XV DOMINGO DO TEMPO COMUM
Hoje, a
liturgia aponta-nos para a missão de todo o cristão: anunciar o Evangelho na
vida. Através das leituras vamo-nos sentindo desafiados, num crescendo que
culmina no evangelho, a viver e a dar testemunho da mensagem do amor infinito
de Deus, por cada ser criado. É-nos pedida uma resposta, de amor, ao apelo que
Deus nos faz de O anunciarmos, na vida, a todos os que connosco se cruzam, no dia a dia, ao longo da nossa caminhada na Terra.
Na
1ªleitura (Amós 7, 12-15) é bom sentir como o profeta enfrenta o poder
instituído e se mantém fiel ao que o Senhor lhe pediu: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’. Os obstáculos,
às vezes, começam em nós próprios, mas noutras situações vêm de onde menos se
espera. Escutemos Amós e façamos o que nos é pedido a cada momento. Confiemos
em Deus, que infundiu, em cada um de nós, o Seu Santo Espírito, no dia no nosso
batismo: Ele falará, mesmo que não tenhamos as palavras mais apropriadas; Ele
agirá, ainda que os nossos atos possam parecer deslocados, ou trôpegos; o Seu
Amor inundará o coração do outro, mesmo que não sintamos nada, ou esse outro
nos pareça a léguas de distância... Não importa, entreguemo-nos de
coração.
“Naqueles
dias, Amasias, sacerdote de Betel, disse a Amós: «Vai-te daqui, vidente. Foge
para a terra de Judá. Aí ganharás o pão com as tuas profecias. Mas não
continues a profetizar aqui em Betel, que é o santuário real, o templo do
reino». Amós respondeu a Amasias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta.
Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda
do rebanho e me disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’».”
Na
2ªleitura (Ef 1,
3-14) S. Paulo, com uma linguagem muito bela, faz-nos
sentir tão preciosos aos olhos de Deus, que teve, desde o princípio dos
princípios e, continua a ter hoje, e sempre, uma história, uma relação, de
um Amor tão profundo por cada um de nós, que a nossa alma explode e canta hinos
de louvor e ação de graças ao nosso Deus. Deus Pai, que entrega Seu Único
Filho, em quem põe todo o Seu enlevo, para n’Ele nos recuperar comos filhos, é de uma loucura amorosa sem fim. Como nos amas Senhor! Bendito e louvado sejas hoje
e sempre, pelos séculos dos séculos, sem fim. Que toda a terra Te louve e
aclame como o Único Deus Altíssimo. Que todos os homens Te conhecem
assim, Amor sem fim. Amén!
“Irmãos:
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos
abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos
escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em
caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua
vontade, a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo, para louvor da
sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. N’Ele, pelo
seu sangue, temos a redenção e a remissão dos pecados. Segundo a riqueza da sua
graça, que Ele nos concedeu em abundância, com plena sabedoria e inteligência,
deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio de benevolência n’Ele
de antemão estabelecido, para se realizar na plenitude dos tempos: instaurar
todas as coisas em Cristo, tudo o que há nos Céus e na terra.”
No Evangelho (Mc 6, 7-13) encontramo-nos com Jesus e os
Apóstolos e sentimo-nos desafiados a assumir a missão que o Senhor continua a
colocar hoje, a cada um dos batizados, na Igreja: ser na vida testemunha do Seu
Amor infinito por todos e por cada um de nós. Deixemos cair tudo o que nos
atrapalha e impede de ser um “vaso comunicante” do Seu Amor e permitamos que,
através de nós, Se comunique a todos, sem exceção.
“Naquele
tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois.
Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para
o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem
calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando
entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes
recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de
lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Os Apóstolos
partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com
óleo muitos doentes e curaram-nos.”
Senhor, obrigada por me amares tal qual sou. Que o meu coração todo se entregue a Ti e, assim possas chegar a quem queres, também através de mim. Que eu não seja empecilho, mas ponte.
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho de hoje (cf. Mc 6, 7-13)
narra o momento no qual Jesus envia os Doze em missão. Depois de os ter chamado
pelo nome um por um, «para andarem com Ele» (Mc 3, 14) ouvindo as suas palavras e observando os seus
gestos de cura, convocava-os agora para os «enviar dois a dois» (6, 7) às aldeias que Ele se preparava para visitar. É
uma espécie de “aprendizagem” daquilo que serão chamados a fazer depois da
Ressurreição do Senhor com o poder do Espírito Santo.
O trecho evangélico analisa o estilo do
missionário, que podemos resumir em dois pontos: a missão tem um centro;
a missão tem um rosto.
O discípulo missionário tem antes de mais um
seu centro de referência, que é a pessoa de Jesus. A narração
indica isto usando uma série de verbos que o têm a Ele como sujeito — «chamou»,
«enviou-os», «dava-lhes poder», «ordenou», «dizia-lhes» (vv. 7.8.10) — de modo que o ir e o agir dos Doze aparecem
como o irradiar-se de um centro, o repropor-se da presença e da obra de Jesus
na sua ação missionária. Isto manifesta que os Apóstolos nada têm de seu para
anunciar, nem capacidades próprias para demonstrar, mas falam e agem porque
foram «enviados», enquanto mensageiros de Jesus.
Este episódio evangélico refere-se também a nós,
e não só aos sacerdotes, mas a todos os batizados, chamados a testemunhar, nos
vários ambientes de vida, o Evangelho de Cristo. E também para nós esta missão
é autêntica apenas a partir do seu centro imutável que é Jesus. Não é uma
iniciativa dos fiéis individualmente nem dos grupos, nem sequer das grandes
agregações, mas é a missão da Igreja inseparavelmente unida ao seu Senhor.
Cristão algum anuncia o Evangelho «por conta própria», mas unicamente enviado
pela Igreja que recebeu o mandato do próprio Cristo. É precisamente o Batismo
que nos torna missionários. Um batizado que não sentir a necessidade de
anunciar o Evangelho, de anunciar Jesus, não é um bom cristão.
A segunda característica do estilo do missionário
é, por assim dizer, um rosto, que consiste na pobreza dos
meios. O seu equipamento responde a um critério de sobriedade. Com efeito,
os Doze receberam a ordem de «que nada levassem para o caminho a não ser um
cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto» (v. 8). O Mestre quis que eles fossem livres e
ligeiros, sem apoios nem favores, com a única certeza do amor d’Aquele que os
envia, fortalecidos unicamente pela sua palavra que vão anunciar. O cajado e as
sandálias são o equipamento dos peregrinos, porque eles são mensageiros do
reino de Deus, não empresários omnipotentes, não funcionários
rigorosos nem estrelas em tournée. Pensemos, por exemplo, nesta
Diocese da qual eu sou o Bispo. Pensemos nalguns Santos desta Diocese de Roma:
São Filipe Neri, São Bento José Labre, Santo Aleixo, Beata Ludovica Albertoni,
Santa Francisca Romana, São Gaspar del Bufalo e muitos outros. Não eram
funcionários nem empresários, mas trabalhadores humildes do Reino. Tinham este
rosto. E a este “rosto” pertence também a maneira como a mensagem é acolhida:
com efeito, pode acontecer que não sejamos acolhidos nem ouvidos (cf. v. 11). Também isto é pobreza: a experiência da
falência. A vicissitude de Jesus, que foi rejeitado e crucificado, antecipa o
destino do seu mensageiro. E só se estivermos unidos a Ele, morto e
ressuscitado, conseguiremos encontrar a coragem da evangelização.
A Virgem Maria, primeira discípula e missionária da Palavra de Deus, nos ajude a levar ao mundo a mensagem do Evangelho numa exultação humilde e radiante, além de qualquer rejeição, incompreensão ou tribulação.
Papa Francisco
(Angelus , 15 de julho de 2018)
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