sábado, 18 de janeiro de 2025

  Ano C -2025

DOMINGO II DO TEMPO COMUM

 

Hoje as leituras centram-nos na relação de amor que Deus tem para com o Seu povo. É na certeza da fidelidade de Deus, do Seu Amor para com cada um de nós, que se cimenta a força da nossa caminhada para Deus. Deus nunca nos abandona, nem quando nós nos afastamos, ou duvidamos do Seu Amor, incondicional e sem fim, por cada um de nós. Ainda que o vinho falte, Nossa Senhora, sempre atenta, sempre mãe, primeiro de Jesus, mas depois também nossa, encontrará forma de nos levar ao seu Filho e daí só temos que fazer tudo o que Ele nos disser.

Na 1ªleitura (Is. 62, 1-5) o profeta Isaías usa a imagem do casamento para nos falar da relação de Deus com a humanidade, com cada um de nós. Confiemos n’Ele, entreguemo-nos de coração a este amor sem fim. Ele, que é Deus, ama-nos infinitamente. Nunca duvidemos do Seu Amor. Deixemos que o Seu Amor em nós se comunique a cada um dos que connosco se cruza na vida.

“Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente. Os povos hão de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória. Receberás um nome novo, que a boca do Senhor designará. Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor, diadema real nas mãos do teu Deus. Não mais te chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão de chamar-te «Predileta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predileta do Senhor e a tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus.”

Na 2ªleitura (1 Cor 12, 4-11) S.Paulo apela a que nos deixemos moldar pelo Espírito Santo, pois em cada de um nós Ele infunde o que é necessário para o bem de todos. Ele sopra em quem quer e como quer. Cabe-nos abrir o coração e deixar o Espírito atuar. Vem divino Espírito Santo e enche os nossos corações, para que um dia, todos conheçam o quanto são amados por Deus.

“Irmãos: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria, a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito. É um só e o mesmo Espírito que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar; a um dá o poder de fazer milagres, a outro o de falar em nome de Deus; a um dá o discernimento dos espíritos, a outro o de falar diversas línguas, a outro o dom de as interpretar. Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.” 

O evangelho (Jo 2, 1-11) fala-nos da antecipação da hora de Jesus, projeta-nos, em cheio, no primeiro milagre de Jesus. Faz-nos também olhar para Maria, como o primeiro discípulo, como a mãe de todos nós, sempre atenta às necessidades de cada um dos seus filhos. Trata-se de uma festa, de alegria, da celebração do amor, cheia de sinais, mas também da força, da ternura, da comunhão entre mãe e filho, que antecipa a hora de Jesus. E é Nossa Senhora que, primeiro pelo seu exemplo, e depois pelas suas palavras, nos dá a solução: “Fazei tudo o que Eles vos disser”. Se assim fizermos, “o vinho” nunca faltará na nossa vida.

“Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas a três medidas. Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água». Eles encheram-nas até acima. Depois disse-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, – ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora». Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.”

Querida mãe, entrego nas tuas mãos todas as minhas preocupações, para que as leves a Jesus. Ensina-me a escutar o Teu Filho e a fazer tudo que Ele me disser.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

No domingo passado, com a festa do Batismo do Senhor, demos início ao caminho do tempo litúrgico chamado “comum”: o tempo em que seguimos Jesus na sua vida pública, na missão para a qual o Pai o enviou ao mundo. No Evangelho de hoje (cf. Jo 2, 1-11) encontramos a narração do primeiro milagre de Jesus. O primeiro destes sinais prodigiosos decorreu na aldeia de Caná, na Galileia, durante a festa de um matrimónio. Não é por acaso que no início da vida pública de Jesus haja uma cerimónia nupcial, porque n’Ele Deus se uniu à humanidade: é esta a boa nova, embora quantos o convidaram ainda não saibam que à sua mesa está sentado o Filho de Deus e que o verdadeiro esposo é Ele. Com efeito, todo o mistério do sinal de Caná se funda na presença deste esposo divino, Jesus, que começa a revelar-se. Jesus manifesta-se como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor.

No contexto da Aliança compreende-se plenamente o sentido do símbolo do vinho, que está no centro deste milagre. Precisamente quando a festa chega ao ápice, acaba o vinho; Nossa Senhora dá-se conta disto e diz a Jesus: «Não têm vinho» (v. 3). Porque teria sido desagradável continuar a festa com água! Uma má figura para aquelas pessoas. Nossa Senhora dá-se conta e, dado que é mãe, vai ter imediatamente com Jesus. As Escrituras, especialmente os Profetas, indicavam o vinho como elemento típico do banquete messiânico (cf. Am 9, 13-14; Jl 2, 24; Is 25, 6). A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. Uma festa sem vinho? Não sei... Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas «para a purificação ritual dos judeus» (cf. v. 6) — era o costume: antes de entrar em casa, purificar-se — Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria.

E agora, contemplemos Maria: as palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: «Fazei o que Ele vos disser!» (v. 5). Também hoje Nossa Senhora nos diz, a todos nós: «Fazei o que Ele vos disser!». Estas palavras são uma herança preciosa que a nossa Mãe nos deixou. E de facto em Caná os servos obedeceram. «Disse-lhes Jesus: “Enchei as vasilhas de água”. Eles encheram-nas até em cima. Então ordenou-lhes: “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. E eles assim fizeram» (vv. 7-8). Nestas bodas, foi deveras estipulada uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: «Fazei o que Ele vos disser!». Servir o Senhor significa ouvir e praticar a sua palavra. É a recomendação simples, essencial, da Mãe de Jesus, é o programa de vida do cristão.

Gostaria de evidenciar uma experiência que certamente muitos de nós tivemos na vida. Quando nos encontramos em situações difíceis, quando surgem problemas que não sabemos como resolver, quando sentimos muitas vezes ansiedade e angústia, quando nos falta a alegria, vamos ter com Nossa Senhora e dizemos: “Não temos vinho. Acabou o vinho: olha como estou, olha para o meu coração, olha para a minha alma”. Digamo-lo à Mãe. E Ela irá ter com Jesus para lhe dizer: “Olha para este, olha para esta: não têm vinho”. E depois, voltará para nos dizer: “Fazei o que Ele vos disser!”.

Para cada um de nós, haurir da ânfora equivale a confiar-se à Palavra e aos Sacramentos para experimentar a graça de Deus na própria vida. Então também nós, como o chefe de mesa que provou a água transformada em vinho, poderemos exclamar: «Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» (v. 10). Jesus surpreende-nos sempre. Falemos à Mãe para que diga ao Filho, e Ele surpreender-nos-á.

Que Ela, a Virgem Santa, nos ajude a seguir o seu convite: «Fazei o que Ele vos disser!», a fim de que nos possamos abrir plenamente a Jesus, reconhecendo na vida de todos os dias os sinais da sua presença vivificadora.

Papa Francisco
(Angelus, 20 de janeiro de 2019)

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