sábado, 9 de agosto de 2025

DOMINGO XIX DO TEMPO COMUM-2025-ANO C

Neste domingo as leituras motivam-nos e alertam-nos para a necessidade de termos sempre uma atitude de constante vigilância na fé, seja qual for a situação de vida em que nos encontremos.

Na 1ªleitura (Sab 18, 6-9),  a exemplo do que fez o Povo de Israel, cada um de nós é desafiado a, ao “ler” os acontecimentos da sua própria vida, encontrar, com toda a certeza, a relação de amor, que Deus foi estabelecendo consigo ao longo dos anos. Que à semelhança de Israel, a memória dessa vivência nos traga a certeza do amor de Deus, mesmo quando tudo parece desabar à nossa volta, e produza a constância na fé. 

“A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios, pois da mesma forma que castigastes os adversários, nos cobristes de glória, chamando-nos para Vós. Por isso os piedosos filhos dos justos ofereciam sacrifícios em segredo e de comum acordo estabeleceram esta lei divina: que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos; e começaram a cantar os hinos de seus antepassados.”

Na 2ª leitura (Hebr 11, 1-2.8-19) S. Paulo centra-nos na história de Abraão e Sara e no essencial das suas vidas, que é a relação que estabelecem com Deus.  Abraão confia totalmente em Deus, e é, por isso mesmo, considerado o nosso pai na fé. Precisamos desta atitude de fé de Abraão também nos dias de hoje. Necessitamos de acreditar verdadeiramente que Deus quer sempre o melhor para cada um de nós, ainda que no momento, nos possa parecer o contrário. Confiemos em Deus Amor. 

“Irmãos: A fé é a garantia dos bens que se esperam e a certeza das realidades que não se veem. Ela valeu aos antigos um bom testemunho. Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento e partiu para uma terra que viria a receber como herança; e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, morou como estrangeiro na terra prometida, habitando em tendas, com Isaac e Jacob, herdeiros, como ele, da mesma promessa, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus. Pela fé, também Sara recebeu o poder de ser mãe já depois de passada a idade, porque acreditou na fidelidade d’Aquele que lho prometeu. É por isso também que de um só homem – um homem que a morte já espreitava – nasceram descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia que há na praia do mar. Todos eles morreram na fé, sem terem obtido a realização das promessas. Mas vendo-as e saudando-as de longe, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Aqueles que assim falam mostram claramente que procuram uma pátria. Se pensassem na pátria de onde tinham saído, teriam tempo de voltar para lá. Mas eles aspiravam a uma pátria melhor, que era a pátria celeste. E como Deus lhes tinha preparado uma cidade, não Se envergonha de Se chamar seu Deus. Pela fé, Abraão, submetido à prova, ofereceu o seu filho único Isaac, que era o depositário das promessas, como lhe tinha sido dito: «Por Isaac será assegurada a tua descendência». Ele considerava que Deus pode ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, ele recuperou o seu filho.”

No Evangelho (Lc 12, 32-48) escutamos as parábolas que Jesus nos conta e percebemos que, em todos os momentos da nossa vida, Ele está sempre connosco e nos oferece o Seu Amor. É a uma atenção constante e vigilante que Ele nos chama, para não desperdiçarmos o Amor que gratuitamente nos oferece, em cada instante da nossa vida e, para assim, apoiados n’Ele, O podermos transmitir a todos os que vivem, se cruzam, trabalham e, ou, convivem connosco.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’, e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito ações que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».”

Senhor, que o meu coração se abra completamente a Ti e confie totalmente e sempre no Teu Amor infinito por cada um de nós. Dá-me uma fé atenta e vigilante.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho da Liturgia de hoje, Jesus fala aos discípulos para os tranquilizar de qualquer medo e para os convidar à vigilância. São duas as exortações fundamentais que lhes dirige: a primeira é «Não tenhais medo, pequeno rebanho» (Lc 12, 32); a segunda é: «Estai prontos» (v. 35). “Não tenhais medo” e “estai prontos”. Trata-se de duas palavras-chave para vencer os receios que às vezes nos paralisam e para superar a tentação de uma vida passiva e adormecida. “Não tenhais medo” e “estai prontos”: meditemos sobre estes dois convites.

Não ter medo. Em primeiro lugar, Jesus encoraja os discípulos. Acaba de lhes falar sobre o cuidado amoroso e providente do Pai, que se preocupa com os lírios do campo e as aves do céu, e portanto ainda mais com os seus filhos. Assim, não devemos preocupar-nos, nem agitar-nos: a nossa história está firmemente nas mãos de Deus. Este convite de Jesus a não ter medo encoraja-nos. Com efeito, às vezes sentimo-nos presos num sentimento de desconfiança e angústia: é o medo de falhar, de não ser reconhecido e amado, o receio de não ser capaz de realizar os próprios projetos, de nunca ser feliz, e assim por diante. Então lutamos para procurar soluções, para encontrar algum espaço onde sobressair, para acumular bens e riquezas, para alcançar seguranças; e como acabamos? Acabamos por viver na ansiedade e na preocupação constante. Jesus, ao contrário, tranquiliza-nos: não tenhais medo! Confiai no Pai, que quer oferecer-vos tudo aquilo de que realmente tendes necessidade. Já vos ofereceu o seu Filho, o seu Reino, e acompanha-vos sempre com a sua providência, cuidando de vós todos os dias. Não tenhais medo: eis a certeza à qual o coração deve apegar-se! Não tenhais medo: um coração apegado a esta certeza. Não temais!

Mas saber que o Senhor vela sobre nós com amor não nos dá o direito de dormir, de se deixar levar pela preguiça! Pelo contrário, devemos permanecer acordados, vigilantes. Com efeito, amar significa estar atento ao outro, prestar atenção às suas necessidades, estar disposto a ouvir e a acolher, estar pronto.

A segunda palavra: «Estai prontos». É o segundo convite de hoje. É sabedoria cristã. Jesus repete este convite várias vezes, e hoje fá-lo através de três breves parábolas, centradas num senhor que, na primeira, regressa inesperadamente das bodas, na segunda, não quer ser surpreendido pelos ladrões, e na terceira, regressa de uma longa viagem. Em todas, a mensagem é a seguinte: é preciso permanecer acordado, não adormecer, ou seja, não se distrair, não ceder à preguiça interior, pois até em situações em que não o esperamos, o Senhor vem. Estar atento ao Senhor, não adormecer. É preciso permanecer acordado.

E no final da nossa vida pedir-nos-á que prestemos contas dos bens que nos confiou; portanto, estar vigilante significa também ser responsável, isto é, preservar e administrar esses bens com fidelidade. Recebemos muito: a vida, a fé, a família, as relações, o trabalho, mas também os lugares onde vivemos, a nossa cidade, a criação. Recebemos muito. Procuremos perguntar-nos: cuidamos desta herança que o Senhor nos deixou? Tutelamos a sua beleza ou usamos as coisas apenas para nós e para as nossas conveniências do momento? Devemos pensar um pouco sobre isto: somos guardiões do que nos foi concedido? 

Irmãos e irmãs, caminhemos sem medo, na certeza de que o Senhor nos acompanha sempre. E mantenhamo-nos acordados, para não estarmos a dormir quando o Senhor passar. Santo Agostinho dizia: "Tenho medo que o Senhor passe e eu não o veja"; adormecer e não ver que o Senhor passa. Permanecei acordados! Que nos ajude a Virgem Maria, que acolheu a visita do Senhor e, com prontidão e generosidade, disse o seu: "Eis-me".

Papa Francisco
(Angelus, 7 de agosto de 2022)

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