XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Hoje as leituras
continuam a situar-nos na vinha, que afinal é o povo de Deus, ou seja, somos
também nós. O Senhor tudo fez e faz para que nada falta na Sua vinha, então
porque será que esta só produz “agraços”? O repto está do nosso lado. Cabe-nos
a nós, homens de hoje, que vivemos tempos tão conturbados, confiar totalmente no nosso Deus, no Seu Amor infinito por
todos e cada um de nós, entregarmo-nos de corpo inteiro, abrir-Lhe a porta do
nosso coração, fazer a nossa parte, para que a Sua vinha possa dar “bom fruto”
e todos possam conhecê-l’ O e amá-l’O.
Na 1ª leitura (Is 5, 1-7), sentimos que o profeta também nos faz a mesma
pergunta: ”Que mais podia O Senhor fazer por vós, que não o tivesse feito?” Que
o Senhor nos ilumine na procura da resposta, e nos dê a coragem de optar sempre
por Ele, sejam quais forem as circunstâncias da vida, pois Jesus continua
presente no meio de nós, é a nossa força, é o Amor vivo e atuante e quer
comunicar-Se a todos os que fazem parte do nosso quotidiano.
“Vou cantar, em nome do meu amigo, um cântico de amor à sua vinha. O meu amigo possuía uma vinha numa fértil colina. Lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas. No meio dela ergueu uma torre e escavou um lagar. Esperava que viesse a dar uvas, mas ela só produziu agraços. E agora, habitantes de Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes entre mim e a minha vinha: Que mais podia fazer à minha vinha que não tivesse feito? Quando eu esperava que viesse a dar uvas, porque é que apenas produziu agraços? Agora vos direi o que vou fazer à minha vinha: vou tirar-lhe a vedação e será devastada; vou demolir-lhe o muro e será espezinhada. Farei dela um terreno deserto: não voltará a ser podada nem cavada, e nela crescerão silvas e espinheiros; e hei de mandar às nuvens que sobre ela não deixem cair chuva. A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida. Ele esperava retidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror.”
Na 2ªleitura (Filip 4, 6-9) S.Paulo ensina-nos como devemos fazer, qual o caminho a seguir, para que o Deus
da Paz esteja connosco: oremos ao nosso Deus, sem cessar e deixemo-nos
“habitar”, “fazer” por Ele. Que Ele seja o nosso mais que tudo, no dia a dia da
vida, sempre e em todas as situações, mas fundamentalmente na relação com o
nosso próximo.
“Irmãos:
Não vos inquieteis com coisa alguma. Mas, em todas as circunstâncias,
apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de
graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os
vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao resto,
irmãos, tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que
é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor é o que
deveis ter no pensamento. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em
mim é o que deveis praticar. E o Deus da paz estará convosco.”
No evangelho (Mt 21, 33-43) Jesus desinstala-nos, desafia-nos a sairmos das nossas mordomias, das nossas zonas de conforto, mas também dos nossos medos paralisantes, das nossas angústias sufocantes e a arriscar totalmente n’Ele, a confiar verdadeiramente em Deus Amor, a deixarmos que Ele seja o nosso único senhor.
“Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos
sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário
que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou
uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando
chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para
receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram
um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos,
em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim,
mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os
vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo
e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e
mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles
responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a
outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus:
«Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a
pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por
isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os
seus frutos».”
Senhor, que eu
aprenda a viver de Ti e só em Ti.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A liturgia deste domingo propõe-nos a parábola dos vinhateiros, aos quais o
dono confiou a vinha que tinha plantado e depois deixou o país (cf. Mt 21, 33-43). Deste modo, é posta à prova a lealdade
destes vinhateiros: a vinha foi-lhes confiada a eles, que devem cuidar dela, fazê-la
frutificar e entregar ao dono a colheita. Quando chegou o tempo da colheita, o
dono enviou os seus servos aos lavradores para recolher o produto da sua vinha.
Mas os lavradores assumem uma atitude possessiva: não se consideram simples
administradores, mas proprietários, e recusam-se a entregar a colheita.
Maltratam os servos, a ponto de os matar. O dono mostrou-se paciente com eles:
enviou outros servos em maior número que os primeiros, mas o resultado foi o
mesmo. Enfim, com paciência, decide enviar o próprio filho; porém, aqueles
lavradores, prisioneiros do próprio comportamento possessivo, matam também o
filho pensando que assim receberiam a sua herança.
Esta narração ilustra de forma alegórica aquelas admoestações que os
Profetas tinham proferido sobre a história de Israel. É uma história que nos
pertence: fala-se da aliança que Deus quis estabelecer com a humanidade e na
qual nos convidou também nós a participar. Contudo, esta história de aliança, como
qualquer história de amor, tem os seus momentos positivos, mas está marcada
também por traições e rejeições. Para fazer compreender como Deus Pai responde
às rejeições que se opõem ao seu amor e à sua proposta de aliança, o trecho
evangélico põe nos lábios do dono da vinha uma pergunta: «Pois bem, quando
voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles lavradores?» (v. 40). Esta
interrogação sublinha que a desilusão de Deus pelo comportamento malvado dos
homens não é a última palavra! Nisso consiste a grande novidade do
Cristianismo: um Deus que, mesmo desiludido pelos nossos erros e pelos nossos
pecados, não falta à sua palavra, não para e sobretudo não se vinga!
Irmãos e irmãs, Deus não se vinga! Deus ama, não se vinga, espera para nos
perdoar, para nos abraçar. Através das “pedras de descarte” — e Cristo foi a
primeira pedra que os construtores descartaram — mediante situações de
debilidade e de pecado, Deus continua a pôr em circulação o “vinho novo” da sua
vinha, ou seja, a misericórdia; este é o vinho novo da vinha do Senhor: a
misericórdia. Há um único impedimento perante a vontade tenaz e terna de Deus:
a nossa arrogância e a nossa presunção que, por vezes, se torna violência! Face
a estas atitudes e onde não se produzem frutos, a Palavra de Deus conserva toda
a sua força de reprovação e admoestação: «Ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e
será dado a um povo que produzirá os frutos dele» (v. 43).
A urgência de responder com bons frutos à chamada do Senhor, que nos
convida a tornarmo-nos sua vinha, ajuda-nos a compreender o que há de novo e de
original na fé cristã. Ela não é tanto a soma de preceitos e normas morais mas,
antes de tudo, uma proposta de amor que Deus, através de Jesus fez e continua a
fazer à humanidade. É um convite a entrar nesta história de amor, tornando-nos
uma vinha vivaz e aberta, rica de frutos e de esperança para todos. Uma vinha
fechada pode tornar-se selvática e produzir uva selvática. Somos chamados a
sair da vinha para nos pormos ao serviço dos irmãos que não estão connosco,
para nos despertarmos reciprocamente e nos encorajarmos, para nos recordarmos
que devemos ser vinha do Senhor em todos os ambientes, mesmo naqueles mais
longínquos e difíceis.
Queridos irmãos e irmãs, invoquemos a intercessão de Maria Santíssima, a fim de que nos ajude a ser, onde quer que seja, especialmente nas periferias da sociedade, a vinha que o Senhor plantou para o bem de todos, e a levar o vinho novo da misericórdia do Senhor.
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