Domingo II do Tempo Comum - 2023
Ainda no domingo passado, pudemos contemplar e adorar o Deus Menino, o
Rei, e hoje, a liturgia, continuando o caminho iniciado há oito dias, transpõe-nos
para outro dos momentos da vida de Jesus: o Batismo. Desafia-nos a assumir a
nossa condição de batizados e a fazer como João Batista, ou seja, a deixar que
o Espírito Santo, que, desde esse dia,
nos habita, nos preencha por inteiro, de tal forma que possamos ir crescendo em
Jesus, que é a raiz que nos sustenta e nos vai revelando Deus Amor.
Na 1ªleitura (Is 49, 3.5-6) o profeta Isaías antecipa a vinda do “Servo de
Javé”, da “luz das nações”, cuja presença no meio de nós, nos é anunciada, no
Evangelho, por João Batista. Jesus é o cumprimento da promessa, por Ele e n’Ele
a salvação chega a todos os cantos do mundo. É Ele que nos dá a conhecer Deus
Amor. É Ele, pelo que diz e faz, que nos permite vislumbrar quem é Deus e o
quanto ama infinitamente cada um de nós, Seus filhos no Filho. É Ele quem nos
faz sentir verdadeiramente amados por Deus. É n’Ele que passamos, também cada
um de nós, a anunciar Deus, eternamente enamorado de cada um dos Seus filhos.
“Disse-me o Senhor: «Tu és o meu servo, Israel, por
quem manifestarei a minha glória». E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou
desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe reconduzir
Jacob e reunir Israel junto d’Ele. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e
Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para
restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Vou
fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins
da terra».”
Na 2ªleitura (1 Cor l, 1-3) iniciamos neste
domingo a escuta da primeira carta de Paulo aos Coríntios. No contexto da
saudação inicial Paulo faz referência à sua vocação universal. Relembra-nos que, pelo batismo
fomos gratuitamente chamados por Deus à fé e santificados em Jesus Cristo. Que
o Senhor Jesus nos torne portadores da Sua paz.
“Irmãos: Paulo, por vontade de Deus escolhido para
Apóstolo de Cristo Jesus e o irmão Sóstenes, à Igreja de Deus que está em
Corinto, aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados à santidade, com
todos os que invocam, em qualquer lugar, o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor deles e nosso: A graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus
Cristo estejam convosco.”
No evangelho (Jo 1, 29-34) João Batista dá
testemunho de que Jesus é o Filho de Deus. Dá a impressão de que João só no
momento do batismo de Jesus é que reconheceu em Jesus, seu primo, o Filho de
Deus. E, a partir daí, João, que já falava d’Ele, mesmo sem O conhecer, passou
a anunciar a Sua vinda, a proclamar a Sua presença no meio dos homens, com todo
o desassombro e ainda com mais autoridade.
“Naquele tempo, João Baptista viu Jesus, que vinha
ao seu encontro, e exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo. É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem, que passou à minha
frente, porque era antes de mim’. Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se
manifestar a Israel que eu vim batizar na água». João deu mais este testemunho:
«Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu
não O conhecia, mas quem me enviou a batizar na água é que me disse: ‘Aquele
sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que batiza no Espírito
Santo’. Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».”
A salvação vem de
Deus, é ele quem sussurra ao ouvido do homem o seu desejo de mudar a sorte dos
que foram levados para o cativeiro, onde são privados da liberdade de viver e
sonhar a sua própria vida e a possibilidade de um mundo melhor. A experiência
de cativeiro é revestida de solidão, abandono, vazio, impotência, incapacidade,
ausência de razões, a morte do desejo e a resignação perante a sorte. Israel
encontra-se assim, quando o profeta Isaías surge com a notícia de um servo
enviado por Deus para reconduzir os filhos dispersos. Este anúncio é uma voz de
esperança. Nem sempre a esperança reanima os desalentados. Por vezes a derrota
é mais forte que a esperança.
A salvação de Deus
é para todos os homens e não apenas para Israel. Deus anuncia que o seu servo
será luz das nações para que a sua salvação chegue até aos confins da terra.
Por vezes é necessário ver a luz a brilhar lá longe para acreditar que ela pode
brilhar também em nós. Não “basta que sejas meu servo, vou fazer de ti a luz
das nações” e “não basta restaurar as tribos de Jacob” porque a salvação é para
todos. O servo de Isaías apresenta-se como um escutador de Deus e está
disponível para ser a luz das nações.
O servo é Jesus
que se apresenta como aquele que vem para fazer a vontade de Deus. É assim que
João Batista o apresenta. João reconhece que é Jesus quem vem substituir os
sacrifícios do templo, que não concedem o perdão, pelo seu próprio sacrifício
como cordeiro de Deus. Deus não quer sacrifícios inúteis, Deus salva pelo
cumprimento da sua vontade. Jesus é esse “cordeiro” capaz de oferecer o único sacrifício
agradável a Deus e capaz de salvar o homem dos seus pecados, porque é Filho de
Deus e sobre ele permanece o Espírito Santo, que desceu do céu para que ele
batize segundo o mesmo Espírito.
João reconhece em
Jesus o enviado por Deus porque ele próprio aprendeu a escutar a voz daquele
cuja palavra anuncia a salvação. Habituado a escutar, adquiriu a capacidade de
ver realizar-se diante dos seus olhos a ação de Deus. Por isso, quando Jesus
vem ao seu encontro pode reconhecer nele, aquele sobre quem desceu o Espírito e
o único que pode santificar o homem.
Paulo também
reconhece a ação de Jesus nos irmãos de Corinto e em todos os que invocam o seu
nome porque também ele foi tornado Apóstolo de Jesus por vontade de Deus. Foi
ao escutar a vontade de Deus que ele se tornou capaz de ver Deus acontecer nos
seus irmãos que, como ele, são chamados à santidade.
Por vezes as
circunstâncias da nossa vida impedem-nos de acreditar que há alguém que nos
pode salvar. Mesmo que nos anunciem a chegada de um salvador, a dor, o
sofrimento, a desilusão ou a resignação tomaram conta de nós ao ponto de já não
haver esperança que nos levante do chão. É olhando a luz a brilhar no rosto de
quem aprendeu a escutar a voz daquele que salva, que podemos perceber a
possibilidade do encontro com Jesus, que vem ao nosso encontro, e reconhecer
nele o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Com João Batista aprendemos a escutar a voz daquele que sempre e a todos envia como testemunhas de Cristo, que batiza no Espírito Santo e tira o pecado do mundo, o único que nos pode tirar a todos do cativeiro em que, por vezes, nos vemos aprisionados. Escutar é tornar ‘talia’ de Deus, servo, filho, cordeiro.
Servo de Iahvé,
que lanças a luz da salvação sobre as nações, ilumina-me. Cordeiro de Deus que
tiras o pecado do mundo, santifica-me. Filho de Deus que batizas no Espírito
Santo, faz-me reconhecer que é em ti que sou santificado e em ti encontro o
caminho da santidade. Espírito de Deus inspira-me para escutar e ver a salvação
que vem ao meu encontro.
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