Tempo Comum - 2023
A liturgia de
hoje faz-nos, mais do que um convite, desafia-nos a ouvirmos o chamamento de
Jesus e a deixarmo-nos encantar, seduzir pelo Senhor, pelo Seu amor infinito
por cada um de nós.
Na 1ªleitura (Jer 20, 7-9) Jeremias mostra-nos que não é fácil viver uma vida
toda entregue a Deus, mas que, quando deixamos que o Seu Amor nos preencha, por
inteiro, então é Ele que em nós se dá e se comunica amorosamente, em todos os
momentos, “bons” e “maus. Façamos como
Jeremias, deixemo-nos seduzir pelo Senhor!
“Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me dominastes e vencestes. Em todo o tempo sou objeto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia.”
A 2ªleitura (Rom 12, 1-2)
vem na sequência do que nos dizia Jeremias , na leitura anterior, pois S.Paulo
indica-nos o caminho a seguir, como cristãos, ou seja, como os que se deixam
seduzir pelo Senhor.
“Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que
vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como
culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela
renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade
de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.”
No evangelho (Mt 16, 21-27) é
o próprio Jesus quem nos desafia a vivermos d’Ele, para n’Ele assumirmos a nossa
resposta de amor ao Pai. Deixemo-nos seduzir por Jesus, pois, para mim, só
n’Ele é possível viver o Amor e da cruz fazer árvore de vida!
“Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».”
Senhor, que eu me
deixe seduzir por Ti; Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O trecho evangélico hodierno (cf. Mt 16, 21-27) é a
continuação do de domingo passado, no qual se realçava a profissão de fé de
Pedro, “rocha” sobre a qual Jesus quer construir a sua Igreja. Hoje, em
estridente contraste, Mateus mostra-nos a reação do próprio Pedro quando Jesus
revela aos discípulos que deverá padecer em Jerusalém, ser assassinado,
ressuscitar (cf. v. 21). Pedro chamou de parte o Mestre e repreende-o, porque
isto — diz-lhe — não poderá acontecer com Ele, com Cristo. Mas Jesus, por sua
vez, repreende Pedro com palavras duras: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um
escândalo; os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!» (v. 23). Pouco
antes, o apóstolo tinha sido abençoado pelo Pai, tinha recebido d’Ele aquela
revelação, era uma «pedra» sólida a fim de que Jesus pudesse construir sobre
ela a sua comunidade; e logo a seguir torna-se um obstáculo, uma pedra mas não
para construir, uma pedra de tropeço no caminho do Messias. Jesus sabe bem que
Pedro e os outros têm ainda muita estrada a percorrer para se tornarem seus
apóstolos!
Neste ponto, o Mestre dirige-se a todos os que o seguiam, apresentando-lhes
com clareza o caminho que devem percorrer: «Se alguém quiser vir comigo,
renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz e siga-me» (v. 24). Também hoje, há a
tentação de querer sempre seguir um Cristo sem cruz, aliás, de ensinar a Deus a
estrada certa, como fez Pedro: “Não, não Senhor, isto não, nunca acontecerá”.
Mas Jesus recorda-nos que o seu caminho é o do amor, e não há amor verdadeiro
sem o sacrifício de si mesmo. Somos chamados a não nos deixarmos absorver pela
visão deste mundo, mas a estar cada vez mais cientes da necessidade e da fadiga
para nós cristãos de caminhar contracorrente e em subida.
Jesus contempla a sua proposta com palavras que exprimem uma grande
sabedoria sempre válida, porque desafiam a mentalidade e os comportamentos
egocêntricos. Ele exorta: «Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas
aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á» (v. 25).
Neste paradoxo está contida a regra de ouro que Deus inscreveu na natureza
humana criada em Cristo: a regra que só o amor dá sentido e felicidade à vida.
Dedicar os próprios talentos, as próprias energias e o próprio tempo só para
salvar, proteger e realizar-se a si mesmos, leva na realidade a perder-se, ou
seja, a uma existência triste e estéril. Ao contrário, vivamos pelo Senhor e
construamos a nossa vida no amor, como fez Jesus: poderemos saborear a alegria
autêntica, e a nossa vida não será estéril, será fecunda.
Na celebração da Eucaristia revivemos o mistério da cruz; não só
recordamos, mas compreendemos o memorial do Sacrifício redentor, em que o Filho
de Deus se perde completamente a Si mesmo para se receber de novo do Pai e
assim nos reecontrar, a nós que estávamos perdidos, juntamente com todas as
criaturas. Todas as vezes que participamos na Santa Missa, o amor de Cristo
crucificado e ressuscitado comunica-se a nós como alimento e bebida, para que
possamos segui-Lo no caminho de cada dia, no serviço concreto dos irmãos.
Maria Santíssima, que seguiu Jesus até ao Calvário, nos acompanhe também a nós e nos ajude a não ter medo da cruz, mas com Jesus crucificado, e não uma cruz sem Jesus, a cruz com Jesus, ou seja, a cruz de sofrer por amor de Deus e dos irmãos, porque esse sofrimento, pela graça de Cristo, é fecundo de ressurreição.
Papa Francisco
(Angelus, 3 de setembro de 2017)
Seduziste-me, Senhor, e eu me
deixei seduzir;
Numa luta desigual
dominaste-me, Senhor, e foi tua a vitória.
Vantagens e honras são perdas
para mim
Diante do conhecimento deste
bem supremo que é Cristo, meu Senhor.
Para conhecê-lo fui longe e me
perdi
Agora que O encontrei não
quero mais deixá-lo.
Nada sou na minha justiça que
é só aparência
Mas tudo sou na justiça de
Deus que nasce da fé em Cristo.
Quero conhecê-lo ainda mais e
a força da sua ressurreição.
Sei que conhecê-lo é sofrer e
morrer com Ele, mas a vida é mais forte.
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