SOLENIDADE DE S.PEDRO E S.PAULO
Em tempos de
pandemia, em confinamento, celebrar os santos populares não é tarefa fácil. Em
Porto de Mós temos como padroeiro S.Pedro e nestes dias, foi a nossa vez de “sentirmos
na pele” o que tem acontecido por este país, pelo mundo, fora: festejar, mas respeitando e seguindo as normas de segurança que nos têm recomendado, para salvaguarda da saúde de todos os que habitam e vivem nesta nossa Mãe Terra . O nosso pároco e o Município, encontraram uma forma adaptada aos novos tempos, de,
mesmo confinados, podermos sentir, mais de perto, respeitando as normas de segurança emanadas da DGS, que somos um concelho irmanado
pelo mesmo padroeiro S.Pedro: assim a imagem de S.Pedro foi visitando, em peregrinação, as
freguesias que compõem este concelho, ao longo dos dias 27,28 e 29 de junho.
Ficam algumas das imagens que encontrei no facebook.
Deixo também a oração rezada na missa de hoje, em
louvor de S.Pedro, creio que feita, em especial, para esta peregrinação da imagem
de S.Pedro:
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica de S. Pedro
Segunda-feira, 29 de junho de 2020
Na festa dos dois Apóstolos desta cidade, gostaria de partilhar convosco duas palavras-chave: unidade e profecia.
Unidade. Celebramos conjuntamente duas figuras
muito diferentes: Pedro era um pescador que passava os dias entre os remos e as
redes; Paulo, um fariseu culto, que ensinava nas sinagogas. Quando saíram em
missão, Pedro dirigiu-se aos judeus; Paulo, aos pagãos. E, quando se cruzaram
os seus caminhos, discutiram animadamente, como Paulo não tem vergonha de
contar numa carta (cf. Gal 2, 11-14). Enfim, eram duas pessoas
muito diferentes, mas sentiam-se irmãos, como numa família unida onde muitas
vezes se discute mas sem deixar de se amarem. Contudo a familiaridade, que os
unia, não provinha de inclinações naturais, mas do Senhor. Ele não nos mandou
agradar, mas amar. É Ele que nos une, sem nos uniformizar. Une-nos nas
diferenças.
A primeira
Leitura de hoje leva-nos à fonte desta unidade. Narra que a Igreja, pouco
depois de ter nascido, passava por uma fase crítica: Herodes não lhe dava paz,
a perseguição era violenta, o apóstolo Tiago fora morto; e agora acabou preso o
próprio Pedro. A comunidade parece decapitada; cada qual teme pela própria
vida. Contudo, neste momento trágico, ninguém foge, ninguém pensa em salvar a
pele, ninguém abandona os outros, mas todos rezam juntos. Da
oração, tiram coragem; da oração, vem uma unidade mais forte do que qualquer
ameaça. Diz o texto que, «enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja
orava a Deus, instantemente, por ele» (At 12, 5). A unidade é um
princípio que se ativa com a oração, porque a oração permite ao Espírito Santo
intervir, abrir à esperança, encurtar as distâncias, manter-nos juntos nas
dificuldades.
Notemos outra
coisa: naqueles momentos dramáticos, ninguém se lamenta do mal, das
perseguições, de Herodes. Ninguém insulta Herodes; e nós estamos tão habituados
a insultar os responsáveis. É inútil, e até chato, que os cristãos percam tempo
a lamentar-se do mundo, da sociedade, daquilo que está errado. As lamentações
não mudam nada. Lembremo-nos de que as lamentações são a segunda porta que
fechamos ao Espírito Santo, como vos disse no dia de Pentecostes: a primeira é o
narcisismo, a segunda o desânimo, a terceira é o pessimismo. O narcisismo
leva-te a parar diante do espelho, a olhar continuamente para ti; o desânimo,
às lamentações; o pessimismo, ao enigmático, à escuridão. Estas três atitudes
fecham a porta ao Espírito Santo. Aqueles cristãos não culpavam, mas rezavam.
Naquela comunidade, ninguém dizia: «Se Pedro tivesse sido mais cauteloso, não
estaríamos nesta situação». Ninguém o dizia. Humanamente havia motivos para
criticar Pedro, mas ninguém o criticava. Não murmuravam contra ele, mas rezavam
por ele. Não falavam por trás, mas falavam com Deus. Hoje, podemos
interrogar-nos: «Guardamos a nossa unidade com a oração: a nossa unidade da
Igreja? Rezamos uns pelos outros?» Que aconteceria se se rezasse mais e murmurasse
menos, deixando a língua um pouco mais tranquila? Aquilo que aconteceu a Pedro
na prisão: como então, muitas portas que separam, abrir-se-iam; muitas algemas
que imobilizam, cairiam. E nós ficaríamos maravilhados, como sucedeu àquela
serva que, ao perceber que Pedro está à porta, nem pensa em abrir mas volta
para a sala a correr, estupefacta pela alegria de ter ouvido a voz de Pedro
(cf. At 12, 10-17). Peçamos a graça de saber rezar uns pelos
outros. São Paulo exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar
por quem governa (cf. 1 Tim 2, 1-3). «Mas este governante
é...», e os adjetivos são muitos. Não os digo, porque este não é o momento nem
o lugar para repetir os adjetivos que se ouvem contra os governantes. Deixemos
que Deus os julgue! Nós rezemos pelos governantes. Rezemos… Precisam da nossa
oração. É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos
a falar, a insultar? Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de
quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara, das pessoas a quem
nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, como a Pedro; só a oração
deixa livre o caminho para a unidade.
Neste dia,
benzem-se os pálios que serão entregues ao Decano do Colégio Cardinalício e aos
Arcebispos Metropolitas nomeados no decorrer do último ano. O pálio recorda a
unidade entre as ovelhas e o Pastor que, como Jesus, carrega a ovelha aos
ombros e nunca mais a larga. Além disso, segundo uma bela tradição, hoje
unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. Pedro
e André eram irmãos; e entre nós, quando é possível, trocamos uma visita
fraterna nas respetivas festas; não tanto por gentileza, mas para caminhar
juntos rumo à meta que o Senhor nos indica: a unidade plena. Hoje, eles não
conseguiram vir, pela dificuldade de viajar devido ao coronavírus, mas quando
desci para venerar as relíquias de Pedro, no coração sentia junto de mim o meu
amado irmão Bartolomeu. Eles estão, aqui, connosco.
A segunda
palavra: profecia. Unidade e profecia. Os nossos
Apóstolos foram provocados por Jesus. Pedro ouviu-O perguntar-lhe:
«Tu, quem dizes que Eu sou?» (cf. Mt 16, 15). Naquele momento,
compreendeu que, ao Senhor, não Lhe interessam as opiniões gerais, mas a opção
pessoal de O seguir. Também a vida de Paulo mudou depois duma provocação de
Jesus: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At 9, 4). O Senhor
abalou-o dentro: mais do que fazê-lo cair por terra no caminho de Damasco,
derrubou a sua presunção de homem religioso e bom. Assim um Saulo altivo tornou-se
Paolo: Paulo, que significa «pequeno». A estas provocações, a estas inversões
da vida seguem as profecias: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja» (Mt 16, 18); e a Paulo: «É instrumento da minha
escolha, para levar o meu nome perante os pagãos» (At 9, 15).
Assim, a profecia nasce quando nos deixamos provocar por Deus: não quando
gerimos a própria tranquilidade, mantendo tudo sob controle. Não nasce do meu
pensamento; não nasce do meu coração fechado. Nasce, se nos deixarmos provocar
por Deus. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a profecia. Só quem se
abre às surpresas de Deus é que se torna profeta. Vemo-lo em Pedro e Paulo,
profetas que enxergam mais além: Pedro é o primeiro a proclamar que Jesus é «o
Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16); Paulo antecipa a
conclusão da sua vida: «Já me aguarda a merecida coroa, que me entregará,
naquele dia, o Senhor» (2 Tim 4, 8).
Hoje
precisamos de profecia, mas de verdadeira profecia: não discursos que prometem
o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são
necessárias manifestações miraculosas. Dá-me pena ao ouvir proclamar: «Queremos
uma Igreja profética». Muito bem! E que fazes para que a Igreja seja profética?
Servem vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas
coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço. Queres uma
Igreja profética? Começa a servir, e não digas nada. Não teoria, mas
testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de ganhar para
nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do mundo, do estar de
bem com todos (entre nós usa-se a expressão: «estar de bem com Deus e com o
diabo»), estar de bem com todos, não! Isto não é profecia. Mas precisamos da
alegria pelo mundo que virá; não daqueles projetos pastorais que parecem conter
em si mesmos a própria eficiência, como se fossem Sacramentos! Projetos
pastorais eficientes, não; mas precisamos de pastores que ofereçam a vida:
de enamorados de Deus. Foi assim, como enamorados, que Pedro e
Paulo anunciaram Jesus. Pedro, antes de ser colocado na cruz, não pensa em si
mesmo, mas no seu Senhor e, considerando-se indigno de morrer como Ele, pede
para ser crucificado de cabeça para baixo. Paulo está para ser decapitado e
pensa só em dar a vida, escrevendo que quer ser «oferecido como sacrifício» (2
Tim 4, 6). Isto é profecia …e não palavras. Isto é profecia, a
profecia que muda a história.
Amados irmãos
e irmãs, Jesus profetizou a Pedro: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja». Existe, também para nós, uma profecia semelhante; encontra-se
no último livro da Bíblia, quando Jesus promete às suas testemunhas fiéis «uma
pedra branca», na qual «estará gravado um novo nome» (Ap 2, 17).
Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de
nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas.
Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor
acredita em nós e pede-te: «Tu queres ser construtor de unidade? Queres ser
profeta do meu céu na terra?» Irmãos e irmãs, deixemo-nos provocar por Jesus e
ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!
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