sábado, 28 de outubro de 2023

  XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras de hoje somos chamados a acolher a Lei de Deus e a dar-lhe cumprimento. Quando nos situamos apenas na letra da lei, tudo se torna muito complicado, pois só com as nossas forças há situações que nos ultrapassam e de que maneira… Mas, Jesus veio tornar claro que, em Deus Amor, até é possível amar os nossos inimigos. Jesus veio dar pleno cumprimento à Lei e n’Ele os mandamentos passam a fazer parte da nossa vida, como degraus da escada que nos leva a descobrir e a encontrar Deus Amor e a n’Ele amar o próximo.

Na 1ªleitura (Ex 22, 20-26) percebemos que os mandamentos já eram, no Antigo Testamento, uma ajuda a viver na caridade e na justiça com o próximo, quanto mais não o serão agora, isto é, depois de Jesus lhes dar pleno cumprimento e sentido no Amor. São também para nós hoje muito mais do que normas jurídicas, ou de conduta, mas uma ajuda a caminhar e a crescer na Lei de Deus, a deixarmo-nos conduzir pelo Seu Amor.

“Eis o que diz o Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios fostes estrangeiros na terra do Egito. Não maltratarás a viúva nem o órfão. Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti, não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr do sol, pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou misericordioso».”

Na 2ªleitura (1 Tes 1, 5c-10) S.Paulo continua a dar glória a Deus pelo testemunho de fé da comunidade dos Tessalonicenses, que, pela ação do Espírito Santo, se converteram dos ídolos para Deus e se tornaram exemplo para os crentes do seu tempo. Como temos tanto a aprender com S.Paulo e com as primeiras comunidades cristãs!

“Irmãos: Vós sabeis como procedemos no meio de vós, para vosso bem. Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós, a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela. De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livrará da ira que há de vir.”


No evangelho (Mt 22, 34-40) Jesus continua a ser questionado pelos fariseus e assim vai-se servindo das “armadilhas”, que lhe lançam, para explicar, não só a eles, mas a todos, incluindo nós, hoje, o sentido da Lei de Deus: só em Deus Amor se olha para o outro, de quem gostamos ou de quem nem sequer queremos ouvir falar, como alguém que é infinitamente amado por Deus. Sim, não há ninguém fora do Amor de Deus e assim, em Deus Amor, por Jesus Cristo e como resultado da ação do Espírito Santo será possível amar mesmo os que achamos que nos fizeram e fazem mal, isto é, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Que o Senhor nos ajude, conforte e ilumine com a Sua luz. 

“Naquele tempo, os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».

Senhor, ama em mim, todos os que colocas nos caminhos da minha vida. Que eu aprenda de Ti, a subir, degrau a degrau, a escada do Amor.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

Na página do Evangelho de hoje (cf. Mt 22, 34-40), um doutor da Lei pergunta a Jesus qual é «o maior mandamento» (v. 36), ou seja, o mandamento principal de toda a Lei divina. Jesus responde simplesmente: «“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente”». (v. 37). E acrescenta imediatamente: «O segundo é-lhe semelhante: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”»(v. 39).

A resposta de Jesus retoma e une dois preceitos fundamentais que Deus deu ao seu povo através de Moisés (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). E assim supera a cilada que lhe fizeram «para o pôr à prova» (v. 35). O seu interlocutor, de facto, tenta arrastá-lo para a disputa entre os peritos da Lei sobre a hierarquia das prescrições. Mas Jesus estabelece duas pedras angulares essenciais para os crentes de todos os tempos, duas pedras angulares essenciais da nossa vida. A primeira é que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada. Há pessoas que procuram cumprir os mandamentos de uma forma ansiosa ou forçada, e Jesus faz-nos compreender que a vida moral e religiosa não pode ser reduzida a uma obediência ansiosa e forçada, mas deve ter o amor como princípio. A segunda pedra angular é que o amor deve tender junta e inseparavelmente para Deus e para o próximo. Esta é uma das principais novidades do ensinamento de Jesus e faz-nos compreender que não é amor verdadeiro a Deus o que não se expressa no amor ao próximo; e, da mesma forma, não é amor verdadeiro ao próximo o que não se inspira no relacionamento com Deus.

Jesus conclui a sua resposta com estas palavras: «Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas» (v. 40). Isto significa que todos os preceitos que o Senhor deu ao seu povo devem ser postos em relação com o amor a Deus e ao próximo. De facto, todos os mandamentos servem para implementar, para expressar esse duplo amor indivisível. O amor a Deus exprime-se sobretudo na oração, em particular na adoração. Descuidamos muito a adoração a Deus. Recitamos a oração de ação de graças, a súplica para pedir algo..., mas negligenciamos a adoração. O núcleo da oração consiste precisamente em adorar a Deus. E o amor ao próximo, que também se chama caridade fraterna, é feito de proximidade, de escuta, de partilha, de cuidado pelo próximo. E muitas vezes não ouvimos o outro porque é tedioso ou porque me rouba tempo, não o apoiamos, não o acompanhamos nas suas dores e provações... Mas encontramos sempre tempo para coscuvilhar, sempre! Não temos tempo para consolar os aflitos, mas muito tempo para bisbilhotar. Atenção! O Apóstolo João escreve: «Quem não ama a seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?» (1 Jo 4, 20). Assim, vemos a unidade destes dois mandamentos.

No Evangelho de hoje, mais uma vez, Jesus ajuda-nos a ir à fonte viva e jorrante do Amor. E esta nascente é o próprio Deus, que deve ser amado totalmente numa comunhão que nada e ninguém pode interromper. Comunhão que é um dom a ser invocado todos os dias, mas também um compromisso pessoal para que a nossa vida não seja escravizada pelos ídolos do mundo. E a avaliação da nossa jornada de conversão e santidade consiste sempre no amor ao próximo. Esta é a avaliação: se eu disser “amo a Deus” e não amar o próximo, não está bem. A comprovação de que eu amo a Deus é que amo o próximo. Enquanto houver um irmão ou irmã a quem fechamos o nosso coração, estaremos ainda longe de ser discípulos, como Jesus nos pede. Mas a Sua misericórdia divina não nos permite desanimar, pelo contrário, chama-nos a recomeçar todos os dias a fim de vivermos o Evangelho de forma coerente.

Que a intercessão de Maria Santíssima abra o nosso coração para receber o “maior mandamento”, o duplo mandamento do amor, que resume toda a Lei de Deus e da qual depende a nossa salvação.

Papa Francisco
(Angelus, 25 de outubro de 2020)

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