sábado, 16 de agosto de 2025

 DOMINGO XX DO TEMPO COMUM-2025-ANO C

As leituras de hoje colocam-nos frente a nós próprios, no que diz respeito a vivermos como cristãos. É um desafio concreto que nos é feito, tanto nas leituras do Antigo, como do Novo Testamento, a assumirmos, no nosso quotidiano ,o que somos: seguidores de Jesus Cristo. E quem O segue faz como Ele fez, pratica o que nos ensinou, independentemente das consequências, como aconteceu com Jeremias. 

Na 1ª leitura (Jer 38,4-6.8-10) é o profeta Jeremias quem nos faz perceber como é necessário denunciar o que está mal, mesmo quando isso pode por em causa o nosso sossego e comodidade. E, quando tudo parece perdido, não deixar de confiar no Senhor, no Seu Amor, porque Ele nunca nos deixa sós.

"Naqueles dias, os ministros disseram ao rei de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz. Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto, Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses homens procederam muito mal tratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra»." 

Na 2ªleitura (Hebreus 12,1-4.) é S.Paulo quem nos desafia a sermos coerentes e a permanecermos firmes e lutadores, mesmo quando a caminhada é difícil. Na caminhada da fé, somos chamados a fazer como os atletas, isto é, a dar tudo o que temos. N'Aquele que tudo suportou por nós, nada é impossível. 

«Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, libertemo-nos de todo o impedimento e do pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.»  

No Evangelho (Lucas 12,49-53.) é o próprio Jesus quem nos desafia a segui-Lo, com todas as consequências que advêm de uma adesão, de coração, ao projeto de salvação amorosa, que Ele tem para cada um de nós e para todo o mundo. Não basta dizer sim, é preciso abrirmos a nossa alma e deixar que o Seu Santo Espírito nos inunde, nos invada, completamente, de modo a que, como diz S. Paulo, Jesus seja tudo em nós. 

"Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra»."  

Senhor, que eu me deixe consumir pelo fogo do Teu Amor.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na página do Evangelho de hoje (cf. Lc 12, 49-53), Jesus adverte os seus discípulos de que chegou o momento de tomar uma decisão. A sua vinda ao mundo coincide com o tempo das escolhas decisivas: a opção pelo Evangelho não pode ser adiada. E para que esta chamada seja compreendida melhor, ele serve-se da imagem do fogo que ele mesmo veio trazer à terra. Ele diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (v. 49). Estas palavras pretendem ajudar os discípulos a abandonar toda atitude de preguiça, apatia, indiferença e fechamento para acolher o fogo do amor de Deus, aquele amor que, como recorda São Paulo, «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). Porque é o Espírito Santo que nos faz amar a Deus e amar o próximo; é o Espírito Santo que todos nós temos dentro de nós.

Jesus revela aos seus amigos, e também a nós, o seu desejo mais ardente: levar à terra o fogo do amor do Pai, que acende a vida e pelo qual o homem é salvo. Jesus chama-nos a espalhar este fogo no mundo, graças ao qual seremos reconhecidos como seus verdadeiros discípulos. O fogo do amor, acendido por Cristo no mundo através do Espírito Santo, é um fogo sem limites, é um fogo universal. É o que se verifica desde os primeiros tempos do cristianismo: o testemunho do Evangelho difundiu-se como um fogo benéfico, superando todas as divisões entre indivíduos, categorias sociais, povos e nações. O testemunho do Evangelho queima, queima todas as formas de particularismo e mantém a caridade aberta a todos, com a preferência pelos mais pobres e pelos excluídos.

A adesão ao fogo do amor que Jesus trouxe à terra envolve toda a nossa existência e requer adoração a Deus e também a disponibilidade para servir o próximo. Adoração a Deus e disponibilidade para servir o próximo. A primeira, adorar a Deus, significa também aprender a oração de adoração, que normalmente esquecemos. É por isso que convido todos a descobrir a beleza da oração de adoração e a praticá-la com frequência. E depois a segunda, a disponibilidade para servir os outros: penso com admiração em muitas comunidades e grupos de jovens que, mesmo durante o verão, se dedicam a este serviço aos doentes, aos pobres, às pessoas com deficiência. Para viver segundo o espírito do Evangelho é necessário que, diante das necessidades sempre novas que surgem no mundo, haja discípulos de Cristo que saibam responder com novas iniciativas de caridade. Por isso, com a adoração a Deus e o serviço ao próximo — juntos, adorando Deus e servindo o próximo — o Evangelho manifesta-se verdadeiramente como o fogo que salva, que transforma o mundo a partir da mudança do coração de cada um.

Nesta perspetiva, compreendemos também a outra afirmação de Jesus no trecho evangélico de hoje, que à primeira vista pode desconcertar: «Pensas que vim trazer paz à terra? Não, eu vos digo, mas divisão» (Lc 12, 51). Ele veio para «separar com o fogo». Separar o quê? O bem do mal, o justo do injusto. Neste sentido ele veio para «dividir», para pôr em «crise» — mas de forma saudável — a vida dos seus discípulos, pondo fim às ilusões fáceis daqueles que acreditam que podem combinar vida cristã e mundanidade, vida cristã e compromissos de todos os tipos, práticas religiosas e atitudes contra os outros. Combinar, pensam alguns, a verdadeira religiosidade com práticas supersticiosas: muitos que se consideram cristãos vão ao adivinho ou à adivinha para que lhes leiam as mãos! E isto é superstição, não é de Deus. Trata-se de não viver de forma hipócrita, mas de estar disposto a pagar o preço de escolhas coerentes — é esta a atitude que cada um de nós deve procurar na vida: a coerência — pagar o preço da coerência com o Evangelho. Coerência com o Evangelho. Porque é bom considerar-nos cristãos, mas sobretudo devemos ser cristãos em situações concretas, testemunhando o Evangelho que é essencialmente amor a Deus e aos irmãos.

Maria Santíssima nos ajude a deixar-nos purificar o coração com o fogo que Jesus trouxe, a difundi-lo na nossa vida, através de escolhas decisivas e corajosas.

Papa Francisco
(Angelus, 18 de agosto de 2019)

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