XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Na liturgia de
hoje, as leituras levam-nos a refletir sobre o que nos leva(ou) a optar por
isto, ou por aquilo, nas mais diversas situações da vida, sejam elas de mera
gestão do quotidiano, ou de decisões que afetam, de forma mais profunda, o
nosso modo de vida, a nossa condição de filhos de Deus, o nosso estado de vida.
O que é que, no mais íntimo de nós mesmos, nos faz escolher este, ou aquele,
caminho? Que o Espírito Santo seja sempre a luz que nos ilumine nas nossas
escolhas.
Na primeira
leitura (Sab 7, 7-11) o autor sagrado mostra-nos o que pede a Deus
quem se deixa guiar pelo Seu Santo Espírito:
“Orei e foi-me
dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos
cetros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a
equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de
um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a
mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho
jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos,
riquezas inumeráveis.”
Peçamos ao
Senhor, na nossa oração, o dom da Sua Graça, o dom da Sabedoria.
Na 2ª
leitura (Hebr 4,
12-13) S.Paulo desafia-nos a escutar a Palavra de Deus
e a deixarmos que ela nos vá transformando. Deus sabe do que precisamos em cada
momento, só necessitamos de O escutar de coração aberto. Deixemo-nos
interpelar pelo Senhor Deus, através da Sua Palavra.
“A palavra de
Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra
até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é
capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que
possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a
ela que devemos prestar contas.”
O evangelho de
hoje (Mc 10, 17-30) é espelho do que tantas vezes sentimos no dia a
dia. Quantas vezes andamos perdidos e sem rumo. Nem sei se podemos dizer, como
o jovem deste evangelho, que cumprimos os mandamentos desde a nossa juventude!
Mas, apesar de todas as dificuldades que o caminho para Deus apresenta, há uma
certeza que Jesus nos dá, a de que “a Deus tudo é possível”. Logo, para todo
aquele que se Lhe entrega de coração sincero, a salvação é possível. Deus ama
cada um dos Seu filhos com um amor sem limites, por isso, confiemos, deixemos
que Ele faça o caminho connosco, entreguemo-nos, seja qual for a situação em
que nos encontremos. Deixemo-nos amar por Ele e tudo será possível, porque como
nos disse Jesus, a Deus nada é impossível.
“Naquele
tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo,
ajoelhou diante d’Ele e perguntou-Lhe: «Bom Mestre, que hei de fazer para
alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom
senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não
roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’».
O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude».
Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender
o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e
segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se
pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos
discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de
Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus
afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É
mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no
reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem
pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é
impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a
dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em
verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai,
filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes
mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras,
juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».”
Envia sobre
mim Senhor o dom da Tua Graça. Que o Teu Santo Espírito me ilumine, me guie, em
todos os momentos da vida, em todas as minhas opções.
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje, tirado do
capítulo 10 de Marcos, subdivide-se em três cenas, cadenciadas por três
olhares de Jesus.
A primeira cena apresenta o
encontro entre o Mestre e uma pessoa que — segundo o trecho paralelo de Mateus
— é identificado como «jovem». O encontro de Jesus com um jovem. Ele corre ao
encontro de Jesus, ajoelha-se e chama-lhe: «Bom Mestre». E depois, pergunta-lhe:
«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?», ou seja, a felicidade (v. 17). «Vida eterna» não é somente a vida do além, mas
é a vida plena, completa, sem limites. Que devemos fazer para a alcançar? A
resposta de Jesus resume os mandamentos que se referem ao amor pelo próximo. A
este respeito, nada se pode repreender àquele jovem; mas evidentemente a
observância dos preceitos não lhe é suficiente, não satisfaz o seu desejo de
plenitude. E Jesus intui este desejo que o jovem traz no coração; por isso, a
sua resposta traduz-se num olhar intenso, repleto de ternura e
carinho. Assim diz o Evangelho: «Fixou nele o olhar, amou-o» (v. 21). Compreendeu que era um jovem bom... Mas Jesus
entende também qual é o ponto fraco do seu interlocutor, e apresenta-lhe uma
proposta concreta: distribuir todos os seus bens aos pobres e segui-lo. No
entanto, aquele jovem tem um coração dividido entre dois senhores: Deus e o
dinheiro, e por isso vai embora entristecido. Isto demonstra que fé e apego às
riquezas não podem conviver. Assim, no fim, o impulso inicial do jovem dilui-se
na infelicidade de um seguimento malogrado.
Na segunda cena, o evangelista
enquadra o olhar de Jesus, e desta vez trata-se de um olhar pensativo,
de admoestação: «Olhando ao seu redor, disse aos discípulos: “Como é difícil
para os ricos entrarem no Reino de Deus!”» (v. 23). Diante da admiração dos seus discípulos, que se interrogavam: «Então,
quem pode salvar-se?» (v.
26),
Jesus responde com um olhar de encorajamento — é o terceiro
olhar — e diz: sim, a salvação é «impossível para os homens, mas não para
Deus!» (v. 27).
Se confiarmos no Senhor, poderemos superar todos os obstáculos que nos impedem
de o seguir pelo caminho da fé. Confiar no Senhor! Ele infunde-nos a força,
dá-nos a salvação, acompanha-nos ao longo do caminho!
E assim chegamos à terceira
cena, aquela da solene declaração de Jesus: Em verdade vos digo: quem deixa
tudo para me seguir, terá a vida eterna no futuro e o cêntuplo já no presente (cf. vv. 29-30). Este «cêntuplo» é composto
pelos bens antes possuídos e depois deixados, mas que se encontram
multiplicados ao infinito. Privando-nos dos bens, recebemos o benefício do
verdadeiro bem; libertamo-nos da escravidão dos bens e adquirimos a liberdade
do serviço por amor; renunciamos à posse e alcançamos a alegria do dom. Aquilo
que Jesus dizia: «Há maior felicidade em dar do que em receber» (cf. At 20, 35).
O jovem não se deixou
conquistar pelo olhar de amor de Jesus, e deste modo não conseguiu mudar.
Somente acolhendo o amor do Senhor com gratidão humilde poderemos libertar-nos
da sedução dos ídolos e da cegueira das nossas ilusões. O dinheiro, o prazer e o
sucesso deslumbram, mas depois dececionam: prometem a vida mas causam a morte.
O Senhor pede-nos que nos desapeguemos destas falsas riquezas para entrar na
vida verdadeira, na vida plena, autêntica, luminosa. E eu pergunto-vos, a vós
jovens, rapazes e moças, que agora vos encontrais na praça: «Sentistes o olhar
de Jesus em vós? O que desejais responder-lhe? Preferis deixar esta praça com a
alegria que nos dá Jesus, ou com a tristeza no coração que a mundanidade nos
oferece?»...
A Virgem Maria nos ajude a
abrir o coração ao amor de Jesus, ao olhar de Jesus, o Único que pode saciar a
nossa sede de felicidade.
Papa Francisco
(Angelus , 11 de outubro de 2015)
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