SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Homilia de D. António Marto no Santuário de Fátima no dia 8 de dezembro de 2016.
Imaculada Conceição: Festa de Deus, de Maria e de todos Nós
"É sempre uma alegria especial reunirmo-nos aqui neste santuário, em
tão elevado número, neste dia da festa da Imaculada. Saúdo todos os peregrinos
com grande afeto e desejaria partilhar convosco três pensamentos simples acerca
da Imaculada Conceição da Virgem como festa de Deus, festa de Maria e festa de
todos nós.
1. Festa de Deus
Antes de mais, a Imaculada Conceição de Nossa Senhora
convida-nos a levantar o nosso olhar para Deus e a contemplar nela a realização
do desígnio amoroso de Deus descrito no texto da carta de S. Paulo:
“Bendito seja Deus Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos
abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Ele nos escolheu
em Cristo, antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados na
caridade, para sermos seus filhos adotivos, para louvor e glória da sua graça
que derramou sobre nós”.
Esta riqueza de dons de Deus é para todos os discípulos de Cristo;
mas realizou-se de modo singular em Maria, desde logo na sua imaculada conceição.
De facto, no evangelho ela é saudada deste modo: “Alegra-te, ó
cheia de graça. O Senhor está contigo”. Esta expressão “cheia de graça”, que
nos é já tão familiar, oferece-nos a explicação do mistério que celebramos:
é o nome mais belo, o nome escolhido e dado pelo próprio Deus a Maria.
Indica que ela é desde sempre a escolhida e, por isso, a cheia da graça do amor
e da santidade de Deus em todo o seu ser para poder acolher o dom mais
precioso, Jesus, o Filho do Altíssimo, o Amor de Deus incarnado. Deus preparou-a
como a toda santa, a toda bela e pura, a imaculada desde o primeiro momento da
sua conceição, preservando-a de todo o contágio do pecado, para ser morada
digna do Salvador do Mundo no meio dos homens.
Contemplando assim a Imaculada Conceição, nós contemplamos
simultaneamente, como num espelho, a grandeza do amor de Deus que vem ao nosso
encontro pessoalmente, que ama cada um com nome próprio, não em
massa anónimos e indistintos, e que quer comunica-nos o seu amor, a sua ternura
e misericórdia que é mais forte que todo o pecado. Podemos confiar neste
amor como Maria a quem é dito: “Não temas. O Senhor está contigo”!
Confiamos verdadeiramente na graça de Deus?
2. Festa de Maria
Compreendemos que a festa da Imaculada Conceição é antes de mais festa de Deus. Mas também é e não podia deixar de ser festa de Maria. Sim, desde o primeiro instante, a sua vida terrena foi um hino de louvor à glória de Deus e à sua misericórdia para com a humanidade. Ela acolheu a graça singular de Deus, guardou-a, fê-la crescer confiando-se sempre à Palavra do Senhor e tornando-se depois discípula perfeita de Jesus: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”! É a festa do sim pleno de Maria à proposta de Deus com toda a disponibilidade, abandono e colaboração, com o dom de si mesma. Assim permitiu à Graça por excelência de Deus, o Filho incarnado, entrar na história do mundo e criar aquela humanidade renovada de que Maria é exemplar esplêndido. Por isso a invocamos como Mãe da Divina Graça!
3. Festa de todos nós
Por fim, a festa de Maria é também a nossa festa. A Mãe Imaculada
assegura-nos que cada um de nós, cada cristão pode ser cheio da sua graça
porque lhe foi concedida pelo Pai santo em nosso favor.
Também nós somos chamados a ser santos e imaculados como ela,
acolhendo plenamente Deus e a sua graça misericordiosa na nossa vida, na escuta
e meditação da Palavra, na caridade e no serviço aos irmãos.
A festa da Imaculada torna-se festa de todos nós com os nossos
“sins” quotidianos a Deus, vencendo o nosso egoísmo e a nossa indiferença,
tornando mais alegre a vida dos nossos irmãos levando-lhes esperança e consolação,
enxaugando alguma lágrima. O apelo a uma vida santa e pura é hoje deveras
urgente para a nossa vida em sociedade como o Papa Francisco nos
advertiu recentemente. Amanhã, dia 9, é a Jornada Mundial contra a corrupção
que alastra cada vez mais e despudoradamente, sem vergonha, como um
cancro que mina a sociedade. A luta contra esta chaga social começa na
consciência pessoal pura, não corrompida, dentro da família e na
vigilância nos vários âmbitos da vida civil. No dia 10 é a Jornada Mundial
pelos direitos humanos que devem ser promovidos de modo que ninguém seja excluído do seu
efetivo reconhecimento. Por aqui passa a vida santa e imaculada dos cristãos e
o seu testemunho no mundo!
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