TEMPO COMUM - 2022
As leituras
deste domingo desafiam-nos a questionarmo-nos sobre o que são os fundamentos
essenciais da nossa fé, o nosso selo de identificação, a nossa verdadeira
identidade vivencial, enquanto cristãos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos. E, quanto a mim, o que, à partida, parece ser um
mandamento, uma imposição, é o traduzir, na vida quotidiana, de uma relação
amorosa que tendo a iniciativa em Jesus, que é quem primeiro nos cativa,
transvasa depois dessa dinâmica dialética amorosa, para um viver assente em
Deus Uno e Trino, Deus Amor. É este Amor que se estende a todos aqueles com quem
nos vamos relacionando ao longo da vida, porque, desde que Deus nos habita por
inteiro, é Ele, Amor vivo, contínuo e infinito por cada ser vivente, que Se
transmite, Se propaga, através dos que Lhe abrem o coração, sem fronteiras, nem
barreiras de qualquer espécie. Saibamos nós ser o elo desta corrente de
transmissão do Amor, para que outros possam viver em comunhão com Deus Amor,
eternamente enamorado desta Sua criatura, que é cada ser humano. Mas, é bom
estarmos vigilantes e não nos iludirmos no que toca ao nosso testemunho de
vida, pois como nos diz S.João, na sua
1ªCarta: “Caríssimos, amemo-nos
uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus
e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer
a Deus, pois Deus é Amor.”; “Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio
ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem
vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos dele este mandamento:
quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4, 7-8.20-21). Pela forma como
amamos o nosso próximo, ou não, percebemos a qualidade do nosso ser cristão,
hoje, onde quer que estejamos e seja qual for a nossa situação.
Na 1ª leitura (Deut 30, 10-14) Moisés conduz-nos ao encontro de Deus, no mais profundo de nós mesmos. É, aí, quando o nosso coração se encontra com Ele, que a lei, que antes era imposição, passa a ser comunhão amorosa. Então, será possível amar até o inimigo, porque o Senhor, que nos habita, o ama em nós.
“Moisés falou ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus,
cumprindo os seus preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e
converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua
alma. Este mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem
fora do teu alcance. Não está no céu, para que precises de dizer: ‘Quem irá por
nós subir ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’.
Não está para além dos mares, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós
transpor os mares, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em
prática?’. Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração,
para que a possas pôr em prática»”.
Quando escutamos S.Paulo a falar de Jesus, como o faz na 2ª leitura (Col 1, 15-20) , é impossível ficar indiferente. O nosso coração percebe, melhor do que a mente, como é profunda a comunhão amorosa entre Jesus e o Pai. E é esse Amor infinito que chega até nós, por Jesus, que nos revela assim a dimensão amorosa de Deus, por cada um de nós. E porque Jesus todo Se entregou, S.Paulo, que fez a experiência do “encontro” com Ele, só podia apresenta-Lo assim:
“Cristo Jesus é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a
criatura; porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra,
visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e
para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo
subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o
Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a
Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas
consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com
todas as criaturas na terra e nos céus.”
No Evangelho (Lc 10, 25-37) é o próprio Jesus quem nos explica, através da parábola do bom samaritano, o que devemos fazer para sermos cristãos “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos” e, simultaneamente, também nos esclarece, claramente, sobre quem é o nosso próximo. Deixemos que Deus habite, por inteiro, o nosso coração e assim, tal como nos dizia Moisés, na 1ª leitura, poderemos pôr em prática o Amor de Deus na nossa vida, com as pessoas com quem vivemos, convivemos, trabalhamos, ou nos cruzamos, no nosso quotidiano.
“Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O
experimentar: «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida
eterna?». Jesus disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como lês tu?». Ele
respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua
alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como
a ti mesmo». Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele,
querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus,
tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas
mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se
embora, deixando-o meio-morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um
sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por
aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de
viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se,
ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria
montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas
moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a
mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o
próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei
respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o
mesmo».”
Senhor, que eu me deixe habitar, por inteiro, por Ti. Que sejas o meu único Senhor, o amor da minha vida. Ama em mim todos os que pões nos meus caminhos.
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