Um caminho sinodal, porquê?
Para responder à solicitação do Papa, por certo,
mas não só!
Qual sentinela atenta aos sinais dos tempos,
Francisco alerta-nos para a necessidade de não nos deixarmos adormecer pela
rotina que nos distancia do novo que está a nascer e é preciso acolher e
iluminar com a alegria do Evangelho.
De facto, o mundo mudou profundamente em comparação
com o dos nossos pais e/ou avós, e continua a mudar! O contexto antropológico é
muito diferente e o quadro de valores vigente diverge, quando não se opõe, aos
valores evangélicos. Basta pensar na importância que é dada ao mito de uma
“eterna juventude”, afastando e escondendo, por consequência, tudo o que possa
falar da velhice e morte.
Neste novo contexto cultural, é preciso reconhecer
que uma certa forma de cristianismo já não funciona; e não estamos a falar do
Evangelho em si mesmo, nem da sua beleza, bondade ou radical atractividade, mas
sim de um certo modo de ser cristão. Basta recordar a vida dos nossos pais e/ou
avós: mais curta, sofrida, cansativa, tantas vezes marcada por doenças e até
pela fome. Ali, a Igreja soube inserir-se e responder; hoje, não pode fazer
menos e deve procurar outras formas de continuar a servir, ajustando-se às
actuais leituras da realidade! O Espírito Santo a isso nos impele, fazendo-nos
seguir por caminhos novos.
E porquê? Porque necessitamos de actualizar o modo
de ser e viver como cristãos; e só o conseguiremos se caminharmos juntos, em
Igreja, com a colaboração de todos. Francisco diz-nos que esse novo estilo de
vida cristã há-de respirar a alegria do Evangelho. Desde o início do seu
ministério petrino que Francisco nos exorta a uma nova leitura do mistério
cristão. E ele tem-nos dado pistas!
As primeiras palavras de três das suas Exortações
Apostólicas, que dão nome aos próprios documentos, apontam o caminho:
-em 2013, a abrir a sua carta programática,
afirmava: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que
se encontram com Jesus” (AG 1);
-em 2016, escrevendo às famílias, diz: “A alegria
do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (AL 1);
-em 2018, ao falar do “chamamento à santidade no
mundo actual”, recordava as palavras de Jesus (Mt 5,12) a quantos são
perseguidos ou humilhados por Sua causa: «Alegrai-vos e exultai» (GE 1).
A alegria do Evangelho, que nasce da manhã da
Ressurreição e inunda os corações daqueles que n’Ele acreditam, constitui-nos
em comunidade de discípulos, intimamente unidos pela força do Espírito Santo. É
a partir desta fonte de Vida que tudo é recriado, a começar pela comunidade dos
discípulos, dispersos pela morte de Jesus! A alegria do Evangelho impele-nos a
viver no amor do Ressuscitado, qual fonte perene de juventude, e a partilhá-la,
no serviço aos irmãos e no cuidado para com os mais frágeis.
Como viver e testemunhar Cristo, fonte de alegria e
esperança oferecida a todos, dentro e fora do espaço eclesial? Eis um dos
grandes desafios para o caminho sinodal.
P. Armindo Janeiro
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