XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM
As leituras de
hoje centram-nos no Amor maior de Jesus por cada ser vivente, por cada um de
nós. Jesus numa comunhão de Amor total ao Pai, todo se dá, numa entrega sem
limites, o Inocente dá a Sua vida pelos pecadores, para nos resgatar para Deus.
Como Deus nos ama! Bendito e louvado sejais hoje e sempre, pelos séculos sem
fim.
Na 1ªleitura (Is 53, 10-11) Isaías projeta-nos para Jesus, o servo sofredor,
que dá a vida por nós, os pecadores e, inocente, toma sobre Si as nossas
iniquidades. Seguros, neste amor infinito, vale a pena entrar na aventura de
procurar Deus, de O buscar continuamente, no dia a dia da vida, de n’Ele nos
deixarmos amar até ao mais profundo do nosso ser.
“Aprouve ao
Senhor esmagar o seu servo pelo sofrimento. Mas, se oferecer a sua vida como
sacrifício de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias, e
a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz
e ficará saciado na sua sabedoria. O justo, meu servo, justificará a muitos e
tomará sobre si as suas iniquidades.”
Na
2ªleitura (Hebr 4,
14-16) S.Paulo encaminha-nos também, como Isaías, para a entrega
de Jesus na Cruz, por nosso amor. Com tal intercessor, junto de Deus, a nosso
favor, porque ainda continuamos com tanta dificuldade em descansar totalmente
n’Ele, no Seu Amor infinito por cada um de nós? Entreguemo-nos de coração a
Jesus e deixemo-nos “empapar” no Seu Amor. Que Ele nos habite sempre e assim
chegue, também através de nós, a todos os que O procuram de coração
sincero.
“Irmãos: Tendo
nós um sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos
firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote
incapaz de se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi
provado em tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado. Vamos, portanto, cheios
de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a
graça de um auxílio oportuno.”
O Evangelho de
hoje (Mc 10,
35-45) situa-nos no dia a dia da vida, naquilo a que damos
mais valor, nos objetivos que traçamos, no que nos faz correr todos os dias. De
uma maneira geral, todos gostamos do reconhecimento em relação às atividades
que desenvolvemos, de ser considerados, … E, no meio de tudo isto, Jesus faz o
anúncio da Sua Paixão. À sede de proeminência, Jesus contrapõe o Amor sem
limites, o serviço, a entrega. Deixemo-nos repassar por Ele e sejamos
testemunhas do Seu Amor, sem fim, por cada um de nós e por toda a humanidade.
“Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir». Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda». Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o batismo com que Eu vou ser batizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis batizados com o batismo com que Eu vou ser batizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado». Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».”
Senhor
ensina-me a amar, ou melhor, ama em mim aqueles que pões no meu caminho e todos
os outros para quem devo ser tua testemunha.
O Evangelho da liturgia de hoje
(Mc 10, 35-45)
narra-nos que dois discípulos, Tiago e João, pedem ao Senhor que um dia se
possam sentar com Ele na glória, como se fossem “primeiros-ministros”, ou algo do
género. Mas os outros discípulos ouvem-nos e ficam indignados. Neste ponto,
Jesus oferece-lhes pacientemente um grande ensinamento: a verdadeira glória não
se obtém elevando-se acima dos outros, mas vivendo o mesmo batismo que Ele
receberá pouco depois em Jerusalém, ou seja, a cruz. O que significa isto? A
palavra “batismo” significa “imersão”: com a sua Paixão, Jesus imergiu-se na
morte, oferecendo a sua vida para nos salvar. Portanto, a sua glória, a glória
de Deus, é amor que se torna serviço, não poder com ambições de domínio. Não
poder com ambições de domínio, não! É o amor que se faz serviço. Por isso Jesus
conclui dizendo aos seus e também a nós: «Quem quiser ser grande entre vós
faça-se vosso servo» (Mc 10,
43).
Para vos tornar grandes, devereis percorrer o caminho do serviço, servir os
outros.
Estamos diante de duas lógicas
diferentes: os discípulos querem emergir e Jesus quer imergir-se.
Reflitamos sobre estes dois verbos. O primeiro é emergir. Exprime
aquela mentalidade mundana a que somos sempre tentados: viver todas as coisas,
até as relações, para alimentar a nossa ambição, escalar os degraus do sucesso,
para alcançar posições importantes. A busca do prestígio pessoal pode tornar-se
uma doença do espírito, também disfarçada de boas intenções; por
exemplo, quando por detrás do bem que fazemos e pregamos, na verdade procuramos
apenas nós mesmos e a nossa afirmação, ou seja, chegar à frente, subir... E
vemos isto também na Igreja. Quantas vezes nós cristãos, que deveríamos ser os
servos, procuramos subir, para chegar à frente. Portanto, precisamos sempre de
verificar as verdadeiras intenções do coração, de nos perguntarmos: “Por que
realizo este trabalho, esta responsabilidade? Para oferecer um serviço ou para
ser notado, elogiado e enaltecido?”. A esta lógica mundana, Jesus
contrapõe a sua: em vez de se elevar acima dos outros, desce do pedestal para
os servir; em vez de se destacar acima dos outros, imerge-se na vida dos
demais. Vi no no programa “À Sua Imagem” [programa televisivo da Rai, ndr]
aquela reportagem da Cáritas para que não falte comida a ninguém: preocupar-se
com a fome dos outros, preocupar-se com as necessidades dos outros. Há hoje
muitas, muitas pessoas carenciadas, e depois da pandemia ainda mais. Olhar e
abaixar-se no serviço, e não procurar escalar para a própria glória.
Eis então o segundo verbo: imergir-se.
Jesus pede-nos para nos imergirmos. E de que modo? Com compaixão, na vida de
quantos encontramos. Ali [naquela reportagem da Cáritas] víamos a fome: e nós,
pensamos com compaixão na fome de tantas pessoas? Quando estamos diante da
refeição, que é uma graça de Deus e que podemos comer,...há muitas pessoas que
trabalham e não conseguem ter uma refeição suficiente durante todo o mês. Será
que pensamos nisto? Imergir-se com compaixão, ter compaixão. Não é um dado de
enciclopédia: há tantos famintos... Não! São pessoas. E eu tenho compaixão
pelas pessoas? Compaixão da vida daqueles que encontramos, como fez Jesus
comigo, contigo, com todos nós, Ele aproximou-se de nós com compaixão.
Olhemos para o Senhor
Crucificado, completamente imerso na nossa história ferida, e descubramos a
maneira como Deus faz as coisas. Vejamos que Ele não ficou lá em cima no céu, a
olhar para nós, mas baixou-se para lavar os nossos pés. Deus é amor e o amor é
humilde, não se eleva, mas desce, como a chuva que cai sobre a terra e traz
vida. Mas como fazer para nos pôr no mesmo rumo de Jesus, a passar do emergir
para o imergir-nos, da mentalidade do prestígio, mundana, àquela do serviço,
cristã? O compromisso é necessário, mas não é suficiente. Por nós mesmos é
difícil, para não dizer impossível, mas temos uma força dentro de nós que nos
ajuda. É a do Batismo, daquela imersão em Jesus que todos nós
recebemos por graça e que nos dirige, impele-nos a segui-lo, a não procurar os
nossos interesses, mas a colocarmo-nos ao serviço. É uma graça, é um fogo que o
Espírito acendeu em nós e que deve ser alimentado. Hoje peçamos ao Espírito Santo
que renove em nós a graça do Batismo, a imersão em Jesus, na sua maneira de
ser, para sermos mais servos, para sermos servos como Ele foi connosco.
Oremos a Nossa Senhora: ela, embora sendo a maior, não procurou emergir, mas foi humilde serva do Senhor, e está totalmente imersa no nosso serviço, para nos ajudar a encontrar Jesus.
Papa Francisco
(Angelus , 17 de outubro de 2021)
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