sábado, 8 de fevereiro de 2025

 Ano C -2025

DOMINGO V DO TEMPO COMUM

As leituras deste V domingo do tempo comum interpelam-nos diretamente e, simultaneamente, desafiam-nos a sermos, também nós, pescadores de homens, missionários do e no nosso tempo.

Na 1ªleitura (Is 6, 1-2a.3-8) o profeta Isaías que explica-nos como o sentir-se chamado é um dom de Deus. Depois, dá-nos um testemunho sobre a sua vocação e ensina-nos que Deus faz o caminho com cada um, respeitando-o tal qual é. O Senhor chama-nos, mas deixa-nos livres de lhe dar uma resposta positiva, ou negativa. Isaías respondeu: «Eis-me aqui: podeis enviar-me». Façamos como Isaías, abramos o nosso coração a Deus e deixemo-nos inundar pelo Espírito Santo. Ele nos iluminará na resposta a dar ao Senhor.

“No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».”  

Na 2ªleitura (1 Cor 15, 1-11) é S.Paulo quem nos fala sobre aqueles a quem Deus escolheu e nos afirma, baseado na sua própria experiência, que ninguém está fora dos planos de Deus, ainda que, por vezes, no seu caminho, tenha feito escolhas erradas. É com tudo o que somos, com toda a nossa história de vida, que Deus nos quer, nos chama e nos envia a anunciar a boa nova do Seu Reino a todos os que fazem parte do nosso quotidiano. 

“Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.” 

No evangelho (Lc 5, 1-11)  sentimo-nos povo, igreja, ao ao redor de Jesus, a escutar a palavra de Deus. Por outro lado, o efeito dessa palavra em Pedro e nos outros primeiros discípulos, leva-os a confiar  e a fazer, contra todas as evidências, o que Jesus lhes pede, isto é, a lançar as redes de novo, mesmo sabendo que não tinham conseguido encontrar nenhum peixe durante toda a noite. E é esta disponibilidade, confiança e entrega em Jesus que tudo transforma, tornando estes pescadores de peixe em pescadores de homens.  

Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.” 

Senhor Jesus, meu Senhor e meu Deus, que eu aprenda a confiar sempre em Ti, para além de todas as evidências. Que nunca, mas nunca mesmo, duvide do Teu Amor por cada ser vivente.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje (cf. Lc 5, 1-11) propõe-nos, na narração de Lucas, a chamada de São Pedro. O seu nome — sabemos — era Simão, e ele era pescador. Na margem do lago de Galileia, Jesus vê-o a consertar as redes, juntamente com outros pescadores. Encontra-o cansado e desiludido, porque naquela noite nada tinham pescado. E Jesus surpreende-o com um gesto imprevisto: entrou no seu barco e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra porque queria ensinar dali ao povo — havia muita gente. Assim Jesus senta-se no barco de Simão e ensina à multidão reunida ao longo das margens. Mas as suas palavras voltam a abrir à confiança também o coração de Simão. Então Jesus, com outro “gesto” surpreendente, diz-lhe: «Faz-te ao largo; e, vós lançai as redes para a pesca» (v. 4).

Simão responde com uma objeção: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhamos...». E, como pescador perito, teria podido acrescentar: “Se nada apanhamos de noite, muito menos apanharemos de dia”. Ao contrário, inspirado pela presença de Jesus e iluminado pela sua Palavra, diz: «...mas porque Tu o dizes, lançarei as redes» (v. 5). É a resposta da fé, que também nós somos chamados a dar; é a atitude de disponibilidade que o Senhor pede a todos os seus discípulos, sobretudo a quantos desempenham tarefas de responsabilidade na Igreja. E a obediência confiante de Pedro gera um resultado prodigioso: «Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixes» (v. 6).

Trata-se de uma pesca milagrosa, sinal do poder da palavra de Jesus: quando nos colocamos com generosidade ao seu serviço, Ele realiza maravilhas em nós. Assim age em relação a cada um de nós: pede-nos que O recebamos no barco da nossa vida, para voltar a partir com Ele e sulcar um novo mar, que se revela cheio de surpresas. O seu convite a fazermo-nos ao largo no mar da humanidade do nosso tempo, para ser testemunhas de bondade e de misericórdia, confere um novo sentido à nossa existência, que muitas vezes corre o risco de se nivelar sobre si mesma. Às vezes podemos ficar surpreendidos e hesitantes diante da chamada que o Mestre divino nos dirige, e sentimo-nos tentados a rejeitá-la por causa da nossa inaptidão. Também Pedro, depois da inacreditável pesca, disse a Jesus: «Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador» (v. 8). É bonita esta oração humilde: “Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador”. Mas disse-o de joelhos, diante d’Aquele que já reconhece como “Senhor”. E Jesus encoraja-o, dizendo: «Não temas; doravante serás pescador de homens» (v. 10) porque, se confiarmos em Deus, Ele liberta-nos do nosso pecado e abre à nossa frente um novo horizonte: colaborar para a sua missão.

O maior milagre feito por Jesus para Simão e os demais pescadores desiludidos e cansados, não é tanto a rede cheia de peixes, quanto o facto de os ter ajudado a não ser vítimas da desilusão e do desencorajamento, diante das derrotas. Abriu-os para que se tornassem anunciadores e testemunhas da sua palavra e do reino de Deus. E a resposta dos discípulos foi imediata e total: «Depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram-no» (v. 11)

A Virgem Santa, modelo de adesão imediata à vontade de Deus, nos ajude a sentir o fascínio da chamada do Senhor, e nos torne disponíveis a colaborar com Ele para difundir por toda a parte a sua palavra de salvação.

Papa Francisco
(Angelus, 10 de fevereiro de 2019)

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