sábado, 2 de novembro de 2024

  XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras de hoje somos desafiados a viver como Jesus nos ensinou, isto é, tendo gravada no coração a lei do Senhor: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. No fundo trata-se de um desafio a viver de Deus, com Deus e por Deus, ou melhor, dito de outra forma, somos chamados a viver do Amor, com Amor e por Amor, porque afinal trata-se de viver numa relação com Deus, que é Amor.

Na 1ªleitura (Deut 6, 2-6)  o autor sagrado projeta-nos para o que nos faz felizes e está gravado no nosso coração: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças.”

“Moisés dirigiu-se ao povo, dizendo: «Temerás o Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida, cumprindo todas as suas leis e preceitos que hoje te ordeno, para que tenhas longa vida, tu, os teus filhos e os teus netos. Escuta, Israel, e cuida de pôr em prática o que te vai tornar feliz e multiplicar sem medida na terra onde corre leite e mel, segundo a promessa que te fez o Senhor, Deus de teus pais. Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. As palavras que hoje te prescrevo ficarão gravadas no teu coração».”

Na 2ªleitura (Heb 7,23-28) S.Paulo continua a situar-nos no verdadeiro e único sacerdote, perfeito para sempre, que é  Jesus Cristo.  Deixemo-nos amar por Ele, que deu a Sua vida por nós e, de uma vez para sempre, nos resgatou para Deus. Diz-nos, ainda, S.Paulo que Jesus está a interceder continuamente por nós junto do Pai Eterno. Confiemos e entreguemo-nos de coração a tão poderoso intercessor.

“Irmãos: Os sacerdotes da antiga aliança sucederam-se em grande número, porque a morte os impedia de durar sempre. Mas Jesus, que permanece eternamente, possui um sacerdócio eterno. Por isso pode salvar para sempre aqueles que por seu intermédio se aproximam de Deus, porque vive perpetuamente para interceder por eles. Tal era, na verdade, o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiro pelos seus próprios pecados, depois pelos pecados do povo, porque o fez de uma vez para sempre quando Se ofereceu a Si mesmo. A Lei constitui sumos sacerdotes homens revestidos de fraqueza, mas a palavra do juramento, posterior à Lei, estabeleceu o Filho sumo sacerdote perfeito para sempre.”

No Evangelho (Mc 12, 28b-34) é o próprio Jesus que nos diz qual é o caminho da nossa salvação: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. No fundo é o mandamento do Amor. E se vivermos de Deus, aprenderemos de Jesus a viver como Ele nos ensinou. Sigamos o que nos disse, deixemo-nos desafiar por Ele, como fez o escriba de que fala neste evangelho.

“Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O.”

Senhor, ensina-me a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesma.

 Prezados irmãos e irmãs bom dia!

No centro do Evangelho deste domingo (cf. Mc 12, 28b-34), está o mandamento do amor: amor a Deus e amor ao próximo. Um escriba pergunta a Jesus: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» (v. 28). Ele responde, citando aquela profissão de fé com a qual cada israelita inicia e conclui o seu dia, e que começa com as palavras: «Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor» (Dt 6, 4). Deste modo Israel conserva a sua fé na realidade fundamental de todo o seu credo: existe um único Senhor, e aquele Senhor é “nosso”, no sentido que se uniu a nós com um pacto indissolúvel, nos amou, nos ama e nos amará para sempre. É desta nascente, deste amor de Deus, que deriva para nós o duplo mandamento: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu espírito e com todas as tuas forças [...] Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (vv. 30-31).

Escolhendo estas duas Palavras, dirigidas por Deus ao seu povo, e unindo-as, Jesus ensinou de uma vez para sempre que o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis, aliás, mais ainda, que se sustentam um ao outro. Não obstante sejam postos em sequência, eles são os dois lados de uma única medalha: vividos juntos, são a verdadeira força do crente! Amar a Deus significa viver d’Ele e para Ele, por aquilo que Ele é pelo que Ele faz. E o nosso Deus é doação incondicional, é perdão ilimitado, é relação que promove e faz crescer. Por isso, amar a Deus quer dizer investir todos os dias as próprias energias para ser seus colaboradores, servindo de modo incondicional o nosso próximo, procurando perdoar de forma ilimitada e cultivando relações de comunhão e de fraternidade.

O evangelista Marcos não se preocupa em especificar quem é o próximo, porque o próximo é a pessoa que eu encontro no caminho, nos meus dias. Não se trata de pré-selecionar o meu próximo: isto não é cristão. Acho que o meu próximo é aquele que eu pré-selecionei: não, isto não é cristão, é pagão; mas trata-se de ter olhos para o ver e coração para desejar o seu bem. Se nos exercitarmos para ver com o olhar de Jesus, colocar-nos-emos sempre à escuta e ao lado dos carenciados. Certamente, as necessidades do próximo exigem respostas eficazes, mas antes ainda requerem partilha. Com uma imagem podemos dizer que o faminto tem necessidade não apenas de um prato de sopa, mas também de um sorriso, de ser ouvido e inclusive de uma oração, talvez recitada juntos. O Evangelho de hoje convida todos nós a visar não só as urgências dos irmãos mais pobres, mas sobretudo a prestar atenção às suas necessidades de proximidade fraterna, de sentido da vida e de ternura. Isto interpela as nossas comunidades cristãs: trata-se de evitar o risco de ser comunidades que vivem de muitas iniciativas, mas de poucas relações; o risco de comunidades “estações de serviço” mas de pouca companhia, no sentido pleno e cristão deste termo.

Deus, que é amor, criou-nos por amor e para que possamos amar os outros, permanecendo unidos a Ele. Seria ilusório pretender amar o próximo, sem amar a Deus; e seria igualmente ilusório pretender amar a Deus, sem amar o próximo. As duas dimensões do amor, a Deus e ao próximo, na sua unidade, caraterizam o discípulo de Cristo. A Virgem Maria nos ajude a acolher e testemunhar este ensinamento luminoso na vida de todos os dias.

Papa Francisco
(Angelus, 4 de novembro de 2018)

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