sábado, 3 de junho de 2023

Domingo IX do Tempo Comum - 2023

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Estamos de volta ao tempo comum, mas continuamos num tempo fortíssimo da revelação de Deus, pois hoje é um dia especial, em que celebramos Deus por excelência, isto é, na Solenidade da Santíssima Trindade celebramos a verdadeira essência de Deus: o Amor. Deus é todo Amor, por mim, por ti, por cada um de nós, individualmente, pela humanidade inteira, pela Criação. Deus é assim, Amor infinito por cada ser criado, que não sabe senão dar-se, comunicar-se, jorrar, continuamente sobre cada um de nós. E é numa comunhão total entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que Deus Se nos revela em Jesus Cristo. E é na unidade absoluta entre estas três pessoas distintas que o Espírito Santo nos vai revelando, tanto quanto o nosso coração se deixa habitar por Ele, o quanto Deus, e só Ele, é “O AMOR”.

Meu Deus, Uno e Trino, que é o homem para dele te lembrares e, no entanto, como diz o salmista, fizeste-o pouco menos do que os anjos, colocaste quase tudo sob os seus pés. Só mesmo Tu, “O Amor” para arriscares em nós… Bendito sejas Senhor, hoje e sempre, pelos séculos sem fim.

Na 1ªleitura (Ex 34, 4b-6.8-9) Deus convida-nos a confiar n’Ele, a acreditar que Ele, que nos conhece no mais íntimo do nosso ser e sabe do bom e do mau de que somos capazes, está verdadeiramente “enamorado” de cada um de nós, Seus filhos queridos no Filho. Ele só quer que entendamos o quanto nos ama. Prostremo-nos como Moisés e deixemo-nos amar por Deus, que é todo Amor, ou como disse alguém, cujo nome desconheço, Deus não é senão Amor.

“Naqueles dias, Moisés levantou-se muito cedo e subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe ordenara, levando nas mãos as tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem, ficou junto de Moisés, que invocou o nome do Senhor. O Senhor passou diante de Moisés e proclamou: «O Senhor, o Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade». Moisés caiu de joelhos e prostrou-se em adoração. Depois disse: «Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós. É certo que se trata de um povo de dura cerviz, mas Vós perdoareis os nossos pecados e iniquidades e fareis de nós a vossa herança».”

 

Na 2ªleitura (2 Cor 13, 11-13) S.Paulo, que verdadeiramente experimentou o que é ser amado por Deus, exorta-nos a deixarmos que a Santíssima Trindade nos transforme em seres que se relacionam no Amor. Se nos deixarmos possuir, fazer, habitar, pelo Amor -Deus Uno e Trino-, como fez S.Paulo, seremos, também no nosso tempo, testemunhas do Amor de Deus junto dos que fazem parte da nossa vida, onde quer que esta nos conduza.

“Irmãos: Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo santo. Todos os santos vos saúdam. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.”


No evangelho (Jo 3, 16-18) é S.João, quem nos ajuda a entrar, de uma forma mais pessoal, nesta relação amorosa de Deus com cada um de nós, Seus filhos, no Seu Único e muito amado Filho. A catequese de Jesus a Nicodemos, que João nos traz, é um apelo a deixarmo-nos repassar, no mais íntimo da nossa alma pelo mistério d’ “O Amor”, que gera vida, que é relação, que redime, que ama continuamente e sem fim: Deus Uno e Trino.

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita n'Ele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».”

Pai, Filho, Espírito Santo, Ó Santíssima Trindade, Ó Amor que nos sacia com a fome da verdade.

Senhor, Deus Uno e Trino, que eu me deixe amar por Ti, sempre, seja qual for a situação de vida em que me encontre.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

As Leituras bíblicas deste domingo, solenidade da Santíssima Trindade, ajudam-nos a entrar no mistério da identidade de Deus. A segunda Leitura apresenta as palavras de bons votos que São Paulo dirige à comunidade de Corinto: «A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós» (2 Cor 13, 13). Esta — digamos — «bênção» do Apóstolo é fruto da sua experiência pessoal do amor de Deus, daquele amor que Cristo ressuscitado lhe revelou, que transformou a sua vida e o «estimulou» a levar o Evangelho aos gentios. A partir daquela sua experiência de graça, Paulo pode exortar os cristãos com estas palavras: «regozijai-vos, sede perfeitos, consolai-vos uns aos outros, [...] vivei em paz». A comunidade cristã, mesmo com todos os limites humanos, pode tornar-se um reflexo da comunhão da Trindade, da sua bondade, da sua beleza. Mas isto — como testemunha o próprio Paulo — passa necessariamente através da experiência da misericórdia de Deus, do seu perdão.

Foi o que aconteceu com os hebreus no caminho do êxodo. Quando o povo infringiu a aliança, Deus apresentou-se a Moisés na nuvem para renovar o pacto, proclamando o próprio nome e o seu significado. Diz assim: «o Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade» (Êx 34, 6). Este nome expressa que Deus não está distante nem fechado em si mesmo, mas é Vida que se quer comunicar, é abertura, é Amor que resgata o homem da infidelidade. Deus é «misericordioso», «piedoso» e «rico de graça» porque se oferece a nós para superar os nossos limites e as nossas faltas, para perdoar os nossos erros, para nos reconduzir pela via da justiça e da verdade. Esta revelação de Deus chegou ao seu cumprimento no Novo Testamento graças à palavra de Cristo e à sua missão de salvação. Jesus manifestou-nos o rosto de Deus, Uno na substância e Trino nas pessoas; Deus é tudo e só Amor, numa relação subsistente que tudo cria, redime e santifica: Pai e Filho e Espírito Santo.

E o Evangelho de hoje «chama em questão» Nicodemos, o qual, mesmo ocupando um lugar importante na comunidade religiosa e civil da época, não deixou de procurar Deus. Não pensou: «Estou realizado», não deixou de procurar Deus; e agora ouviu o eco da Sua voz em Jesus. No diálogo noturno com o Nazareno, Nicodemos compreende finalmente que já foi procurado e esperado por Deus, que é amado pessoalmente por Ele. Deus procura-nos sempre primeiro, aguarda-nos primeiro, ama-nos primeiro. É como a flor da amendoeira; o Profeta diz: «Floresce primeiro» (cf. Jr 1, 11-12). Com efeito, assim fala Jesus: «Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). O que é esta vida eterna? É o amor desmedido e gratuito do Pai que Jesus doou na cruz, oferecendo a Sua vida pela nossa salvação. E este amor com a ação do Espírito Santo irradiou uma luz nova sobre a terra em cada coração humano que o acolhe; uma luz que revela os ângulos obscuros, as dificuldades que nos impedem de levar os frutos da caridade e da misericórdia.

Nos ajude a Virgem Maria a entrar cada vez mais, totalmente, na Comunhão trinitária, para viver e testemunhar o amor que dá sentido à nossa existência.

Papa Francisco

(Angelus, 11 de junho de 2017)

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