quarta-feira, 10 de junho de 2020

Festividade do Corpo de Deus

A semana X do tempo comum, este ano, é especial, pois começámo-la com a solenidade da Santíssima Trindade e agora, mais ou menos a meio, celebramos outra solenidade igualmente forte e fundamental para nós cristãos, a do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus, popularmente designada por “Festividade do Corpo de Deus”. É verdade que, devido à situação pandémica que ainda vivemos, não se realizará a tradicional procissão pelas ruas da cidade centro da nossa diocese, mas, depois dos tempos em que estivemos privados da celebração presencial da Eucaristia, o nosso coração sente de forma mais intensa e profunda a força, a presença vital do Mistério de Jesus Eucarístico na nossa vida. Nunca agradeceremos o suficiente a Deus por este mistério insondável do Seu Amor, presente, vivo no meio de nós, que é a celebração de cada Eucaristia.



Na 1ªleitura (Deut 8, 2-3.14b-16a) o autor sagrado traz, até nós, a forma como a Aliança de Deus com o Seu Povo se foi efetivando e reconstruindo ao longo de um caminho de relação, em que nos momentos de maior dificuldade e sofrimento, a presença do Senhor se tornou mais visível, como por exemplo com o maná. Deus nunca deixou de acompanhar o Seu Povo e é essa certeza que chega até nós hoje, homens e mulheres do séc.XXI. Tal como nos tempos antigos, Deus nunca nos abandona, está sempre connosco, e já não precisamos do maná de outros tempos, podemos mesmo dizer que temos um novo maná: Jesus Cristo, morto, ressuscitado, vivo no meio de nós, o nosso Pão repartido.

“Moisés falou ao povo, dizendo: «Recorda-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, para te atribular e pôr à prova, a fim de conhecer o íntimo do teu coração e verificar se guardarias ou não os seus mandamentos. Atribulou-te e fez-te passar fome, mas deu-te a comer o maná que não conhecias nem teus pais haviam conhecido, para te fazer compreender que o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa de escravidão, e te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e escorpiões, terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido».”


Na 2ªleitura (1 Cor 10, 16-17) S. Paulo, de uma forma muito clara, interpela-nos sobre a forma como vivemos, na vida, a comunhão no Corpo e Sangue de Jesus. Afinal, se o Pão que comungamos, é um só, porque será que não formamos um só Corpo, em Cristo Jesus?! Divino Espírito Santo inunda todo o nosso ser e ilumina-nos para que, radicados e alimentados por Jesus, caminhemos para a unidade do Povo de Deus.

“Irmãos: Não é o cálice de bênção que abençoamos a comunhão com o Sangue de Cristo? Não é o pão que partimos a comunhão com o Corpo de Cristo? Visto que há um só pão, nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo, porque participamos do mesmo pão.”


Para melhor interiorizar o evangelho de hoje (Jo 6, 51-58), recorro à ajuda do Papa Francisco, que disse, numa das suas catequeses sobre a Eucaristia:

“Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo… Tomai e bebei, isto é o meu sangue».

O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «ação de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que, no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.

(…)

Ali, é Cristo quem age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna presente e nos reúne ao redor de Si, para nos alimentar com a sua Palavra e a sua vida. Isto significa que a própria missão e identidade da Igreja derivam dali, da Eucaristia, e ali sempre adquirem forma. Uma celebração pode até ser impecável sob o ponto de vista exterior, maravilhosa, mas se não nos levar ao encontro com Jesus corre o risco de não oferecer alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, ao contrário, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la com a sua graça, de tal modo que em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.

O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de Jesus, citadas no Evangelho: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!

“Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha Carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua Carne a comer?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha Carne é verdadeira comida e o meu Sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os vossos pais comeram, e morreram; quem comer deste pão viverá eternamente».”



Senhor, alimenta todo o meu ser, habita-me por inteiro, para que, em Ti, dê testemunho do Amor, junto dos que vais colocando nos caminhos da minha vida. 
Mil graças Senhor, pelo dom da Eucaristia. 
Bendito e louvado sejas hoje e sempre, pelos tempos sem fim.

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