sábado, 3 de maio de 2025

 DOMINGO III DA PÁSCOA 

Nas leituras de hoje continuamos a conviver com os cristãos dos primeiros tempos da Igreja. Percebemos que a Igreja nascente caminha apoiada em Jesus Ressuscitado. Quando Ele aparece, pela manhã, a Luz resplandece e vence os medos, a escuridão, o desalento da noite perdida. N'Ele a vida ganha sentido, o Amor invade-nos e dá-nos alento, força para esta caminhada de peregrinos na esperança.

Na 1ª leitura (Atos 5, 27b-32.40b-41)  sentimos os Apóstolos cheios do Espírito Santo e somos interpelados pelo desassombro como anunciam o Senhor Ressuscitado, nos ambientes mais hostis. Que o Espírito Santo nos inunde, para que sejamos, a exemplo dos primeiros cristãos, anunciadores do Amor de Deus, nos meios em que nos movemos e habitamos.

Naqueles dias, o sumo sacerdote falou aos Apóstolos, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Então os judeus mandaram açoitar os Apóstolos, intimando-os a não falarem no nome de Jesus, e depois soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus.” 

Na 2ª leitura (Ap 5, 11-14) somos convidados por S. João a louvar, a bendizer, a adorar, juntamente com a Criação inteira, o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, que morreu, mas ressuscitou e está vivo no meio de nós.

“Eu, João, na visão que tive, ouvi a voz de muitos Anjos, que estavam em volta do trono, dos Seres Vivos e dos Anciãos. Eram miríades de miríades e milhares de milhares, que diziam em alta voz: «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». E ouvi todas as criaturas que há no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e o universo inteiro, exclamarem: «Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos». Os quatro Seres Vivos diziam: «Ámen!»; e os Anciãos prostraram-se em adoração.” 

O Evangelho (Jo 21, 1-19) é um testemunho de fé, ao mesmo tempo desconcertante e impressionante. Desconcertante, porque, à primeira vista, até parece que os apóstolos tinham voltado à sua vida de pescadores e esquecido que Jesus lhes tinha pedido que anunciassem, a todos os homens, a Boa Nova do Evangelho. Impressionante, porque quando Jesus aparece, tudo muda, aqueles homens transformam-se completamente. Só assim se percebe a ternura e a dinâmica  do diálogo de Jesus com S.Pedro. Deixemo-nos amar por Jesus, e inundar pelo Espírito Santo, como fizeram os primeiros apóstolos e seremos, também nós, anunciadores do Amor de Deus nos tempos de hoje.

“Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus. Dito isto, acrescentou: «Segue-Me».”

Bendito  e louvados sejas Senhor hoje e sempre, pelos séculos sem fim. Aleluia!

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje narra a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos, nas margens do lago da Galileia, com a descrição da pesca milagrosa (cf. Jo 21, 1-19). A narração é inserida no âmbito da vida diária dos discípulos, que voltaram à sua terra e ao seu trabalho de pescadores, depois dos dias perturbadores da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Para eles era difícil compreender o que tinha acontecido. Mas, quando tudo parecia ter terminado, é ainda Jesus quem «procura» de novo os seus discípulos. É Ele que os vai procurar. Desta vez encontra-os junto do lago, onde eles passaram a noite nos barcos sem pescar nada. As redes vazias são, num certo sentido, como que o balanço da sua experiência com Jesus: conheceram-no, tinham deixado tudo para o seguir, cheios de esperança... e agora? Sim, tinham-no visto ressuscitado, mas depois pensavam: «Foi embora e deixou-nos... Foi como que um sonho...».

Mas eis que ao alvorecer Jesus se apresenta na margem do lago; e eles não o reconhecem (cf. v. 4). Àqueles pescadores, cansados e desiludidos, o Senhor diz: «Lançai a rede à direita do barco e achareis» (v. 6). Os discípulos confiaram em Jesus e o resultado foi uma pesca incrivelmente abundante. A este ponto João, dirigindo-se a Pedro, diz: «É o Senhor!» (v. 7). Imediatamente Pedro lança-se à água e nada até à margem, na direção de Jesus. Naquela exclamação: «É o Senhor!», há todo o entusiasmo da fé pascal, cheia de alegria e de admiração, que contrasta em grande medida com a desorientação, o desânimo, o sentido de impotência que se tinham acumulado no ânimo dos discípulos. A presença de Jesus ressuscitado transforma todas as coisas: a escuridão é vencida pela luz, o trabalho inútil torna-se de novo frutuoso e prometedor, o sentido de cansaço e de abandono deixa lugar a um novo impulso e à certeza de que Ele está connosco.

A partir de então, estes mesmos sentimentos animam a Igreja, a Comunidade do Ressuscitado. Todos nós somos a comunidade do Ressuscitado! Se por vezes, à primeira impressão, pode parecer que as trevas do mal e a fadiga do dia a dia têm a supremacia, a Igreja sabe com certeza que sobre quantos seguem o Senhor Jesus já resplandece a luz da Páscoa que não conhece ocaso. O grande anúncio da Ressurreição infunde nos corações dos crentes uma alegria íntima e uma esperança invencível. Verdadeiramente Cristo ressuscitou! Também hoje a Igreja continua a fazer ressoar este anúncio jubiloso: a alegria e a esperança continuam a escorrer nos corações, nos rostos, nos gestos, nas palavras. Todos nós, cristãos, estamos chamados a comunicar esta mensagem de ressurreição a quantos encontramos, sobretudo a quem sofre, aos que estão sozinhos, a quantos se encontram em condições precárias, aos doentes, aos refugiados, aos marginalizados. A todos façamos chegar um raio da luz de Cristo ressuscitado, um sinal do seu poder misericordioso.

Ele, o Senhor, renove também em nós a fé pascal. Nos torne cada vez mais conscientes da nossa missão ao serviço do Evangelho e dos irmãos; nos encha do seu Espírito Santo para que, amparados pela intercessão de Maria, com toda a Igreja possamos proclamar a grandeza do seu amor e a riqueza da sua misericórdia.

Papa Francisco
(Regina Coeli, 10 de abril de 2016)

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