sábado, 15 de julho de 2023

 Tempo Comum - 2023

A liturgia deste domingo desperta-nos para a importância da escuta da Palavra de Deus. Em cada liturgia, em que participamos, o Senhor vem ao nosso encontro e fala-nos, chega ao nosso coração, ao mais profundo da nossa alma, também através da Palavra proclamada. Que o Senhor nos conceda a graça de estarmos sempre prontos para responder a cada desafio que nos coloca,no dia a dia da vida e quando O escutamos na Eucaristia, quando Ele lança a semente nos nossos corações e nos deixamos “fazer” pela Sua Palavra.

 

Na 1ªleitura (Is 55, 10-11) o profeta Isaías, ao usar a linguagem da natureza para nos explicar a força da Palavra de Deus, transpõe-nos para a fidelidade, para a infinitude do Amor de Deus, em tudo o que diz e faz. Só nos é pedido que O escutemos, de coração disponível e sincero. 

”Eis o que diz o Senhor: «Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão».”

Na 2ªleitura (Rom 8, 18-23) S.Paulo fala, não só para os homens do seu tempo, mas também para nós hoje, homens e mulheres do séc.XXI. Até parece que está aqui connosco a viver os condicionalismos e dificuldades da vida, com todas as agruras, medos e angústias porque passamos! S.Paulo, no entanto, para além de nos situar no concreto da nossa existência, nas labutas da vida, projeta-nos para a esperança da nova vida, a da libertação em Deus, Nosso Senhor. Só n’Ele seremos verdadeiramente livres! 

“Irmãos: Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há de manifestar em nós. Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. Elas estão sujeitas à vã situação do mundo, não por sua vontade, mas por vontade d’Aquele que as submeteu, com a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza, para receberem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adoção filial e a libertação do nosso corpo.”


No evangelho (Mt 13, 1-23), que nos é explicado por Jesus, ficamos com a certeza de que é Deus quem lança sempre a semente. A Sua Palavra é proclamada e nunca falha, mas a forma como é recebida vai depender da nossa disponibilidade e abertura do coração. Aliás, a mesma Palavra, proclamada em alturas diferentes, é recebida de forma completamente distinta, pela mesma pessoa, consoante a situação de vida concreta em que se encontra no momento da escuta. É sempre uma Palavra viva e atuante. O fruto depende de sermos, ou não, “uma boa terra”.

“Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».

Senhor abre o meu coração à escuta da Tua Palavra.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo (cf. Mt 13, 1-23) Jesus narra a uma grande multidão a parábola do semeador - todos nós a conhecemos bem - que lança a semente em quatro tipos diferentes de solo. A Palavra de Deus, simbolizada pelas sementes, não é uma Palavra abstrata, mas o próprio Cristo, o Verbo do Pai que se encarnou no seio de Maria. Portanto, aceitar a Palavra de Deus significa aceitar a pessoa de Cristo, o próprio Cristo.

Existem diferentes formas de receber a Palavra de Deus. Podemos fazê-lo como um caminho, onde as aves vêm imediatamente e comem as sementes. Esta seria a distração, um grande perigo do nosso tempo. Oprimidos por tantas intrigas, tantas ideologias, contínuas possibilidades de distração dentro e fora de casa, pode-se perder o gosto do silêncio, do recolhimento, do diálogo com o Senhor, de tal forma que corremos o risco de perder a fé, de não acolher a Palavra de Deus. Vemos  tudo, somos distraídos por tudo, pelas realidades mundanas.

Outra possibilidade: podemos acolher a Palavra de Deus como um solo pedregoso com pouca terra. Nele a semente brota depressa, mas também seca rapidamente, porque não consegue criar raízes profundas. É a imagem daqueles que acolhem a Palavra de Deus com entusiasmo momentâneo, que no entanto permanece superficial, não assimila a Palavra de Deus. E assim, perante a primeira dificuldade, pensamos num sofrimento, numa perturbação da vida, aquela a fé que ainda é débil dissolve-se, tal como seca a semente que cai no meio do pedregulho.

Podemos ainda - uma terceira possibilidade sobre a qual Jesus fala na parábola - acolher a Palavra de Deus como um solo onde crescem arbustos espinhosos. E os espinhos são o engano da riqueza, do sucesso, das preocupações mundanas... Aí a Palavra cresce um pouco, mas permanece sufocada, não é forte, morre ou não dá fruto.

Por fim - a quarta possibilidade - podemos acolhê-la como um bom terreno. Aqui, e só aqui  a semente ganha raízes e dá fruto. A semente que caiu neste solo fértil representa aqueles que ouvem a Palavra, a acolhem, a guardam no coração e a põem em prática na vida quotidiana.

A parábola do semeador é um pouco a “mãe” de todas as parábolas, porque fala da escuta da Palavra. Lembra-nos que ela é uma semente fecunda e eficaz; e Deus espalha-a por toda a parte com generosidade, sem se preocupar com o desperdício. Assim é o coração de Deus! Cada um de nós é um solo onde cai a semente da Palavra, sem excluir ninguém! A Palavra é dada a cada um de nós. Podemos perguntar-nos: que tipo de terreno sou eu? Pareço-me com o caminho, com o solo pedregoso, com os arbustos? Mas, se quisermos, com a graça de Deus, podemos tornar-nos terreno fértil, lavrado e cultivado com cuidado, para que a semente da Palavra amadureça. Já está presente nos nosso coração, mas fazê-la frutificar depende de nós, depende do acolhimento que reservarmos a esta semente. Muitas vezes somos distraídos por demasiados interesses, por inúmeras solicitações, e é difícil distinguir entre tantas vozes e tantas palavras, a do Senhor, a única que nos torna livres. Por isso, é importante habituar-nos a ouvir a Palavra de Deus, a lê-la. E volto, uma vez mais, a este conselho: tende sempre convosco um pequeno Evangelho, uma edição de bolso do Evangelho, no bolso, na bolsa... E assim, lede um pequeno trecho todos os dias, para vos habituardes a ler a Palavra de Deus e a compreender bem que semente Deus vos oferece e a pensar com que solo a recebeis.

Que a Virgem Maria, modelo perfeito de solo bom e fértil, nos ajude, com a sua oração, a tornar-nos solo disponível sem espinhos nem pedregulho, para podermos dar bons frutos para nós e para os nossos irmãos.

Papa Francisco

(Angelus, 12 de julho de 2020)

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