sábado, 2 de setembro de 2023

 Tempo Comum - 2023 

A liturgia de hoje faz-nos, mais do que um convite, desafia-nos a ouvirmos o chamamento de Jesus e a deixarmo-nos encantar, seduzir pelo Senhor, pelo Seu amor infinito por cada um de nós.

Na 1ªleitura (Jer 20, 7-9)  Jeremias mostra-nos que não é fácil viver uma vida toda entregue a Deus, mas que, quando deixamos que o Seu Amor nos preencha, por inteiro, então é Ele que em nós se dá e se comunica amorosamente, em todos os momentos, “bons” e “maus. Façamos como Jeremias, deixemo-nos seduzir pelo Senhor!

Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me do­minastes e vencestes. Em todo o tempo sou objeto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia.”

A 2ªleitura (Rom 12, 1-2)  vem na sequência do que nos dizia Jeremias , na leitura anterior, pois S.Paulo indica-nos o caminho a seguir, como cristãos, ou seja, como os que se deixam seduzir pelo Senhor.

Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.”

No evangelho (Mt 16, 21-27) é o próprio Jesus quem nos desafia a vivermos d’Ele, para n’Ele assumirmos a nossa resposta de amor ao Pai. Deixemo-nos seduzir por Jesus, pois, para mim, só n’Ele é possível viver o Amor e da cruz fazer árvore de vida!

“Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».”

Senhor, que eu me deixe seduzir por Ti; Senhor, que eu nunca duvide do Teu Amor.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O trecho evangélico hodierno (cf. Mt 16, 21-27) é a continuação do de domingo passado, no qual se realçava a profissão de fé de Pedro, “rocha” sobre a qual Jesus quer construir a sua Igreja. Hoje, em estridente contraste, Mateus mostra-nos a reação do próprio Pedro quando Jesus revela aos discípulos que deverá padecer em Jerusalém, ser assassinado, ressuscitar (cf. v. 21). Pedro chamou de parte o Mestre e repreende-o, porque isto — diz-lhe — não poderá acontecer com Ele, com Cristo. Mas Jesus, por sua vez, repreende Pedro com palavras duras: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!» (v. 23). Pouco antes, o apóstolo tinha sido abençoado pelo Pai, tinha recebido d’Ele aquela revelação, era uma «pedra» sólida a fim de que Jesus pudesse construir sobre ela a sua comunidade; e logo a seguir torna-se um obstáculo, uma pedra mas não para construir, uma pedra de tropeço no caminho do Messias. Jesus sabe bem que Pedro e os outros têm ainda muita estrada a percorrer para se tornarem seus apóstolos!

Neste ponto, o Mestre dirige-se a todos os que o seguiam, apresentando-lhes com clareza o caminho que devem percorrer: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz e siga-me» (v. 24). Também hoje, há a tentação de querer sempre seguir um Cristo sem cruz, aliás, de ensinar a Deus a estrada certa, como fez Pedro: “Não, não Senhor, isto não, nunca acontecerá”. Mas Jesus recorda-nos que o seu caminho é o do amor, e não há amor verdadeiro sem o sacrifício de si mesmo. Somos chamados a não nos deixarmos absorver pela visão deste mundo, mas a estar cada vez mais cientes da necessidade e da fadiga para nós cristãos de caminhar contracorrente e em subida.

Jesus contempla a sua proposta com palavras que exprimem uma grande sabedoria sempre válida, porque desafiam a mentalidade e os comportamentos egocêntricos. Ele exorta: «Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á» (v. 25). Neste paradoxo está contida a regra de ouro que Deus inscreveu na natureza humana criada em Cristo: a regra que só o amor dá sentido e felicidade à vida. Dedicar os próprios talentos, as próprias energias e o próprio tempo só para salvar, proteger e realizar-se a si mesmos, leva na realidade a perder-se, ou seja, a uma existência triste e estéril. Ao contrário, vivamos pelo Senhor e construamos a nossa vida no amor, como fez Jesus: poderemos saborear a alegria autêntica, e a nossa vida não será estéril, será fecunda.

Na celebração da Eucaristia revivemos o mistério da cruz; não só recordamos, mas compreendemos o memorial do Sacrifício redentor, em que o Filho de Deus se perde completamente a Si mesmo para se receber de novo do Pai e assim nos reecontrar, a nós que estávamos perdidos, juntamente com todas as criaturas. Todas as vezes que participamos na Santa Missa, o amor de Cristo crucificado e ressuscitado comunica-se a nós como alimento e bebida, para que possamos segui-Lo no caminho de cada dia, no serviço concreto dos irmãos.

Maria Santíssima, que seguiu Jesus até ao Calvário, nos acompanhe também a nós e nos ajude a não ter medo da cruz, mas com Jesus crucificado, e não uma cruz sem Jesus, a cruz com Jesus, ou seja, a cruz de sofrer por amor de Deus e dos irmãos, porque esse sofrimento, pela graça de Cristo, é fecundo de ressurreição.

Papa Francisco

(Angelus, 3 de setembro de 2017)

Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir;
Numa luta desigual dominaste-me, Senhor, e foi tua a vitória.
Vantagens e honras são perdas para mim
Diante do conhecimento deste bem supremo que é Cristo, meu Senhor.
Para conhecê-lo fui longe e me perdi
Agora que O encontrei não quero mais deixá-lo.
Nada sou na minha justiça que é só aparência
Mas tudo sou na justiça de Deus que nasce da fé em Cristo.
Quero conhecê-lo ainda mais e a força da sua ressurreição.
Sei que conhecê-lo é sofrer e morrer com Ele, mas a vida é mais forte.

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