que é o Santo, vem habitar na nossa vida. É Ele quem nos dá a santidade. Por isto somos bem-aventurados! A alegria do cristão, portanto, não é a emoção de um instante ou um simples otimismo humano, mas a certeza de poder enfrentar todas as situações sob o olhar amoroso de Deus, com a coragem e a força que vem d’Ele. Os santos, mesmo no meio de muitas tribulações, experimentaram esta alegria e deram testemunho dela. Sem alegria, a fé torna-se um exercício rigoroso e opressivo, e corre o risco de adoecer de tristeza. Consideremos estas palavras: adoecer de tristeza. Um Padre do deserto disse que a tristeza é um «verme do coração», que corrói a vida (cf. EVAGRIO PONTICO, Os oito espíritos da maldade, XI). Questionemo-nos sobre isto: somos cristãos alegres? Sou ou não um cristão alegre? Difundimos alegria ou somos pessoas sombrias, tristes e com cara de funeral? Lembremo-nos que não há santidade sem alegria!

O segundo aspeto: a profecia. As bem-aventuranças são dirigidas aos pobres, aos aflitos, a quantos têm fome de justiça. É uma mensagem contracorrente. Na verdade, o mundo diz que para ser feliz é preciso ser rico, poderoso, sempre jovem e forte, gozar de fama e sucesso. Jesus inverte estes critérios e faz um anúncio profético - e esta é a dimensão profética da santidade -: a verdadeira plenitude de vida é alcançada seguindo Jesus, praticando a sua Palavra. E isto significa outra pobreza, ou seja, ser pobre dentro, esvaziar-se a si próprio para dar lugar a Deus. Quem se considera rico, bem-sucedido e seguro, baseia tudo em si próprio e fecha-se a Deus e aos irmãos, enquanto aqueles que sabem que são pobres e não são auto- suficientes permanecem abertos a Deus e ao próximo. E encontram a alegria. As bem-aventuranças, então, são a profecia de uma nova humanidade, de uma nova forma de viver: fazer-se pequeno e confiar-se a Deus, em vez de emergir sobre os outros; ser manso, em vez de procurar impor-se; praticar a misericórdia, em vez de pensar apenas em si próprio; comprometer-se com a justiça e a paz, em vez de alimentar, até com conivência, injustiça e desigualdade. A santidade é acolher e pôr em prática, com a ajuda de Deus, esta profecia que revoluciona o mundo. Então podemos perguntar-nos: testemunho a profecia de Jesus? Expresso o espírito profético que recebi no Batismo? Ou será que me conformo com o conforto da vida e com a minha preguiça, pensando que tudo corre bem se estiver bem para mim? Levo ao mundo a novidade jubilosa da profecia de Jesus ou as queixas habituais por aquilo que não me agrada? Perguntas que nos fará bem fazer a nós próprios.

Que a Santa Virgem nos dê algo da sua alma, aquela alma abençoada que alegremente engrandeceu o Senhor, que “derruba os poderosos dos tronos e eleva os humildes” (cf. Lc 1, 52).

Papa Francisco
(Angelus, 1 de novembro de 2021)

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