sábado, 20 de janeiro de 2024

 III DOMINGO DO TEMPO COMUM

DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS

O Papa Francisco instituiu em setembro de 2019 o “Domingo da Palavra de Deus”. Este é, por isso, já o quinto ano em que a Igreja realiza esta celebração especial e tem como tema “Permanecei na minha palavra” (Jo 8,31).  Correspondamos ao pedido do Santo Padre e foquemos sempre, mas especialmente neste dia, a nossa atenção na Palavra de Deus.

Nas leituras de hoje o Senhor continua a chamar-nos, a apelar ao arrependimento e à conversão de coração. Respondamos ao Seu apelo e entreguemo-nos a Ele, cheios de confiança e esperança. Deixemo-nos inundar, repassar pelo Seu Amor. Foi assim que fizeram os primeiros discípulos. Sigamos os seus passos.

Na1ªleitura de hoje  (Jonas 3, 1-5.10) o Senhor chama Jonas e envia-o a pregar aos ninivitas, apelando à sua conversão. E todos, do rei, ao mais humilde dos habitantes de Nínive, se converteram e pediram perdão a Deus pelos pecados cometidos. E, como consequência desta resposta à pregação do profeta, Deus manifestou o Seu Amor pelo povo. O apelo de Jonas também nos é feito a nós, homens deste mundo e deste tempo. Convertamo-nos de coração e alma, escutemos a Palavra de Deus e nunca esqueçamos que é imensa a alegria de Deus quando um pecador se converte. Foi Jesus quem o disse e Ele conhecia bem o Pai.

“A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas nos seguintes termos: «Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e apregoa nela a mensagem que Eu te direi». Jonas levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor. Nínive era uma grande cidade aos olhos de Deus; levava três dias a atravessar. Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar, dizendo: «Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno. Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou.”

A 2ªleitura (1 Cor 7, 29-31) parece escrita diretamente para estes tempos de tanta violência, em que as guerras, espalhadas pelo mundo, semeiam mortes sem fim. Os ditos senhores deste mundo, de forma clara ou encapotada, assaltam, invadem, matam, fabricam e vendem armas em quantidades astronómicas e com um alcance territorial  brutal. Até parece que pensam que as suas vidas e o seu poder, nesta terra, nunca acabará... Como se enganam! Verdadeiramente, como diz S.Paulo, o tempo é breve, o cenário deste mundo é passageiro. Absoluto, total mesmo, só o Amor infinito de Deus por cada um de nós. Confiemo-nos a Ele, escutemos o que nos diz e peçamo-Lhe o dom da Paz.

“O que tenho a dizer-vos, irmãos, é que o tempo é breve. Doravante, os que têm esposas procedam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não possuíssem; os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem. De facto, o cenário deste mundo é passageiro.”

No evangelho (Mc 1, 14-20) Jesus anuncia que o reino de Deus já chegou, está entre nós, e que o caminho para nele participar é a conversão e o arrependimento. Escutemo-L'O e abramos-Lhe o nosso coração. Deixemo-nos amar por Ele, na totalidade do nosso ser e depois, façamos como os primeiros discípulos, sigamo-L’O.

“Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.”

Senhor, tem compaixão de mim, que sou pecadora. Inunda-me com o Teu Amor, para que seja Tua testemunha junto dos que comigo convivem, ou se cruzam nos caminhos da vida.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O trecho do Evangelho deste domingo (cf. Mc 1, 14-20) mostra-nos, por assim dizer, a «passagem do testemunho» de João Batista para Jesus. João foi o seu precursor, preparou-lhe o terreno e o caminho: então Jesus pode começar a sua missão e anunciar a salvação já presente; a salvação era Ele. A sua pregação é resumida nestas palavras: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho» (v. 15). Simplesmente! Jesus não usava meias-palavras. É uma mensagem que nos convida a refletir sobre dois temas essenciais: o tempo e a conversão.

Neste texto do evangelista Marcos, o tempo deve ser entendido como a duração da história da salvação realizada por Deus; portanto, o tempo “cumprido” é aquele em que esta ação salvífica atinge o seu ápice, a  plena realização: é o momento histórico em que Deus enviou o seu Filho ao mundo e o seu Reino se tornou mais “próximo” do que nunca. O tempo da salvação cumpriu-se porque veio Jesus. Contudo, a salvação não é automática; a salvação é um dom de amor e, como tal, oferecido à liberdade humana. Quando falamos de amor, falamos sempre de liberdade: um amor sem liberdade não é amor; pode ser interesse, pode ser receio, muitas coisas, mas o amor é sempre livre, e sendo livre requer uma resposta livre: exige a nossa conversão. Ou seja, trata-se de mudar a nossa mentalidade - nisto consiste a conversão, mudar a mentalidade - e mudar a nossa vida: já não seguindo os modelos do mundo, mas os de Deus, que é Jesus, seguindo Jesus, como Jesus fez e como Jesus nos ensinou. Trata-se de uma mudança decisiva de visão e atitude. Com efeito, o pecado, especialmente o pecado da mundanidade que é como o ar, permeia tudo, e trouxe uma mentalidade que tende à afirmação de si mesmo contra os outros e também contra Deus. Isto é curioso... Qual é a tua identidade? Muitas vezes ouvimos dizer que se exprime a própria identidade em termos de “contra”. É difícil expressar a própria identidade no espírito do mundo em termos positivos e salvíficos: é contra si mesmo, contra os outros e contra Deus. E para esta finalidade não hesita - a mentalidade do pecado, a mentalidade do mundo - em usar o engano e a violência. Engano e violência. Vejamos o que acontece com o engano e a violência: ganância, desejo de poder e não de serviço, guerras, exploração de pessoas... Esta é a mentalidade do engano que certamente tem a sua origem no pai do engano, o grande mentiroso, o diabo. Ele é o pai da mentira, Jesus defini-o assim.

A mensagem de Jesus opõe-se a tudo isto, convidando-nos a reconhecer a nossa necessidade de Deus e da sua graça; a ter uma atitude equilibrada em relação aos bens terrenos; a sermos acolhedores e humildes para com todos; a conhecer-nos e a realizar-nos no encontro e no serviço aos outros. Para cada um de nós, o tempo em que podemos acolher a redenção é breve: é a duração da nossa vida neste mundo. É breve! Talvez pareça longo... Lembro-me que fui administrar os Sacramentos, a Unção dos enfermos a um idoso muito bom, muito bondoso, e naquele momento, antes de receber a Eucaristia e a Unção dos enfermos, disse-me esta frase: “A minha vida passou voando”, como se dissesse: acreditei que era eterna, mas... “a minha vida passou voando”. É assim que nós, idosos, sentimos que a vida voa. Acaba! E a vida é um dom do amor infinito de Deus, mas é também um tempo de verificação do nosso amor por Ele. Portanto, cada momento, cada instante da nossa existência é um tempo precioso para amar a Deus e para amar o próximo, e assim entrar na vida eterna.

A história da nossa vida segue dois ritmos: um é mensurável, constituído por horas, dias e anos; o outro é composto pelas fases do nosso desenvolvimento: nascimento, infância, adolescência, maturidade, velhice e morte. Cada vez, cada fase tem o seu valor e pode ser um momento privilegiado de encontro com o Senhor. A fé ajuda-nos a descobrir o significado espiritual destes tempos: cada um deles contém uma particular chamada do Senhor, à qual podemos dar uma resposta positiva ou negativa. No Evangelho vemos como Simão, André, Tiago e João responderam: eram homens maduros, tinham o seu trabalho de pescadores, tinham uma vida familiar... No entanto, quando Jesus passou e os chamou, «eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no» (Mc 1, 18).

Queridos irmãos e irmãs, prestemos atenção e não deixemos Jesus passar sem o receber. Santo Agostinho dizia: “Tenho medo de Deus, quando Ele passa”. Medo do quê? De não o reconhecer, de não o ver, de não o acolher.

Que a Virgem Maria nos ajude a viver cada dia, cada momento como tempo de salvação, em que o Senhor passa e nos chama a segui-lo, cada um segundo a própria vida. E nos ajude a converter a mentalidade do mundo, a das fantasias do mundo, que são fogos de artifício, para a do amor e do serviço.

Papa Francisco
Angelus, 24 de janeiro de 2021

Sem comentários:

Enviar um comentário