Tempo Comum - 2023- Ano A
SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO
A semana IX do tempo comum, este ano, é especial, pois começámo-la com a solenidade da Santíssima Trindade e agora, mais ou menos a meio, celebramos outra solenidade igualmente forte e fundamental para nós cristãos, a do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, popularmente designada por “Festa do Corpo de Deus”. Na celebração presencial da Eucaristia, hoje, o nosso coração sente, de forma mais intensa e profunda, a força, a presença vital do Mistério de Jesus Eucarístico na nossa vida. Nunca agradeceremos o suficiente a Deus por este mistério insondável do Seu Amor, presente, vivo no meio de nós, que é a celebração de cada Eucaristia.
Na 1ªleitura (Deut 8, 2-3.14b-16a) o autor sagrado traz, até nós, a forma como a Aliança de Deus com o Seu
Povo se foi efetivando e reconstruindo ao longo de um caminho de relação, em
que nos momentos de maior dificuldade e sofrimento, a presença do Senhor se
tornou mais visível, como por exemplo com o maná. Deus nunca deixou de
acompanhar o Seu Povo e é essa certeza que chega até nós hoje, homens e
mulheres do séc.XXI. Tal como nos tempos antigos, Deus nunca nos abandona, está
sempre connosco, e já não precisamos do maná de outros tempos, podemos mesmo
dizer que temos um novo maná: Jesus Cristo, morto, ressuscitado, vivo no meio
de nós, o nosso Pão repartido.
“Moisés falou ao povo, dizendo: «Recorda-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, para te atribular e pôr à prova, a fim de conhecer o íntimo do teu coração e verificar se guardarias ou não os seus mandamentos. Atribulou-te e fez-te passar fome, mas deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa de escravidão, e te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e escorpiões, terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido».”
Na 2ªleitura (1 Cor 10, 16-17) S. Paulo, de uma forma muito clara, interpela-nos sobre a forma como vivemos, na vida, a comunhão no Corpo e Sangue de Jesus. Afinal, se o Pão que comungamos, é um só, porque será que não formamos um só Corpo, em Cristo Jesus?! Divino Espírito Santo inunda todo o nosso ser e ilumina-nos para que, radicados e alimentados por Jesus, caminhemos para a unidade do Povo de Deus.
“Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de
Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o Corpo de Cristo? Visto que há
um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque
participamos do mesmo pão.”
Evangelho(Jo 6, 51-58)
«Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna»;
«Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.»
“Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo… Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
O
gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai
pelo seu amor, pela sua misericórdia. (...)
Por
conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete:
é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação.
«Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer
dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério
da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A
Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito,
fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua
misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa
existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos.
É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que
«recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que, no poder
do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo
de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão
com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os
Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
(…)
Ali,
é Cristo quem age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna
presente e nos reúne ao redor de Si, para nos alimentar com a sua Palavra e a
sua vida. Isto significa que a própria missão e identidade da Igreja derivam
dali, da Eucaristia, e ali sempre adquirem forma. Uma celebração pode até ser
impecável sob o ponto de vista exterior, maravilhosa, mas
se não nos levar ao encontro com Jesus corre o risco de não oferecer alimento
algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, ao
contrário, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la com a sua graça,
de tal modo que em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de Jesus, citadas no Evangelho: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna.
Papa Francisco
“Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo descido do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha
Carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como
pode Ele dar-nos a sua Carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em
verdade vos digo: Se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o
seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha Carne e bebe o meu
Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é
verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e
bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me
enviou, e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o
pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e
morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».”
Senhor, alimenta todo o meu
ser, habita-me por inteiro, para que, em Ti, dê testemunho do Amor, junto dos
que vais colocando nos caminhos da minha vida.
Mil graças Senhor pelo dom da Eucaristia. Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos tempos sem fim.
Para melhor interiorizar o evangelho de hoje (Jo 6, 51-58), recorro, mais uma vez, à ajuda do Papa Francisco, que disse, numa das suas catequeses sobre a Eucaristia:
(...)
Com esta catequese encerramos o ciclo dedicado à Missa, que é precisamente
a comemoração, mas não apenas como memória; vive-se de novo a Paixão e a
Ressurreição de Jesus. A última vez chegamos até à Comunhão e à oração após a
Comunhão; depois desta prece, a Missa termina com a Bênção concedida
pelo sacerdote e com a despedida do povo (cf. Ordenamento
Geral do Missal Romano, 90). Assim como tinha começado com o sinal da cruz,
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, é ainda em nome da Trindade que
se conclui a Missa, ou seja, a ação litúrgica.
Todavia, sabemos que quando a Missa termina, tem início o
compromisso do testemunho cristão. Os cristãos não vão à Missa para cumprir
um dever semanal e depois esquecer-se, não! Os cristãos vão à Missa para participar
na Paixão e Ressurreição do Senhor, e em seguida viver mais como cristãos: tem
início o compromisso do testemunho cristão! Saímos da igreja para «ir em paz»
levar a Bênção de Deus às atividades diárias, aos nossos lares, aos ambientes
de trabalho, às ocupações da cidade terrena, “glorificando o Senhor com a nossa
vida”. Mas se eu sair da igreja tagarelando e dizendo: “Olha para isto, para
aquilo...”, com a língua comprida, a Missa não entrou no meu coração. Porquê?
Porque não sou capaz de viver o testemunho cristão. Cada vez que saio da Missa,
devo sair melhor do que quando entrei, com mais vida, com mais força, com mais
vontade de dar testemunho cristão. Através da Eucaristia, o Senhor Jesus entra
em nós, no nosso coração e na nossa carne, a fim de podermos «exprimir na vida
o sacramento recebido da fé» (Missal Romano, Coleta da Segunda-Feira na
Oitava de Páscoa).
Portanto, da celebração à vida, conscientes de que a Missa
tem o seu cumprimento nas escolhas concretas de quem se deixa comprometer
pessoalmente nos mistérios de Cristo. Não devemos esquecer que celebramos a
Eucaristia para aprender a tornar-nos homens e mulheres eucarísticos.
Que significa isto? Significa deixar que Cristo aja nas nossas obras: que os
seus pensamentos sejam os nossos, os seus sentimentos os nossos, as suas
escolhas as nossas. E isto é santidade: agir como Cristo é santidade cristã.
Quem o exprime com exatidão é São Paulo; quando fala da própria assimilação a
Jesus, diz assim: «Fui crucificado com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é
Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu vivo-a na fé no
Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim» (Gl 2, 19-20).
Este é o testemunho cristão. A experiência de Paulo ilumina-nos também a nós:
na medida em que mortificarmos o nosso egoísmo, ou seja, fizermos morrer o que
se opõe ao Evangelho e ao amor de Jesus, cria-se dentro de nós maior espaço
para o poder do seu Espírito. Os cristãos são homens e mulheres que deixam
alargar a própria alma com a força do Espírito Santo, depois de ter recebido o
Corpo e o Sangue de Cristo. Permiti que a vossa alma se alargue! Não estas
almas tão estreitas e fechadas, pequenas, egoístas, não! Almas largas, almas
grandes, com vastos horizontes... Deixai que a vossa alma se alargue com a
força do Espírito, depois de receber o Corpo e o Sangue de Cristo.
Dado que a presença real de Cristo no Pão consagrado não acaba com a Missa
(cf. Catecismo da Igreja Católica, 1374), a Eucaristia é conservada no
Tabernáculo para a Comunhão aos enfermos e para a adoração silenciosa
do Senhor no Santíssimo Sacramento; com efeito, o culto eucarístico fora da
Missa, quer de forma particular quer comunitária, ajuda-nos a permanecer em
Cristo (cf. ibid., 1378-1380).
Portanto, os frutos da Missa estão destinados a amadurecer na vida de todos
os dias. Podemos dizer assim, forçando um pouco a imagem: a Missa é como o
grão, o grão de trigo que depois, na vida comum, cresce, cresce e amadurece nas
boas obras, nas atitudes que nos tornam semelhantes a Jesus. Portanto, os
frutos da Missa estão destinados a amadurecer na vida de todos os dias. Na
verdade, aumentando a nossa união a Cristo, a Eucaristia atualiza a
graça que o Espírito nos concedeu no Batismo e na Confirmação, a fim que o
nosso testemunho cristão seja credível (cf. ibid., 1391-1392).
Além disso, o que faz a Eucaristia, acendendo nos nossos corações a
caridade divina? Separa-nos do pecado: «Quanto mais
participarmos na vida de Cristo e progredirmos na sua amizade, tanto mais
difícil nos será romper com Ele pelo pecado mortal» (ibid., 1395).
A frequência regular do Banquete eucarístico renova, fortalece e aprofunda
o vínculo com a comunidade cristã à qual pertencemos, segundo o princípio de
que a Eucaristia faz a Igreja (cf. ibid., 1396), unindo todos nós.
Por fim, participar na Eucaristia engaja-nos em relação aos outros,
de maneira especial aos pobres, educando-nos a passar da carne de Cristo
para a carne dos irmãos, onde Ele espera ser por nós reconhecido, servido,
honrado e amado (cf. ibid., 1397).
Trazendo o tesouro da união com Cristo em vasos de barro (cf. 2 Cor 4,
7), temos contínua necessidade de regressar ao santo altar até podermos, no
paraíso, participar plenamente da bem-aventurança do banquete de núpcias do
Cordeiro (cf. Ap 19, 9).
Demos graças ao Senhor pelo caminho de redescoberta da Santa Missa, que Ele
nos concedeu percorrer juntos, e deixemo-nos atrair com fé renovada por este
encontro real com Jesus, morto e ressuscitado por nós, nosso contemporâneo. E
que a nossa vida seja sempre “florida” assim, como a Páscoa, com as flores da
esperança, da fé e das boas obras. Que encontremos sempre a força para isto na
Eucaristia, na união com Jesus. (...)
Papa Francisco
(Audiência Geral. 4 de abril de 2018)
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