sábado, 25 de janeiro de 2025

Ano C -2025

VI DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS - 

III DOMINGO DO TEMPO COMUM

Recordando... "Portanto estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. Este Domingo da Palavra de Deus colocar-se-á, assim, num momento propício daquele período do ano em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida."

Papa Francisco in nº3, da Carta Apostólica  “Aperuit illis”

Hoje, as leituras  centram-nos na “Palavra”, viva e proclamada. No pós Concílio Vaticano II a Igreja redescobriu a importância da Palavra, quer na Eucaristia, quer na nossa vida. E, com a graça de Deus, hoje, nas eucaristias, o altar da “Palavra” tem um espaço e uma importância maior que, não ficando por aí, nos transpõe para a vivência quotidiana. Como é bom Senhor Jesus escutar-Te, saber que não estamos sós e que Tu caminhas connosco e nos guias. Que o nosso coração se abra sempre à Tua Palavra.

Na 1ªleitura (Ne 8, 2-4a.5-6.8-10) sentimos como o povo de Israel, ao recuperar a sua memória, enquanto povo escolhido por Deus, através da proclamação e explicação da Palavra, se sente comovido, agradecido e responsabilizado e, por isso, faz festa, celebra na alegria. A “Palavra” é um tempo de encontro entre o Povo e Deus. Que a eucaristia possa ser também hoje, para cada um de nós, o tempo do encontro com Deus, na alegria da escuta da Sua Palavra.

"Naqueles dias, o sacerdote Esdras trouxe o Livro da Lei perante a assembleia de homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Era o primeiro dia do sétimo mês. Desde a aurora até ao meio dia, fez a leitura do Livro, no largo situado diante da Porta das Águas, diante dos homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Todo o povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei. O escriba Esdras estava de pé num estrado de madeira feito de propósito. Estando assim em plano superior a todo o povo, Esdras abriu o Livro à vista de todos; e quando o abriu, todos se levantaram. Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, erguendo as mãos: «Amen! Amen!». E prostrando-se de rosto por terra, adoraram o Senhor. Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. Então o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras, bem como os levitas, que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: «Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. Depois Neemias acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza»."

Na 2ª leitura (1 Cor 12, 12-30) S.Paulo, com uma linguagem, tão simples e clara, quanto bela, desafia-nos a vivermos na unidade, guiados pela Palavra de Deus. Tendo, cada um, os diferentes dons que o Senhor lhe dá, em favor de toda a comunidade, todos somos chamados a viver no Senhor, Jesus Cristo, como um só Corpo. 

"Irmãos: Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim sucede também em Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito para constituirmos um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. De facto, o corpo não é constituído por um só membro, mas por muitos. Se o pé dissesse: «Uma vez que não sou mão, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. E se a orelha dissesse: «Uma vez que não sou olho, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros, segundo a sua vontade. Se todo ele fosse um só membro, que seria do corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»; nem a cabeça dizer aos pés: «Não preciso de vós». Pelo contrário, os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários; os que nos parecem menos honrosos cuidamo-los com maior consideração; e os nossos membros menos decorosos são tratados com maior decência: os que são mais decorosos não precisam de tais cuidados. Deus organizou o corpo, dispensando maior consideração ao que dela precisa, para que não haja divisão no corpo e os membros tenham a mesma solicitude uns com os outros. Deste modo, se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele. Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte. Assim, Deus estabeleceu na Igreja em primeiro lugar apóstolos, em segundo profetas, em terceiro doutores. Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da assistência, de governar, de falar diversas línguas. Serão todos apóstolos? Todos profetas? Todos doutores? Todos farão milagres? Todos terão o poder de curar? Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?"

No evangelho (Lc 1, 1-4; 4, 14-21) escutamos a Palavra viva, Jesus Cristo. É Jesus que nos centra n’Ele mesmo, como Aquele que Deus ungiu e enviou para nos libertar a todos. Deixemo-nos cativar, habitar, pelo Senhor Jesus, para que, também através de nós, aqueles, que connosco convivem, possam experimentar o quanto são amados por Deus.

"Já que muitos empreenderam narrar os factos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram os que, desde o início, foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também eu resolvi, depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens, escrevê-las para ti, ilustre Teófilo, para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado. Naquele tempo, Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos. Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor». Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir»."

Senhor, que eu meu coração se abra sempre à Tua Palavra.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia! 

Hoje olhemos para Jesus como mestre do anúncio. Deixemo-nos orientar pelo episódio em que Ele prega na sinagoga do seu povoado, Nazaré. Jesus lê um trecho do profeta Isaías (cf. 61, 1-2) e depois surpreende todos com um “sermão” muito breve, de uma única frase, uma só frase. Diz assim: «Hoje cumpriu-se este oráculo, que acabais de ouvir» (Lc 4, 21). Esta foi a pregação de Jesus: «Hoje cumpriu-se este oráculo, que acabais de ouvir». Isto significa que para Jesus essa passagem profética contém o essencial daquilo que Ele quer dizer de si. Por conseguinte, cada vez que falamos de Jesus, deveríamos seguir aquele seu primeiro anúncio. Então, vejamos em que consiste este primeiro anúncio. Podemos identificar cinco elementos essenciais.

O primeiro elemento é a alegria. Jesus proclama: «O Espírito do Senhor está sobre mim; [...] enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres» (v. 18), isto é, um anúncio de júbilo, de alegria. Boa nova: não se pode falar de Jesus sem alegria, porque a fé é uma maravilhosa história de amor a partilhar. Testemunhar Jesus, fazer algo pelos outros em seu nome, é dizer nas entrelinhas da vida que se recebeu um dom tão bonito que nenhuma palavra é suficiente para o expressar. Ao contrário, quando falta alegria, o Evangelho não passa, pois ele – como a própria palavra o diz - é bom anúncio, e Evangelho quer dizer bom anúncio, anúncio de alegria. O cristão triste pode falar de coisas maravilhosas, mas será tudo em vão se o anúncio que transmite não for jubiloso. Dizia um pensador: “um cristão triste é um triste cristão”: não esqueçais isto.

Passemos para o segundo aspeto: a libertação. Jesus diz que foi enviado «para anunciar a libertação aos cativos» (v. 19). Isto significa que quem anuncia Deus não pode fazer proselitismo, não, não pode pressionar os outros, mas deve aliviá-los: não impor fardos, mas livrar deles; levar paz, não sentimentos de culpa. Sem dúvida, seguir Jesus exige ascese, exige sacrifícios; de resto, se cada coisa boa o requer, muito mais o exige a realidade decisiva da vida! Mas quem dá testemunho de Cristo mostra a beleza da meta, mais do que o cansaço do caminho. Ter-nos-á ocorrido contar a alguém sobre uma bela viagem que fizemos. Por exemplo, teríamos falado da beleza dos lugares, do que vimos e vivemos, não do tempo para lá chegar, nem das filas no aeroporto, não! Assim, qualquer anúncio digno do Redentor deve comunicar libertação. Como aquele de Jesus. Hoje há alegria pois vim libertar.

Terceiro aspeto: a luz. Jesus diz que veio para restituir «aos cegos o recobrar da vista» (ibid.). É impressionante que em toda a Bíblia, antes de Cristo, nunca aparece a cura de um cego, nunca. Com efeito, era um sinal prometido que viria com o Messias. Contudo, aqui não se trata apenas da vista física, mas de uma luz que faz ver a vida de modo novo. Há um “vir à luz”, um renascimento que só se verifica com Jesus. Pensando bem, foi assim que a vida cristã teve início para nós: com o Batismo, que antigamente se chamava precisamente “iluminação”. E que luz nos dá Jesus? Traz-nos a luz da filiação: Ele é o Filho amado do Pai, vivo para sempre; e com Ele, também nós somos filhos de Deus, amados para sempre, não obstante os nossos erros e defeitos. Então, a vida já não é um avançar cego rumo ao nada, não:  não é questão de destino ou sorte, não é algo que depende do acaso ou das estrelas, nem sequer da saúde ou das finanças, não. A vida depende do amor, do amor do Pai, que cuida de nós, seus filhos amados. Como é maravilhoso partilhar esta luz com os outros! Já pensastes que a vida de cada um de nós – a minha vida, a tua vida, a nossa vida – é um gesto de amor? É um convite ao amor? Isto é maravilhoso! Mas muitas vezes esquecemos isto, face às dificuldades, diante das más notícias, também diante – e isto é terrível – da mundanidade, do modo de viver mundano.

Quarto aspeto do anúncio: a cura. Jesus diz que veio «para libertar os oprimidos» (ibid.). Oprimido é aquele que, na vida, se sente esmagado por algo que acontece: doenças, canseiras, pesos no coração, sentimentos de culpa, erros, vícios, pecados... Oprimidos por isto: pensemos por exemplo nos sentimentos de culpa. Quantos de nós sofreram com isto? Pensemos um pouco num sentimento de culpa deste, daquele… O que nos oprime é, acima de tudo, precisamente aquele mal que nenhum medicamento ou remédio humano pode curar: o pecado. E se alguém tem sentimento de culpa por algo que fez, e se sente mal... mas a boa notícia é que com Jesus este mal antigo, o pecado, que parece invencível, já não tem a última palavra. Posso pecar, pois sou débil. Cada um de nós o pode fazer, mas esta não é a última palavra. A última palavra é a mão estendida de Jesus que te ergue do pecado. E padre, quando o faz? Uma vez? Não. Duas? Não. Três? Não. Sempre. Cada vez que estás mal, o Senhor tem sempre a mão estendida. É preciso apenas pegar nela e deixar-se levar. A boa notícia é que com Jesus este mal antigo não tem a última palavra: a última palavra é a mão estendida de Jesus que te leva em frente.  Do pecado, Jesus cura-nos sempre. E quanto devo pagar pela cura? Nada. Cura-nos sempre e gratuitamente.  Ele convida quantos estão «cansados e oprimidos» - disse-o no Evangelho – convida a ir até Ele (cf. Mt 11, 28). E então, acompanhar alguém ao encontro de Jesus significa levá-lo ao médico do coração, que alivia a vida. Significa dizer: “Irmão, irmã, não tenho respostas para muitos dos teus problemas, mas Jesus conhece-te, Jesus ama-te, pode curar-te e tranquilizar o coração”. Quem carrega fardos precisa de uma carícia no passado. Muitas vezes ouvimos: “Mas eu precisaria de curar o meu passado… preciso de uma carícia naquele passado que me pesa muito…”. Tem necessidade de perdão. E quem acredita em Jesus tem precisamente isto para oferecer ao próximo: a força do perdão que liberta a alma de qualquer dívida. Irmãos, irmãs, não esqueçais: Deus esquece tudo. Porquê? Sim, esquece todos os nossos pecados, deles não há memória. Deus perdoa tudo pois esquece os nossos pecados. Só precisamos de nos aproximar do Senhor e Ele perdoa-nos tudo. Pensai em algo do Evangelho, naquele que começou a falar: “Senhor, pequei!”. Aquele filho… E o pai fecha-lhe a boca com a mão. “Não, está bem, nada…” Não o deixa acabar… Isto é bonito. Jesus espera-nos para nos perdoar, para nos sarar. E quanto? Uma vez? Duas vezes? Não. Sempre. “Mas, padre, faço as mesmas coisas sempre...”. E também ele fará as suas mesmas coisas sempre: perdoa-te, abraça-te. Por favor, não duvidemos disto. É assim que se ama o Senhor. Quem carrega pesos e precisa de uma carícia no passado, precisa de perdão, saiba que Jesus o faz. E é isto que Jesus oferece: libertar a alma de cada dívida. Na Bíblia fala-se de um ano em que libertava do peso das dívidas: o Jubileu, o ano da graça. Como se fosse o último ponto do anúncio!

Com efeito, Jesus diz que veio «para proclamar o ano da graça do Senhor» (Lc 4, 19). Não era um jubileu programado, como aqueles que estamos a fazer agora, que tudo é programado e pensamos em como fazer, como não fazer… Não. Mas com Cristo a graça que renova a vida chega e surpreende sempre. Cristo é o Jubileu de cada dia, de cada hora, que se aproxima de ti, para te acariciar, para te perdoar.  E o anúncio de Jesus deve trazer sempre o enlevo da graça. Este enlevo… “Não acredito, fui perdoado, fui perdoada”. Mas é tão grande o nosso Deus! Pois não somos nós que fazemos grandes coisas, mas é a graça do Senhor que, inclusive através de nós, realiza coisas imprevisíveis. E estas são as surpresas de Deus! Deus é um mestre das surpresas. Surpreende-nos sempre, espera-nos sempre. Nós chegamos, e Ele está à espera. Sempre. O Evangelho é acompanhado por um sentimento de maravilha e de novidade que tem um nome: Jesus!

Que Ele nos ajude a anunciá-lo como deseja, comunicando alegria, libertação, luz, cura e enlevo. É assim que se comunica Jesus.

Um último aspeto: este feliz anúncio, que recita o Evangelho, é dirigido «aos pobres» (v. 18). Muitas vezes esquecemo-nos deles, no entanto são os destinatários explicitamente mencionados porque são os prediletos de Deus. Lembremo-nos deles, e recordemos que, para receber o Senhor, cada um de nós deve fazer-se “pobre dentro”. Com aquela pobreza que faz dizer… “Senhor, preciso de perdão, preciso de ajuda, preciso de força”. A pobreza que todos temos: tornar-se pobre dentro. Trata-se de superar qualquer pretensão de autossuficiência para compreender que é necessitado de graça, e sempre necessitado d’Ele. Se alguém me disser: Padre, mas qual é a via mais breve para encontrar Jesus? Torna-te necessitado. Torna-te necessitado de graça, necessitado de perdão, necessitado e alegria. E Ele aproximar-se-á de ti.

Papa Francisco
(Audiência Geral, 25 de janeiro de 2023)

Consagração a Nossa Senhora de Fátima - Ano Jubilar 2025 - Santuário de Fátima

sábado, 18 de janeiro de 2025

  Ano C -2025

DOMINGO II DO TEMPO COMUM

 

Hoje as leituras centram-nos na relação de amor que Deus tem para com o Seu povo. É na certeza da fidelidade de Deus, do Seu Amor para com cada um de nós, que se cimenta a força da nossa caminhada para Deus. Deus nunca nos abandona, nem quando nós nos afastamos, ou duvidamos do Seu Amor, incondicional e sem fim, por cada um de nós. Ainda que o vinho falte, Nossa Senhora, sempre atenta, sempre mãe, primeiro de Jesus, mas depois também nossa, encontrará forma de nos levar ao seu Filho e daí só temos que fazer tudo o que Ele nos disser.

Na 1ªleitura (Is. 62, 1-5) o profeta Isaías usa a imagem do casamento para nos falar da relação de Deus com a humanidade, com cada um de nós. Confiemos n’Ele, entreguemo-nos de coração a este amor sem fim. Ele, que é Deus, ama-nos infinitamente. Nunca duvidemos do Seu Amor. Deixemos que o Seu Amor em nós se comunique a cada um dos que connosco se cruza na vida.

“Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente. Os povos hão de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória. Receberás um nome novo, que a boca do Senhor designará. Serás coroa esplendorosa nas mãos do Senhor, diadema real nas mãos do teu Deus. Não mais te chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão de chamar-te «Predileta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predileta do Senhor e a tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus.”

Na 2ªleitura (1 Cor 12, 4-11) S.Paulo apela a que nos deixemos moldar pelo Espírito Santo, pois em cada de um nós Ele infunde o que é necessário para o bem de todos. Ele sopra em quem quer e como quer. Cabe-nos abrir o coração e deixar o Espírito atuar. Vem divino Espírito Santo e enche os nossos corações, para que um dia, todos conheçam o quanto são amados por Deus.

“Irmãos: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria, a outro a mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito. É um só e o mesmo Espírito que dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar; a um dá o poder de fazer milagres, a outro o de falar em nome de Deus; a um dá o discernimento dos espíritos, a outro o de falar diversas línguas, a outro o dom de as interpretar. Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada.” 

O evangelho (Jo 2, 1-11) fala-nos da antecipação da hora de Jesus, projeta-nos, em cheio, no primeiro milagre de Jesus. Faz-nos também olhar para Maria, como o primeiro discípulo, como a mãe de todos nós, sempre atenta às necessidades de cada um dos seus filhos. Trata-se de uma festa, de alegria, da celebração do amor, cheia de sinais, mas também da força, da ternura, da comunhão entre mãe e filho, que antecipa a hora de Jesus. E é Nossa Senhora que, primeiro pelo seu exemplo, e depois pelas suas palavras, nos dá a solução: “Fazei tudo o que Eles vos disser”. Se assim fizermos, “o vinho” nunca faltará na nossa vida.

“Naquele tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus. Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas a três medidas. Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água». Eles encheram-nas até acima. Depois disse-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, – ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora». Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.”

Querida mãe, entrego nas tuas mãos todas as minhas preocupações, para que as leves a Jesus. Ensina-me a escutar o Teu Filho e a fazer tudo que Ele me disser.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

No domingo passado, com a festa do Batismo do Senhor, demos início ao caminho do tempo litúrgico chamado “comum”: o tempo em que seguimos Jesus na sua vida pública, na missão para a qual o Pai o enviou ao mundo. No Evangelho de hoje (cf. Jo 2, 1-11) encontramos a narração do primeiro milagre de Jesus. O primeiro destes sinais prodigiosos decorreu na aldeia de Caná, na Galileia, durante a festa de um matrimónio. Não é por acaso que no início da vida pública de Jesus haja uma cerimónia nupcial, porque n’Ele Deus se uniu à humanidade: é esta a boa nova, embora quantos o convidaram ainda não saibam que à sua mesa está sentado o Filho de Deus e que o verdadeiro esposo é Ele. Com efeito, todo o mistério do sinal de Caná se funda na presença deste esposo divino, Jesus, que começa a revelar-se. Jesus manifesta-se como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor.

No contexto da Aliança compreende-se plenamente o sentido do símbolo do vinho, que está no centro deste milagre. Precisamente quando a festa chega ao ápice, acaba o vinho; Nossa Senhora dá-se conta disto e diz a Jesus: «Não têm vinho» (v. 3). Porque teria sido desagradável continuar a festa com água! Uma má figura para aquelas pessoas. Nossa Senhora dá-se conta e, dado que é mãe, vai ter imediatamente com Jesus. As Escrituras, especialmente os Profetas, indicavam o vinho como elemento típico do banquete messiânico (cf. Am 9, 13-14; Jl 2, 24; Is 25, 6). A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. Uma festa sem vinho? Não sei... Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas «para a purificação ritual dos judeus» (cf. v. 6) — era o costume: antes de entrar em casa, purificar-se — Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria.

E agora, contemplemos Maria: as palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: «Fazei o que Ele vos disser!» (v. 5). Também hoje Nossa Senhora nos diz, a todos nós: «Fazei o que Ele vos disser!». Estas palavras são uma herança preciosa que a nossa Mãe nos deixou. E de facto em Caná os servos obedeceram. «Disse-lhes Jesus: “Enchei as vasilhas de água”. Eles encheram-nas até em cima. Então ordenou-lhes: “Tirai agora e levai ao chefe de mesa”. E eles assim fizeram» (vv. 7-8). Nestas bodas, foi deveras estipulada uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: «Fazei o que Ele vos disser!». Servir o Senhor significa ouvir e praticar a sua palavra. É a recomendação simples, essencial, da Mãe de Jesus, é o programa de vida do cristão.

Gostaria de evidenciar uma experiência que certamente muitos de nós tivemos na vida. Quando nos encontramos em situações difíceis, quando surgem problemas que não sabemos como resolver, quando sentimos muitas vezes ansiedade e angústia, quando nos falta a alegria, vamos ter com Nossa Senhora e dizemos: “Não temos vinho. Acabou o vinho: olha como estou, olha para o meu coração, olha para a minha alma”. Digamo-lo à Mãe. E Ela irá ter com Jesus para lhe dizer: “Olha para este, olha para esta: não têm vinho”. E depois, voltará para nos dizer: “Fazei o que Ele vos disser!”.

Para cada um de nós, haurir da ânfora equivale a confiar-se à Palavra e aos Sacramentos para experimentar a graça de Deus na própria vida. Então também nós, como o chefe de mesa que provou a água transformada em vinho, poderemos exclamar: «Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» (v. 10). Jesus surpreende-nos sempre. Falemos à Mãe para que diga ao Filho, e Ele surpreender-nos-á.

Que Ela, a Virgem Santa, nos ajude a seguir o seu convite: «Fazei o que Ele vos disser!», a fim de que nos possamos abrir plenamente a Jesus, reconhecendo na vida de todos os dias os sinais da sua presença vivificadora.

Papa Francisco
(Angelus, 20 de janeiro de 2019)

sábado, 11 de janeiro de 2025

Ano Santo 2025: iniciativa do Programa ECCLESIA

Padre João Lourenço vai destacar tema da esperança nas leituras bíblicas de cada domingo

 Ano C -2025

DOMINGO DO BATISMO DO SENHOR

É com a festa do “Batismo do Senhor Jesus” que a Igreja dá por concluídas as festividades do Natal e reinicia o Tempo  Comum. Depois de um tempo forte, de chamamento à contemplação da manifestação do Mistério do Amor de Deus pelo homem, começa um tempo de interiorização na vida. Com Jesus, que agora inicia a Sua vida pública, vamos caminhando num conhecimento maior do Amor de Deus. É Ele, o Filho, no qual Deus colocou toda a Sua complacência, quem nos vai conduzindo até ao Pai, e no-L’O vai revelando como o Amor sem fim por cada um de nós em particular e por todos em geral.

Na 1ªleitura (Is 42, 1-4.6-7) o profeta Isaías transpõe-nos já para o tempo de Jesus e identifica-O como o Servo de Javé, o enlevo de Deus, o Seu Filho, muito amado, que veio restabelecer a Aliança de Deus com os homens, que veio ser a luz das nações. Deixemo-nos iluminar por este Amor sem fim.

Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas». 

Na 2ªleitura (Atos 10, 34-38) S.Pedro fala-nos do batismo de Jesus e de como a Sua ação vai para além do povo de Israel, pois destina-se a todas as pessoas de qualquer nação. Jesus veio trazer a Paz a toda a humanidade.

Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».” 

No Evangelho (Lc 3, 15-16.21-22) o Céu desce à Terra e revela-nos Jesus, como o Filho muito amado de Deus Pai. É a Trindade Santa que se faz presente no meio dos homens. É um momento único na nossa história da salvação, é Deus Uno e Trino presente no meio de nós. É o início de um tempo novo, o tempo de Jesus, o Filho de Deus no meio dos homens. Deixemos que o Seu Santo Espírito nos invada, nos transforme o coração e assim possamos, também nós, hoje, nas nossas vidas testemunhá-L’O, anunciá-L’O.

Naquele tempo, o povo estava na expetativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu batizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».” 

Envia sobre mim Senhor o Teu Santo Espírito e ilumina-me, transforma-me.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje celebramos o Batismo do Senhor (cf. Mc  1, 7-11). Ele tem lugar no rio Jordão, onde João — por isso chamado “Batista” — realiza um rito de purificação, que exprime o compromisso de abandonar o pecado e de se converter. O povo vai para ser batizado com humildade, com sinceridade e, como reza a Liturgia, “com a alma e os pés descalços”, e Jesus também vai para lá, inaugurando o seu ministério: mostra assim que quer estar ao lado dos pecadores, que veio para eles, para todos nós que somos pecadores!

E nesse mesmo dia acontecem coisas extraordinárias. João Batista diz algo de insólito, reconhecendo publicamente em Jesus, aparentemente igual a todos os outros, um «maior» (v. 7) do que ele, que vai «batizar no Espírito Santo» (v. 8). Então os céus abrem-se, o Espírito Santo desce sobre Jesus em forma de pomba (cf. v. 10) e, do alto, a voz do Pai proclama: «Tu és o meu Filho muito amado: em ti pus toda a minha complacência» (v. 11).

Tudo isto, se por um lado nos revela que Jesus é o Filho de Deus, por outro lado fala-nos do nosso Batismo, que nos tornou por nossa vez filhos de Deus, porque o Batismo torna-nos filhos de Deus.

O Batismo é Deus que entra em nós, purifica, cura o nosso coração, faz de nós seus filhos para sempre, seu povo, sua família, herdeiros do Paraíso (cf. Catecismo da Igreja Católica , 1279). E Deus torna-se íntimo de nós e nunca nos abandona. Por isso é importante recordar o dia do Batismo e também saber a data. Pergunto a todos vós — cada um pense nisto — “Lembro-me da data do meu Batismo”? Se não vos lembrais, quando voltardes para casa, perguntai para que nunca mais a esqueçais, pois é um novo aniversário, porque com o vosso Batismo nascestes para a vida da graça. Agradecei ao Senhor pelo Batismo. E também demos graças  pelos pais que nos levaram à pia batismal, por aqueles que nos administraram o Sacramento, pelo padrinho, pela madrinha, pela comunidade em que o recebemos. Celebrar o Batismo: é um novo aniversário!

E podemos perguntar-nos: tenho consciência do imenso dom que trago dentro de mim através do Batismo? Reconheço, na minha vida, a luz da presença de Deus, que me vê como seu filho amado, como sua filha amada? E agora, em memória do nosso Batismo, acolhamos a presença de Deus em nós. Podemos fazê-lo com o sinal da cruz, que traça em nós a memória da graça de Deus, que nos ama e deseja estar connosco. O sinal da cruz recorda-nos isto. Façamo-lo juntos: em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

E não esqueçamos a data do Batismo, que é um aniversário. Maria, templo do Espírito, nos ajude a celebrar e a acolher as maravilhas que o Senhor realiza em nós.

Papa Francisco
(Angelus, 7 de janeiro de 2024)

sábado, 4 de janeiro de 2025

 SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

A Igreja, liturgicamente, celebra hoje a festa, que popularmente é chamada de “Dias de Reis e comemorada nas ruas no dia 6 de janeiro de cada ano.

Nas leituras dominicais Deus manifesta-se-nos em Jesus, Seu amado Filho. N’Ele encontramos a Luz que nos conduz à Salvação. É a luz salvadora do Amor de Deus, por cada um de nós, por toda a humanidade, que vem ao encontro dos que O procuram e se faz presente no meio de nós.

Na 1ªleitura (Is 60, 1-6)   Isaías convida-nos a proclamar as glórias do Senhor, porque a luz chegou até nós e nos traz a verdadeira vida, na pessoa do Menino Jesus. Louvemos e demos glória a Deus, que assim manifesta o Seu amor por cada um de nós. 

Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.”

Na 2ªleitura (Ef 3, 2-3a.5-6)  S.Paulo é categórico: para Deus não há gregos, nem romanos, nem escravos, nem homens livres, nem judeus, todos somos chamados a fazer parte do projeto de Amor, que Deus tem para todos os homens, de todos os tempos. Todos somos filhos no Filho, que agora, no Menino deitado sobre as palhas da manjedoura, somos convidados a contemplar e a louvar.

“Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”

No Evangelho (Mt 2, 1-12)  , a catequese que S.Mateus nos apresenta, está cheia de sinais: o encontro; a estrela; os magos; as atitudes diante da estrela; os presentes; o caminho a seguir para procurar Jesus. Os magos encontram Jesus. Todo aquele que se deixa guiar, por Jesus, encontra Deus nos caminhos da sua vida. A estrela simboliza Jesus, a luz que nos guia. Os magos representam todos os povos, que se deixam guiar para Deus e O procuram de coração sincero. E, como eles, somos desafiados a oferecer o que de melhor temos a Deus.

"Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.  

Senhor, que, à semelhança dos magos, eu me deixe guiar por Ti, luz da minha vida. 

Como uma estrela que se levanta (cf. Nm 24, 17), Jesus vem iluminar todos os povos e clarear as noites da humanidade. Com os Magos, erguendo o olhar para o céu, hoje também nós nos perguntamos: «Onde está aquele que acaba de nascer?» (Mt 2, 2). Por outras palavras, qual é o lugar onde podemos procurar e encontrar o Senhor de todos nós?

Pela experiência dos Magos, compreendemos que o primeiro «lugar» onde Ele gosta de ser procurado é na inquietação que se interroga. A aventura fascinante destes sábios do Oriente ensina-nos que a fé não nasce dos nossos méritos nem de raciocínios teóricos, mas é dom de Deus. A sua graça ajuda-nos a despertar da apatia e a dar espaço às perguntas importantes da vida, perguntas que nos fazem sair da presunção de ter tudo em ordem, abrindo-nos para aquilo que nos supera. A primeira coisa que vemos nos Magos é esta: a inquietação de quem se interroga. Habitados por uma profunda nostalgia do infinito, perscrutam o céu e deixam-se maravilhar pelo fulgor duma estrela, representando assim a tensão para o transcendente que anima o caminho das civilizações e a busca incessante do nosso coração. De facto, aquela estrela deixa no coração deles precisamente uma pergunta: Onde está aquele que acaba de nascer?

Irmãos e irmãs, o caminho da fé tem início quando damos espaço, com a graça de Deus, à inquietude que nos mantém acordados; quando nos deixamos interrogar, quando não nos contentamos com a tranquilidade dos nossos hábitos, mas nos envolvemos nos desafios de cada dia; quando deixamos de nos manter num espaço neutral e decidimos habitar os espaços incómodos da vida, feitos de relações com os outros, surpresas, imprevistos, projetos a levar por diante, sonhos a realizar, medos a enfrentar, sofrimentos que escavam na carne. Nesses momentos, levantam-se do nosso coração as perguntas irreprimíveis que nos abrem à busca de Deus: Para mim, onde está a felicidade? Onde está a vida plena a que aspiro? Onde está aquele amor que não passa, não conhece ocaso, não se rompe nem mesmo diante de fragilidades, fracassos e traições? Quais são as oportunidades escondidas dentro das minhas crises e tribulações?

Sucede, porém, que o clima que respiramos diariamente oferece «tranquilizantes da alma», paliativos para a insensibilizar, para insensibilizar a nossa inquietude e apagar tais perguntas. Desde os produtos do consumismo até às seduções do prazer, desde os debates elevados a espetáculo até à idolatria do bem-estar… tudo parece dizer-nos: não penses demais, deixa correr, goza a vida! Muitas vezes procuramos sistematizar o coração no cofre da comodidade – sim, sistematizar o coração no cofre da comodidade – mas, se os Magos tivessem feito assim, nunca teriam encontrado o Senhor. Insensibilizar o coração, insensibilizar a alma para pôr termo à inquietação: este é o perigo. Com efeito, Deus habita nas nossas perguntas inquietas; com elas, «procuramo-Lo como a noite procura a aurora (...). Ele está no silêncio que nos turba diante da morte e do fim de todas as grandezas humanas; está na necessidade de justiça e amor que trazemos dentro de nós. Ele é o Mistério santo que vem ao encontro da nostalgia do Totalmente Outro, nostalgia de justiça perfeita e consumada, de reconciliação, de paz» (C. M. Martini, Ao Encontro do Senhor Ressuscitado: o âmago do espírito cristão, Cinisello Balsamo 2012, 66). Concluindo, o primeiro lugar é este: a inquietação que se interroga. Não tenhamos medo de entrar nesta inquietude que gera perguntas: são estas precisamente as estradas que nos levam a Jesus.

O segundo lugar onde podemos encontrar o Senhor é o risco do caminho. De facto, os interrogativos, mesmo espirituais, podem induzir à frustração e desolação, se não nos puserem a caminho, se não dirigirem o nosso movimento interior para o rosto de Deus e a beleza da sua Palavra. O peregrinar dos Magos, «o seu peregrinar exterior – disse Bento XVI – era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração» (Homilia na Missa da Epifania, 06/I/2013). Na realidade, os Magos não se detêm a olhar o céu e contemplar a luz da estrela, mas aventuram-se numa viagem arriscada que não prevê, à partida, estradas seguras nem roteiro definido. Pretendem descobrir quem é o Rei dos Judeus, onde nasceu, onde podem encontrá-Lo. Para isso interpelam Herodes; e este, por sua vez, convoca os sumos sacerdotes e os escribas do povo que esquadrinham as Escrituras. Os Magos estão a caminho: a maior parte dos verbos que descrevem as suas ações são verbos de movimento.

O mesmo vale para a nossa fé: sem um contínuo caminhar e um diálogo constante com o Senhor, sem escuta da Palavra, nem perseverança, aquela não pode crescer. Não basta ter algumas ideias sobre Deus nem qualquer oração que acalma a consciência; é preciso fazer-se discípulo seguindo Jesus e o seu Evangelho, falar de tudo com Ele na oração, procurá-Lo nas situações do dia a dia e no rosto dos irmãos. Desde Abraão que se pôs a caminho para uma terra desconhecida até aos Magos que se movem seguindo a estrela, a fé é um caminho, a fé é uma peregrinação, a fé é uma história de partidas sucessivas. Nunca o esqueçamos: a fé é um caminho, uma peregrinação, uma história de partidas sucessivas. Recordemo-nos disto: a fé não cresce, se permanecer estática; não podemos encerrá-la em qualquer devoçãozinha pessoal, nem fechá-la dentro das paredes das igrejas, mas é preciso trazê-la para fora, vivê-la em caminho constante rumo a Deus e aos irmãos. Perguntemo-nos hoje: Estou a caminhar para o Senhor da vida, para que Se torne o Senhor da minha vida? Jesus, quem sois Vós para mim? Para onde me chamais, que pedis à minha vida? Que opções me convidais a fazer em prol dos outros?

Após a inquietação que se interroga o risco do caminho, o terceiro lugar onde se pode encontrar o Senhor é a maravilha da adoração. No termo de um longo percurso e uma busca fadigosa, os Magos entraram na casa, «viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No» (Mt 2, 11). Este é o ponto decisivo: as nossas inquietudes, as nossas perguntas, os caminhos espirituais e as práticas da fé devem convergir para a adoração do Senhor. Aí encontram o seu centro fontal, porque tudo nasce daqui, pois é o Senhor que suscita em nós o sentir, o agir e o operar. Tudo nasce e tudo culmina aqui, porque o fim de cada coisa não é alcançar uma meta pessoal e receber glória para si mesmo, mas encontrar Deus e deixar-se abraçar pelo seu amor, que dá fundamento à nossa esperança, liberta-nos do mal, abre-nos ao amor pelos outros, torna-nos pessoas capazes de construir um mundo mais justo e mais fraterno. De nada adianta agitar-nos pastoralmente, se não colocamos Jesus no centro, adorando-O. A maravilha da adoração. Aqui aprendemos a estar diante de Deus, não tanto para pedir ou fazer qualquer coisa, mas apenas para nos determos em silêncio abandonando-nos ao seu amor, para nos deixarmos conquistar e regenerar pela sua misericórdia. De facto, rezamos muitas vezes, pedimos coisas, refletimos... mas habitualmente falta-nos a oração de adoração. Perdemos o sentido de adorar, porque perdemos a inquietação que se interroga e perdemos a coragem de avançar por entre os riscos do caminho. Hoje o Senhor convida-nos a fazer como os Magos: como os Magos, prostremo-nos, rendamo-nos a Deus na maravilha da adoração. Adoremos a Deus e não o nosso eu; adoremos a Deus e não os falsos ídolos que nos seduzem com o fascínio do prestígio e do poder, com o fascínio das falsas notícias; adoremos a Deus para não nos prostrarmos diante das coisas que passam e das lógicas sedutoras, mas vazias, do mal.

Irmãos, irmãs, abramos o coração à inquietude, peçamos a coragem para avançar no caminho e terminemos na adoração. Não tenhamos medo! É o percurso dos Magos; é o percurso de todos os santos da história: acolher as inquietudes, pôr-se a caminho e adorar.

Irmãos, irmãs, não deixemos que se apague em nós a inquietação que se interroga; não interrompamos o nosso caminho cedendo à apatia ou à comodidade; e, encontrando o Senhor, rendamo-nos à maravilha da adoração. Então descobriremos a existência duma luz que ilumina mesmo as noites mais escuras: é Jesus. Ele é a estrela resplandecente da manhã, o sol de justiça, o fulgor misericordioso de Deus, que ama todo o homem nos vários povos da terra.

Papa Francisco
(Homilia na Santa Missa da Solenidade da Epifania do Senhor, 6 de janeiro de 2023)