sábado, 27 de julho de 2024

  XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras de hoje somos convidados a, primeiro que tudo, confiar em Deus, que olha por todos e está sempre atento às nossas necessidades. Depois, somos chamados a entregar tudo o que temos a Deus, numa partilha com os irmãos. E quando é dado no Amor, isto é, em Deus, o milagre da multiplicação acontecerá, porque Ele não sabe senão dar-Se contínua e infinitamente. Partilhemos e demo-nos para que, quem tem não estrague, não desperdice e a quem não tem, não falte.

Na primeira leitura (2 Reis 4, 42-44) testemunhamos a confiança, do profeta Eliseu, em Deus. Àquele que lhe dá vinte pães de cevada e trigo novo, como as primícias da colheita, pede para tudo distribuir pelas cem pessoas que o escutam. Contra toda a objetividade, racionalidade e incredulidade, sobressai a sua total confiança na promessa do Senhor, que disse: ‘Comerão e ainda há de sobrar’. E assim foi. Feita a nossa parte, só temos de confiar no Amor de Deus, que ama incomensuravelmente todos e cada um de nós. Ele fará acontecer o que for melhor. A Deus nada é impossível!

“Naqueles dias, veio um homem da povoação de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu, o homem de Deus, pão feito com os primeiros frutos da colheita. Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge. Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente». O servo respondeu: «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?». Eliseu insistiu: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há de sobrar’». Deu-lhos e eles comeram, e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.”

Na 2ª leitura (Ef 4, 1-6) S.Paulo faz-nos um apelo veemente a vivermos comos cristãos, na unidade e na caridade em Deus, num só Deus e num só batismo. Este há de ser o nosso distintivo: “Vede como eles se amam”. Como é difícil sermos este sinal, nos tempos que correm, mas não há volta a dar, o caminho é este: só em Deus, por Cristo, diz-nos S.Paulo, tal será possível. Que o Senhor nos ilumine e guie e Nossa Senhora nos ajude.

“Irmãos: Eu, prisioneiro pela causa do Senhor, recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados: procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se encontra.” 

No Evangelho (Jo 6, 1-15) S.João desafia-nos a confiar em Deus e a n’Ele partilharmos o que temos e somos. Um pouco, ou bastante, à semelhança do que fez Eliseu, na primeira leitura, somos confrontados com: a atitude da multidão (da qual também fazemos parte), que faminta se senta organizadamente sobre a erva abundante; a perplexidade dos discípulos que não acreditam que, com  cinco pães de cevada e dois peixes, se possam alimentar cinco mil pessoas. Mas, também como os discípulos, acreditamos que Jesus é o Filho de Deus, é Deus na Trindade e que Deus, Amor infinito em comunicação contínua, está sempre a dar-Se. E também nós ajudamos a distribuir o que há para dar. E chega para todos! Melhor ainda, sobra para quem não está e também tem fome. Quando o nosso coração se abre a Deus e aos outros, é isto que acontece, Deus comunica-se num Amor sem fim a quem d’Ele necessita.

“Naquele tempo, Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que Ele realizava nos doentes. Jesus subiu a um monte e sentou-Se aí com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?». Dizia isto para o experimentar, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Respondeu-Lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?». Jesus respondeu: «Mandai-os sentar». Havia muita erva naquele lugar e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil. Então, Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, fazendo o mesmo com os peixes; e comeram quanto quiseram. Quando ficaram saciados, Jesus disse aos discípulos: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. Quando viram o milagre que Jesus fizera, aqueles homens começaram a dizer: «Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo». Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.”

Senhor, que eu me entregue sempre a Ti e aos outros, sem medo, numa disponibilidade total do meu ser.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia deste domingo narra o célebre episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, com o qual Jesus dá de comer a cerca de cinco mil pessoas que o vieram ouvir (cf. Jo 6, 1-15). É interessante ver como este prodígio acontece: Jesus não cria os pães e os peixes a partir do nada, não, mas opera a partir do que os discípulos lhe trazem. Um deles diz: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes: mas que é isso para tanta gente?»  (v. 9). É pouco, é nada, mas para Jesus é suficiente.

Procuremos agora colocar-nos no lugar desse rapazito. Os discípulos pedem-lhe que partilhe tudo o que tem para comer. Parece uma proposta sem sentido, aliás, injusta. Por que privar uma pessoa, sobretudo um menino, do que trouxe de casa e tem o direito de reservar para si? Por que tirar a uma pessoa o que não é suficiente para alimentar toda a gente? Humanamente, é ilógico. Mas para Deus não. Pelo contrário, graças a esse pequeno dom gratuito e, portanto, heroico, Jesus pode dar de comer a todos. Para nós é um grande ensinamento. Diz-nos que o Senhor pode fazer muito com o pouco que pomos à sua disposição. Seria bom perguntarmo-nos todos os dias: “O que levo hoje a Jesus?”. Ele pode fazer muito com uma nossa oração, com um nosso gesto de caridade para com os outros, até com uma das nossas misérias entregues à sua misericórdia. Entreguemos a nossa pequenez a Jesus, e Ele faz milagres. É assim que Deus gosta de agir: Ele faz grandes coisas a partir das pequenas, a partir das gratuitas.

Todos os grandes protagonistas da Bíblia – Abraão, Maria e o menino de hoje – mostram esta lógica da pequenez e do dom. A lógica do dom é muito diferente da nossa. Procuramos acumular e aumentar o que temos, mas Jesus pede-nos para dar, para diminuir. Gostamos de acrescentar, gostamos das adições; Jesus gosta das subtrações, de tirar algo para o dar a outros. Queremos multiplicar para nós; Jesus aprecia quando dividimos com os outros, quando partilhamos. É curioso que nos relatos da multiplicação dos pães nos Evangelhos, o verbo “multiplicar” nunca aparece. Pelo contrário, os verbos utilizados são de sinal oposto: “partir”, “dar”, “distribuir” (cf. v. 11; Mt 14, 19; Mc 6, 41; Lc 9, 16). Mas o verbo “multiplicar” não é usado. O verdadeiro milagre, diz Jesus, não é a multiplicação que produz ostentação e poder, mas a divisão, a partilha, que aumenta o amor e permite que Deus realize maravilhas. Procuremos partilhar mais, tentemos este caminho que Jesus nos ensina.

Ainda hoje, a multiplicação de bens não resolve os problemas sem uma partilha justa. Vem-me à mente a tragédia da fome, que atinge particularmente os mais pequeninos. Foi calculado – oficialmente – que todos os dias no mundo cerca de sete mil crianças com menos de cinco anos morrem devido à desnutrição, pois não têm o suficiente para viver. Face a escândalos como estes, Jesus dirige-nos um convite, um convite semelhante ao que provavelmente recebeu o rapaz do Evangelho, que não tem nome e no qual todos nós nos podemos ver: “Coragem, dá o pouco que tens, os teus talentos, os teus bens, torna-os disponíveis para Jesus e para os teus irmãos. Não tenhas medo, nada se perderá, porque se partilhares, Deus multiplica. Expulsa a falsa modéstia de te sentires inadequado, confia. Acredita no amor, acredita no poder do serviço, acredita na força da gratuidade”.

Que a Virgem Maria, que respondeu “sim” à proposta sem precedentes de Deus, nos ajude a abrir o coração aos convites do Senhor e às necessidades dos outros.

Papa Francisco

(Angelus , 25 de julho de 2021)

sábado, 20 de julho de 2024

  XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM 

Nas leituras de hoje sentimo-nos acolhidos no doce regaço de Deus Pai que, no Filho, está atento às nossas necessidades mais elementares. Como ovelhas sem pastor, procuramos Deus continuamente no dia a dia da nossa vida! Agora, que as férias se aproximam, respondamos ao convite do Senhor e descansemos das fadigas e preocupações que nos atormentam e, tantas vezes, nos afastam deste Amor infinito que nos quer verdadeiramente felizes. N’Ele tudo é possível! Escutemos a Sua voz, o Seu convite a n’Ele descansarmos.

Ao ouvirmos a 1ªleitura (Jer 23, 1-6)numa primeira abordagem, Jeremias dirige-se aos pastores, aos dirigentes, mas escutando melhor, com um coração mais disponível, percebemos que todos nós somos interpelados pelo profeta. É a cada um de nós, cristãos, que Jeremias torna responsável pelo bem-estar do próximo, das ovelhas do Seu rebanho, para que, em Deus, ninguém se perca e cada um se sinta livre, sem medo, sem sobressalto e, principalmente, infinita e totalmente amado, tal qual é.

Diz o Senhor: «Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho!». Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas e as escorraçastes, sem terdes cuidado delas. Vou ocupar-Me de vós e castigar-vos, pedir-vos contas das vossas más ações – oráculo do Senhor. Eu mesmo reunirei o resto das minhas ovelhas de todas as terras onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Dar-lhes-ei pastores que as apascentem e não mais terão medo nem sobressalto; nem se perderá nenhuma delas – oráculo do Senhor. Dias virão, diz o Senhor, em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria; há de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’».”

Na 2ªleitura (Ef 2, 13-18), S.Paulo centra-nos no essencial da nossa fé: a morte e ressurreição de Jesus que, numa resposta de Amor total ao Pai, nos resgata a todos e nos constitui, n’Ele, um só Corpo em Deus Uno e Trino. É nesta comunhão, de Amor total, que somos assumidos como filhos no Filho. E é assim, neste Amor total, que Deus nos ama infinitamente a todos e a cada um em especial. Somos, por isso, um só povo, o povo amado por Deus, o povo de Deus.

“Irmãos: Foi em Cristo Jesus que vós, outrora longe de Deus, vos aproximastes d’Ele, graças ao sangue de Cristo. Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava, anulando, pela imolação do seu corpo, a Lei de Moisés com as suas prescrições e decretos. E assim, de uns e outros, Ele fez em Si próprio um só homem novo, estabelecendo a paz. Pela cruz reconciliou com Deus uns e outros, reunidos num só Corpo, levando em Si próprio a morte à inimizade. Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito.”

No evangelho (Mc 6, 30-34) encontramo-nos com Jesus, que nos olha e se preocupa connosco. Neste encontro de olhares Jesus vê o nosso cansaço, angústia, medo, sofrimento, desilusão e sei lá que mais… percebe tudo e ama-nos profundamente. Dá-se-nos por inteiro, inunda-nos e então, se Lhe abrirmos o nosso coração, a nossa alma, havemos de experimentar os frutos do Amor: misericórdia, solidariedade, compaixão, doação,…, entrega, felicidade. Meu Senhor e meu Deus!

“Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.”

Senhor, que eu me deixe olhar por Ti. Mil graças te dou, Senhor. Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos séculos sem fim, Ámen!

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

A atitude de Jesus, que observamos no Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 6, 30-34), ajuda-nos a compreender dois aspetos importantes da vida. O primeiro é o descanso. Aos Apóstolos, que regressam cansados da missão e narram com entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: «Vinde à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco» (v. 31). Convida ao descanso.

Agindo assim, Jesus oferece-nos um ensinamento precioso. Embora se regozije ao ver os seus discípulos felizes por causa dos prodígios da pregação, não se detém em elogios e perguntas, mas preocupa-se com o seu cansaço físico e interior. E por que faz isto? Porque quer alertá-los para um perigo, que está sempre à espreita também para nós: o perigo de nos deixarmos enredar pelo frenesi do fazer, de cairmos na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que alcançamos, e de nos sentirmos protagonistas absolutos. Quantas vezes acontece até na Igreja: estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e no centro voltamos a pôr-nos sempre nós. É por isso que convida os seus discípulos a descansar um pouco à parte, com Ele. Não se trata apenas de descanso físico, mas é também repouso do coração. Dado que não é suficiente “desligar a tomada”, é preciso descansar verdadeiramente. E como se faz isto? Para o fazer, é necessário voltar à essência das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho à correria das férias. Jesus não evitava as necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de mais nada, retirava-se em oração, em silêncio, na intimidade com o Pai. O seu terno convite - descansai um pouco - deveria acompanhar-nos: irmãos e irmãs, tenhamos cuidado com o eficientismo, acabemos com a corrida frenética que dita as nossas agendas. Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus.

No entanto, o Evangelho narra que Jesus e os discípulos não conseguem descansar como gostariam. As pessoas encontram-nos e afluem de todas as partes. Nessa altura, o Senhor compadece-se. Eis o segundo aspeto: a compaixão, que é o estilo de Deus. O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: “Teve compaixão”. Comovido, Jesus dedica-se às pessoas e recomeça a ensinar (cf. vv. 33-34). Parece uma contradição, mas na realidade não é. Na verdade, só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, ou seja, de não se deixar arrebatar por si mesmo e pelas coisas a fazer, e de se dar conta dos outros, das suas feridas, das suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, seremos capazes de autêntica compaixão; se cultivarmos um olhar contemplativo, levaremos a cabo as nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contacto com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais profunda de nós mesmos, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego nem de nos devorar. Necessitamos – prestai atenção a isto – necessitamos de uma “ecologia do coração”, que se compõe de descanso, contemplação e compaixão. Aproveitemos a temporada de verão para isto!

E agora, rezemos a Nossa Senhora, que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e que se compadece sempre ternamente de nós, seus filhos.

Papa Francisco

(Angelus , 18 de julho de 2021)

sábado, 13 de julho de 2024

 XV DOMINGO DO TEMPO COMUM 

Hoje, a liturgia aponta-nos para a missão de todo o cristão: anunciar o Evangelho na vida. Através das leituras vamo-nos sentindo desafiados, num crescendo que culmina no evangelho, a viver e a dar testemunho da mensagem do amor infinito de Deus, por cada ser criado. É-nos pedida uma resposta, de amor, ao apelo que Deus nos faz de O anunciarmos, na vida, a todos os que connosco se cruzam, no dia a dia, ao longo da nossa caminhada na Terra.

Na 1ªleitura (Amós 7, 12-15) é bom sentir como o profeta enfrenta o poder instituído e se mantém fiel ao que o Senhor lhe pediu: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’. Os obstáculos, às vezes, começam em nós próprios, mas noutras situações vêm de onde menos se espera. Escutemos Amós e façamos o que nos é pedido a cada momento. Confiemos em Deus, que infundiu, em cada um de nós, o Seu Santo Espírito, no dia no nosso batismo: Ele falará, mesmo que não tenhamos as palavras mais apropriadas; Ele agirá, ainda que os nossos atos possam parecer deslocados, ou trôpegos; o Seu Amor inundará o coração do outro, mesmo que não sintamos nada, ou esse outro nos pareça a léguas de distância... Não importa, entreguemo-nos de coração. 

“Naqueles dias, Amasias, sacerdote de Betel, disse a Amós: «Vai-te daqui, vidente. Foge para a terra de Judá. Aí ganharás o pão com as tuas profecias. Mas não continues a profetizar aqui em Betel, que é o santuário real, o templo do reino». Amós respondeu a Amasias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’».” 

Na 2ªleitura (Ef 1, 3-14) S. Paulo, com uma linguagem muito bela, faz-nos sentir tão preciosos aos olhos de Deus, que teve, desde o princípio dos princípios e, continua a ter hoje, e sempre, uma história, uma relação, de um Amor tão profundo por cada um de nós, que a nossa alma explode e canta hinos de louvor e ação de graças ao nosso Deus. Deus Pai, que entrega Seu Único Filho, em quem põe todo o Seu enlevo, para n’Ele nos recuperar comos filhos, é de uma loucura amorosa sem fim. Como nos amas Senhor! Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos séculos dos séculos, sem fim. Que toda a terra Te louve e aclame como o Único Deus Altíssimo. Que todos os  homens Te conhecem assim, Amor sem fim. Amén!

“Irmãos: Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo, para louvor da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. N’Ele, pelo seu sangue, temos a redenção e a remissão dos pecados. Segundo a riqueza da sua graça, que Ele nos concedeu em abundância, com plena sabedoria e inteligência, deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio de benevolência n’Ele de antemão estabelecido, para se realizar na plenitude dos tempos: instaurar todas as coisas em Cristo, tudo o que há nos Céus e na terra.”

No Evangelho (Mc 6, 7-13) encontramo-nos com Jesus e os Apóstolos e sentimo-nos desafiados a assumir a missão que o Senhor continua a colocar hoje, a cada um dos batizados, na Igreja: ser na vida testemunha do Seu Amor infinito por todos e por cada um de nós. Deixemos cair tudo o que nos atrapalha e impede de ser um “vaso comunicante” do Seu Amor e permitamos que, através de nós, Se comunique a todos, sem exceção.

“Naquele tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.”

Senhor, obrigada por me amares tal qual sou. Que o meu coração todo se entregue a Ti e, assim possas chegar a quem queres, também através de mim. Que eu não seja empecilho, mas ponte.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje (cf. Mc 6, 7-13) narra o momento no qual Jesus envia os Doze em missão. Depois de os ter chamado pelo nome um por um, «para andarem com Ele» (Mc 3, 14) ouvindo as suas palavras e observando os seus gestos de cura, convocava-os agora para os «enviar dois a dois» (6, 7) às aldeias que Ele se preparava para visitar. É uma espécie de “aprendizagem” daquilo que serão chamados a fazer depois da Ressurreição do Senhor com o poder do Espírito Santo.

O trecho evangélico analisa o estilo do missionário, que podemos resumir em dois pontos: a missão tem um centro; a missão tem um rosto.

O discípulo missionário tem antes de mais um seu centro de referência, que é a pessoa de Jesus. A narração indica isto usando uma série de verbos que o têm a Ele como sujeito — «chamou», «enviou-os», «dava-lhes poder», «ordenou», «dizia-lhes» (vv. 7.8.10) — de modo que o ir e o agir dos Doze aparecem como o irradiar-se de um centro, o repropor-se da presença e da obra de Jesus na sua ação missionária. Isto manifesta que os Apóstolos nada têm de seu para anunciar, nem capacidades próprias para demonstrar, mas falam e agem porque foram «enviados», enquanto mensageiros de Jesus.

Este episódio evangélico refere-se também a nós, e não só aos sacerdotes, mas a todos os batizados, chamados a testemunhar, nos vários ambientes de vida, o Evangelho de Cristo. E também para nós esta missão é autêntica apenas a partir do seu centro imutável que é Jesus. Não é uma iniciativa dos fiéis individualmente nem dos grupos, nem sequer das grandes agregações, mas é a missão da Igreja inseparavelmente unida ao seu Senhor. Cristão algum anuncia o Evangelho «por conta própria», mas unicamente enviado pela Igreja que recebeu o mandato do próprio Cristo. É precisamente o Batismo que nos torna missionários. Um batizado que não sentir a necessidade de anunciar o Evangelho, de anunciar Jesus, não é um bom cristão.

A segunda característica do estilo do missionário é, por assim dizer, um rosto, que consiste na pobreza dos meios. O seu equipamento responde a um critério de sobriedade. Com efeito, os Doze receberam a ordem de «que nada levassem para o caminho a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto» (v. 8). O Mestre quis que eles fossem livres e ligeiros, sem apoios nem favores, com a única certeza do amor d’Aquele que os envia, fortalecidos unicamente pela sua palavra que vão anunciar. O cajado e as sandálias são o equipamento dos peregrinos, porque eles são mensageiros do reino de Deus, não empresários omnipotentes, não funcionários rigorosos nem estrelas em tournée. Pensemos, por exemplo, nesta Diocese da qual eu sou o Bispo. Pensemos nalguns Santos desta Diocese de Roma: São Filipe Neri, São Bento José Labre, Santo Aleixo, Beata Ludovica Albertoni, Santa Francisca Romana, São Gaspar del Bufalo e muitos outros. Não eram funcionários nem empresários, mas trabalhadores humildes do Reino. Tinham este rosto. E a este “rosto” pertence também a maneira como a mensagem é acolhida: com efeito, pode acontecer que não sejamos acolhidos nem ouvidos (cf. v. 11). Também isto é pobreza: a experiência da falência. A vicissitude de Jesus, que foi rejeitado e crucificado, antecipa o destino do seu mensageiro. E só se estivermos unidos a Ele, morto e ressuscitado, conseguiremos encontrar a coragem da evangelização.

A Virgem Maria, primeira discípula e missionária da Palavra de Deus, nos ajude a levar ao mundo a mensagem do Evangelho numa exultação humilde e radiante, além de qualquer rejeição, incompreensão ou tribulação.

Papa Francisco

(Angelus , 15 de julho de 2018)