sábado, 8 de julho de 2023

  Tempo Comum - 2023

Nos dias que vivemos, nos tempos que atravessamos, as leituras deste domingo são um “refrigério dulcíssimo”, pois precisamos de descansar no Único que nos pode dar a Paz, o Amor, porque só Ele o é: Jesus Cristo. Os textos desta liturgia são um desafio a deixarmo-nos encontrar por Jesus, no mais profundo nosso ser, aí onde só Ele, que nos conhece na totalidade do nosso ser, que sabe tão bem do que somos capazes, para o bem e para o mal e, mesmo assim, nos acolhe e, de braços abertos, nos recebe e nos deixa reclinar e descansar no Seu peito, para recarregar baterias e n’Ele partir para a labuta diária. Pecadores, pobres, fracos, desprotegidos, sem certezas de nada, sem seguranças, despojados de tudo, estaremos totalmente entregues n’Ele e com Ele, ao Pai, para O testemunhar e assim todos poderem conhecer e amar a Deus.

Na primeira leitura (Zac 9, 9-10) o autor sagrado anuncia e proclama ao povo de outros tempos e paragens, mas também aos homens de hoje, que Deus vem ter connosco, que é Ele quem toma a iniciativa de Se fazer encontro com cada um de nós, e que n’Ele tudo é possível. Como não exultar de alegria e cantar e louvar o nosso Deus, que nos ama assim, desta forma total e infinita. Bendito e louvado seja Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim!

Eis o que diz o Senhor: «Exulta de alegria, filha de Sião, solta brados de júbilo, filha de Jerusalém. Eis o teu Rei, justo e salvador, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho duma jumenta. Destruirá os carros de combate de Efraim e os cavalos de guerra de Jerusalém; e será quebrado o arco de guerra. Anunciará a paz às nações: o seu domínio irá de um mar ao outro mar e do Rio até aos confins da terra».

Na 2ªleitura (Rom 8, 9.11-13) S.Paulo projeta-nos para a vivência do nosso batismo no dia a dia da vida. Se nos deixarmos repassar pelo Espírito Santo que recebemos no Batismo, o Espírito “ d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos “ habitará em nós e n’Ele teremos a verdadeira vida. Só em Jesus ressuscitado tal será possível.

“Irmãos: Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Assim, irmãos, não somos devedores à carne, para vivermos segundo a carne. Se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras da carne, vivereis.”


No evangelho (Mt 11, 25-30) Jesus, Filho, vai-Se dando a conhecer, vai-Se-nos revelando mais um pouco, na Sua relação filial com o Pai. A forma como Jesus nos vai revelando a Sua identidade é única, pois Ele envolve-nos e, ao mesmo tempo, estende sobre nós a Sua bênção divina. O convite que nos faz a descansar n’Ele, a deixar cair tudo o que nos afasta de Deus, a entregarmo-nos na totalidade do que somos e temos, a colocar nas Suas mãos os nossos medos e angústias, tudo o que nos preocupa e aflige, desperta-nos para o que é essencial para o cristão: o Amor que Deus tem por cada um de nós. Em Jesus este Amor é visível. Por Jesus também cada um de nós é chamado a viver de e para Deus. Deixemo-nos amar por Deus!

“Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

Senhor Jesus, que eu aprenda de Ti, a descansar em Deus, a entregar-Lhe tudo, mas mesmo tudo, seja o que for, de bom, ou de mau. 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho de hoje Jesus diz: «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei» (Mt 11, 28). O Senhor não reserva esta frase a alguns dos seus amigos, não, dirige-a a “todos” aqueles que estão cansados e oprimidos pela vida. E então quem pode sentir-se excluído deste convite? O Senhor sabe quanto a vida pode ser difícil. Sabe que muitas coisas cansam o coração: desilusões e feridas do passado, pesos a serem carregados e injustiças a suportar no presente, incertezas e preocupações para com o futuro.

Perante tudo isto, a primeira palavra de Jesus é um convite, um convite a mover-se e a reagir: «Vinde». O erro que cometemos, quando as coisas não correm bem, é permanecer ali onde estamos, deitados ali. Parece evidente, mas quanto é difícil reagir e abrir-se! Não é fácil. Nos momentos obscuros é natural querer estar sozinho consigo mesmo, remoer sobre quanto é injusta a vida, sobre quão ingratos são os outros e como é maldoso o mundo, e assim por diante. Todos sabemos isto. Por vezes, sofremos esta experiência negativa. Mas assim, fechados dentro de nós mesmos, vemos tudo escuro. Então chegamos até a familiarizar-nos com a tristeza, que encontra demora em nós: aquela tristeza desmoraliza-nos, esta tristeza é algo ruim. Ao contrário, Jesus quer tirar-nos destas “areias movediças” e, portanto, diz a cada um: «Vinde!” — “Quem?” — “Tu, tu, tu...”. A via de saída encontra-se na relação, em estender a mão e em levantar o olhar para quem nos ama verdadeiramente.

Com efeito, sair de si mesmo não é suficiente, é necessário saber para onde ir. Porque muitas metas são ilusórias: prometem alívio e distraem só um pouco, garantem paz e proporcionam divertimento, deixando depois na solidão anterior, são “fogos de artifício”. Por esta razão, Jesus indica para onde ir: “Vinde a mim”. E muitas vezes, diante de um peso da vida ou de uma situação que nos faz sofrer, tentemos falar com alguém que nos escute, com um amigo, com um perito na matéria... É muito bom fazer isto, mas não esqueçamos Jesus! Não esqueçamos de nos abrirmos a Ele e de lhe contar a nossa vida, de lhe confiar as pessoas e as situações. Talvez haja algumas “áreas” da nossa vida que nunca lhe abrimos e que permaneceram obscuras, porque nunca viram a luz do Senhor. Cada um de nós tem a própria história. E se alguém tiver esta zona obscura, procurai Jesus, ide ter com um sacerdote, ide... Mas ide ter com Jesus, e contai isto a Jesus. Hoje Ele diz a cada um de nós: “Coragem, não sucumbas sob os pesos da vida, não te feches diante dos medos e dos pecados, mas vem a mim!”.

Ele espera por nós, espera-nos sempre, não para resolver magicamente os nossos problemas, mas para nos tornar mais fortes em relação aos nossos problemas. Jesus não nos tira os pesos da vida, mas sim a angústia do coração; não nos suprime a cruz, mas carrega-a juntamente connosco. E com Ele, todo o peso se torna leve (cf. v. 30), porque Ele é o repouso que nós buscamos. Quando Jesus entra na vida, chega a paz, a que permanece também nas provações, nos sofrimentos. Vamos ter com Jesus, demos-lhe o nosso tempo, encontremo-lo todos os dias na oração, num diálogo confiante, pessoal; familiarizando-nos com a sua Palavra redescubramos sem temor o seu perdão, saciemo-nos com o seu Pão de vida: sentir-nos-emos amados, sentir-nos-emos consolados por Ele.

É Ele mesmo que no-lo pede, quase com uma certa insistência. Reitera-o ainda no final do Evangelho de hoje: “Tomai o meu jugo sobre vós […] achareis o repouso para as vossas almas” (v. 29). E deste modo, aprendamos a ir ter com Jesus e, quando nos meses de verão procurarmos um pouco de repouso de tudo aquilo que cansa o nosso corpo, não esqueçamos de encontrar o repouso verdadeiro no Senhor. Nos ajude nisto a Virgem Maria nossa Mãe, que sempre cuida de nós quando estamos cansados e oprimidos e nos acompanha ao encontro com Jesus.

Papa Francisco

(Angelus, 9 de julho de 2017)

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