terça-feira, 22 de setembro de 2015

Leitura faseada da carta pastoral, para o próximo biénio, do Bispo de Leiria Fátima (IV)
 Carta Pastoral 2015-2017 – No Centenário das Aparições
Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia 

† António Marto
Leria, 15 de setembro de 2015,
Memória de Nossa Senhora das Dores

LINHAS DE ORIENTAÇÃO PASTORAL

Após toda a reflexão anterior, quero agora apresentar algumas linhas-chave de orientação pastoral para o próximo biénio.

26. O nosso amor filial a Maria é uma expansão do amor de Cristo
A verdadeira devoção a Nossa Senhora nasceu no seio da comunidade cristã como consequência da crescente compreensão do mistério da Encarnação do Filho de Deus. Já aflora na saudação de Isabel a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre... Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor” (Lc 1, 42.45). 
O Papa Paulo VI explicita esta realidade de uma maneira simples e profunda: “Cristo veio a nós por Maria, recebemo-lo dela; se queremos pois ser verdadeiros cristãos, devemos reconhecer a relação essencial e vital que une Nossa Senhora a Jesus e que nos abre o caminho que a Ele conduz. Nem podemos desviar o olhar daquela que é a criatura mais semelhante a Cristo e é “a figura” da Igreja e é, como afirma o Concílio, ‘o modelo perfeito na fé e na caridade’ (LG 53.61.65)” (Discurso ao Congresso Mariológico de 1975).
É nesta base doutrinal que se fundamentam as nossas relações de amor, de louvor e de veneração a Maria, às quais chamamos devoção, piedade ou culto mariano. Podemos dizer que a nossa devoção a Maria é a expansão do amor a Cristo que no-la deixou como mãe, mãe dos discípulos, mãe da Igreja. A nossa relação com ela reveste a forma de um amor filial que nos ajuda a viver unidos a Cristo pela fé e o mistério da nossa filiação divina.
A oração do Rosário, com a meditação dos mistérios da vida de Cristo e da Virgem Maria, permite-nos exprimir em simultâneo o amor a Cristo e a Maria, a relação com ambos e ainda orientar tudo para a glória da Santíssima Trindade. Façamos, pelo menos algumas vezes, pessoalmente, em família e em grupo, a experiência desta oração de forma meditada e contemplativa, saboreando no coração as palavras que a boca pronuncia.

27. Critérios para uma autêntica devoção mariana
Maria é pura referência a Cristo e à Trindade Santíssima; é mãe e mestra no seguimento de Jesus, na adoração de Deus e no amor aos irmãos. Fora deste enquadramento não há verdadeira devoção mariana correspondente à verdade do Evangelho.
Deste modo, “a piedade para com a Mãe de Cristo torna-se para o fiel ocasião de crescimento na graça divina, que é a finalidade última de toda a ação pastoral. De facto, é impossível honrar a ‘Cheia de Graça’ sem honrar em si mesmos o estado de graça, isto é, a amizade com Deus, a comunhão com Ele e a inabitação do Espírito Santo” (MC 57).
Vale, assim, para toda a devoção mariana o critério apresentado pelo Papa João Paulo II em relação à devoção do Rosário: Contemplar Cristo com Maria em cinco momentos: recordar Cristo com Maria; aprender Cristo de Maria; configurar-se a Cristo com Maria; suplicar a Cristo com Maria e anunciar Cristo com Maria (Cf. RVM 12-17).
O Curso de Mariologia e o Curso sobre a Mensagem de Fátima no Centro de Cultura e Formação Cristã (CCFC), os encontros vicariais e os retiros da Quaresma ajudarão a uma visão renovada da figura de Maria e de uma autêntica devoção e espiritualidade marianas.

28. Maria, figura e modelo da Igreja
Como figura e modelo da Igreja, de que ela é “membro eminente e exemplar”, Maria leva-nos a descobrir a vida interior da Igreja, a sua alma mística, a vivência e o testemunho da vida em Cristo, e estimula-nos a viver nesta família de Deus para nos deixarmos transformar pelo Espírito Santo.
Assim, podemos ver Maria como espelho e paradigma da vocação e missão da Igreja nas múltiplas relações que a unem a Maria: modelo da Igreja discípula crente, que acolhe com fé e põe em prática a Palavra de Deus; da Igreja mãe, cuja missão é tornar Cristo vivo nos corações dos fiéis; da Igreja virgem na fidelidade de todo o coração ao Senhor; da Igreja orante no louvor e ação de graças como Maria no Magnificat e no cenáculo; da Igreja profeta anunciadora da Palavra e da justiça; da Igreja oferente, que faz da própria vida e missão uma entrega a Deus e caminho de santificação como Maria na apresentação de Jesus no templo e junto à cruz; da Igreja peregrina no meio das tribulações a caminho da Pátria da bem-aventurança; da Igreja do Espírito do Pentecostes, animada, unida e guiada por Ele na sua comunhão e missão; da Igreja missionária, em saída, como na Visitação a Isabel, para levar a ternura e a misericórdia de Deus a todos, sobretudo aos pobres e aos aflitos lembrados no Magnificat (Cf. MC 16-22).
Esta dimensão mariana é o mais forte antídoto contra uma concepção de Igreja puramente organizativa e burocrática. Em consequência, os fiéis e os ministros da Igreja, pela sua relação pessoal e identificação com Maria, viverão a sua relação e zelo apostólico e pastoral com amor e espírito de serviço e não de domínio, atentos à situação das pessoas para ter iniciativas e intervenções oportunas e criativas.

29. A Igreja, Mãe misericordiosa
Neste Ano Santo da Misericórdia, a Igreja deve empenhar-se com toda a dedicação a tornar visível o rosto misericordioso de Deus. Neste campo tem uma tríplice missão: anunciar, celebrar e praticar a misericórdia na própria praxis pastoral.
Antes de mais, há de apresentar-se como mãe misericordiosa, com a casa sempre aberta aos seus filhos, Igreja de portas abertas e não com os ferrolhos fechados. Só uma Igreja maternalmente misericordiosa curará as feridas e libertará os homens da solidão e do desespero, porque todos saberão que podem bater à sua porta sem medo de serem rejeitados ou excluídos.
Neste sentido, o Santo Padre pede que as comunidades cristãs sejam um “oásis de misericórdia”, isto é, “o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114).
Celebraremos a abertura do Ano Santo da Misericórdia no Santuário de Fátima e na Catedral de Leiria, nos dias 8 e 13 de dezembro, respetivamente. Haverá um guião para acompanhar o rito de atravessar a Porta Santa ou Porta da Misericórdia, para que seja feito com fé e como sinal de conversão e de encontro com a misericórdia de Deus.

30. As obras de misericórdia e a sua relevância social e cultural
A misericórdia é um dom divino, mas também tarefa de todos os cristãos, chamados a praticá-la e testemunhá-la em palavras, atitudes e obras. A tradição cristã, fazendo eco do Evangelho de Mateus (Mt 25, 34-36), especificou esta tarefa nas chamadas obras de misericórdia: sete corporais e sete espirituais. Como muitos porventura já as esqueceram, ou nunca as aprenderam, citamo-las aqui na sua formulação tradicional.
As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir os enfermos; visitar os presos e enterrar os mortos. E as espirituais são: dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os tristes; perdoar as injúrias; suportar com paciência os defeitos do nosso próximo; rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Aplicadas ao contexto e às situações de hoje, elas adquirem particular relevância social e cultural. Trata-se de prestar atenção e dar resposta às necessidades materiais e espirituais de quem precisa. Para além da ajuda material, também é necessário que nos tratemos misericordiosamente uns aos outros.
Podemos dizer, com o cardeal W. Kasper, que as obras de misericórdia respondem a quatro dimensões da pobreza individual ou estrutural. Em primeiro lugar, a pobreza física ou económica que afeta milhares de pessoas que não têm o necessário para a alimentação, que carecem de roupa ou de teto e abrigo, os desempregados, os refugiados à busca de acolhimento, os portadores de deficiência ou doentes para quem não bastam as técnicas médicas, os presos que necessitam de humanização das suas condições de vida. A segunda forma é a pobreza cultural que se manifesta no analfabetismo, na falta de oportunidades de formação, na exclusão social e cultural. Acresce a pobreza relacional, isto é, a pobreza de comunicação de quem está na solidão, no isolamento, particularmente os sós e os idosos, os que sofrem o luto. Por fim, também existe a pobreza espiritual, que hoje representa um grave problema: o vazio interior, a confusão moral e espiritual, a perda de orientação na vida, a violência e a vingança como lei do mais forte, a perda da esperança... Neste sentido, as obras de misericórdia espirituais adquirem nova atualidade e urgência.
O Bispo realizará um sinal eclesial das obras de misericórdia com a visita aos presos, aos utentes do Centro de Acolhimento de Leiria e da comunidade “Vida e Paz” em Fátima.
Este biénio é um tempo propício para a organização do serviço de apoio aos doentes e do acolhimento aos mais fragilizados nas comunidades.
Sem a misericórdia, a nossa sociedade corre o risco de se transformar num deserto interior, árido, frio, inóspito, inumano.

31. A Penitência: o sacramento da misericórdia
A mensagem de Fátima contém um apelo forte e urgente à penitência, isto é, ao arrependimento do pecado, ao perdão e à conversão, acolhendo o dom da misericórdia. Sabemos que todos os sacramentos são sinais da misericórdia de Deus. No entanto, a Igreja sempre reconheceu que a Penitência é o verdadeiro sacramento da misericórdia de Deus que sempre nos perdoa e sempre nos concede a possibilidade de um novo começo.
Hoje, este sacramento atravessa uma crise de abandono e esquecimento nas nossas comunidades. Muitos vêm-no como um fardo, um peso, e não como um dom do Senhor ressuscitado (Cf. Jo 20, 22ss), um sacramento onde fazemos a experiência da compaixão de Deus de forma personalizada e imediata, quando nos é dito em nome de Jesus: “Os teus pecados estão perdoados”. O perdão – como diz o Papa Francisco – é uma carícia de Deus, que nos traz a liberdade interior, a paz espiritual e a alegria. É necessário redescobrir este sacramento, mesmo por parte dos sacerdotes. Para todo o sacerdote, além de obrigação, é uma obra de misericórdia estar disponível para administrar o sacramento do perdão. Neste sentido, peço que se reveja em cada paróquia e vigararia, nas comunidades religiosas e no Santuário de Fátima o modo como se está a proporcionar e a realizar o sacramento da Penitência, procurando melhorar a sua oferta e a celebração pessoal e comunitária, tanto nos tempos como nas formas.
Recomendamos que em cada paróquia se realize a iniciativa “24 horas para o Senhor”, na sexta-feira e no sábado da III semana da Quaresma, dedicadas à oração, adoração eucarística e celebração do sacramento da Penitência ou Reconciliação.

32. Acolher Nossa Senhora peregrina e a sua mensagem
Por ocasião do Centenário das Aparições, a imagem da Virgem Peregrina está a percorrer todas as dioceses do País, permanecendo quinze dias em cada uma. É um belo símbolo da Mãe da Ternura e da Misericórdia que vai visitar os filhos onde eles vivem e trabalham, para lhes levar a sua mensagem e para lhes fazer sentir a sua proximidade e o seu conforto.
Também nós receberemos esta visita de 1 a 12 de maio de 2016. Espero que a nossa diocese se mostre à altura e a acolha de todo o coração, exprimindo com entusiasmo a gratidão e o louvor por ter sido agraciada com o dom das Aparições em Fátima. Faço votos de que seja uma grande bênção para todos e um momento forte de evangelização.
Neste sentido, deveremos ter presentes três aspetos particulares: acolher a mãe que ajuda a contemplar a ternura e a misericórdia de Deus; a mãe que reúne os seus filhos em família para que cada um se sinta membro afetivo e efetivo desta família que é a Igreja; aquela mãe que convida os filhos a serem, como ela, Igreja em saída que vai levar a ternura, o calor e a alegria do Evangelho a todas as periferias.
Deste acolhimento faz parte também a nossa Peregrinação Diocesana a Fátima, que em 2016 será sob o lema da misericórdia e, assim, nos evoca que a misericórdia é uma meta a alcançar e um longo caminho a percorrer. No segundo ano do biénio, cada vigararia fará a sua peregrinação a Fátima, para retribuir a visita da Senhora Peregrina.
Os Pastorinhos, como primeiros testemunhas e mensageiros, foram um exemplo concreto do acolhimento da mensagem da Senhora de Fátima. Por isso, far-se-á a divulgação da história e da experiência espiritual dos Pastorinhos, como incentivo à vocação universal à santidade. Em cada paróquia, celebre-se anualmente, com especial empenho, a Festa dos Beatos Pastorinhos, a 20 de fevereiro.
Ao Movimento Diocesano da Mensagem de Fátima confiamos a implementação deste movimento nas paróquias da Diocese, recomendando aos párocos e aos fiéis o acolhimento, a adesão e o apoio a este válido instrumento apostólico.

33. A presença de Nossa Senhora nas famílias, nos jovens e nas vocações
Maria é mestra de uma fé maternal, acolhedora, terna, misericordiosa, sensível às necessidades dos outros, samaritana e missionaria. Esta é também a fé dos autênticos pais e educadores cristãos, que anima muitas famílias e a pastoral juvenil e vocacional.
Maria está presente nas famílias cristãs, nos seus lares, nos cuidados de cada dia, nas relações de amor, mesmo nas dificuldades, na saúde e na doença. Muitas famílias conservam a sua imagem como sinal da sua presença permanente. Este biénio pastoral é ocasião para incentivar a oração a Nossa Senhora em família, todos os dias, como por exemplo o Terço ou algum mistério do mesmo. Se não for possível diariamente, ao menos uma vez por semana.
A força educativa da devoção mariana é especialmente eficaz e necessária na formação humana e cristã da juventude. O amor à Virgem une-nos mais afetivamente a Jesus e abre sempre caminhos novos de generosidade e fidelidade, de esforço e esperança na vida espiritual e na vida social das relações humanas, dos ideais e dos projetos de vida. A pastoral juvenil e vocacional encontra um forte apoio e impulso na devoção profunda a Maria, na sua resposta pronta a Deus: “eis-me aqui a favor dos outros”. É neste ambiente de piedade e oração que nascem as vocações de entrega e consagração.
É pedagógico apostar no serviço do voluntariado dos jovens, tanto no campo das obras de misericórdia como no das missões. Maria ensina a sermos discípulos missionários. A propósito, desejo lembrar que a geminação da nossa diocese com a do Sumbe, em Angola, tendo assumido a nosso cargo a missão do Gungo, faz dez anos em 2016. Lá no Gungo apalpa-se a grandeza das obras de misericórdia como resposta aos vários âmbitos da pobreza. Tem sido uma epopeia da misericórdia! Tem havido sempre jovens e adultos voluntários para uma experiência de meio ano, de um ano e até de dois anos, e que testemunham depois quanto foi enriquecedora. Precisamos de mais voluntários! É a hora!

34. O Santuário de Fátima, memória viva do acontecimento e da mensagem
Na última aparição, em outubro de 1917, a Senhora do Rosário pediu aos Pastorinhos que fosse construída uma capela em sua honra naquele mesmo lugar.
O povo começou por construir a Capelinha das Aparições como memorial do acontecimento fundador. Com o decorrer do tempo, sentiu-se a necessidade de um recinto e de construir duas basílicas, não só pelo maior afluxo de peregrinos, mas também para dar expressão a aspetos essenciais da mensagem. “As duas basílicas refletem o significado mais profundo do que aconteceu e continua a acontecer na Cova da Iria: num extremo, na zona mais elevada, ergue-se a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que estende as colunatas como braços abertos para acolher e abraçar os que a contemplam; estes braços apontam em direção à Basílica da Santíssima Trindade que, do fundo e da profundidade, sustém e dá solidez ao santuário como acontecimento: a Virgem (o Imaculado Coração de Maria) é a garantia de uma misericórdia que brota do Amor Trinitário” (Eloy Bueno).
O Santuário, com a sua configuração arquitetónica, as celebrações da liturgia e a piedade popular dos peregrinos, fala de um acontecimento que perdura, mostra que não se trata de algo meramente passado, mas sempre atual. Nunca esquecerei a exclamação espontânea e extasiada do Papa Bento XVI no “papamóvel”, ao contemplar a procissão de velas na noite de 12 de maio de 2010: “Não há nada como Fátima em toda a Igreja Católica no mundo!”. Na sua visita, referiu-se ainda a Fátima como “o coração espiritual de Portugal”. Também eu já tive ocasião de afirmar que “não se compreende a Igreja em Portugal sem Fátima, nem se compreende Fátima sem a Igreja em Portugal”.
Tudo isto nos ajuda a compreender o carisma próprio do Santuário: ser memória viva do singular acontecimento das Aparições, velar pela mensagem atualizando-a e fazê-la chegar ao perto e ao longe, para que continue a ser fonte de conforto, esperança e paz para as pessoas e para o mundo.
Para a celebração do Centenário, o Santuário organizou um programa de sete anos, a fim de, em cada ano, irmos descobrindo a beleza, a riqueza e a profundidade da mensagem. Este ano pastoral de 2015-2016 será dedicado à esperança na plenitude da vida eterna, sob o lema bíblico “Eu vim para que tenham vida”.
O último ano, de 2016-2017, será Ano Jubilar. O programa centra-se na contemplação da beleza da Mãe do Redentor e Mãe da Igreja, sob o lema “O Senhor fez em mim maravilhas”, para cantarmos as pequenas e grandes maravilhas da graça que Deus realizou em Maria e, através dela, na história da salvação, no acontecimento de Fátima e em tantas histórias dos peregrinos devotos. Por isso, durante o Ano Jubilar somos convidados à participação nos momentos celebrativos do Santuário, particularmente na peregrinação de 12 e 13 de maio, com a presença do Santo Padre.

35. Maria, modelo eclesial de evangelização
Na mensagem da Senhora em Fátima vemos refletidas as caraterísticas da Igreja e da sua missão. Creio que podemos apresentar a mensagem como “um modelo eclesial para a evangelização”, com as palavras do Papa Francisco sobre Maria na Evangelii Gaudium:
“Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. N’Ela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros para se sentir importantes. Fixando-A, descobrimos que aquela que louvava a Deus porque «derrubou os poderosos de seus tronos» e «aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 52.53) é a mesma que assegura o calor maternal à nossa busca de justiça. E é a mesma também que conserva cuidadosamente «todas estas coisas ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes acontecimentos como naqueles que parecem impercetíveis. É contemplativa do mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos. É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da prontidão, a que sai «à pressa» (Lc 1, 39) da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz d’Ela um modelo eclesial para a evangelização” (EG 288).

36. Entregamo-nos a Maria
Para terminar, faço-me eco de uma exortação do Papa Francisco: “Não nos cansemos de aprender de Maria, de admirar e contemplar a sua beleza, de deixar que ela nos conduza sempre à fonte originária e à plenitude da infinita beleza, a de Deus, que nos foi revelada em Cristo, Filho do Pai e Filho de Maria”.
Oh! Quanto desejo que o Centenário das Aparições seja um verdadeiro momento de graça e de renovação espiritual para a nossa diocese, em que a fé de Maria nos preceda e acompanhe como farol luminoso e como modelo de maturidade cristã! Que ela nos ajude a viver sempre com maior entusiasmo, coragem e coerência a nossa fé cristã, a nossa vocação de filhos de Deus e membros vivos da Igreja, a nossa missão de construtores da fraternidade, da justiça e da paz.
À sua solicitude materna confiamos o bom êxito do nosso percurso pastoral, com a oração do Papa Francisco perante a imagem de Nossa Senhora de Fátima, da Capelinha das Aparições, em Roma, no dia 13 de outubro de 2013.

ATO DE ENTREGA A MARIA

Bem-Aventurada Virgem de Fátima,
com renovada gratidão pela tua presença materna
unimos a nossa voz à de todas as gerações
que te proclamam bem-aventurada.
Em ti celebramos as grandes obras de Deus,
que nunca Se cansa de inclinar-Se com misericórdia
sobre a humanidade, afligida pelo mal e ferida pelo pecado,
para a curar e salvar.
Acolhe com benevolência de Mãe
o ato de entrega que hoje fazemos com confiança,
diante desta tua imagem que nos é tão querida.
Estamos certos de que cada um de nós é precioso aos teus olhos
e que nada do que habita os nossos corações te é estranho.
Deixamo-nos alcançar pelo teu dulcíssimo olhar
e recebemos a consoladora carícia do teu sorriso.
Guarda a nossa vida entre os teus braços:
abençoa e robustece todo o desejo de bem;
vivifica e alimenta a fé;
ampara e ilumina a esperança;
suscita e anima a caridade;
guia a todos nós no caminho da santidade.
Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção
pelos pequenos e pobres, pelos excluídos e sofredores,
pelos pecadores e os de coração transviado;
reúne a todos sob a tua proteção
e a todos entrega ao teu amado Filho,
Jesus Nosso Senhor.
Ámen!
(Papa Francisco)

Leria, 15 de setembro de 2015,
Memória de Nossa Senhora das Dores

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Sem comentários:

Enviar um comentário