Domingo IX do Tempo Comum - 2023
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Estamos de volta ao tempo comum, mas continuamos
num tempo fortíssimo da revelação de Deus, pois hoje é um dia especial, em que
celebramos Deus por excelência, isto é, na Solenidade da Santíssima Trindade
celebramos a verdadeira essência de Deus: o Amor. Deus é todo Amor, por mim,
por ti, por cada um de nós, individualmente, pela humanidade inteira, pela
Criação. Deus é assim, Amor infinito por cada ser criado, que não sabe senão dar-se,
comunicar-se, jorrar, continuamente sobre cada um de nós. E é numa comunhão
total entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que Deus Se nos revela em Jesus
Cristo. E é na unidade absoluta entre estas três pessoas distintas que o
Espírito Santo nos vai revelando, tanto quanto o nosso coração se deixa habitar
por Ele, o quanto Deus, e só Ele, é “O AMOR”.
Meu Deus, Uno e Trino, que é o homem
para dele te lembrares e, no entanto, como diz o salmista, fizeste-o pouco
menos do que os anjos, colocaste quase tudo sob os seus pés. Só mesmo Tu, “O
Amor” para arriscares em nós… Bendito sejas Senhor, hoje e sempre, pelos
séculos sem fim.
Na 1ªleitura (Ex 34, 4b-6.8-9) Deus convida-nos a confiar
n’Ele, a acreditar que Ele, que nos conhece no mais íntimo do nosso ser e sabe
do bom e do mau de que somos capazes, está verdadeiramente “enamorado” de cada
um de nós, Seus filhos queridos no Filho. Ele só quer que entendamos o quanto
nos ama. Prostremo-nos como Moisés e deixemo-nos amar por Deus, que é todo Amor,
ou como disse alguém, cujo nome desconheço, Deus não é senão Amor.
“Naqueles dias, Moisés levantou-se muito cedo e
subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de
pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do
Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um
Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia
e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse:
«Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no
meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis
os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».”
Na 2ªleitura (2 Cor 13, 11-13) S.Paulo, que verdadeiramente experimentou o que
é ser amado por Deus, exorta-nos a deixarmos que a Santíssima Trindade nos
transforme em seres que se relacionam no Amor. Se nos deixarmos possuir, fazer,
habitar, pelo Amor -Deus Uno e Trino-, como fez S.Paulo, seremos, também no
nosso tempo, testemunhas do Amor de Deus junto dos que fazem parte da nossa
vida, onde quer que esta nos conduza.
“Irmãos: Sede alegres, trabalhai pela vossa
perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em
paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o
ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o
amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.”
“Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus
amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem
que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou
o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por
Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n'Ele já está
condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».”
Pai, Filho, Espírito Santo, Ó Santíssima
Trindade, Ó Amor que nos sacia com a fome da verdade.
Senhor, Deus Uno e Trino, que eu me
deixe amar por Ti, sempre, seja qual for a situação de vida em que me encontre.
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
As Leituras bíblicas deste domingo, solenidade da Santíssima Trindade,
ajudam-nos a entrar no mistério da identidade de Deus. A segunda Leitura
apresenta as palavras de bons votos que São Paulo dirige à comunidade de
Corinto: «A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo estejam com todos vós» (2 Cor 13, 13). Esta —
digamos — «bênção» do Apóstolo é fruto da sua experiência pessoal do amor de
Deus, daquele amor que Cristo ressuscitado lhe revelou, que transformou a sua
vida e o «estimulou» a levar o Evangelho aos gentios. A partir daquela sua
experiência de graça, Paulo pode exortar os cristãos com estas palavras:
«regozijai-vos, sede perfeitos, consolai-vos uns aos outros, [...] vivei em
paz». A comunidade cristã, mesmo com todos os limites humanos, pode tornar-se
um reflexo da comunhão da Trindade, da sua bondade, da sua beleza. Mas isto —
como testemunha o próprio Paulo — passa necessariamente através da experiência
da misericórdia de Deus, do seu perdão.
Foi o que aconteceu com os hebreus no caminho do êxodo. Quando o povo
infringiu a aliança, Deus apresentou-se a Moisés na nuvem para renovar o pacto,
proclamando o próprio nome e o seu significado. Diz assim: «o Senhor Deus,
misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade»
(Êx 34, 6). Este nome expressa que Deus não está distante nem
fechado em si mesmo, mas é Vida que se quer comunicar, é abertura, é Amor que
resgata o homem da infidelidade. Deus é «misericordioso», «piedoso» e «rico de
graça» porque se oferece a nós para superar os nossos limites e as nossas
faltas, para perdoar os nossos erros, para nos reconduzir pela via da justiça e
da verdade. Esta revelação de Deus chegou ao seu cumprimento no Novo Testamento
graças à palavra de Cristo e à sua missão de salvação. Jesus manifestou-nos o
rosto de Deus, Uno na substância e Trino nas pessoas; Deus é tudo e só Amor,
numa relação subsistente que tudo cria, redime e santifica: Pai e Filho e
Espírito Santo.
E o Evangelho de hoje «chama em questão» Nicodemos, o qual, mesmo ocupando
um lugar importante na comunidade religiosa e civil da época, não deixou de procurar
Deus. Não pensou: «Estou realizado», não deixou de procurar Deus; e agora ouviu
o eco da Sua voz em Jesus. No diálogo noturno com o Nazareno, Nicodemos
compreende finalmente que já foi procurado e esperado por
Deus, que é amado pessoalmente por Ele. Deus procura-nos sempre primeiro,
aguarda-nos primeiro, ama-nos primeiro. É como a flor da amendoeira; o Profeta
diz: «Floresce primeiro» (cf. Jr 1, 11-12). Com efeito, assim
fala Jesus: «Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigénito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,
16). O que é esta vida eterna? É o amor desmedido e gratuito do Pai que Jesus
doou na cruz, oferecendo a Sua vida pela nossa salvação. E este amor com a ação
do Espírito Santo irradiou uma luz nova sobre a terra em cada coração humano
que o acolhe; uma luz que revela os ângulos obscuros, as dificuldades que nos
impedem de levar os frutos da caridade e da misericórdia.
Nos ajude a Virgem Maria a entrar cada vez mais, totalmente, na Comunhão
trinitária, para viver e testemunhar o amor que dá sentido à nossa existência.
Papa Francisco
(Angelus, 11 de junho de 2017)
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