domingo, 6 de dezembro de 2015

“Misericordiosos como o Pai”

Nota Pastoral sobre a abertura e vivência do Ano da Misericórdia
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima

Leiria, 25 de novembro de 2015

Caríssimos diocesanos,
O início próximo do Ano Santo da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, oferece-me a oportunidade de vos dirigir uma breve nota pastoral sobre a abertura e a vivência deste Ano Jubilar. Na sequência da Carta Pastoral que escrevi, desejo agora sublinhar alguns pontos a fim de que a celebração deste Jubileu seja para todos um verdadeiro momento de encontro com a misericórdia divina, uma experiência viva do amor misericordioso e da ternura do Pai, uma graça de renovação espiritual.
 Amor entranhado de um pai e de uma mãe
Nem sempre a misericórdia é bem compreendida e, por isso, surge com frequência alergia e indiferença ao ouvir falar dela. Na bula de proclamação do Ano Santo da Misericórdia (MV), o Papa Francisco lembra que “a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas entranhas” (MV 6). E explicita: “Na Sagrada Escritura, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco... é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos” (MV 9). Perante o mal de que são vítimas ou que praticam, nas situações de fragilidade, fraqueza, miséria e feridas, os homens de hoje necessitam da terapia e do remédio da misericórdia. 
Também nós, fiéis cristãos e a Igreja, somos convidados a corresponder à exortação de Jesus: “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Trata-se de praticar um amor compassivo que se manifesta perante as misérias, tribulações, fraquezas, pecado e maldade, para ir ao encontro, abraçar, cuidar, curar, libertar e perdoar. As “feridas” dos homens que encontramos reclamam a nossa  atenção e a nossa resposta às suas necessidades materiais e  espirituais.
Abertura da Porta Santa em Fátima e Leiria
Em adesão ao convite do Santo Padre, vamos fazer a abertura da Porta Santa do Ano da Misericórdia no Santuário de Fátima (basílica da Santíssima Trindade), no dia 8 de Dezembro, na missa da solenidade da Imaculada Conceição, com início às 10 horas. A mesma celebração de abertura realizaremos na , no III Domingo de Advento, 13 de dezembro.  O programa em Leiria tem início com a concentração no Largo Paulo VI, às 16 horas, seguindo-se a procissão para a Sé, a abertura da Porta Santa e a celebração daEucaristia. Convido os fiéis católicos da Diocese a participarem nesta importante celebração de início do Ano Jubilar.
A “Porta Santa” tem um rico e belo significado simbólico e espiritual. É, no dizer do Papa, “uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança” (MV 3). Para ajudar a atravessá-la  e viver a graça espiritual da conversão de vida, haverá um guião, que cada fiel poderá usar, no qual se indicam as atitudes, a palavra de Deus, os atos e as orações essenciais que permitam abrir o coração ao dom de Deus nesse exercício espiritual. Não basta entrar no lugar sagrado e deixar-se tocar pela graça divina. É preciso também que a saída leve à prática das obras de misericórdia na vida de cada dia, ajudando os irmãos em necessidade material, social ou espiritual.
Peregrinação da misericórdia
A passagem pela porta santa é uma etapa de um movimento de saída de casa e de si mesmo para se pôr ao caminho em busca de Deus e de vida nova. É isto a peregrinação. Esta “santa viagem” é imagem do caminho pessoal que cada um realiza na sua existência.  Ela é sinal a indicar “que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício”“Por isso, diz o Papa Francisco, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é connosco” (MV 14).  O próprio Jesus indica, nas palavras do Evangelho, as etapas existenciais da peregrinação: não julgar nem condenar, perdoar, dar, usar uma boa medida com os outros (cf Lc 6, 36-38). Não julgar nem condenar o outro “significa, positivamente, saber identificar o que há de bom em cada pessoa” (MV 14).
A peregrinação da misericórdia há-se significar uma mudança interior provocada pela graça de Deus e a adoção de atitudes e estilo de vida segundo o Evangelho. A este exercício espiritual está unido o dom da “indulgência jubilar”, que se estende mais para além do perdão dos pecados e se destina a sanar as feridas, o enfraquecimento e as fragilidades que ficam na pessoa como sequelas ou efeitos do pecado cometido. “Para viver e obter a indulgência, os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão… É importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da Igreja e do mundo inteiro” (Papa Francisco).
Convido, por isso, cada fiel a pôr no seu programa um dia para fazer a sua peregrinação à Sé ou ao Santuário de Fátima. Pode também ser feita em família, em grupo ou movimento, por paróquia ou vigararia.  Peço aos vigários e párocos que promovam a realização destas peregrinações. Nos casos da peregrinação à Sé, exceto a pessoal e familiar, é conveniente informar a paróquia de Leiria da intenção e da data, para que não haja implicações com as celebrações na catedral e o apoio seja assegurado.
 Meios para o Ano da misericórdia
Para melhor viver este Ano, vamos propor e oferecer alguns meios.
O Evangelho de S. Lucas (em livro, com alguns salmos): é o “evangelho da misericórdia”. Será distribuído gratuitamente na abertura da porta santa e na peregrinação diocesana a Fátima, no 5º domingo da Quaresma. Poderá ser distribuído também às famílias pelas paróquias na visita pascal. Recomendo que seja feita através dele a leitura orante da palavra de Deus (lectio divina), pois, como diz o Papa, “para sermos capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus”.
Estamos também a preparar o guião para o “retiro popular”, em grupo ou em família, durante a quaresma, que ajudará a aprofundar e interiorizar o tema da misericórdia. 
Espero que nas paróquias ou vigararias, com a eventual colaboração de grupos (nomeadamente de jovens), movimentos apostólicos e comunidades religiosas, especialmente nas zonas urbanas, se organize a proposta “24 horas para o Senhor”, como oferta de portas abertas para “um momento de intensa oração” e oportunidade de“redescobrir o sentido” da própria vida. Onde não puder ser um dia e noite, faça-se o tempo possível. Dê-se o conveniente anúncio e assinale-se a igreja no exterior para despertar interesse a entrar nela. Nesse tempo, não falte a oferta do sacramento da reconciliação com um ou mais sacerdotes disponíveis.
sacramento da reconciliação, neste ano jubilar, seja celebrado por sacerdotes que sejam verdadeiros sinais da misericórdia do Pai do Céu que oferece o seu perdão aos filhos que regressam a casa. “Nunca esqueçamos, diz o Papa Francisco, que ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva”. Quanto à atitude dos confessores, eles “são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado” (MV 17).
Durante este ano, os sacerdotes sejam mais zelosos no proporcionar o sacramento da reconciliação incluindo celebrações comunitárias bem cuidadas, para ajudar a experimentar a graça da misericórdia. Proporcionem-nas às crianças, aos adolescentes e aos jovens, com a ajuda de catequistas, animadores e outros colaboradores da paróquia.
A vivência deste ano de graça deverá implicar também os serviços sócio-caritativos e quantos têm a tarefa de cuidar dos irmãos mais frágeis. “Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo” (MV 15).
Maria, Mãe de ternura e de misericórdia, nos abençoe e sustente no acolhimento do amor misericordioso de Deus e na sua prática em relação a todos os nossos irmãos, especialmente os que dele mais têm necessidade. 

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