sábado, 18 de maio de 2024

  SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Hoje celebramos a Festa do Pentecostes, fazemos memória do nascimento da Igreja, da descida do Espírito Santo sobre Maria Santíssima e os Apóstolos reunidos no Cenáculo. 

Para dar continuidade ao que era pedido no domingo passado, os apóstolos e nós, homens e mulheres de hoje, necessitamos de nos deixar repassar pelo Espírito Santo, que Jesus nos envia, de junto do Pai. Terminado o tempo pascal é a hora de, cheios do Espírito Santo, anunciarmos na vida, do dia a dia, no que somos e na forma como agimos: o Amor infinito de Deus, por cada ser vivente; o triunfo do Amor em Jesus que está ressuscitado, vive em nós e venceu a morte. 

Na 1ª leitura (Atos 2, 1-11) S. Lucas situa-nos num mesmo lugar, com os apóstolos, ainda cheios de medos e angústias, sem saberem o que fazer. E é neste contexto que percebemos a ação do Espírito Santo. 

É Deus que se faz ouvir, entender, por todos aqueles povos de diferentes línguas, através dos apóstolos, que se lhe entregaram, com a toda a sua fragilidade, mas também com toda a confiança. É Deus que se revela através deles e continua a manifestar-se através de outras pessoas, tendo chegado até aos dias de hoje. Façamos como os apóstolos. Agora é a nossa vez!

Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria língua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los proclamar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».” 

Na 2ªleitura (1 Cor 12, 3b-7.12-13) S. Paulo projeta-nos para a nossa missão de batizados no Espírito Santo. Cada batizado, que se deixa guiar por Jesus, que se deixa moldar pelo Seu Santo Espírito, que se encontra com Ele, no mais íntimo de si mesmo, porá a render os dons que o Senhor lhe confiou, para a continuação da construção do Seu Reino de Amor. Somos todos necessários ao “bem comum”, à Igreja, cada um ao seu jeito, com a sua missão. 

“Irmãos: Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – Todos ficaram cheios do Espírito Santo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.”

No Evangelho (Jo 20, 19-23)  somos reconduzidos ao mesmo acontecimento da 1ªleitura, só que, desta vez, por S. João, que nos centra no nascimento da Igreja, na missão que Jesus confiou aos seus apóstolos. Deixemos que o Espírito Santo continue, em nós, a missão iniciada com os primeiros apóstolos, com os que, naqueles primeiros tempos, se deixaram habitar totalmente pelo Espírito Santo de Deus. 

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».”


"Senhor, Deus do universo, que no mistério de Pentecostes, santificais a Igreja, dispersa entre todos os povos e nações, derramai sobre a terra os dons do Espírito Santo, de modo que também hoje se renovem nos corações dos fiéis os prodígios realizados nos primórdios da pregação do Evangelho".


Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

O livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 2, 1-11) narra o que aconteceu em Jerusalém cinquenta dias depois da Páscoa de Jesus. Os discípulos estavam reunidos no cenáculo e com eles estava a Virgem Maria. O Senhor ressuscitado disse-lhes para permanecer na cidade até receber do alto o dom do Espírito. E isto manifestou-se com um «fragor» que, repentinamente, se ouviu vindo do céu, como um «vento impetuoso» que encheu a casa onde eles estavam (cf. v. 2). Portanto, trata-se de uma experiência real mas também simbólica. Algo que aconteceu, mas que também nos transmite uma mensagem simbólica para toda a vida.

Esta experiência revela que o Espírito Santo é como um vento forte e livre, ou seja, dá-nos força e liberdade: um vento forte e livre. Não pode ser controlado, impedido, nem medido; nem sequer se pode prever a sua direção. Não se deixa enquadrar nas nossas exigências humanas - procuramos sempre enquadrar as coisas - não se deixa enquadrar nos nossos esquemas e preconceitos. O Espírito procede de Deus Pai e do seu Filho Jesus Cristo, e irrompe na Igreja, irrompe em cada um de nós, dando vida à nossa mente e ao nosso coração. Como diz o Credo: «É Senhor e dá a vida». Tem o senhorio porque é Deus, e dá vida.

No dia de Pentecostes, os discípulos de Jesus ainda estavam desorientados e apavorados. Ainda não tinham a coragem de sair em público. E também nós, às vezes acontece, preferimos permanecer entre as paredes de proteção dos nossos ambientes. Mas o Senhor sabe chegar até nós e abrir as portas do nosso coração. Ele envia sobre nós o Espírito Santo que nos envolve e vence todas as nossas hesitações, abate as nossas defesas, desmantela as nossas falsas seguranças. O Espírito faz de nós novas criaturas, tal como fez naquele dia com os Apóstolos: renova-nos, faz de nós criaturas novas.

Depois de ter recebido o Espírito Santo, eles deixaram de ser como antes - Ele transformou-os - mas saíram, saíram sem medo e começaram a anunciar Jesus, a pregar que Jesus ressuscitou, que o Senhor está connosco, de tal modo que cada um os compreendia na própria língua. Pois o Espírito é universal, não nos priva das diferenças culturais, diferenças de pensamento, não, é para todos, mas todos o compreendem na própria cultura, na própria língua. O Espírito muda o coração, dilata o olhar dos discípulos. Torna-os capazes de comunicar a todos as grandes obras de Deus, sem limites, indo além das fronteiras culturais e religiosas com as quais estavam habituados a pensar e a viver. Torna os Apóstolos capazes de alcançar os outros, respeitando as suas possibilidades de escuta e de compreensão, na cultura e linguagem de cada um (vv. 5-11). Em síntese, o Espírito Santo coloca em comunicação pessoas diferentes, realizando a unidade e a universalidade da Igreja.

E hoje diz-nos muito esta verdade, esta realidade do Espírito Santo, onde na Igreja existem pequenos grupos que procuram sempre a divisão, separar-se dos outros. Este não é o Espírito de Deus. O Espírito de Deus é harmonia, unidade, une as diferenças. Um bom Cardeal, que foi Arcebispo de Génova, dizia que a Igreja é como um rio: o importante é permanecer dentro; não interessa se estás um pouco deste lado e um pouco do outro, o Espírito Santo faz a unidade. Ele usava a figura do rio. O importante é permanecer na unidade do Espírito e não olhar para as pequenas coisas, se estás um pouco deste lado e um pouco do outro, se rezas desta maneira ou daquela... Isto não vem de Deus. A Igreja é para todos, para todos, como mostrou o Espírito Santo no dia de Pentecostes.

Hoje peçamos à Virgem Maria, Mãe da Igreja, que interceda para que o Espírito Santo desça em abundância, encha o coração dos fiéis e acenda em todos o fogo do seu amor.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 23 de maio de 2021)

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