DOMINGO XV DO TEMPO COMUM -2025- ANO C
As leituras
deste domingo desafiam-nos a questionarmo-nos sobre quais são os fundamentos
essenciais da nossa fé, o nosso selo de identificação, a nossa verdadeira
identidade vivencial, enquanto cristãos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos. Pela forma
como amamos o nosso próximo, ou não, percebemos a qualidade do nosso ser
cristão, hoje, onde quer que estejamos e seja qual for a nossa situação.
Na 1ª
leitura (Deut 30, 10-14) Moisés conduz-nos ao encontro
de Deus, no mais profundo de nós mesmos. É, aí, quando o nosso coração se
encontra com Ele, que a lei, que antes era imposição, passa a ser comunhão
amorosa. Então, será possível amar até o inimigo, porque o Senhor, que nos habita,
o ama em nós.
“Moisés falou ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do
Senhor teu Deus, cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos
no Livro da Lei, e converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e
com toda a tua alma. Este mandamento que hoje te imponho não está acima das
tuas forças nem fora do teu alcance. Não está no céu, para que precises de
dizer: ‘Quem irá por nós subir ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim
de o pormos em prática?’. Não está para além dos mares, para que precises de
dizer: ‘Quem irá por nós transpor os mares, para no-lo buscar e fazer ouvir, a
fim de o pormos em prática?’. Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e
no teu coração, para que a possas pôr em prática»”.
Quando
escutamos S.Paulo a falar de Jesus, como o faz na 2ª leitura (Col
1, 15-20) , é impossível ficar indiferente. O nosso coração percebe, melhor do que a
mente, como é profunda a comunhão amorosa entre Jesus e o Pai. E é esse Amor
infinito que chega até nós, por Jesus, que nos revela assim a dimensão amorosa
de Deus, por cada um de nós. E porque Jesus todo Se entregou, S.Paulo, que fez
a experiência do “encontro” com Ele, só podia apresenta-Lo assim:
“Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.”
No
Evangelho (Lc 10, 25-37) é o próprio Jesus quem nos explica, através da
parábola do bom samaritano, o que devemos fazer para sermos cristãos: “Amar a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” e, simultaneamente,
também nos esclarece, claramente, sobre quem é o nosso próximo. Deixemos que
Deus habite, por inteiro, o nosso coração e assim, tal como nos dizia Moisés,
na 1ª leitura, poderemos pôr em prática o Amor de Deus na nossa vida, com as
pessoas com quem vivemos, convivemos, trabalhamos, ou nos cruzamos, no nosso quotidiano.
“Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e
perguntou a Jesus para O experimentar: «Mestre, que hei de fazer para receber
como herança a vida eterna?». Jesus disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como
lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com
toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao
próximo como a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e
viverás». Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu
próximo?». Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para
Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava,
espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. Por coincidência,
descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo,
um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um
samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho,
colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou
dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse:
‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual
destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos
salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele».
Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».”
Senhor, que eu
me deixe habitar, por inteiro, por Ti. Que sejas o meu único Senhor, o amor da
minha vida. Ama em mim todos os que pões nos meus caminhos.
Hoje meditamos sobre a parábola
do bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Um doutor da Lei põe
Jesus à prova com a seguinte pergunta: «Mestre, que devo fazer para ter a vida
eterna?» (v. 25). Jesus diz-lhe que responda ele mesmo, e ele responde-lhe
perfeitamente: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua
alma, com todas as tuas forças e com todo o teu pensamento; e ao teu próximo
como a ti mesmo» (v. 27). E Jesus conclui: «Faz isto e viverás!» (v. 28).
Então, aquele homem faz outra
pergunta, que se torna muito preciosa para nós: «Quem é o meu próximo?» (v.
29), e quer dizer: «Os meus parentes? Os meus compatriotas? Quantos pertencem à
minha religião?...». Em síntese, deseja uma regra clara que lhe permita
classificar os outros em «próximos» e «não próximos», naqueles que podem
tornar-se próximos e em quantos não podem tornar-se tais.
E Jesus responde com uma
parábola, que põe em cena um sacerdote, um levita e um samaritano. Os primeiros
dois são figuras ligadas ao culto do templo; o terceiro é um judeu hebreu
cismático, considerado como um estrangeiro, pagão e impuro, ou seja, o samaritano.
Ao longo do caminho de Jerusalém para Jericó, o sacerdote e o levita deparam-se
com um homem moribundo, que os salteadores tinham atacado, roubado e
abandonado. Em situações semelhantes, a Lei do Senhor previa a obrigação de o
socorrer, mas ambos passam sem parar. Estavam com pressa. O sacerdote talvez
tenha olhado para o relógio, dizendo: «Mas eu chegarei tarde à Missa... Devo
celebrar a Missa». E o outro disse: «Mas não sei se a Lei me permite fazer
isto, porque aí há sangue, e eu ficarei impuro...». Vão por outro caminho e não
se aproximam. E aqui a parábola oferece-nos um primeiro ensinamento: não é
automático que quantos frequentam a casa de Deus e conhecem a sua misericórdia
saibam amar o próximo. Não é automático! Tu podes conhecer a Bíblia inteira,
podes conhecer todas as rubricas litúrgicas, podes conhecer toda a teologia,
mas do conhecer não nasce espontaneamente o amar: o amar segue outro caminho; é
necessária a inteligência, mas também algo mais... O sacerdote e o levita veem,
mas ignoram; olham, mas não preveem. E no entanto, não existe culto autêntico
se ele não se traduzir em serviço ao próximo. Nunca podemos esquecer: diante do
sofrimento de tantas pessoas extenuadas pela fome, pela violência e pelas
injustiças, não podemos permanecer espetadores. O que significa ignorar o
sofrimento do homem? Significa ignorar Deus! Se não me aproximo daquele homem,
daquela mulher, daquela criança, daquele idoso ou daquela idosa que sofre, não
me aproximo de Deus.
Mas vamos ao âmago da parábola:
o samaritano, ou seja, precisamente o desprezado, aquele em quem ninguém teria
apostado algo e que no entanto, também ele, tinha os seus compromissos e os
seus afazeres, mas quando viu o homem ferido, não foi além como os outros dois,
que estavam ligados ao templo, mas «encheu-se de compaixão» (v. 33). Assim reza
o Evangelho: «encheu-se de compaixão», isto é, o seu coração, as suas vísceras
comoveram-se! Eis a diferença. Os outros dois «viram» mas os seus corações
permaneceram fechados, insensíveis. Ao contrário, o coração do samaritano
estava sintonizado com o coração do próprio Deus. Com efeito, a «compaixão» é
uma característica essencial da misericórdia de Deus. Deus tem compaixão de
nós. O que significa? Padece ao nosso lado, sente os nossos próprios
sofrimentos. Compaixão quer dizer «padecer com». O verbo indica que as vísceras
se movem e estremecem à vista do mal do homem. E nos gestos e ações do bom
samaritano reconhecemos o agir misericordioso de Deus em toda a história da
salvação. É a mesma compaixão com a qual o Senhor vem ao encontro de cada um de
nós: Ele não nos ignora, conhece as nossas dores, sabe como temos necessidade
de ajuda e de consolação. Aproxima-se de nós e nunca nos abandona. Cada um de
nós deve colocar-se, a si mesmo, perante esta pergunta e responder no seu coração: «E eu creio?
Acredito que o Senhor tem compaixão de mim, tal como sou, pecador, com tantos
problemas e situações?». Pensemos nisto, e a resposta é: «Sim!». Mas cada um
deve olhar para o próprio coração, se tem fé nesta compaixão de Deus, do Deus
bom que se aproxima de nós, que nos cura e nos acaricia. E se o rejeitarmos,
Ele espera-nos: é paciente, está sempre ao nosso lado.
O samaritano comporta-se com
verdadeira misericórdia: cura as feridas daquele homem, transporta-o para uma
hospedaria, cuida pessoalmente dele e provê a sua assistência. Tudo isto nos
ensina que a compaixão, a caridade, não é um sentimento incerto, mas significa
cuidar do outro até pagar pessoalmente por ele. Significa comprometer-se dando
todos os passos necessários para «se aproximar» do outro até se identificar com
ele: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Eis o Mandamento do Senhor.
Concluindo a parábola, Jesus inverte a questão do doutor da Lei e pergunta-lhe: «Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?» (v. 36). A resposta é finalmente inequívoca: «Aquele que foi misericordioso para com ele» (v. 27). No início da parábola, para o sacerdote e para o levita o próximo era o moribundo; no final, o próximo é o samaritano que se fez próximo. Jesus inverte a perspectiva: não classifiques os outros para ver quem é próximo e quem não é. Tu podes tornar-te próximo de quem quer que se encontre em necessidade, e sê-lo-ás se no teu coração sentires compaixão, ou seja, se tiveres a capacidade de padecer com o outro.
Esta parábola é para todos nós
uma dádiva maravilhosa, mas também um compromisso! A cada um de nós, Jesus
repete aquilo que disse ao doutor da Lei: «Vai, e também tu faz o mesmo!» (v.
37). Somos todos chamados a percorrer o mesmo caminho do bom samaritano, que é
a figura de Cristo: Jesus debruçou-se sobre nós, fez-se nosso servo, e foi
assim que nos salvou, para que também nós pudéssemos amar-nos como Ele nos
amou, do mesmo modo.
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