XII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Hoje, o Senhor desafia-nos a ter uma fé verdadeira em Deus e, ao mesmo
tempo, impele-nos a passar para a outra margem, a confiar-Lhe a navegação da
“barca”, que é a nossa vida. Pede-nos que caminhemos, que nos “façamos ao mar”,
junto de todos os que coloca nos nossos caminhos. E, quando a tormenta for
grande, deixemos que Ele, que venceu a morte, por nosso amor, acalme os nossos
medos, angústias e sofrimentos e nos leve à outra margem, aos que precisam de O
conhecer através de nós. Confiemos no Único que nunca nos abandona, como Ele
nos ensinou a confiar no Pai.
Na
1ªleitura (Job
38, 1.8-11) escutamos a resposta de Deus às
perguntas de Job, que duramente provado na sua fé, põe em dúvida a justiça e o silêncio
divinos. É no meio do silêncio, fruto da oração e da comunhão com Deus, que,
também como Job, podemos escutar a resposta de Deus às nossas “revoltas”, medos
e sofrimentos. Afinal, Ele é o Senhor da Criação, tem o poder sobre todos os
elementos, até sobre o mar… e, mais importante ainda, hoje, em Jesus
ressuscitado, temos a certeza que, para lá de tudo o que não entendemos, está
sempre o Amor infinito de Deus, por cada um de nós.
“O Senhor
respondeu a Job do meio da tempestade, dizendo: «Quem encerrou o mar entre dois
batentes, quando ele irrompeu do seio do abismo, quando Eu o revesti de neblina
e o envolvi com uma nuvem sombria, quando lhe fixei limites e lhe tranquei
portas e ferrolhos? E disse-lhe: ‘Chegarás até aqui e não irás mais além, aqui
se quebrará a altivez das tuas vagas’».”
Na
2ªleitura (2
Cor 5, 14-17) S.Paulo é muito claro quando
nos diz que em Jesus Cristo tudo foi renovado, por isso, a partir do nosso
batismo, n’Ele passamos a ser novas criaturas. Deixemo-nos habitar e
transformar por Ele.
“Irmãos: O amor de Cristo nos impele, ao pensarmos que
um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram. Cristo morreu por
todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para
Aquele que morreu e ressuscitou por eles. Assim, daqui em diante, já não
conhecemos ninguém segundo a carne. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo
segundo a carne, agora já não O conhecemos assim. Se alguém está em Cristo, é
uma nova criatura. As coisas antigas passaram: tudo foi renovado.”
No
Evangelho (Mc
4, 35-41) Marcos leva-nos a contemplar
Jesus em duas situações diferentes: numa está a descansar, com a cabeça
reclinada numa almofada, tranquilo, confiante, entregue ao Pai; na outra a
dominar o vento e a tempestade. O que é que liga estes dois momentos tão
diferentes? O pedido de ajuda dos seus discípulos. Ele esteve e está sempre
presente, nunca nos deixa sós. Façamos como os discípulos, no meio das dúvidas,
dos medos, das incertezas e angústias, das nossas tempestades, recorramos ao Único que está sempre connosco, Jesus Cristo
ressuscitado, que deu a vida por cada um de nós. Esta é a certeza da fé que
professamos. Nunca duvidemos do Amor infinito de Deus por todos e cada um de
nós.
“Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos seus
discípulos: «Passemos à outra margem do lago». Eles deixaram a multidão e
levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado. Iam com Ele outras
embarcações. Levantou-se então uma grande tormenta e as ondas eram tão altas
que enchiam a barca de água. Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram: «Mestre, não Te importas que pereçamos?». Jesus
levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: «Cala-te e está quieto».
O vento cessou e fez-se grande bonança. Depois disse aos discípulos: «Porque
estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Eles ficaram cheios de temor e
diziam uns para os outros: «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe
obedecem?».”
Senhor, entrego-Te toda a humanidade a braços com tantas guerras, que parecem nunca mais ter fim. Sem Ti perdemo-nos, andamos à deriva. Ajuda-nos. Tem compaixão de nós, Senhor!
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Na liturgia de
hoje narra-se o episódio da tempestade acalmada por Jesus (Mc 4,
35-41). O barco em que os discípulos atravessam o lago é acometido pelo vento e
pelas ondas e eles têm medo de afundar. Jesus encontra-se com eles no barco,
mas está na popa, deitado na almofada, e dorme. Cheios de medo, os discípulos
gritam com Ele: «Mestre, não te importas que pereçamos?» (v. 38).
E muitas vezes
também nós, assaltados pelas provações da vida, gritamos ao Senhor: “Por que
permaneces em silêncio e não fazes nada por mim?”. Sobretudo quando temos a
impressão de afundar, porque esvaece o amor ou o projeto em que tínhamos
colocado grandes esperanças; ou quando estamos à mercê das ondas insistentes da
ansiedade; ou quando nos sentimos esmagados pelos problemas ou desorientados no
meio do mar da vida, sem rota e sem porto. Ou ainda, nos momentos em que falta
a força para ir em frente, porque não há trabalho ou um diagnóstico inesperado
nos faz temer pela saúde, nossa ou de um ente querido. Há muitos momentos em
que nos sentimos numa tempestade, em que nos sentimos quase perdidos.
Nestas
situações e em muitas outras, também nós nos sentimos sufocados pelo medo e,
como os discípulos, corremos o risco de perder de vista o que é mais
importante. Com efeito, no barco, embora durma, Jesus está presente, e
partilha com os seus tudo o que acontece. O seu sono, se por um lado nos
surpreende, por outro, põe-nos à prova. O Senhor está ali, está presente;
efetivamente, espera - por assim dizer - que o interpelemos, que o invoquemos,
que o coloquemos no centro do que vivemos. O seu sono estimula-nos a despertar.
Pois para ser discípulo de Jesus, não basta acreditar que Deus está presente,
que existe, mas é preciso pôr-se em jogo com Ele, é necessário levantar a voz
com Ele. Escutai isto: é preciso gritar com Ele. Muitas vezes
a oração é um grito: “Senhor, salva-me!”. Hoje, vi no
programa “À sua imagem” muitos que vêm em embarcações e no momento do naufrágio
gritam: “Salva-nos!”. A mesma coisa acontece na nossa vida: “Senhor,
salva-nos!”, e a oração torna-se um clamor!
Hoje podemos
perguntar-nos: quais são os ventos que se abatem sobre a minha vida, quais são
as ondas que impedem a minha navegação e colocam em perigo a minha vida
espiritual, a minha vida familiar, inclusive a minha vida psíquica? Digamos
tudo isto a Jesus, contemos-lhe tudo. Ele deseja isto, quer que nos apeguemos a
Ele para encontrar abrigo contra as ondas anómalas da vida. O Evangelho narra
que os discípulos se aproximam de Jesus, que o acordam e falam com Ele (cf. v.
38). Eis o início da nossa fé: reconhecer que sozinhos não somos capazes de
permanecer à tona, que precisamos de Jesus, como os marinheiros das estrelas
para encontrar a rota. A fé começa quando acreditamos que não somos
autossuficientes, quando nos sentimos necessitados de Deus. Quando
vencemos a tentação de nos fecharmos em nós próprios, quando superamos a falsa
religiosidade que não quer incomodar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode
fazer maravilhas em nós. É a força suave e extraordinária da oração, que faz
milagres.
Suplicado
pelos discípulos, Jesus acalma o vento e as ondas. E faz-lhes uma pergunta, uma
interrogação que também nos diz respeito: «Por que tendes medo? Ainda não
tendes fé?» (v. 40). Os discípulos deixaram-se surpreender pelo medo, pois
tinham-se fixado mais nas ondas do que em Jesus. E o medo leva-nos a olhar para as
dificuldades, para os problemas graves e não para o Senhor, que muitas vezes
dorme. Acontece o mesmo connosco: quantas vezes olhamos para os problemas, em
vez de ir ter com o Senhor para depor nele as nossas preocupações! Quantas
vezes deixamos o Senhor num canto, no fundo do barco da vida, para o acordar
apenas no momento da necessidade! Hoje peçamos a graça de uma fé que não se
canse de procurar o Senhor, de bater à porta do seu Coração. A Virgem Maria,
que na sua vida nunca deixou de confiar em Deus, volte a despertar em nós a
necessidade vital de nos confiarmos a Ele todos os dias.
Papa Francisco
(Angelus, 20 de junho de 2021)
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