Um novo abraço entre gerações
† Cardeal António Marto
Leiria, 11 de dezembro de 2018
Estamos a caminho do Natal, a celebração
do mistério admirável de Deus feito homem. O acontecimento que festejamos não
pertence só ao passado. Nunca cessa de se atualizar, é sempre novo. Deus
decidiu vir ao nosso encontro e na sua carne humana abraçar a todos com a sua
ternura no rosto encantador de Jesus-Menino. Ao mesmo tempo, introduz esta
ternura nos corações humanos para os aproximar uns dos outros.
O presépio representa plasticamente a
beleza deste mistério, e convida-nos a assumir a cultura do encontro, da
aproximação e da proximidade, da ternura. Esta é uma das marcas mais belas que
o Natal de Cristo deixou na nossa cultura e na sociedade. Basta ver como ele
nos mobiliza, de todas as partes, para o encontro e a festa em família e a
solidariedade com os necessitados. Parece realizar-se a profecia: “Ele
converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais”
(Mal. 4, 24).
Quem não vê a atualidade deste aspeto do
Natal e como é interpelador para nós hoje? Na verdade, assistimos a uma
fragilização dos laços em família e na sociedade, a um distanciamento entre a geração
mais nova e a mais adulta ou idosa. Este Natal desafia-nos a um abraço
ou uma aliança entre gerações! Trata-se de uma questão vital para o futuro das
nossas sociedades!
Os jovens no Natal de Cristo
A relação com os jovens esteve em foco no
recente sínodo dos bispos e é o tema também do programa pastoral da nossa
diocese. Um belo texto do Papa Francisco convida-nos a esta reflexão a partir
da contemplação do presépio:
“Ao olhar o presépio, deparamo-nos com
os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações,
cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa
não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem
contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com
os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim,
a dívida que temos para com eles.
Criamos uma cultura que, por um lado,
idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas por outro, paradoxalmente,
condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço de real inserção, porque
lentamente os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a
mendigar ocupação que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã...
Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas discriminamo-los e
«condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas, permanecem fechadas.
Somos convidados a não ser como o
estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia: aqui não há lugar.Não havia lugar para a vida, não havia lugar para o futuro. A cada um de
nós é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que
possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na
sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir...
Contemplar o presépio desafia-nos a ajudar
os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das
nossas imaturidades, e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar
pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo”.
Um novo abraço entre gerações
Não podemos deixar os jovens sozinhos.
Correm o risco de ficarem fechados no mundo das relações virtuais,
desenraizados, sem as raízes vitais da carne e do sangue, de histórias e de
experiências ricas de amor. Há que recordar-lhes que uma vida sem amor é uma
vida árida. Há que ajudá-los a enfrentar o futuro sobretudo quando este gera
ansiedade, insegurança e medo.
Por isso, como diz Tolentino de Mendonça,
“é preciso que os adultos testemunhem aos jovens que a sua irrequietude é um
dom; que a sua sede de verdade e de beleza representam um tesouro; e que vale a
pena acreditar”.
É também desejável “um mundo que
vive um novo abraço entre os jovens e os idosos”(Papa Francisco).
Neste sentido é necessária a audácia da ternura para criar
quotidianamente uma ponte para aproximar um jovem a um idoso e vice-versa. Mas
este abraço enriquece a todos e leva a um avanço da sociedade, torna-a mais
humana.
São belos o encorajamento e a memória rica
de vida que um idoso consegue comunicar a um jovem à busca de sentido da vida.
Esta tem sido a missão de muitos avós neste tempo de crise, mesmo ao nível da
fé. Em muitas famílias são eles que transmitem a fé através de testemunhos
vividos. Caros idosos e caros jovens, caros avós e netos, não deixeis
perder a beleza e o encanto da ternura nas vossas famílias e na sociedade!
Um abraço aos mais frágeis e
vulneráveis
O nosso abraço fraterno próprio do Natal
estende-se, de modo particular, aos irmãos mais frágeis e carenciados, os sós,
os doentes, os presos, os descartados, sob a forma de ternura, proximidade,
partilha e solidariedade. “É Natal cada vez que sorrio ao meu irmão e lhe
ofereço a minha mão” (Madre Teresa de Calcutá)! Ninguém fique indiferente.
Apelo vivamente à participação de todos na
iniciativa de solidariedade de Natal promovida pela Caritas
Nacional e levada a cabo pela nossa Caritas Diocesana “10 milhões de
estrelas” – um gesto pela paz”. Cada vela custa 1 euro. As verbas
resultantes desta campanha revertem para a Caritas Diocesana no
apoio às famílias locais necessitadas e para a Caritas da
Venezuela a fim de garantir o acesso à saúde e o apoio nutricional a
crianças até aos 5 anos e a mulheres em situação de gravidez de risco.
A todos os diocesanos, os meus votos de
Santo Natal e Feliz Ano 2019!
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