Tempo Comum - 2023
FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Hoje, Jesus sobe ao monte Tabor e, perante os nossos
olhos, entra em tal intimidade e comunhão com o Pai, que deixa transparecer o
reino de Deus que O habita e manifesta todo o esplendor da Sua divindade, o que
nos permite entender Deus a dizer-nos para escutarmos Jesus, o Seu Filho muito
amado. É esta a proposta de salvação que Deus nos traz, na liturgia de hoje.
Abramos o nosso coração, deixemo-nos fazer pela Palavra de Deus, Jesus Cristo
ressuscitado, vivo no meio de nós, para que o Amor infinito de Deus possa ser
“conhecido” por todos as suas criaturas.
Na 1ª leitura (Dn 7, 9-10.13-14), escutamos o profeta Daniel numa passagem em que nos fala sobre a sua visão do “filho do homem”, o que nos remete automaticamente para Jesus. Este Jesus que se transfigura no cimo do monte é aquele que recebeu o poder a honra e a realeza. É aquele que se fez homem, mas está ao nível de Deus que tem na mão o fogo para julgar os poderes da terra que se opõem ao seu poder.
"Estava eu a olhar, quando foram colocados tronos e um Ancião sentou-se. As suas vestes eram brancas como a neve e os cabelos como a lã pura. O seu trono eram chamas de fogo, com rodas de lume vivo. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Milhares de milhares o serviam e miríades de miríades o assistiam. O tribunal abriu a sessão e os livros foram abertos. Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, que nunca passará, e o seu reino jamais será destruído."
Na 2ªleitura (2Pd 1, 16-19) recebemos o testemunho daqueles que viram, ouviram e conviverem diretamente com Jesus Cristo. O seu testemunho revela que esse Jesus em quem acreditamos está acreditado junto de Deus e a sua palavra é confirmada pelos profetas, Moisés e Elias. “Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro”, diz S. João no seu Evangelho (19, 35), ele que esteve com Pedro no cimo do monte. Fica mesmo muito claro que recebemos a verdade e não fantasias. É nesta verdade que encontramos a luz que nos ilumina até que chegue o dia do Senhor.
"Caríssimos: Não foi seguindo fábulas
ilusórias que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus
Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque Ele
recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da sublime glória de Deus veio esta
voz: «Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência». Nós
ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo. Assim
temos bem confirmada a palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em prestar
atenção, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que desponte o dia
e nasça em vossos corações a estrela da manhã."
No evangelho (Mt 17, 1-9) S. Mateus insere-nos neste mistério de Cristo que, sendo homem é também Filho de Deus. Aquele que afirma «O Filho do Homem tem que ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará» é o mesmo que agora se mostra aos nossos olhos em todo o esplendor da sua divindade, como se mostrará de novo, mais tarde, já vencedor da morte. O Filho do Homem é o Filho de Deus, o que morre na cruz é o que já existia em Deus desde sempre e o que ressuscita é o que suspirou na cruz por aqueles que o mataram. A força deste acontecimento presenciado pelos três discípulos é reveladora do poder de Deus que desde sempre se interessou pelos homens, os chamou, reuniu na grande assembleia do Sinai, deu-lhes uma lei, edificou-os na esperança, através das promessas anunciadas pelos profetas, e agora realiza tudo por meio de seu Filho Jesus Cristo. É neste mistério de Cristo que nós acreditamos e este mistério manifesta-se a cada um de nós numa experiência única, semelhante à dos discípulos, porque como eles também nós somos envolvidos na mesma luz de Cristo ressuscitado.
"Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro,
Tiago e João seu irmão e levou-os, em particular, a um alto monte e
transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as
suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar
com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres,
farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».
Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da
nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha
complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de
rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-se e, tocando-os,
disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais
ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não
conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos»."
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Neste domingo, a liturgia celebra a festa da Transfiguração do Senhor. A
página evangélica de hoje narra que os apóstolos Pedro, Tiago e João foram
testemunhas deste acontecimento extraordinário. Jesus levou-os consigo «e
conduziu-os em particular a um alto monte» (Mt 17, 1) e, enquanto
rezava, o seu rosto mudou de aspeto, brilhando como o sol, e as suas vestes
tornaram-se cândidas como a luz. Apareceram então Moisés e Elias, e entraram em
diálogo com Ele. A este ponto, Pedro disse a Jesus: «Senhor, bom é estarmos
aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e
um para Elias» (v. 4). Ainda não tinha acabado de falar, quando uma nuvem
luminosa os cobriu.
O evento da Transfiguração do Senhor oferece-nos uma mensagem de esperança —
assim seremos nós, com Ele — convida-nos a encontrar Jesus, para
estar ao serviço dos irmãos.
A subida dos discípulos ao monte Tabor leva-nos a refletir acerca da
importância de nos desapegarmos das coisas mundanas, a fim de fazer um caminho
rumo ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos pormos à escuta atenta e
orante de Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos de oração que
permitem o acolhimento dócil e jubiloso da Palavra de Deus. Nesta ascensão
espiritual, neste afastamento das coisas mundanas, somos chamados a redescobrir
o silêncio pacificador e regenerante da meditação do Evangelho, da leitura da
Bíblia, que leva rumo a uma meta rica de beleza, de esplendor e de alegria. E
quando nos pomos assim, com a Bíblia na mão, em silêncio, começamos a sentir
esta beleza interior, esta alegria que a palavra de Deus gera em nós. Nesta
perspetiva, o tempo de verão é um momento providencial para aumentar o nosso
compromisso de busca e de encontro com o Senhor. Neste período, os estudantes
estão livres dos compromissos escolares e muitas famílias fazem as suas férias;
é importante que no período do repouso e da pausa das ocupações diárias, se
possam retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho
espiritual.
No final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte (cf. v. 9) com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor. É o percurso que podemos realizar também nós. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a «descer do monte», restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária. Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência.
Na Transfiguração ouve-se a voz do Pai que diz: «Este é o meu Filho muito amado. Ouvi-o!» (v. 5). Olhemos para Maria, a Virgem da escuta, sempre pronta para acolher e guardar no coração cada palavra do Filho divino (cf. Lc 1, 51). Queira a nossa Mãe e Mãe de Deus ajudar-nos a entrar em sintonia com a Palavra de Deus, de modo que Cristo se torne luz e guia de toda a nossa vida. A Ela confiemos as férias de todos, para que sejam serenas e proveitosas, mas sobretudo o verão de quantos não podem ir de férias porque a idade não permite, por motivos de saúde ou de trabalho, por dificuldades económicas ou por outros problemas, a fim de que seja contudo um tempo de distensão, alegrado por presenças amigas e por momentos felizes.
Papa Francisco
(Angelus,6 de agosto de 2017)
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