SEMANA V DO TEMPO PASCAL- 2025
Hoje as leituras centram-nos no maior desafio que Jesus propôs aos seus
discípulos e consequentemente também a nós, cristãos dos novos tempos: amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei. Sabendo até onde Jesus foi, por amor ao Pai e
a cada um de nós, percebemos a medida maior que Jesus coloca a cada cristão e à
Sua Igreja. Será este o sinal distintivo dos que seguem Jesus: o Amor. É
verdade que é Deus quem ama, só Ele ama verdadeira e infinitamente, sem nunca
se cansar, sempre pronto a dar-se a quem O procura de coração sincero, seja
qual for a situação em que nos encontremos, mas ama em nós e através de cada um
de nós. Saibamos ser o elo de transmissão da comunicação de Deus Amor, a todos
aqueles com quem vivemos, nos movemos e existimos.
Na
primeira leitura (Atos 14, 21b-27) continuamos a acompanhar a primeira viagem apostólica,
missionária, de S.Paulo. Percebemos como o apóstolo, para além da
evangelização, foi ajudando a constituir as comunidades, estabelecendo anciãos
e também princípios e normas organizativos. Trazia às comunidades a sua
vivência do ser Igreja e, depois de terminada cada viagem, comunicava à Igreja
tudo o que Deus fizera com eles. Assim, desde o princípio, se podia entender a
unidade de todos, numa só Igreja.
“Naqueles dias, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a
Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos
a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas
tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada
Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos
ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à
Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá
embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus,
para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram
tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé.”
Na
2ªleitura (Ap 21, 1-5ª) antevemos, nas palavras de S.João, que só, um
dia, quando o que Jesus iniciou na manhã de Páscoa
atingir a plenitude, a humanidade resplandecerá numa união total com o Seu
Criador e Deus será tudo em todos. Até
lá temos um caminho a percorrer, sabendo que Jesus já ressuscitou, vive em nós,
por isso é no hoje, no agora, onde temos tribulações e
angústias, que somos convidados a deixar que Deus se manifeste, resplandeça,
intervenha, através da forma como vivemos e agimos com todos os que fazem parte
da nossa vida, na certeza de que o Amor vencerá sempre e que n’Ele e por Ele,
tudo vale a pena.
“Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».”
No evangelho (Jo 13, 31-33a.34-35) Jesus deixa-nos como testamento um mandamento novo, o
mandamento do Amor. Que, pelo nosso agir, nos identifiquem como aqueles que
põem este mandamento em prática, no desenrolar da vida.
“Quando Judas saiu do Cenáculo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado
n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e
glorificá-l’O-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou
convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos
amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se vos amardes uns aos outros».”
Estamos no tempo pascal, que é o tempo da glorificação de Jesus. O
Evangelho que há pouco ouvimos recorda-nos que esta glorificação se realizou
mediante a paixão. No mistério pascal, paixão e glorificação estão
estreitamente ligadas entre si, formam uma unidade inseparável. Jesus afirma:
"Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado
n'Ele", e fá-lo quando Judas sai do Cenáculo para pôr em prática o plano
da sua traição, que conduzirá à morte do Mestre: precisamente naquele momento
tem início a glorificação de Jesus. O evangelista João fá-lo compreender
claramente: com efeito, não diz que Jesus foi glorificado somente depois da Sua
paixão, por meio da ressurreição, mas mostra que a Sua glorificação começou
precisamente com a paixão. Nela, Jesus manifesta a sua glória, que é glória do
amor, que se entrega totalmente a si mesmo. Ele amou o Pai, cumprindo a Sua
vontade até ao fim, com uma doação perfeita; amou a humanidade, dando a Sua
vida por nós. Assim, já na Sua paixão Ele é glorificado, e Deus é glorificado
n'Ele. Mas a paixão como expressão muito real e profunda do Seu
amor – é apenas um início. Por isso, Jesus afirma que a Sua
glorificação será também futura. Depois o Senhor, no momento em que anuncia a
Sua partida deste mundo, quase como testamento aos seus discípulos, para
continuar de modo novo a Sua presença no meio deles, dá-lhes um mandamento:
"Um novo mandamento vos dou: que vois ameis uns aos outros; assim como Eu
vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros". Se nos amarmos uns
aos outros, Jesus continuará a estar presente no meio de nós, a ser glorificado
no mundo.
Jesus fala de
um "novo mandamento". Mas qual é a sua novidade? Já no Antigo
Testamento, Deus tinha dado o mandamento do amor; agora, porém, este mandamento
tornou-se novo, enquanto Jesus lhe acrescenta um suplemento muito
importante: "Assim como Eu vos amei, vós também vos
deveis amar uns aos outros". O que é novo é precisamente este "amar
como Jesus amou". Todo o nosso amor é precedido pelo Seu amor e refere-se
a este amor, insere-se neste amor, realiza-se precisamente por este amor. O
Antigo Testamento não apresentava modelo algum de amor, mas formulava apenas o
preceito de amar. Jesus, ao contrário, deu-Se-nos como modelo e fonte de amor.
Trata-se de um amor sem limites, universal, capaz de transformar também todas
as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em ocasiões para progredir no
amor. E vemos nos santos (...) a realização deste amor, sempre da fonte do amor
de Jesus.
(...)
Dando-nos o novo mandamento, Jesus pede-nos que vivamos o Seu próprio amor, do
Seu próprio amor, que é o sinal verdadeiramente credível, eloquente e eficaz
para anunciar ao mundo a vinda do Reino de Deus. Obviamente, só com as nossas
forças somos fracos e limitados. Existe sempre em nós uma resistência ao amor e
na nossa existência há muitas dificuldades que provocam divisões,
ressentimentos e rancores. Mas o Senhor prometeu-nos que estará presente na
nossa vida, tornando-nos capazes deste amor generoso e total, que sabe superar
todos os obstáculos, inclusive aqueles que estão nos nossos corações. Se
estivermos unidos a Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo. Amar os
outros como Jesus nos amou só é possível com aquela força que nos é comunicada
na relação com Ele, especialmente na Eucaristia, na qual Se torna presente de
maneira real o seu Sacrifício de amor que gera amor: é a verdadeira novidade no
mundo e a força de uma glorificação permanente de Deus, que se glorifica na
continuidade do amor de Jesus no nosso amor.
Senhor, ensina-me a amar sempre os que pões no meu caminho.
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