sábado, 12 de outubro de 2024

    XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM 

Na liturgia de hoje, as leituras levam-nos a refletir sobre o que nos leva(ou) a optar por isto, ou por aquilo, nas mais diversas situações da vida, sejam elas de mera gestão do quotidiano, ou de decisões que afetam, de forma mais profunda, o nosso modo de vida, a nossa condição de filhos de Deus, o nosso estado de vida. O que é que, no mais íntimo de nós mesmos, nos faz escolher este, ou aquele, caminho? Que o Espírito Santo seja sempre a luz que nos ilumine nas nossas escolhas.

Na primeira leitura (Sab 7, 7-11) o autor sagrado mostra-nos o que pede a Deus quem se deixa guiar pelo Seu Santo Espírito:

“Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos cetros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.” 

Peçamos ao Senhor, na nossa oração, o dom da Sua Graça, o dom da Sabedoria.

Na 2ª leitura (Hebr 4, 12-13) S.Paulo desafia-nos a escutar a Palavra de Deus e a deixarmos que ela nos vá transformando. Deus sabe do que precisamos em cada momento, só necessitamos de O escutar de coração aberto. Deixemo-nos interpelar pelo Senhor Deus, através da Sua Palavra.

“A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.”

O evangelho de hoje (Mc 10, 17-30) é espelho do que tantas vezes sentimos no dia a dia. Quantas vezes andamos perdidos e sem rumo. Nem sei se podemos dizer, como o jovem deste evangelho, que cumprimos os mandamentos desde a nossa juventude! Mas, apesar de todas as dificuldades que o caminho para Deus apresenta, há uma certeza que Jesus nos dá, a de que “a Deus tudo é possível”. Logo, para todo aquele que se Lhe entrega de coração sincero, a salvação é possível. Deus ama cada um dos Seu filhos com um amor sem limites, por isso, confiemos, deixemos que Ele faça o caminho connosco, entreguemo-nos, seja qual for a situação em que nos encontremos. Deixemo-nos amar por Ele e tudo será possível, porque como nos disse Jesus, a Deus nada é impossível.

“Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e perguntou-Lhe: «Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à sua volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro começou a dizer-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».”

Envia sobre mim Senhor o dom da Tua Graça. Que o Teu Santo Espírito me ilumine, me guie, em todos os momentos da vida, em todas as minhas opções.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje, tirado do capítulo 10 de Marcos, subdivide-se em três cenas, cadenciadas por três olhares de Jesus.

A primeira cena apresenta o encontro entre o Mestre e uma pessoa que — segundo o trecho paralelo de Mateus — é identificado como «jovem». O encontro de Jesus com um jovem. Ele corre ao encontro de Jesus, ajoelha-se e chama-lhe: «Bom Mestre». E depois, pergunta-lhe: «Que devo fazer para alcançar a vida eterna?», ou seja, a felicidade (v. 17). «Vida eterna» não é somente a vida do além, mas é a vida plena, completa, sem limites. Que devemos fazer para a alcançar? A resposta de Jesus resume os mandamentos que se referem ao amor pelo próximo. A este respeito, nada se pode repreender àquele jovem; mas evidentemente a observância dos preceitos não lhe é suficiente, não satisfaz o seu desejo de plenitude. E Jesus intui este desejo que o jovem traz no coração; por isso, a sua resposta traduz-se num olhar intenso, repleto de ternura e carinho. Assim diz o Evangelho: «Fixou nele o olhar, amou-o» (v. 21). Compreendeu que era um jovem bom... Mas Jesus entende também qual é o ponto fraco do seu interlocutor, e apresenta-lhe uma proposta concreta: distribuir todos os seus bens aos pobres e segui-lo. No entanto, aquele jovem tem um coração dividido entre dois senhores: Deus e o dinheiro, e por isso vai embora entristecido. Isto demonstra que fé e apego às riquezas não podem conviver. Assim, no fim, o impulso inicial do jovem dilui-se na infelicidade de um seguimento malogrado.

Na segunda cena, o evangelista enquadra o olhar de Jesus, e desta vez trata-se de um olhar pensativo, de admoestação: «Olhando ao seu redor, disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrarem no Reino de Deus!”» (v. 23). Diante da admiração dos seus discípulos, que se interrogavam: «Então, quem pode salvar-se?» (v. 26), Jesus responde com um olhar de encorajamento — é o terceiro olhar — e diz: sim, a salvação é «impossível para os homens, mas não para Deus!» (v. 27). Se confiarmos no Senhor, poderemos superar todos os obstáculos que nos impedem de o seguir pelo caminho da fé. Confiar no Senhor! Ele infunde-nos a força, dá-nos a salvação, acompanha-nos ao longo do caminho!

E assim chegamos à terceira cena, aquela da solene declaração de Jesus: Em verdade vos digo: quem deixa tudo para me seguir, terá a vida eterna no futuro e o cêntuplo já no presente (cf. vv. 29-30). Este «cêntuplo» é composto pelos bens antes possuídos e depois deixados, mas que se encontram multiplicados ao infinito. Privando-nos dos bens, recebemos o benefício do verdadeiro bem; libertamo-nos da escravidão dos bens e adquirimos a liberdade do serviço por amor; renunciamos à posse e alcançamos a alegria do dom. Aquilo que Jesus dizia: «Há maior felicidade em dar do que em receber» (cf. At 20, 35).

O jovem não se deixou conquistar pelo olhar de amor de Jesus, e deste modo não conseguiu mudar. Somente acolhendo o amor do Senhor com gratidão humilde poderemos libertar-nos da sedução dos ídolos e da cegueira das nossas ilusões. O dinheiro, o prazer e o sucesso deslumbram, mas depois dececionam: prometem a vida mas causam a morte. O Senhor pede-nos que nos desapeguemos destas falsas riquezas para entrar na vida verdadeira, na vida plena, autêntica, luminosa. E eu pergunto-vos, a vós jovens, rapazes e moças, que agora vos encontrais na praça: «Sentistes o olhar de Jesus em vós? O que desejais responder-lhe? Preferis deixar esta praça com a alegria que nos dá Jesus, ou com a tristeza no coração que a mundanidade nos oferece?»...

A Virgem Maria nos ajude a abrir o coração ao amor de Jesus, ao olhar de Jesus, o Único que pode saciar a nossa sede de felicidade.

Papa Francisco

(Angelus , 11 de outubro de 2015)

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