SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – 2024
A solenidade da Epifania, vulgarmente conhecida como "Dia de Reis", que hoje celebramos em Igreja, fala da universalidade da salvação oferecida por Deus e manifestada em Cristo, desde o seu nascimento. As leituras tornam claro que a manifestação de Deus em Jerusalém, anunciada por Isaías, acontece, para toda a humanidade, com o nascimento de Jesus.
Na 1ªleitura (Is 60, 1-6) o profeta Isaías anuncia para Jerusalém uma grande alegria. O que motiva esta alegria é a mudança da noite para o dia. Jerusalém e toda a humanidade vivem na noite, mas a luz brilha em Jerusalém para todos os povos. Deixemos qua a luz do Menino Deus ilumine também os nossos corações.
“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.”
Na 2ªleitura ( Ef 3, 2-3a.5-6) S.Paulo vai ainda mais longe do que Isaías na 1ªleitura. Paulo,
descrevendo o plano salvífico de Deus, proclama que todos somos chamados, igualmente, a ser herdeiros da Promessa. Como consequência
deste chamamento universal para a Fé, todos somos chamados a formar o verdadeiro
Israel e a constituir um só Corpo – o Corpo Místico de Cristo –
restabelecendo-se assim o plano primitivo de Deus acerca da humanidade, que era
um projeto de unidade e amor.
“Irmãos:
Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por
uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações
passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi
revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios
recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da
mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”
No Evangelho (Mt 2,1-12) S. Mateus convida-nos a contemplar o mistério do Nascimento de Jesus, tendo
como referência o primeiro encontro do mundo pagão com o Salvador, de que os
magos são os representantes. Sublinhando, de modo expressivo, a universalidade
da mensagem cristã, dirigida a todos os homens, o evangelista mostra como na
visita dos Magos, se realizam as profecias de Isaías, que escutámos na
1ªleitura. Aceitemos o convite de S.Mateus e deixemos que a Luz do Menino Deus
inunde os nossos corações, como o fez com os Magos vindos do Oriente.
“Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando
chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles
– o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e
viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com
ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e
escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles
responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu,
Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades
de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’».
Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas
sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e
disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O
encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei,
puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à
sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela,
sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros,
ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não
voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.”
Estimados irmãos e irmãs, bom dia, boa
festa!
Hoje, solenidade da Epifania, contemplamos o episódio dos Magos (cf. Mt 2,
1-12). Eles empreendem uma longa e árdua viagem para ir adorar «o rei dos
Judeus» (v. 2). São guiados pelo sinal prodigioso de uma estrela, e quando
finalmente chegam à meta, em vez de encontrarem algo grandioso, veem um menino
com a mãe. Poderiam ter protestado: “Tanta estrada, tantos sacrifícios para
estar perante um menino pobre?”. No entanto, não se escandalizam, não se
desiludem. Não se lamentam. O que fazem? Prostram-se. «Entrando na casa – diz o
Evangelho – acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele,
adoraram-no» (v. 11).
Pensemos nestes sábios que vieram de longe, ricos, cultos, conhecidos, que
se prostram, isto é, inclinam-se para adorar um menino! Parece uma contradição.
Surpreende um gesto tão humilde realizado por parte de homens tão ilustres. Era
habitual naquela época prostrar-se diante de uma autoridade que se apresentava
com os sinais de poder e glória. E ainda hoje não seria estranho. Mas diante do
Menino de Belém não é simples. Não é fácil adorar este Deus, cuja divindade
permanece oculta e não parece triunfante. Significa aceitar a grandeza de Deus,
que se manifesta na pequenez: esta é a mensagem. Os magos abaixam-se perante a
lógica inaudita de Deus, acolhem o Senhor não como o imaginavam, mas tal como
é, pequeno e pobre. A prostração é o sinal de quem põe de lado as próprias
ideias e dá espaço a Deus. É necessária humildade para o fazer.
O Evangelho insiste nisto: não se limita a dizer que os magos adoraram, mas
sublinha que se prostraram e adoraram. Entendamos
esta indicação: adoração e prostração caminham juntas. Ao realizar este gesto,
os magos demonstram que acolhem com humildade Aquele que se apresenta na
humildade. E é assim que se abrem à adoração de Deus. Os cofres que abrem
são imagem do seu coração aberto: a sua verdadeira riqueza não consiste na
fama, no sucesso, mas na humildade, na sua crença de que precisam de
salvação. Este é o exemplo que os Magos nos dão hoje.
Queridos irmãos e irmãs, se permanecermos sempre no centro de tudo com as
nossas ideias e presumirmos vangloriar-nos de algo perante Deus, nunca o
encontraremos plenamente, nunca o adoraremos. Se não deixarmos cair as nossas
pretensões, as nossas vaidades, as nossas obsessões, os nossos esforços para
sobressairmos, podemos muito bem adorar alguém ou algo na vida, mas não será o
Senhor! Se, por outro lado, abandonarmos as nossas pretensões de
autossuficiência, se nos fizermos pequenos por dentro, então redescobriremos a
maravilha de adorar Jesus. Porque a adoração passa pela humildade do
coração: aqueles que têm a vontade de superar, não se apercebem da presença
do Senhor. Jesus passa ao lado e é ignorado, como aconteceu a muitos naquele
tempo, mas não aos Magos.
Irmãos e irmãs, olhando para eles, perguntemo-nos hoje: como está a minha
humildade? Estou convencido de que o orgulho impede o meu progresso espiritual?
Aquele orgulho, manifesto ou oculto, que cobre sempre o impulso para Deus. Será
que trabalho na minha docilidade, para estar disponível para Deus e para os
outros, ou estou sempre centrado em mim mesmo, e nas minhas exigências, com
aquele egoísmo oculto que é a soberba? Será que sei pôr de lado o meu ponto de
vista para abraçar o de Deus e o dos outros? E por fim: rezo e adoro apenas
quando preciso de alguma coisa, ou faço-o com constância porque acredito que
preciso sempre de Jesus? Os Magos começaram a sua viagem olhando para uma
estrela e encontraram Jesus. Eles percorreram um longo caminho. Hoje podemos
seguir este conselho: olhar para a estrela e caminhar. Nunca deixeis de
caminhar, mas não vos esqueçais de olhar para a estrela. Este é o conselho de
hoje, vigoroso: olhar para a estrela e caminhar, olhar para a estrela e
caminhar.
Que a Virgem Maria, serva do Senhor, nos ensine a redescobrir a necessidade
vital da humildade e o gosto vivo da adoração. Que ela nos ensine a olhar para
a estrela e a caminhar.
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