XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Nas leituras
de hoje sentimo-nos acolhidos no doce regaço de Deus Pai que, no Filho, está
atento às nossas necessidades mais elementares. Como ovelhas sem pastor,
procuramos Deus continuamente no dia a dia da nossa vida! Agora, que as férias
se aproximam, respondamos ao convite do
Senhor e descansemos das fadigas e preocupações que nos atormentam e, tantas
vezes, nos afastam deste Amor infinito que nos quer verdadeiramente felizes.
N’Ele tudo é possível! Escutemos a Sua voz, o Seu convite a n’Ele descansarmos.
Ao ouvirmos a
1ªleitura (Jer 23,
1-6), numa primeira abordagem, Jeremias dirige-se aos
pastores, aos dirigentes, mas escutando melhor, com um coração mais disponível,
percebemos que todos nós somos interpelados pelo profeta. É a cada um de nós,
cristãos, que Jeremias torna responsável pelo bem-estar do próximo, das ovelhas
do Seu rebanho, para que, em Deus, ninguém se perca e cada um se sinta livre,
sem medo, sem sobressalto e, principalmente, infinita e totalmente amado, tal
qual é.
“Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho!». Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más ações – oráculo do Senhor. Eu mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’».”
Na
2ªleitura (Ef 2, 13-18), S.Paulo
centra-nos no essencial da nossa fé: a morte e ressurreição de Jesus que, numa resposta de Amor total ao Pai, nos resgata a todos e nos constitui, n’Ele,
um só Corpo em Deus Uno e Trino. É nesta comunhão, de Amor total, que somos
assumidos como filhos no Filho. E é assim, neste Amor total, que Deus nos ama
infinitamente a todos e a cada um em especial. Somos, por isso, um só povo, o
povo amado por Deus, o povo de Deus.
“Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito.”
No
evangelho (Mc 6, 30-34) encontramo-nos com Jesus, que nos olha e se preocupa
connosco. Neste encontro de olhares Jesus vê o nosso cansaço, angústia, medo,
sofrimento, desilusão e sei lá que mais… percebe tudo e ama-nos profundamente.
Dá-se-nos por inteiro, inunda-nos e então, se Lhe abrirmos o nosso coração, a
nossa alma, havemos de experimentar os frutos do Amor: misericórdia,
solidariedade, compaixão, doação,…, entrega, felicidade. Meu Senhor e meu Deus!
“Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.”
Senhor, que eu me deixe olhar por Ti. Mil graças te dou, Senhor. Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos séculos sem fim, Ámen!
Estimados
irmãos e irmãs, bom dia!
A atitude de Jesus, que
observamos no Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 6, 30-34),
ajuda-nos a compreender dois aspetos importantes da vida. O primeiro é o
descanso. Aos Apóstolos, que regressam cansados da missão e narram com
entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: «Vinde à
parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco» (v. 31). Convida ao
descanso.
Agindo assim, Jesus oferece-nos
um ensinamento precioso. Embora se regozije ao ver os seus discípulos felizes
por causa dos prodígios da pregação, não se detém em elogios e perguntas, mas
preocupa-se com o seu cansaço físico e interior. E por que faz isto? Porque
quer alertá-los para um perigo, que está sempre à espreita também para nós: o
perigo de nos deixarmos enredar pelo frenesi do fazer, de cairmos na armadilha
do ativismo, onde o mais importante são os resultados que alcançamos, e de nos
sentirmos protagonistas absolutos. Quantas vezes acontece até na Igreja:
estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final,
corremos o risco de negligenciar Jesus e no centro voltamos a pôr-nos sempre
nós. É por isso que convida os seus discípulos a descansar um pouco à parte,
com Ele. Não se trata apenas de descanso físico, mas é também repouso do
coração. Dado que não é suficiente “desligar a tomada”, é preciso descansar
verdadeiramente. E como se faz isto? Para o fazer, é necessário voltar
à essência das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não
passar da correria do trabalho à correria das férias. Jesus não evitava as
necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de mais nada, retirava-se em
oração, em silêncio, na intimidade com o Pai. O seu terno convite - descansai
um pouco - deveria acompanhar-nos: irmãos e irmãs, tenhamos cuidado
com o eficientismo, acabemos com a corrida frenética que dita as nossas
agendas. Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a
regenerar-nos no diálogo com Deus.
No entanto, o Evangelho narra
que Jesus e os discípulos não conseguem descansar como gostariam. As pessoas
encontram-nos e afluem de todas as partes. Nessa altura, o Senhor compadece-se.
Eis o segundo aspeto: a compaixão, que é o estilo de Deus. O
estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho,
na Bíblia, encontramos esta frase: “Teve compaixão”. Comovido, Jesus dedica-se
às pessoas e recomeça a ensinar (cf. vv. 33-34). Parece uma contradição, mas na
realidade não é. Na verdade, só o coração que não se deixa levar pela pressa é
capaz de se comover, ou seja, de não se deixar arrebatar por si mesmo e pelas
coisas a fazer, e de se dar conta dos outros, das suas feridas, das suas
necessidades. A compaixão nasce da contemplação. Se
aprendermos a descansar verdadeiramente, seremos capazes de autêntica
compaixão; se cultivarmos um olhar contemplativo, levaremos a cabo as nossas
atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se
permanecermos em contacto com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais
profunda de nós mesmos, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o
fôlego nem de nos devorar. Necessitamos – prestai atenção a isto – necessitamos
de uma “ecologia do coração”, que se compõe de descanso,
contemplação e compaixão. Aproveitemos a temporada de verão para isto!
E agora, rezemos a Nossa Senhora, que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e que se compadece sempre ternamente de nós, seus filhos.
Papa Francisco
(Angelus , 18 de julho de 2021)
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