SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
A minha partilha, sobre as leituras
da solenidade que hoje festejamos, vai ser feita recorrendo à homilia do Papa
Francisco do dia 15 de agosto de 2014, na Coreia, durante a VI Jornada da
Juventude Asiática. Nesse dia o Santo Padre disse:
"Em união com toda a Igreja,
celebramos a Assunção de Nossa Senhora, em corpo e alma, à glória do Paraíso. A
Assunção de Maria mostra-nos o nosso destino como filhos adotivos de Deus e
membros do Corpo de Cristo: como Maria, nossa Mãe, somos chamados a participar
plenamente na vitória do Senhor sobre o pecado e a morte e a reinar com Ele no
seu Reino eterno. Esta é a nossa vocação.
«O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse. Ela teve um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido».
"Na segunda leitura de
hoje (1 Cor 15, 20-27), ouvimos São Paulo afirmar que Cristo é o novo
Adão, cuja obediência à vontade do Pai derrubou o reino do pecado e da
escravidão e inaugurou o reino da vida e da liberdade. A verdadeira liberdade
encontra-se no amoroso acolhimento da vontade do Pai. De Maria, cheia de graça,
aprendemos que a liberdade cristã é algo mais do que a mera libertação do
pecado; é a liberdade que abre para um novo modo espiritual de considerar as
realidades terrenas, a liberdade de amar a Deus e aos nossos irmãos e irmãs com
um coração puro e viver na jubilosa esperança da vinda do Reino de
Cristo."
«Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés. Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido é claro que se excetua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.»
Quanto ao evangelho (Lc 1,
39-56), disse o Papa Francisco: "Hoje, ao venerar Maria, Rainha do Céu,
dirigimo-nos a Ela como Mãe da Igreja (…) para Lhe pedir que nos ajude a ser
fiéis à liberdade régia que recebemos no dia do Batismo; que guie os nossos
esforços por transformar o mundo segundo o plano de Deus; e que torne a Igreja
neste mundo capaz de ser, de uma forma mais plena, fermento do
Reino de Deus na sociedade. Possam os cristãos (…) ser uma força generosa de
renovação espiritual em todas as esferas da sociedade; combatam o fascínio do
materialismo que sufoca os autênticos valores espirituais e culturais e também
o espírito de desenfreada competição que gera egoísmo e conflitos; rejeitem
modelos económicos desumanos que criam novas formas de pobreza e marginalizam
os trabalhadores, bem como a cultura da morte que desvaloriza a imagem de Deus,
o Deus da vida, e viola a dignidade de cada homem, mulher e criança. Como
católicos (…), sois chamados a valorizar esta herança e a transmiti-la às
gerações futuras. Isto implica para cada um a necessidade duma renovada
conversão à Palavra de Deus e uma intensa solicitude pelos pobres, os
necessitados e os fracos que vivem no meio de nós. Ao celebrar esta festa,
unimo-nos a toda a Igreja espalhada pelo mundo e olhamos para Maria como Mãe da
nossa esperança. O seu cântico de louvor lembra-nos que Deus nunca esquece as
suas promessas de misericórdia (cf. Lc 1, 54-55). Maria é a
cheia de graça, porque «acreditou no cumprimento daquilo que o Senhor lhe
dissera» (Lc 1, 45). N’Ela, todas as promessas divinas se
demonstraram verdadeiras. Entronizada na glória, mostra-nos que a nossa
esperança é real e que, já desde agora, esta esperança se estende, «como uma
âncora segura e firme para as nossas vidas» (Heb 6, 19), até onde
Cristo está sentado na glória. Amados irmãos e irmãs, esta esperança – a
esperança oferecida pelo Evangelho – é o antídoto contra o espírito de
desespero que parece crescer como um câncer no meio da sociedade, que
exteriormente é rica e todavia muitas vezes experimenta amargura interior e
vazio. A quantos dos nossos jovens não fez pagar o seu tributo um tal
desespero! Que os jovens (…) nunca lhes vejam roubada a esperança!"
«Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor». Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.»
"Dirijamo-nos a Maria, Mãe de Deus, e imploremos a graça de viver alegres na liberdade dos filhos de Deus, usar sabiamente esta liberdade para servirmos os nossos irmãos e irmãs, e viver e atuar de tal modo que sejamos sinais de esperança, aquela esperança que encontrará a sua realização no Reino eterno, onde reinar é servir. Ámen."
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, solenidade da Assunção da Virgem
Maria, contemplamo-la a subir em corpo e alma à glória do Céu. Também o
Evangelho de hoje no-la apresenta enquanto sobe, desta vez rumo a uma «região
montanhosa» (Lc 1, 39). E por que sobe? Para ajudar a sua prima Isabel, e lá proclama o
cântico jubiloso do Magnificat. Maria sobe e a Palavra de Deus
revela-nos o que a carateriza na sua subida: o serviço ao próximo e
o louvor a Deus. Ambos: Maria é a mulher do serviço ao próximo e
Maria é a mulher que louva a Deus. De resto, o evangelista Lucas narra a vida
de Cristo como uma subida para o alto, em direção a Jerusalém, lugar do dom de
si na cruz, e descreve do mesmo modo o caminho de Maria. Em suma, Jesus e Maria
percorrem o mesmo caminho: duas vidas que se elevam, glorificando a Deus e
servindo os irmãos. Jesus como Redentor, que dá a vida por nós, pela nossa
justificação; Maria como a serva que sai para servir: duas vidas que vencem a
morte e ressuscitam; duas vidas cujos segredos são o serviço e o
louvor. Detenhamo-nos nestes dois aspetos: serviço e louvor.
O serviço. É quando nos abaixamos para servir
os nossos irmãos que subimos: é o amor que eleva a vida. Vamos servir os nossos
irmãos e, com esse serviço, “subimos”. Mas servir não é fácil: Nossa Senhora,
que acaba de conceber, percorre de Nazaré quase 150 quilómetros para chegar a
casa de Isabel. Ajudar custa, a todos nós. Experimentamo-lo sempre, no cansaço,
na paciência e nas preocupações que o cuidado dos outros implica. Pensemos, por
exemplo, nos quilómetros que muitas pessoas percorrem todos os dias para ir e
voltar do trabalho e realizar muitas tarefas em benefício do próximo; pensemos
nos sacrifícios de tempo e de sono para cuidar de um bebé ou de um idoso; e no
compromisso em servir quantos nada têm para retribuir, tanto na Igreja como no
voluntariado. Admiro o voluntariado. É cansativo, mas é uma subida, é ganhar o
Céu! É o verdadeiro serviço.
Mas o serviço corre o risco de ser
estéril sem o louvor a Deus. De facto, quando Maria entra em casa
da sua prima, louva o Senhor. Não fala do cansaço da viagem, mas do coração
brota um cântico de júbilo. Porque quem ama a Deus conhece o louvor. E o
Evangelho de hoje mostra-nos “uma cascata de louvores”: a criança salta de
alegria no seio de Isabel (cf. Lc 1, 44), que pronuncia palavras de bênção e
“a primeira bem-aventurança”: «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1,
45); e tudo culmina em Maria, que
proclama o Magnificat (cf. Lc 1, 46-55). O louvor aumenta a alegria. O louvor
é como uma escada: eleva os corações. O louvor eleva o espírito e vence a
tentação de se abater. Já vistes que as pessoas aborrecidas, as que vivem de
mexericos, são incapazes de louvar? Perguntai-vos: sou capaz de louvar? Como é
bom louvar a Deus todos os dias, e também os outros! Como é bom viver de
gratidão e bênção em vez de lamentações e queixas, olhar para cima em vez de
amuar! Queixas: há pessoas que se queixam todos os dias. Mas olha que Deus está
perto de ti, olha que Ele te criou, olha as coisas que Ele te deu. Louva,
louva! Isto é saúde espiritual.
Serviço e louvor. Façamos esta
pergunta a nós mesmos: vivo o trabalho e as ocupações diárias com espírito de
serviço ou com egoísmo? Dedico-me a alguém de forma gratuita, sem procurar um
benefício imediato? Em suma, faço do serviço o “trampolim” da minha vida? E
pensando no louvor: sei, como Maria, exultar em Deus (cf. Lc 1,
47)? Rezo bendizendo o Senhor? E, depois
de o louvar, difundo a sua alegria entre as pessoas que encontro? Cada um
procure responder a estas perguntas.
Que a nossa Mãe, Assunta ao Céu, nos
ajude a subir cada dia mais através do serviço e do louvor.
Papa Francisco
(Angelus , 15 de agosto de 2023)
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