IV DOMINGO DA QUARESMA
As leituras deste quarto domingo da
quaresma como que nos colocam perante o exercício da misericórdia de Deus,
ontem hoje e sempre. Em Deus experimentamos o que é Amar assim perdidamente,
infinitamente cada um dos Seus filhos e, ao mesmo tempo, a humanidade inteira. É
Ele quem vem ao nosso encontro, quem nos procura, sempre, sempre e sempre. Ele
tem a iniciativa, mas depois deixa-nos livres para n’Ele nos entregarmos de
coração aberto, ou de O rejeitarmos. Podemos querer, ou não, ser amados por Deus!
A opção de dizer sim, ou não, ao Amor de Deus é da nossa inteira responsabilidade.
Então, ao dizermos sim, entramos na dinâmica da vivência e da comunicação do
Amor de Deus a todos os que se cruzam nos nossos caminhos, ou aos que vivem
connosco diariamente.
Na primeira leitura (Jos 5, 9a.10-12) “vemos” como o povo escolhido experimenta a misericórdia de Deus e celebra a Páscoa da libertação da escravidão,
no Egito e a sua entrada na Terra Prometida. Também nós Senhor te damos graças
e louvamos pelo teu infinito amor e te pedimos que nos libertes das nossas
escravidões, do nosso pecado, e nos conduzas ao Pai.
“Naqueles dias, disse o
Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Os filhos de Israel
acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, na
planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa, comeram dos frutos da terra: pães
ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia. Quando começaram a comer dos frutos
da terra, no dia seguinte à Páscoa, cessou o maná. Os filhos de Israel não
voltaram a ter o maná, mas, naquele ano, já se alimentaram dos frutos da terra
de Canaã.”
Na 2ªleitura (2 Cor 5, 17-21) é S.Paulo quem nos exorta à
reconciliação com Deus e com os irmãos, por e em Jesus Cristo. Deixemos que Jesus
nos habite por inteiro e n’Ele a reconciliação será uma realidade. Só em Jesus
tudo podemos, incluindo perdoar a quem nos faz mal.
“Irmãos: Se alguém está em
Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado.
Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o
ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o
mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e confiando-nos a
palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus
quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo:
reconciliai-vos com Deus. A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus
identificou-O com o pecado por causa de nós, para que em Cristo nos tornemos
justiça de Deus.”
No evangelho (Lc 15, 1-3.11-32) Jesus revela-nos o quanto somos
amados por Deus. O Pai está sempre pronto, de braços abertos, para nos receber,
nunca desiste de nós. Andemos nós por onde andarmos, Ele está sempre à espera
de que voltemos para o seu regaço, onde há lugar para todos, sejamos quantos
formos. O Seu Amor por cada um de nós não acaba nunca, é infinito e sempre a
“jorrar”. Partamos ao Seu encontro e abramos as portas do nosso coração de par
em par, deixando Deus n’ele entrar e tudo preencher. Sendo como o filho mais
novo, ou como o mais velho, ou um pouco como cada um dos dois, nada receemos,
entreguemo-nos a Deus na totalidade do nosso ser e deixemo-nos amar pelo Amor,
que é Ele e só Ele.
“Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se
todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre
si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes
então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao
pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos
filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres,
partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida
dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou
a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,
que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome
com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em
si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a
morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei
contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me
como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda
ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a
lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei
contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse
aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no
dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi
reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou
um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu
irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e
salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora
instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem
nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma
festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu
os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o
pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de
fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à
vida, estava perdido e foi reencontrado’».”
“Tarde te amei! Tarde Te amei, ó
Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro,
e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a
beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo…
Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste,
clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua
Luz afugentou a minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei
por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de
Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!”
Santo Agostinho, Confissões 10,
27-29
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