SOLENIDADE DO NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA
A liturgia do dia de hoje, celebra, festivamente,
o nascimento de S.João Batista, o que é uma exceção, pois a igreja, regra
geral, só comemora o dia da morte dos santos , ou seja o dia em que
passaram a ver Deus face a face e entraram na glória celestial. O nascimento
de S.João é mesmo um caso especial, que também merece ser celebrado, pois
as circunstâncias que rodearam o seu nascimento foram o culminar de uma
verdadeira história de amor que se desenrolou entre Deus e os pais de S.João,
que vale a pena ser conhecida. Zacarias e Isabel são para nós, hoje, no
nascimento de seu filho, o testemunho de como Deus conduz a história de todos
os que se Lhe confiam de corpo e alma. Deus está sempre presente na nossa vida,
nós é que, muitas vezes, não ousamos entregarmo-nos totalmente a Ele. Deus
ama-nos infinitamente e quer sempre o que é melhor para nós, mesmo quando nos
parece que está tudo ao contrário. Deixemos que nos Deus nos ame, confiemos
n’Ele, como o fizeram Isabel e Zacarias!
Na 1ª leitura (Is 49, 1-6) Isaías projeta-nos para Jesus: «Tu és o meu servo, Israel, por
quem manifestarei a minha glória». E é em Jesus que olhamos para S.João, que
preparou os caminhos para a Sua vinda, para que a luz de Cristo e a salvação de
Deus chegassem até aos confins da terra. É por tudo isto que lhe damos o
nome de “O percursor”.
“Terras de Além-Mar, escutai-me; povos de longe,
prestai atenção. O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o
meu nome desde o seio de minha mãe. Fez da minha boca uma espada
afiada, abrigou-me à sombra da sua mão. Tornou-me semelhante a uma
seta aguda, guardou-me na sua aljava. E disse-me: «Tu és o meu servo,
Israel, por quem manifestarei a minha glória». E eu dizia: «Cansei-me
inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças». Mas o meu
direito está no Senhor e a minha recompensa está no meu Deus. E agora
o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer
de mim o seu servo, a fim de Lhe restaurar as tribos de Jacob e
reconduzir os sobreviventes de Israel. Eu tenho merecimento aos olhos do
Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta
que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e
reconduzires os sobreviventes de Israel. Farei de ti a luz das
nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».
Na 2ªleitura (Atos 13, 22-26) S.Paulo desafia-nos a fazer a vontade de Deus, para sermos
felizes. E ao deixar-nos esta mensagem apresenta-nos, como exemplo, dois
homens com vidas tão diferentes, mas ambos, segundo o coração de Deus: David e
João Batista. Seja qual for a nossa história de vida, uma coisa é certa para
mim, só o amor incomparável que Deus nos tem, se o aceitarmos e a Ele
correspondermos, nos pode transformar em seres felizes, porque assim não
quereremos outra coisa, que não seja, fazer a vontade de Deus.
“Naqueles dias, Paulo falou deste modo: «Deus
concedeu aos filhos de Israel David como rei, de quem deu este
testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu
coração, que fará sempre a minha vontade’. Da sua descendência, como
prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. João tinha
proclamado, antes da sua vinda, um batismo de penitência a todo o povo de
Israel. Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem
julgais; mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou
digno de desatar as sandálias dos seus pés’. Irmãos, descendentes de
Abraão e todos vós que temeis a Deus: a nós é que foi dirigida esta
palavra de salvação»."
No evangelho (Lc 1, 57-66.80) S.Lucas introduz-nos na alegria pelo nascimento de João, manifestação
concreta do amor de Deus na vida do casal, da família. A forma como nos vai
colocando dentro dos acontecimentos, relacionados com o nascimento deste
menino, vai-nos conduzindo para o momento da escolha do nome da criança: João.
E é nesta altura que Zacarias recupera a fala e, depois de tanto tempo em
silêncio, começa a dar glória a Deus, porque verdadeiramente reconhece Deus
Amor presente na sua vida, na sua história, na história da sua família. Um
homem de Deus, que verdadeiramente se sente amado pelo Senhor, não pode senão
bendizer e louvar a Deus, como fez Zacarias.
"Naquele tempo, chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João». Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judeia se divulgaram estes factos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?». Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel."
Senhor, eu Te louvo e bendigo pelo imenso, infinito, incomparável amor que tens por cada um de nós e por toda a humanidade. Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos séculos sem fim.
Preparar, discernir e diminuir.
Nestes três verbos está contida a experiência espiritual de são João Baptista,
aquele que precedeu a vinda do Messias «pregando o batismo de conversão» ao
povo de Israel. E o Papa Francisco na solenidade da Natividade do Precursor,
repropôs este trinómio como paradigma da vocação de cada cristão, inserindo-o
em três expressões relativas à atitude do Batista em relação a Jesus: «Depois
de mim, diante de mim, longe de mim».
João agiu antes de tudo para
«preparar, sem nada tomar para si». Ele, recordou o Pontífice, «era um homem
importante: as pessoas procuravam-no, seguiam-no», porque as suas palavras
«eram fortes» como «espada afiada», segundo a expressão de Isaías (49, 2). O
Baptista «alcançava o coração» das pessoas. E se «porventura teve a tentação de
acreditar que era importante, não caiu nela», como demonstra a resposta que deu
aos doutores que lhe perguntaram se era o Messias: «Sou voz, só voz — disse —
de uma pessoa que grita no deserto. Sou somente voz, mas vim preparar o caminho
para o Senhor». Portanto, a sua primeira tarefa é «preparar o coração do povo
para o encontro com o Senhor».
Mas quem é o Senhor? Na
resposta a esta pergunta está «a segunda vocação de João: discernir, entre
muitas pessoas boas, quem é o Senhor». E «o Espírito — observou o Papa —
revelou-lhe isto». De forma que «ele teve a coragem de dizer: “É este. Este é o
cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo”». Enquanto «na preparação João
dizia: «Depois de mim vem outro...”, no discernimento, que sabe distinguir e
indicar o Senhor, disse: “Diante de mim... é este”».
Neste ponto, insere-se «a
terceira vocação de João: diminuir». Porque precisamente «a partir daquele
momento — recordou o bispo de Roma — a sua vida começou a abaixar-se, a
diminuir para que o Senhor pudesse crescer, até se aniquilar a si mesmo». Esta
foi, observou o Papa Francisco, a etapa mais difícil de João, porque o Senhor
tinha um estilo que ele não imaginou, a tal ponto que na prisão», onde foi
mandado por Herodes Antipas, «sofreu não só a escuridão da cela mas também a do
coração». Foi assaltado pelas dúvidas: «Mas será este? Terei errado?». A ponto
que, recordou o Pontífice, pediu aos discípulos que fossem ter com Jesus para
lhe perguntar: «Mas és tu ou temos que esperar outro?».
«A humilhação de João — frisou
o bispo de Roma — foi dupla: a humilhação da sua morte, como preço de um
capricho», mas também a humilhação de não poder distinguir «a história de
salvação: a humilhação da escuridão da alma». Este homem que «tinha anunciado o
Senhor que vinha atrás de si», que «o tinha visto diante de si», que «o soube
esperar e discernir», agora «via Jesus distante. A promessa tinha-se afastado.
E acabou sozinho, na escuridão, na humilhação». Não porque amasse o sofrimento,
mas «porque se aniquilou para que o Senhor crescesse». Acabou «humilhado, mas
com o coração em paz».
«É bom — afirmou Francisco,
concluindo — pensar na vocação do cristão deste modo». De facto, «um cristão
não se anuncia a si mesmo, anuncia outro, prepara o caminho para outro: para o
Senhor». Além disso «deve saber discernir, saber discernir a verdade do que
parece verdade e não é: homem de discernimento». Por fim «deve ser um homem que
saiba abaixar-se para que o Senhor cresça, no coração e na alma dos outros».
Papa Francisco
(Meditações Matutinas , 24 de junho de 2014)
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