FESTA DE SANTO ANTÓNIO
Deus eterno e omnipotente: Vós quisestes que o vosso povo encontrasse em Santo António um grande pregador do Evangelho e um poderoso intercessor. Concedei-nos a graça de pôr em prática os seus ensinamentos, para que mereçamos tê-lo como guia e protetor em toda a nossa vida. Por Cristo, Senhor nosso. Ámen.
LEITURA I Sir 39, 8-14 (gr. 6-11)
Sirac convida-nos a mergulhar mais profundamente na palavra de Deus para alcançar a inteligência que vem do Espírito. O verdadeiro conhecimento vem de Deus e adquire-se na reflexão e meditação das Escrituras. Não é um conhecimento humano nem fundado nas ciências humanas, mas um penetrar no mistério de Deus. A sabedoria divina é útil para ensinar os homens e para louvar a Deus na oração. Aquele que medita a palavra não será esquecido porque a sua vida e as suas palavras se tornam fecundas como chuva e transformam aqueles que o escutam. Estas palavras, tão apropriadas à vida de Santo António, servem-nos de estímulo para continuar na leitura, meditação e aprofundamento da palavra de Deus.
Aquele
que medita na lei do Altíssimo, se for do agrado do Senhor omnipotente, será
cheio do espírito de inteligência. Então ele derramará, como chuva, as suas
palavras de sabedoria e na sua oração louvará o Senhor. Adquirirá a retidão do
julgamento e da ciência e refletirá nos mistérios de Deus. Fará brilhar a
instrução que recebeu e a sua glória estará na lei da aliança do Senhor. Muitos
louvarão a sua inteligência, que jamais será esquecida. Não desaparecerá a sua
memória e o seu nome viverá de geração em geração. As nações proclamarão a sua
sabedoria e a assembleia celebrará os seus louvores.
EVANGELHO Mt 5, 13-19
O texto faz parte do Sermão da montanha. Jesus apresenta aos discípulos e às multidões uma nova maneira de viver. A sabedoria de Deus quando atua no homem faz com que veja novas realidades e as deseje com o seu coração. Desta forma o homem torna-se um sinal, sal e luz. Sal que dá sabor ao mundo e luz que indica o caminho. Jesus insiste com os discípulos para que a sua luz brilhe, que não se esconda, mas brilhe no mundo para que se vejam as boas obras e provoquem o louvor. O contrário será arriscar ser o menor no Reino dos Céus. Ou seja, o cumprimento dos mandamentos até à mais pequena letra é a garantia do Reino.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus. Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus».
Tenho que fazer o caminho da minha vida. Ninguém me livra dessa realidade. Posso fazê-lo sem sabor, sem sentido, sem direção, sem luz, às apalpadelas. Mas posso também encontrar o sabor, o sentido, a direção para o meu caminho e tornar-me sal e luz para outros, se escutar a palavra e nela encontrar os mandamentos de Deus. Posso ser sal e luz se viver e ajudar a viver a palavra de Deus. Posso ser oportunidade para que todos glorifiquem o Pai que está nos céus. Depende de mim unicamente.
No Evangelho de hoje (cf. Mt 5,
13-16), Jesus diz aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra [...] Vós sois
a luz do mundo» (vv. 13.14). Ele usa uma linguagem simbólica para indicar
àqueles que pretendem segui-lo, alguns critérios para viver a presença e o
testemunho no mundo.
Primeira imagem: o sal.
O sal é o elemento que dá sabor, que conserva e preserva os alimentos contra a
corrupção. Portanto, o discípulo é chamado a manter longe da sociedade os
perigos, os germes corrosivos que poluem a vida das pessoas. Trata-se de
resistir à degradação moral, ao pecado, dando testemunho dos valores da
honestidade e da fraternidade, sem ceder às lisonjas mundanas do arrivismo, do
poder e da riqueza. É “sal” o discípulo que, não obstante os fracassos diários –
porque todos nós os temos – se levanta do pó dos próprios erros, recomeçando
com coragem e paciência, todos os dias, a procurar o diálogo e o encontro com
os outros. É “sal” o discípulo que não busca o consentimento nem o elogio, mas
que se esforça por ser uma presença humilde e construtiva, na fidelidade aos
ensinamentos de Jesus que veio ao mundo não para ser servido, mas para servir.
E há tanta necessidade desta atitude!
A segunda imagem que Jesus
propõe aos seus discípulos é a da luz: «Vós sois a luz do
mundo». A luz dissipa a escuridão e permite ver. Jesus é a luz que dissipou as
trevas, mas elas ainda permanecem no mundo e nas pessoas individualmente. É
tarefa do cristão dispersá-las, fazendo resplandecer a luz de Cristo e
anunciando o seu Evangelho. Trata-se de uma irradiação que pode derivar até das
nossas palavras, mas deve brotar principalmente das nossas «boas obras» (v.
16). Um discípulo e uma comunidade cristã são luz no mundo quando orientam os
outros para Deus, ajudando cada um a experimentar a sua bondade e misericórdia.
O discípulo de Jesus é luz quando sabe viver a sua fé fora dos espaços
restritos, quando contribui para eliminar preconceitos, para eliminar
calúnias e para fazer entrar a luz da verdade nas situações corrompidas pela
hipocrisia e pela mentira. Fazer luz. Mas não se trata da minha luz,
é a luz de Jesus: nós somos instrumentos para que a luz de
Jesus chegue a todos.
Jesus convida-nos a não
ter medo de viver no mundo, embora às vezes nele haja condições de conflito e
de pecado. Diante da violência, da injustiça e da opressão, o cristão não pode
fechar-se em si mesmo, nem esconder-se na segurança do próprio espaço; nem
sequer a Igreja pode fechar-se em si mesma, não pode abandonar a sua missão de
evangelização e de serviço. Na Última Ceia Jesus pediu ao Pai para não tirar os
discípulos do mundo, para os deixar aqui, no mundo, mas para os proteger contra
o espírito do mundo. A Igreja dedica-se com generosidade e ternura aos
pequeninos e aos pobres: este não é o espírito do mundo, esta é a sua luz, é o
sal. A Igreja escuta o grito dos últimos e dos excluídos, porque está
consciente de que é uma comunidade peregrina, chamada a prolongar na história a
presença salvífica de Jesus Cristo.
Que a Virgem Santa nos ajude a
ser sal e luz no meio do povo, levando a todos, com a vida e a palavra, a Boa
Nova do amor de Deus.
Papa Francisco
(Angelus, 9 de fevereiro de 2020)
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