sábado, 31 de agosto de 2024

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras deste domingo somos convidados a deixarmo-nos “fazer” pela Palavra de Deus, a deixarmo-nos “construir” pela Lei do Senhor. Como por toda a lei, é também através desta, que vamos pautando o nosso caminho e percebendo que, por si só, pode levar a um cumprimento rígido e despersonalizado na vivência comunitária. Mas, enraizada na vida, em Deus Amor, a Lei do Senhor transforma-nos em seres respeitadores e solidários em relação a tudo e a todos, torna-nos parte do povo de Deus, ou melhor, faz-nos comunhão com todos os irmãos em Cristo.

Na 1ªleitura (Deut 4, 1-2.6-8) Moisés fala-nos da lei de Deus, dos seus benefícios e da necessidade de a aplicar na vida. Mas, no final, quando se reporta ao seu autor, o coração salta-nos no peito, porque nos centra no Amor d’Aquele que nos é tão próximo, que nos habita na Sua Lei e Se faz um connosco. Quem, como nós, tem um Deus assim imanente a si próprio e a cada ser vivente, por Si criado, para vivermos todos em comunhão!? Só o Amor dá sentido à Lei, só n’Ele é possível amarmo-nos uns aos outros.

“Moisés falou ao povo, dizendo: «Agora escuta, Israel, as leis e os preceitos que vos dou a conhecer e ponde-os em prática, para que vivais e entreis na posse da terra que vos dá o Senhor, Deus de vossos pais. Não acrescentareis nada ao que vos ordeno, nem suprimireis coisa alguma, mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus, tal como eu vo-los prescrevo. Observai-os e ponde-os em prática: eles serão a vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos dos povos, que, ao ouvirem falar de todas estas leis, dirão: ‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’. Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos? E qual é a grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje vos apresento?».”

Na 2ªleitura (Tg 1, 17-18.21b-22.27) é S.Tiago que nos alerta para o perigo de ouvirmos o que a lei nos diz, mas não vivermos segundo os seus princípios e normas. Que adianta escutarmos a Lei se não a pusermos em prática. É na vida, junto dos que connosco se relacionam, que se testa a qualidade da nossa escuta. Que o Senhor preencha o nosso coração, inunde o nosso ser e a nossa vida espelhará o que nos vais na alma.

“Caríssimos irmãos: Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descem do Pai das luzes, no qual não há variação nem sombra de mudança. Foi Ele que nos gerou pela palavra da verdade, para sermos como primícias das suas criaturas. Acolhei docilmente a palavra em vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes, pois seria enganar-vos a vós mesmos. A religião pura e sem mancha, aos olhos de Deus, nosso Pai, consiste em visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo.”

No Evangelho (Mc 7, 1-8.14-15.21-23) é Jesus quem nos diz que o mais importante não são os princípios e as normas da lei, mas a forma como os vivemos, no dia a dia, junto dos que nos são próximos. Que importa sabermos de cor todos os mandamentos se não vivemos o que nos preconizam? O que verdadeiramente nos carateriza, nos qualifica é o que, e o como, fazemos. Como diz o nosso povo, “palavras leva-as o vento”, o que permanece é a forma e o como pomos em prática a lei, isto é, o como vivemos e amamos.

“Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem ter lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe: «Escutai-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro».”

Senhor, inunda-me de Ti, do Amor, para que eu viva pondo em prática a Tua Lei.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo apresenta um debate entre Jesus e alguns fariseus e escribas. A discussão refere-se ao valor da «tradição dos antigos» (Mc 7, 3) que Jesus, inspirando-se no profeta Isaías, define como «preceitos humanos» (v. 7) e que nunca deve tomar o lugar do «mandamento de Deus» (v. 8). As antigas prescrições em questão abrangiam não apenas os preceitos de Deus revelados a Moisés, mas uma série de regras que especificavam as indicações da lei mosaica. Os interlocutores aplicavam tais normas de modo bastante escrupuloso, apresentando-as como expressão de religiosidade autêntica. Portanto, a Jesus e aos seus discípulos repreendem a transgressão daquelas normas, em particular no que se refere à purificação exterior do corpo (cf. v. 5). A resposta de Jesus tem a força de um pronunciamento profético: «Descuidando o mandamento de Deus — afirma — apegais-vos à tradição dos homens» (v. 8). São palavras que nos enchem de admiração pelo nosso Mestre: sentimos que nele há verdade e que a sua sabedoria nos liberta dos preconceitos.

Mas atenção! Com estas palavras Jesus quer alertar-nos também a nós, hoje, para não pensarmos que a observância exterior da lei é suficiente para sermos bons cristãos. Do mesmo modo como outrora para os fariseus, também para nós existe o perigo de nos considerarmos retos ou, pior ainda, melhores do que os outros, só porque observamos certas regras e costumes, embora não amemos o nosso próximo, sejamos duros de coração, soberbos e orgulhosos. A observância literal dos preceitos é algo estéril, se não muda o coração nem se traduz em atitudes concretas: abrir-se ao encontro com Deus e à sua Palavra na oração, procurar a justiça e a paz, socorrer os pobres, os mais frágeis, os oprimidos. Nas nossas comunidades, nas nossas paróquias e nos nossos bairros todos nós sabemos quanto mal fazem à Igreja e quanto escândalo dão as pessoas que se dizem muito católicas e vão com frequência à igreja mas depois, na sua vida quotidiana, descuidam a família, falam mal dos outros e assim por diante. É isto que Jesus condena, porque este é um contratestemunho cristão.

Dando continuidade à sua exortação, Jesus concentra a atenção num aspeto mais profundo, afirmando: «Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas é o que sai do homem que o torna impuro» (v. 15). Deste modo, Ele salienta o primado da interioridade, ou seja a supremacia do «coração»: não são as realidades externas que nos fazem santos ou não santos, mas é o coração que exprime as nossas intenções, as nossas opções e o desejo de fazer tudo por amor a Deus. As atitudes exteriores constituem a consequência daquilo que já decidimos no nosso coração, e não o contrário: com a atitude exterior, se o coração não muda, não somos cristãos autênticos. A fronteira entre o bem e o mal não passa fora de nós mas, ao contrário, dentro. Então podemos interrogar-nos: onde está o meu coração? Jesus dizia: «Onde está o teu tesouro, lá também está o teu coração». Qual é o meu tesouro? É Jesus, é a sua doutrina? Então, o coração é bom. Ou o tesouro é outra coisa? Portanto, é o coração que se deve purificar e converter. Sem um coração purificado, não podemos ter mãos verdadeiramente limpas, nem lábios que pronunciam palavras de amor sinceras — tudo é falso, uma vida ambígua — lábios que pronunciam palavras de misericórdia, de perdão. Isto só pode ser feito por um coração sincero e purificado.

Peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Santa, que nos conceda um coração puro, livre de toda a hipocrisia. É com este adjetivo que Jesus se dirige aos fariseus: «hipócritas», porque eles dizem uma coisa e fazem outra. Um coração livre de qualquer hipocrisia, de modo a sermos capazes de viver segundo o espírito da lei e de alcançar a sua finalidade, que é o amor.

Papa Francisco

(Angelus , 30 de agosto de 2015)

sábado, 24 de agosto de 2024

  XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nas leituras de hoje, somos colocados perante as nossas escolhas em todos os momentos da vida, isto é, o que é que nos leva optar por um, ou por outro “caminho”, quando somos obrigados a decidir? Quais são os critérios que norteiam as nossas escolhas, enquanto cristãos empenhados no construir da sociedade em que vivemos? O que é que está na base das decisões, pequenas, ou grandes, que tomamos em qualquer momento da nossa vida? O que é que nos faz andar e/ou correr? Andamos atrás do quê, ou de quem? Onde e quando é Deus a nossa grande e única referência?

Na 1ªleitura (Jos 24, 1-2a.15-17.18b) Josué, já na terra prometida, não tem qualquer dúvida em proclamar, perante o povo, que quer seguir o Senhor, o Deus que os libertou do Egito e com eles fez uma aliança de Amor, desafiando o povo a fazer também a sua profissão de fé. E o povo, fazendo memória da sua história da salvação, opta por seguir o Deus da Aliança. E a história do Amor de Deus continua hoje, na vida pessoal de cada um de nós e da Igreja como povo de Deus. Tenhamos, também nós, a coragem de responder ao desafio de Josué. Em quem acreditamos?

Naqueles dias, Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém. Convocou os anciãos de Israel, os chefes, os juízes e os magistrados, que se apresentaram diante de Deus. Josué disse então a todo o povo: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha família serviremos o Senhor». Mas o povo respondeu: «Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus, que nos fez sair, a nós e a nossos pais, da terra do Egipto, da casa da escravidão. Foi Ele que, diante dos nossos olhos, realizou tão grandes prodígios e nos protegeu durante o caminho que percorremos entre os povos por onde passámos. Também nós queremos servir o Senhor, porque Ele é o nosso Deus».” 

Na 2ªleitura (Ef 5, 21-32) S.Paulo fala-nos usando a linguagem do seu tempo e enraizado na sua cultura. O que diz ao efésios, sobre o amor conjugal, podendo, é certo, recorrer-se  a uma linguagem mais adequada ao novos tempos, aplica-se na sua essência também aos nossos dias: eleva a relação do casal à dimensão do amor de Deus pela Igreja ; é aí, bem na fonte do Amor trinitário, que situa o sacramento do matrimónio cristão. Rezemos pelas famílias, para que se redescubram na fonte do Amor.

“Irmãos: Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela. Ele quis santificá-la, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a Si mesmo como Igreja cheia de glória, sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem os maridos amar as suas mulheres, como os seus corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja.”

No evangelho (Jo 6, 60-69) S.João transporta-nos para o evangelho de domingo passado, e para a reação às palavras de Jesus então proclamadas: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo». E este caminho, proposto por Jesus, não agrada, desinstala e compromete. Nem todos estão dispostos a segui-l’O. Então Jesus, nos seus colaboradores mais próximos, interroga-nos, também a nós, diretamente: « Também vós quereis ir embora?». Que com a ajuda de S.Pedro encontremos a nossa resposta.

“Naquele tempo, muitos discípulos, ao ouvirem Jesus, disseram: «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?». Jesus, conhecendo interiormente que os discípulos murmuravam por causa disso, perguntou-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do homem subir para onde estava anteriormente? O espírito é que dá vida, a carne não serve de nada. As palavras que Eu vos disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam». Na verdade, Jesus bem sabia, desde o início, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que O havia de entregar. E acrescentou: «Por isso é que vos disse: Ninguém pode vir a Mim, se não lhe for concedido por meu Pai». A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se e já não andavam com Ele. Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». Respondeu-Lhe Simão Pedro: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».” 

Senhor, envia sobre mim o Teu Santo Espírito, para que, seja qual for a situação em que encontre, eu opte por Ti, como o meu único Senhor. Que eu tenha sempre presente que antes de eu existir, já Tu me amavas infinitamente. Que eu nunca duvide do Teu Amor, por mim, por todos e por cada ser vivente, a quem chamas pelo próprio nome.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje (Jo 6, 60-69) mostra-nos a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse sinal e a acreditarem nele, que é o verdadeiro pão que desce do céu, o pão da vida; e revelou que o pão que ele dará é a sua carne e o seu sangue. Estas palavras soaram duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, a ponto que, a partir daquele momento – diz o Evangelho – muitos dos seus discípulos voltaram atrás, ou seja, deixaram de seguir o Mestre (vv. 60.66). Então Jesus interpela os Doze: «Também vós quereis retirar-vos?» (v. 67), e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de permanecer com Ele: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna, e nós acreditamos e sabemos que és o Santo de Deus» (Jo 6, 68-69). E é uma bonita confissão de fé.

Detenhamo-nos brevemente na atitude daqueles que se retiram, decidindo não seguir mais Jesus. Onde tem origem esta incredulidade? Qual é o motivo desta recusa?

As palavras de Jesus suscitam grande escândalo: Ele está a dizer que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne humana. É o mistério da encarnação. E a encarnação de Deus é o que dá origem ao escândalo e representa para aquelas pessoas – mas muitas vezes também para nós – um obstáculo. De facto, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é a sua própria carne; que para entrar em comunhão com Deus, antes de observar as leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele. Pois a salvação veio d'Ele, na sua encarnação. Isto significa que não devemos perseguir Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida. Deus fez-se carne. E quando dizemos isto, no Credo, no dia de Natal, no dia da Anunciação, ajoelhamo-nos para adorar este mistério da encarnação. Deus fez-se carne e sangue: humilhou-se para se tornar homem como nós, humilhou-se ao ponto de assumir o nosso sofrimento e o nosso pecado, e por conseguinte, pede-nos que o procuremos não fora da vida e da história, mas na relação com Cristo e com os irmãos. Procurá-lo na vida, na história, na nossa vida quotidiana. E este, irmãos e irmãs, é o caminho para o encontro com Deus: a relação com Cristo e os irmãos.

Também hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar escândalo e não é fácil de aceitar. É aquilo a que São Paulo chama “loucura” do Evangelho perante quantos procuram milagres ou sabedoria mundana (cf. 1 Cor 1, 18-25). E esta “escandalosidade” é bem representada pelo sacramento da Eucaristia: que sentido pode ter, aos olhos do mundo, ajoelhar-se diante de um pedaço de pão? Por que alimentar-se assiduamente deste pão? O mundo escandaliza-se.

Face ao gesto prodigioso de Jesus que com cinco pães e dois peixes alimenta milhares de pessoas, todos o aclamam e querem levá-lo em triunfo, para o fazer rei. Mas quando Ele próprio explica que aquele gesto é um sinal do seu sacrifício, ou seja, do dom da sua vida, da sua carne e do seu sangue, e que aqueles que O quiserem seguir devem assemelhar-se a Ele, à sua humanidade doada a Deus e aos outros, então isto não agrada, este Jesus põe-nos em crise. Aliás, preocupemo-nos se ele não nos põe em crise, porque talvez tenhamos adulterado a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixarmos provocar e converter pelas suas “palavras de vida eterna”. E Maria Santíssima, que trouxe na carne o Filho Jesus e se uniu ao seu sacrifício, nos ajude sempre a testemunhar a nossa fé com a vida concreta.

Papa Francisco

(Angelus , 22 de agosto de 2021)

sábado, 17 de agosto de 2024

  XX DOMINGO DO TEMPO COMUM

As leituras de hoje são como que a continuação das dos últimos domingos. Aliás, o evangelho tem início com o último versículo do evangelho de domingo passado. Mais uma vez entramos, por inteiro, no mistério da Eucaristia onde o pão e o vinho são o Corpo e o Sangue de Jesus que comungamos. As leituras colocam-nos diante de Jesus descido do Céu, que dá a vida pelo mundo e se torna alimento de vida eterna.

Na 1ªleitura (Prov 9,1-6) o autor sagrado diz-nos que a sabedoria, que está em Deus desde o princípio, convida os homens a viver como seres inteligentes, reconhecendo o caminho da prudência num mundo de insensatos. Aceitar o convite da Sabedoria para comer do seu pão e beber do seu vinho é aceitar acolher e pôr em prática a vontade de Deus.

«A Sabedoria edificou a sua casa e levantou sete colunas. Abateu os seus animais, preparou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas servas a proclamar nos pontos mais altos da cidade: «Quem é inexperiente venha por aqui». E aos insensatos ela diz: «Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da prudência».

Na 2ª leitura (EF 5, 15-20) S.Paulo anima os efésios do seu tempo e, hoje, cada um de nós, a deixar a insensatez e a unirmo-nos no mesmo Espírito para procurarmos e compreendermos juntos a vontade do Senhor. E continua alertando que, como comunidade de irmãos, devemos dar graças de todo o coração, com salmos, hinos e cânticos espirituais.

«Irmãos: Vede bem como procedeis. Não vivais como insensatos, mas como pessoas inteligentes. Aproveitai bem o tempo, porque os dias que correm são maus. Por isso não sejais irrefletidos, mas procurai compreender qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis com o vinho, que é causa de luxúria, mas enchei-vos do Espírito Santo, recitando entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando em vossos corações, dando graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.»

No evangelho (Jo 6,51-58) a multidão, e também nós, hoje, perante a dificuldade em acreditar nas palavras de Jesus, somos confrontados com a necessidade de uma opção radical: ou comemos o alimento oferecido por Jesus, a Sua carne e o Seu sangue, ou não temos a vida que só Ele pode oferecer e que está disponível na Eucaristia.

"Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?». E Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente»."

Senhor, eu creio que és Jesus, o Filho de Deus Vivo, o único e verdadeiro alimento com que posso saciar a sede de Deus, que colocaste no mais íntimo do meu coração. Concede-me o dom da conversão.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

O trecho evangélico deste domingo (cf. Jo 6, 51-58) introduz-nos na segunda parte do discurso que Jesus proferiu na sinagoga de Cafarnaum, depois de ter dado de comer a uma grande multidão com cinco pães e dois peixes: a multiplicação dos pães. Ele apresenta-se como «o pão vivo que desceu do Céu», o pão que dá a vida eterna, e acrescenta: «O pão que Eu hei de dar é a minha carne para a vida do mundo» (v. 51). Este trecho é decisivo, e com efeito suscita a reação dos ouvintes, que se põem a discutir entre si: «Como pode este Homem dar-nos de comer a sua carne?» (v. 52). Quando o sinal do pão partilhado leva ao significado verdadeiro, ou seja, o dom de si até ao sacrifício, sobressai a incompreensão, emerge até a rejeição d’Aquele que pouco antes o povo queria levar ao triunfo. Recordemo-nos que Jesus teve que se esconder, porque o queriam fazer rei.

Jesus prossegue: «Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos» (v. 53). Aqui, juntamente com a carne, aparece também o sangue. Na linguagem bíblica, carne e sangue exprimem a humanidade concreta. O povo e os próprios discípulos intuem que Jesus os convida a entrar em comunhão com Ele, a “alimentar-se” d’Ele, da sua humanidade, para partilhar com Ele o dom da vida para o mundo. Ao contrário de triunfos e miragens de sucesso! É precisamente o sacrifício de Jesus que se doa a si mesmo por nós.

Este pão de vida, sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, é-nos doado gratuitamente na mesa da Eucaristia. Ao redor do altar, encontramos aquilo que nos alimenta e nos sacia espiritualmente hoje e para a eternidade. Cada vez que participamos na Santa Missa, num certo sentido, antecipamos o Céu na terra, porque do alimento eucarístico, o Corpo e o Sangue de Jesus, aprendemos o que é a vida eterna. Ela significa viver pelo Senhor: «Aquele que comer a minha carne viverá por mim» (v. 57), diz o Senhor. A Eucaristia plasma-nos a fim de não vivermos unicamente para nós mesmos, mas pelo Senhor e pelos irmãos. A felicidade e a eternidade da vida dependem da nossa capacidade de tornar fecundo o amor evangélico que recebemos na Eucaristia.

Assim como naquela época, também hoje Jesus repete a cada um de nós: «Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos» (v. 53). Irmãos e irmãs, não se trata de um alimento material, mas de um pão vivo e vivificador, que comunica a vida do próprio Deus. Quando vamos comungar, recebemos a vida do próprio Deus. Para ter esta vida é necessário nutrir-se do Evangelho e do amor dos irmãos. Diante do convite de Jesus, a alimentar-nos do seu Corpo e Sangue, poderíamos sentir a necessidade de discutir e de resistir, como fizeram os ouvintes dos quais falou o Evangelho de hoje. Isto acontece quando temos dificuldade de modelar a nossa existência segundo a de Jesus, de agir em conformidade com os seus critérios, e não com os critérios do mundo. Nutrindo-nos deste alimento podemos entrar em plena sintonia com Cristo, com os seus sentimentos, com os seus comportamentos. Isto é muito importante: ir à Missa e comungar, porque receber a Comunhão significa receber este Cristo vivo, que nos transforma dentro e nos prepara para o Céu.

A Virgem Maria sustente o nosso propósito de fazer comunhão com Jesus Cristo, alimentando-nos da sua Eucaristia, para nos tornarmos, por nossa vez, pão partido para os irmãos.

Papa Francisco

(Angelus , 19 de agosto de 2018)

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

 SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA

A minha partilha, sobre as leituras da solenidade que hoje festejamos, vai ser feita recorrendo à homilia do Papa Francisco do dia 15 de agosto de 2014, na Coreia, durante a VI Jornada da Juventude Asiática. Nesse dia o Santo Padre disse:

"Em união com toda a Igreja, celebramos a Assunção de Nossa Senhora, em corpo e alma, à glória do Paraíso. A Assunção de Maria mostra-nos o nosso destino como filhos adotivos de Deus e membros do Corpo de Cristo: como Maria, nossa Mãe, somos chamados a participar plenamente na vitória do Senhor sobre o pecado e a morte e a reinar com Ele no seu Reino eterno. Esta é a nossa vocação.


O «grande sinal» apresentado na primeira leitura (Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab) convida-nos a contemplar Maria, entronizada na glória junto do seu divino Filho. Convida-nos ainda a tomar consciência do futuro que, já desde agora, abre diante de nós o Senhor Ressuscitado. (…)"

«O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse. Ela teve um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido».

"Na segunda leitura de hoje (1 Cor 15, 20-27), ouvimos São Paulo afirmar que Cristo é o novo Adão, cuja obediência à vontade do Pai derrubou o reino do pecado e da escravidão e inaugurou o reino da vida e da liberdade. A verdadeira liberdade encontra-se no amoroso acolhimento da vontade do Pai. De Maria, cheia de graça, aprendemos que a liberdade cristã é algo mais do que a mera libertação do pecado; é a liberdade que abre para um novo modo espiritual de considerar as realidades terrenas, a liberdade de amar a Deus e aos nossos irmãos e irmãs com um coração puro e viver na jubilosa esperança da vinda do Reino de Cristo." 

«Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés. Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido é claro que se excetua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.»

Quanto ao evangelho (Lc 1, 39-56), disse o Papa Francisco: "Hoje, ao venerar Maria, Rainha do Céu, dirigimo-nos a Ela como Mãe da Igreja (…) para Lhe pedir que nos ajude a ser fiéis à liberdade régia que recebemos no dia do Batismo; que guie os nossos esforços por transformar o mundo segundo o plano de Deus; e que torne a Igreja neste mundo capaz de ser, de uma forma mais plena, fermento do Reino de Deus na sociedade. Possam os cristãos (…) ser uma força generosa de renovação espiritual em todas as esferas da sociedade; combatam o fascínio do materialismo que sufoca os autênticos valores espirituais e culturais e também o espírito de desenfreada competição que gera egoísmo e conflitos; rejeitem modelos económicos desumanos que criam novas formas de pobreza e marginalizam os trabalhadores, bem como a cultura da morte que desvaloriza a imagem de Deus, o Deus da vida, e viola a dignidade de cada homem, mulher e criança. Como católicos (…), sois chamados a valorizar esta herança e a transmiti-la às gerações futuras. Isto implica para cada um a necessidade duma renovada conversão à Palavra de Deus e uma intensa solicitude pelos pobres, os necessitados e os fracos que vivem no meio de nós. Ao celebrar esta festa, unimo-nos a toda a Igreja espalhada pelo mundo e olhamos para Maria como Mãe da nossa esperança. O seu cântico de louvor lembra-nos que Deus nunca esquece as suas promessas de misericórdia (cf. Lc 1, 54-55). Maria é a cheia de graça, porque «acreditou no cumprimento daquilo que o Senhor lhe dissera» (Lc 1, 45). N’Ela, todas as promessas divinas se demonstraram verdadeiras. Entronizada na glória, mostra-nos que a nossa esperança é real e que, já desde agora, esta esperança se estende, «como uma âncora segura e firme para as nossas vidas» (Heb 6, 19), até onde Cristo está sentado na glória. Amados irmãos e irmãs, esta esperança – a esperança oferecida pelo Evangelho – é o antídoto contra o espírito de desespero que parece crescer como um câncer no meio da sociedade, que exteriormente é rica e todavia muitas vezes experimenta amargura interior e vazio. A quantos dos nossos jovens não fez pagar o seu tributo um tal desespero! Que os jovens (…) nunca lhes vejam roubada a esperança!" 

«Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor». Maria disse então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre». Maria ficou junto de Isabel cerca de três meses e depois regressou a sua casa.» 

"Dirijamo-nos a Maria, Mãe de Deus, e imploremos a graça de viver alegres na liberdade dos filhos de Deus, usar sabiamente esta liberdade para servirmos os nossos irmãos e irmãs, e viver e atuar de tal modo que sejamos sinais de esperança, aquela esperança que encontrará a sua realização no Reino eterno, onde reinar é servir. Ámen." 

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, solenidade da Assunção da Virgem Maria, contemplamo-la a subir em corpo e alma à glória do Céu. Também o Evangelho de hoje no-la apresenta enquanto sobe, desta vez rumo a uma «região montanhosa» (Lc 1, 39). E por que sobe? Para ajudar a sua prima Isabel, e lá proclama o cântico jubiloso do Magnificat. Maria sobe e a Palavra de Deus revela-nos o que a carateriza na sua subida: o serviço ao próximo e o louvor a Deus. Ambos: Maria é a mulher do serviço ao próximo e Maria é a mulher que louva a Deus. De resto, o evangelista Lucas narra a vida de Cristo como uma subida para o alto, em direção a Jerusalém, lugar do dom de si na cruz, e descreve do mesmo modo o caminho de Maria. Em suma, Jesus e Maria percorrem o mesmo caminho: duas vidas que se elevam, glorificando a Deus e servindo os irmãos. Jesus como Redentor, que dá a vida por nós, pela nossa justificação; Maria como a serva que sai para servir: duas vidas que vencem a morte e ressuscitam; duas vidas cujos segredos são o serviço e o louvor. Detenhamo-nos nestes dois aspetos:  serviço e louvor.

O serviço. É quando nos abaixamos para servir os nossos irmãos que subimos: é o amor que eleva a vida. Vamos servir os nossos irmãos e, com esse serviço, “subimos”. Mas servir não é fácil: Nossa Senhora, que acaba de conceber, percorre de Nazaré quase 150 quilómetros para chegar a casa de Isabel. Ajudar custa, a todos nós. Experimentamo-lo sempre, no cansaço, na paciência e nas preocupações que o cuidado dos outros implica. Pensemos, por exemplo, nos quilómetros que muitas pessoas percorrem todos os dias para ir e voltar do trabalho e realizar muitas tarefas em benefício do próximo; pensemos nos sacrifícios de tempo e de sono para cuidar de um bebé ou de um idoso; e no compromisso em servir quantos nada têm para retribuir, tanto na Igreja como no voluntariado. Admiro o voluntariado. É cansativo, mas é uma subida, é ganhar o Céu! É o verdadeiro serviço.

Mas o serviço corre o risco de ser estéril sem o louvor a Deus. De facto, quando Maria entra em casa da sua prima, louva o Senhor. Não fala do cansaço da viagem, mas do coração brota um cântico de júbilo. Porque quem ama a Deus conhece o louvor. E o Evangelho de hoje mostra-nos “uma cascata de louvores”: a criança salta de alegria no seio de Isabel (cf. Lc 1, 44), que pronuncia palavras de bênção e “a primeira bem-aventurança”: «Feliz daquela que acreditou» (Lc 1, 45); e tudo culmina em Maria, que proclama o Magnificat (cf. Lc 1, 46-55). O louvor aumenta a alegria. O louvor é como uma escada: eleva os corações. O louvor eleva o espírito e vence a tentação de se abater. Já vistes que as pessoas aborrecidas, as que vivem de mexericos, são incapazes de louvar? Perguntai-vos: sou capaz de louvar? Como é bom louvar a Deus todos os dias, e também os outros! Como é bom viver de gratidão e bênção em vez de lamentações e queixas, olhar para cima em vez de amuar! Queixas: há pessoas que se queixam todos os dias. Mas olha que Deus está perto de ti, olha que Ele te criou, olha as coisas que Ele te deu. Louva, louva! Isto é saúde espiritual.

Serviço e louvor. Façamos esta pergunta a nós mesmos: vivo o trabalho e as ocupações diárias com espírito de serviço ou com egoísmo? Dedico-me a alguém de forma gratuita, sem procurar um benefício imediato? Em suma, faço do serviço o “trampolim” da minha vida? E pensando no louvor: sei, como Maria, exultar em Deus (cf. Lc 1, 47)? Rezo bendizendo o Senhor? E, depois de o louvar, difundo a sua alegria entre as pessoas que encontro? Cada um procure responder a estas perguntas.

Que a nossa Mãe, Assunta ao Céu, nos ajude a subir cada dia mais através do serviço e do louvor.

Papa Francisco

(Angelus , 15 de agosto de 2023)