sábado, 22 de fevereiro de 2025

Continuemos a rezar pela melhoras do Papa Francisco - Vaticano: Papa com «prognóstico reservado» e em condição «crítica» - Ecclesia

 Ano C -2025

DOMINGO VII DO TEMPO COMUM

Nas leituras deste domingo somos desafiados a ultrapassarmo-nos a nós próprios, enquanto seres humanos, é-nos proposto: que elevemos a fasquia até à medida alta; que deixemos habitar em nós “o homem celeste”; que passemos a amar o inimigo e a fazer bem a quem nos faz mal. Somos confrontados com a forma como vivemos a nossa fé e motivados a viver verdadeiramente como cristãos.

Na 1ªleitura (1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23) é David quem nos dá exemplo. Foi um homem que chorou e pediu perdão pelos pecados cometidos e, apesar dos seus pecados, foi considerado um homem justo aos olhos de Deus. O mais importante para o Senhor é a conversão sincera, de coração. Nesta leitura David mostra bem porque foi ungido, escolhido pelo Senhor: perseguido por Saul, quando se infiltra no meio das tropas e tem o rei à sua mercê, a dormir, não o mata, impede também que o seu amigo Abisaí o faça e apenas leva, da cabeceira de Saul, a lança e o cantil, para lhe demonstrar como respeita a sua vida. Isto sim é amar quem nos faz mal. Peçamos ao Senhor que nos ensine a amar assim, todos os que fazem parte da nossa vida, ou que nela, por um motivo, ou por outro, se cruzam, ou convivem connosco. 

“Naqueles dias, Saul, rei de Israel, pôs-se a caminho e desceu ao deserto de Zif com três mil homens escolhidos de Israel, para irem em busca de David no deserto. David e Abisaí penetraram de noite no meio das tropas: Saul estava deitado a dormir no acampamento, com a lança cravada na terra à sua cabeceira; Abner e a sua gente dormia à volta dele. Então Abisaí disse a David: «Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez». Mas David respondeu a Abisaí: «Não o mates. Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?». David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora. Ninguém viu, ninguém soube, ninguém acordou. Todos dormiam, por causa do sono profundo que o Senhor tinha feito cair sobre eles. David passou ao lado oposto e ficou ao longe, no cimo do monte, de sorte que uma grande distância os separava. Então David exclamou: «Aqui está a lança do rei. Um dos servos venha buscá-la. O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade. Ele entregou-te hoje nas minhas mãos e eu não quis atentar contra o ungido do Senhor».” 

Na 2ªleitura (1 Cor 15, 45-49) S.Paulo incita-nos a escutar, a olhar para Jesus, a entregarmo-nos por Ele e n’Ele. Paulo experimentou outros caminhos, mas só em Jesus se sente verdadeiramente amado por Deus e, por isso, apresenta-nos o único modelo que vale a pena seguir: Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, o homem celeste. 

“Irmãos: O primeiro homem, Adão, foi criado como um ser vivo; o último Adão tornou-se um espírito que dá vida. O primeiro não foi o espiritual, mas o natural; depois é que veio o espiritual. O primeiro homem, tirado da terra, é terreno; o segundo homem veio do Céu. O homem que veio da terra é o modelo dos homens terrenos; o homem que veio do Céu é o modelo dos homens celestes. E assim como trouxemos em nós a imagem do homem terreno, traremos também em nós a imagem do homem celeste.” 

No evangelho (Lc 6, 27-38) Jesus aponta-nos o caminho a seguir, que passa sempre por ir mais longe no amor: amar o inimigo, fazer bem a quem nos faz mal, ajudar quem nos prejudica…Não julgueis, não condeneis… Só em Jesus este caminho é possível! 

“«Naquele tempo, Jesus falou aos seus discípulos, dizendo: «Digo-vos a vós que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não o reclames. Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também. Se amais aqueles que vos amam, que agradecimento mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco».”

Senhor ensina-me a amar como só Tu amas, habita-me, ama em mim Senhor. Só em Ti é possível amar assim.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (cf. Lc 6, 27-38) diz respeito a um ponto central e que carateriza a vida cristã: o amor pelos inimigos. As palavras de Jesus são claras: «Digo-vos, porém, a vós que me escutais: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam» (vv. 27-28). Não é um opcional, é uma ordem. Não é para todos, mas para os discípulos, aos quais Jesus chama “vós que escutais”. Ele sabe muito bem que amar os inimigos vai além das nossas possibilidades, mas foi por esta razão que se fez homem: não para nos deixar tal como somos, mas para nos transformar em homens e mulheres capazes de um amor maior, aquele do seu e do nosso Pai. Este é o amor que Jesus doa a quem “o escuta”. E então isso torna-se possível! Com Ele, graças ao seu amor, ao seu Espírito, podemos amar também aqueles que não nos amam, até quantos nos ofendem.

Deste modo, Jesus quer que em cada coração o amor de Deus triunfe sobre o ódio e o rancor. A lógica do amor, que culmina na Cruz de Cristo, é o distintivo do cristão e incentiva-nos a ir ao encontro de todos com coração de irmãos. Mas como é possível superar o instinto humano e a lei mundana da retaliação? A resposta é dada por Jesus na mesma página evangélica: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (v. 36). Quem escuta Jesus, quem se esforça para o seguir mesmo se é difícil, torna-se filho de Deus e começa a assemelhar-se deveras ao Pai que está nos céus. Tornamo-nos capazes de coisas que nunca teríamos imaginado poder dizer ou fazer, e das quais aliás nos teríamos envergonhado, mas que agora, ao contrário, nos proporcionam alegria e paz. Já não precisamos de ser violentos, com as palavras e com os gestos; descobrimo-nos capazes de ternura e de bondade; e sentimos que tudo isto não provém de nós mas d’Ele, e, portanto, não nos vangloriamos por isso, mas só lhe estamos gratos.

Não há nada de maior e mais fecundo que o amor: ele confere à pessoa toda a sua dignidade, enquanto o ódio e a vingança a desvaloriza, deturpando a beleza da criatura feita à imagem de Deus.

Este mandamento, de responder ao insulto e à ofensa com o amor, gerou no mundo uma nova cultura: a «cultura da misericórdia — devemos aprender e praticar bem esta cultura da misericórdia — que dá vida a uma verdadeira revolução» (Carta. ap. Misericordia et misera, 20). É a revolução do amor, em que os protagonistas são os mártires de todos os tempos. E Jesus garante-nos que o nosso comportamento, caraterizado pelo amor em relação a quantos nos ofendem, não será vão. Ele diz: «perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado […], pois a medida que usardes com os outros será usada convosco» (vv. 37-38). Isto é bom. Será algo bom que Deus nos concederá se formos generosos e misericordiosos. Devemos perdoar porque Deus nos perdoou e nos perdoa sempre. Se não perdoarmos totalmente, não poderemos pretender ser perdoados totalmente. Ao contrário, se os nossos corações se abrirem à misericórdia, se o perdão for selado com um abraço fraterno e se estreitarmos os laços de comunhão, nós proclamaremos ao mundo que é possível vencer o mal com o bem. Às vezes recordamos mais facilmente as injustiças que nos fizeram e os males dos quais fomos vítimas e não as coisas boas; a ponto que há pessoas que têm este hábito que se torna uma doença. São “colecionadores de injustiças”: só se recordam das coisas desagradáveis que lhes fizeram. E não é este o caminho. Devemos fazer o contrário, diz Jesus. Recordar as coisas boas e quando alguém coscuvilhar e falar mal dos outros é preciso dizer: “sim, talvez... mas tem isto de bom...”. Inverter a situação. Esta é a revolução da misericórdia.

A Virgem Maria nos ajude a deixar-nos tocar o coração por esta palavra santa de Jesus, ardente como o fogo, que nos transforma e nos torna capazes de fazer o bem sem recompensa, fazer o bem sem recompensa, testemunhando em toda parte a vitória do amor.

Papa Francisco 
(Angelus, 24 de fevereiro de 2019)

sábado, 15 de fevereiro de 2025

 Ano C -2025

DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

As leituras deste domingo conduzem-nos ao verdadeiro caminho para a busca da felicidade. Podm existir várias opções, mas só há uma forma de alcançar a felicidade, que é pôr toda a confiança, toda a esperança no Senhor nosso Deus. Entreguemo-nos de alma e coração a Deus e estaremos no percurso certo.

Na 1ªleitura (Jer 17, 5-8) Jeremias contrapõe o que acontece a quem confia no homem, face ao que pode esperar aquele que confia totalmente em Deus. Diz o profeta que nada tem a temer o que põe toda a sua confiança no Senhor. Deixemo-nos guiar por Jesus, o único que nos pode conduzir a Deus, a verdadeira felicidade, a vida em plenitude, o Amor sem fim.

“Eis o que diz o Senhor: «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor. Será como o cardo na estepe, que nem percebe quando chega a felicidade: habitará na aridez do deserto, terra salobre, onde ninguém habita. Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos»." 

Na 2ªleitura (1 Cor 15, 12.16- 20) S.Paulo centra-nos em Jesus ressuscitado e na força da ressurreição. É em Jesus ressuscitado que tudo é renovado e a nossa vida passa a ter outro sentido, pois a morte foi vencida de uma vez para sempre. Em Jesus morto, mas também ressuscitado, fomos resgatados e reconquistados para Deus, passámos a ser filhos adotivos, no Filho. Bendito e louvado sejas Senhor Jesus, ressuscitado, vivo no meio de nós.

“Irmãos: Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, porque dizem alguns no meio de vós que não há ressurreição dos mortos? Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados; e assim, os que morreram em Cristo pereceram também. Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.” 

No evangelho (Lc 6, 17.20-26) Jesus apresenta o caminho seguro para a felicidade, que são as bem-aventuranças. Há caminhos mais fáceis, mas o único que conduz à felicidade é este, não há outro. Que o Senhor nos guie, nos ilumine e nos dê a coragem de optar sempre por Ele.

“Naquele tempo, Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos, e deteve-Se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia. Erguendo então os olhos para os discípulos, disse: Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação. Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar. Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem. Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas.”

Senhor, que eu opte sempre por Ti, que sejas a única força em quem sempre me apoie.

Queridos irmãos e irmãs Bom dia!

O Evangelho de hoje (cf. Lc 6, 17.20-26) apresenta-nos as Bem-aventuranças na versão de São Lucas. O texto articula-se em quatro bem-aventuranças e quatro advertências, formuladas com a expressão “ai de vós”. Com estas palavras, vigorosas e incisivas, Jesus abre os nossos olhos, faz-nos ver com o seu olhar, além das aparências, da superfície, e ensina-nos a discernir as situações com fé.

Jesus declara felizes os pobres, os famintos, os aflitos, os perseguidos; e adverte quantos são ricos, se sentem fartos, riem e são aclamados pelo povo. A razão desta paradoxal bem-aventurança consiste no facto de que Deus está próximo daqueles que sofrem e intervém para os libertar da sua escravidão; Jesus vê isto, vê a bem-aventurança além da realidade negativa. E do mesmo modo o “ai de vós”, dirigido a quantos hoje estão bem, serve para “os despertar” do perigoso engano do egoísmo e os abrir à lógica do amor, enquanto houver tempo para o fazer.

Portanto, a página do Evangelho hodierno convida-nos a refletir sobre o sentido profundo de ter fé, que consiste em confiarmo-nos totalmente no Senhor. Trata-se de abater os ídolos mundanos a fim de abrir o coração ao Deus vivo e verdadeiro; só Ele pode dar à nossa existência aquela plenitude tão desejada e difícil de alcançar. Irmãos e irmãs, de facto, são muitos, também nos nossos dias, os que se propõem como dispensadores de felicidade: chegam e prometem sucesso rápido, grandes lucros ao nosso alcance, soluções mágicas a qualquer problema, e assim por diante. E é fácil, sem nos darmos conta, escorregar no pecado contra o primeiro mandamento: isto é, a idolatria, substituir Deus com um ídolo. Idolatria e ídolos parecem situações de outrora mas na realidade são de todos os tempos! Também de hoje. Descrevem alguns comportamentos contemporâneos melhor do que muitas análises sociológicas.

Por isso, Jesus abre os nossos olhos para a realidade. Somos chamados para a felicidade, para sermos felizes, e tornamo-lo a partir e na medida em que nos pusermos do lado de Deus, do seu reino, da parte do que não é efémero mas que dura pela vida eterna. Somos felizes se nos reconhecermos necessitados diante de Deus — e isto é muito importante — “Senhor preciso de ti” — e se, como Ele e com Ele, estivermos próximos dos pobres, dos aflitos e dos famintos. Também nós diante de Deus somos: pobres, aflitos, famintos. Somos capazes de alegria cada vez que, possuindo bens deste mundo, não construimos ídolos aos quais vender a nossa alma, mas somos capazes de os partilhar com os nossos irmãos. Sobre isto hoje a liturgia convida-nos mais uma vez a questionarmo-nos e a sermos verídicos no nosso coração.

As bem-aventuranças de Jesus são uma mensagem decisiva, que nos impele a não depositar a nossa confiança em coisas materiais e passageiras, a não buscar a felicidade seguindo os vendedores de fumaça — que com frequência são vendedores de morte — os profissionais da ilusão. Não devemos segui-los porque eles são incapazes de nos dar esperança. O Senhor nos ajude a abrir os olhos, a adquirir um olhar mais penetrante sobre a realidade, a sarar da miopia crónica com a qual o espírito mundano nos contagia. Com a sua Palavra paradoxal nos desperte e nos faça reconhecer aquilo que deveras nos enriquece, sacia, dá alegria e dignidade. Por fim, o que verdadeiramente dá sentido e plenitude à nossa vida. 

A Virgem Maria nos ajude a ouvir este Evangelho com mente e coração abertos, a fim de que dê fruto na nossa vida e nos tornemos testemunhas da felicidade que não desilude, a de Deus que nunca desilude.

Papa Francisco 
(Angelus, 17 de fevereiro de 2019)

Melhoram as condições de saúde do Papa Francisco - Vaticano News e Ecclesia

 


sábado, 8 de fevereiro de 2025

 Ano C -2025

DOMINGO V DO TEMPO COMUM

As leituras deste V domingo do tempo comum interpelam-nos diretamente e, simultaneamente, desafiam-nos a sermos, também nós, pescadores de homens, missionários do e no nosso tempo.

Na 1ªleitura (Is 6, 1-2a.3-8) o profeta Isaías que explica-nos como o sentir-se chamado é um dom de Deus. Depois, dá-nos um testemunho sobre a sua vocação e ensina-nos que Deus faz o caminho com cada um, respeitando-o tal qual é. O Senhor chama-nos, mas deixa-nos livres de lhe dar uma resposta positiva, ou negativa. Isaías respondeu: «Eis-me aqui: podeis enviar-me». Façamos como Isaías, abramos o nosso coração a Deus e deixemo-nos inundar pelo Espírito Santo. Ele nos iluminará na resposta a dar ao Senhor.

“No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».”  

Na 2ªleitura (1 Cor 15, 1-11) é S.Paulo quem nos fala sobre aqueles a quem Deus escolheu e nos afirma, baseado na sua própria experiência, que ninguém está fora dos planos de Deus, ainda que, por vezes, no seu caminho, tenha feito escolhas erradas. É com tudo o que somos, com toda a nossa história de vida, que Deus nos quer, nos chama e nos envia a anunciar a boa nova do Seu Reino a todos os que fazem parte do nosso quotidiano. 

“Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.” 

No evangelho (Lc 5, 1-11)  sentimo-nos povo, igreja, ao ao redor de Jesus, a escutar a palavra de Deus. Por outro lado, o efeito dessa palavra em Pedro e nos outros primeiros discípulos, leva-os a confiar  e a fazer, contra todas as evidências, o que Jesus lhes pede, isto é, a lançar as redes de novo, mesmo sabendo que não tinham conseguido encontrar nenhum peixe durante toda a noite. E é esta disponibilidade, confiança e entrega em Jesus que tudo transforma, tornando estes pescadores de peixe em pescadores de homens.  

Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.” 

Senhor Jesus, meu Senhor e meu Deus, que eu aprenda a confiar sempre em Ti, para além de todas as evidências. Que nunca, mas nunca mesmo, duvide do Teu Amor por cada ser vivente.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje (cf. Lc 5, 1-11) propõe-nos, na narração de Lucas, a chamada de São Pedro. O seu nome — sabemos — era Simão, e ele era pescador. Na margem do lago de Galileia, Jesus vê-o a consertar as redes, juntamente com outros pescadores. Encontra-o cansado e desiludido, porque naquela noite nada tinham pescado. E Jesus surpreende-o com um gesto imprevisto: entrou no seu barco e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra porque queria ensinar dali ao povo — havia muita gente. Assim Jesus senta-se no barco de Simão e ensina à multidão reunida ao longo das margens. Mas as suas palavras voltam a abrir à confiança também o coração de Simão. Então Jesus, com outro “gesto” surpreendente, diz-lhe: «Faz-te ao largo; e, vós lançai as redes para a pesca» (v. 4).

Simão responde com uma objeção: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhamos...». E, como pescador perito, teria podido acrescentar: “Se nada apanhamos de noite, muito menos apanharemos de dia”. Ao contrário, inspirado pela presença de Jesus e iluminado pela sua Palavra, diz: «...mas porque Tu o dizes, lançarei as redes» (v. 5). É a resposta da fé, que também nós somos chamados a dar; é a atitude de disponibilidade que o Senhor pede a todos os seus discípulos, sobretudo a quantos desempenham tarefas de responsabilidade na Igreja. E a obediência confiante de Pedro gera um resultado prodigioso: «Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixes» (v. 6).

Trata-se de uma pesca milagrosa, sinal do poder da palavra de Jesus: quando nos colocamos com generosidade ao seu serviço, Ele realiza maravilhas em nós. Assim age em relação a cada um de nós: pede-nos que O recebamos no barco da nossa vida, para voltar a partir com Ele e sulcar um novo mar, que se revela cheio de surpresas. O seu convite a fazermo-nos ao largo no mar da humanidade do nosso tempo, para ser testemunhas de bondade e de misericórdia, confere um novo sentido à nossa existência, que muitas vezes corre o risco de se nivelar sobre si mesma. Às vezes podemos ficar surpreendidos e hesitantes diante da chamada que o Mestre divino nos dirige, e sentimo-nos tentados a rejeitá-la por causa da nossa inaptidão. Também Pedro, depois da inacreditável pesca, disse a Jesus: «Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador» (v. 8). É bonita esta oração humilde: “Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador”. Mas disse-o de joelhos, diante d’Aquele que já reconhece como “Senhor”. E Jesus encoraja-o, dizendo: «Não temas; doravante serás pescador de homens» (v. 10) porque, se confiarmos em Deus, Ele liberta-nos do nosso pecado e abre à nossa frente um novo horizonte: colaborar para a sua missão.

O maior milagre feito por Jesus para Simão e os demais pescadores desiludidos e cansados, não é tanto a rede cheia de peixes, quanto o facto de os ter ajudado a não ser vítimas da desilusão e do desencorajamento, diante das derrotas. Abriu-os para que se tornassem anunciadores e testemunhas da sua palavra e do reino de Deus. E a resposta dos discípulos foi imediata e total: «Depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram-no» (v. 11)

A Virgem Santa, modelo de adesão imediata à vontade de Deus, nos ajude a sentir o fascínio da chamada do Senhor, e nos torne disponíveis a colaborar com Ele para difundir por toda a parte a sua palavra de salvação.

Papa Francisco
(Angelus, 10 de fevereiro de 2019)