«O primeiro anúncio da Páscoa»
é este: «É possível recomeçar sempre», afirma papa Francisco
«Irmã, irmão, se nesta noite trazes no coração uma
hora sombria, um dia que ainda não despontou, uma luz sepultada, um sonho
quebrado, vai, abre o coração com espanto ao anúncio da Páscoa: “Não tenhas
medo, ressuscitou! Espera-te na Galileia”. As tuas expetativas não ficarão por
cumprir, as tuas lágrimas serão enxugadas, os teus medos serão vencidos pela
esperança. Porque, sabes, o Senhor precede-te sempre, caminha sempre à tua
frente. E, como Ele, a vida recomeça sempre.»
O papa lançou na vigília pascal, a que presidiu na
noite de sábado, uma proclamação forte e profunda de esperança, dirigida a quem
perdeu a esperança na vida, a quem habita a desolação da noite e do vazio como
num sepulcro, vencido pela convicção de que nunca mais verá a luz, e desafiou a
uma fé que, em vez de viver do passado, inaugure sendas novas.
«Mesmo dos escombros do nosso coração – cada um de nós
sabe, conhece os escombros do seu coração –, mesmo dos escombros do nosso
coração Deus pode construir uma obra de arte, mesmo dos fragmentos arruinados
da nossa humanidade Deus prepara uma história nova», apontou.
O «primeiro anúncio de Páscoa» que o papa entregou na “mãe de todas as vigílias” do catolicismo é este: «É possível recomeçar sempre, porque há sempre uma vida nova que Deus é capaz de fazer partir de novo em nós, para além de todos os nossos fracassos».
Para Francisco, não é possível isolar o calvário de
Jesus das dores de cada ser humano, como também é inconcebível separar a vida
eterna do Filho de Deus daquela a que cada pessoa é chamada.
«Ele precede-nos sempre: na cruz do sofrimento, da
desolação e da morte, tal como na glória de uma vida que ressurge, de uma
história que muda, de uma esperança que renasce. E nestes meses escuros de
pandemia, escutamos o Senhor ressuscitado que nos convida a recomeçar, a nunca
perder a esperança», afirmou.
O «segundo anúncio» pascal é que «a fé não é um
repertório do passado, Jesus não é um personagem ultrapassado», pelo que o
cristianismo não se pode conceber como «uma fé feita de hábitos, de coisas do
passado, de bonitas recordações de infância, que já não tocam, já não
interpelam».
«Ele está vivo, aqui e agora. Caminha contigo a cada dia, na situação que estás a viver, na provação que estás a atravessar, nos sonhos que transportas dentro de ti. Abre caminhos novos onde te parece que não existem, impele-te a andares contracorrente à nostalgia e ao “já visto”. Mesmo se tudo te parece perdido, por favor abre-te com espanto à sua novidade: surpreender-te-á», frisou.
Se querem continuar a ser discípulos de Jesus, que
privilegiou a Galileia, região distante da sede religiosa do judaísmo e da sua
«pureza ritual», Jerusalém, composta por habitantes de múltiplas origens, os
católicos têm de ter as fronteiras no coração das suas prioridades.
«Jesus começou por ali (Galileia) a sua missão,
dirigindo o anúncio a quem leva por diante com dificuldade a vida quotidiana,
dirigindo o anúncio aos excluídos, aos frágeis, aos pobres, para ser rosto e
presença de Deus, que vai procurar, sem se cansar, quem está desencorajado ou
perdido, que vai até aos confins da existência, porque aos seus olhos ninguém é
último, ninguém está excluído», vincou Francisco.
É nos lugares distantes e esquecidos que os católicos
aprendem que podem «encontrar o Ressuscitado no rosto dos irmãos, no entusiasmo
de quem sonha e na resignação de quem está desencorajado, nos sorrisos de quem
está feliz e nas lágrimas de quem sofre, sobretudo nos pobres e em quem foi
posto à margem», sublinhou o papa, que acrescentou: «Admirar-nos-emos de como a
grandeza de Deus se desvela na pequenez, de como a sua beleza resplandece nos
simples e nos pobres».
O «terceiro anúncio de Páscoa» é, por isso, este:
«Jesus, o Ressuscitado, ama-nos sem fronteiras e visita cada situação da nossa de
vida. Ele plantou a sua presença no coração do mundo e convida-nos, também a
nós, a superar as barreiras, a vencer os preconceitos, a aproximar-se de quem
está junto a nós a cada dia, para redescobrir a graça do quotidiano.
Reconheçamo-lo presente nas nossas Galileias, na vida de todos os dias».
Rui Jorge Martins
Fonte (texto e imagem): Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 04.04.2021
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