sábado, 22 de fevereiro de 2014



O culto do Papa Francisco 

Artigo escrito na revista Visão, por Gil Teixeira, Advogado,17:21 Domingo, 15 de Dezembro de 2013
 A vida


Antes de partirmos todos temos o mesmo pensamento, tivemos duas vidas, uma vivida e outra por viver.


A partida impede-nos de viver a vida que não vivemos, e de forma diferente a vivida.


Os bruxos, os cartomantes Paulos Cardosos, e os seus pares deviam de saber que se a vida não fosse um mistério não seria vida.


Uma vezes cola-nos asas outras tiras-lhe a cola.


Voar sem cola é um privilégio dos eleitos.


A maioria, os não-eleitos, terão tantas probabilidades de subir como de descer, e a humildade é o seu porto de abrigo.


É a vida e a vida espiritual também é vida.


Todos os cultos devem ser respeitados, e a humanidade, desde as suas andanças entre as cavernas e a luz, e em sentido contrário, quiçá por temor da luz, ou por desconhecer os efeitos secundários da luz na mente, agasalhada no politeísmo, mais ou menos mitigado, se quisermos o monoteísmo, tem convivido com uma grande galeria de divindades, relíquias, objetos de culto, e até vacas sagradas.


Duvida-se que seja esse o projeto do criador da criatura e do universo.


A criatura deve desejar os efeitos da luz.


Valha-nos que na vida espiritual coletiva o Papa Francisco continua a marcar pontos sociais, à esquerda e à direita políticas, e por isso foi eleito "a pessoa do ano" pela revista "Time". 


Sobre o Papa Francisco considerou o Prof. Leonardo Boff que; "Muitos têm-se perguntado que pelo fato de o atual papa Francisco provir da América Latina seja ele um adeto da teologia da libertação. Esta questão é irrelevante. O importante não é ser da teologia da libertação, mas da libertação dos oprimidos, dos pobres e injustiçados. E isso ele o é com indubitável claridade."


As palavras do Prof. Leonardo Boff dirigidas ao Papa Francisco adquirem particular importância vindas sobretudo dum expoente máximo da teologia da libertação.


Com o devido respeito penso que toda a teologia não é concebível sem a liberdade, física e intelectual, do indivíduo, a razão.


É de lamentar que a maioria das religiões não tenham tido suficiente fé, e que se tenha deixado vencer pela razão, e aberto mão do criacionismo, - pondo de parte a fantasia dos avoengos Adão e Eva, - em primazia da anacrónica teoria evolucionista das espécies propalada por Charles Darwin, e seus seguidores.


O transcendente, é algo do interior da pessoa, e pode ser alcançado quer pela fé, quer pela razão.


Os dogmas são algo contra o "labor" transcendental, consubstanciada no ser humano. Por sua vez o ateísmo, ou agnosticismo, ou ceticismo, é uma consequência do maniqueísmo religioso, e que serve os interesses egoístas de muitos religiosos(?), sem esquecer os fundamentalismos, e os fundamentalistas.


Em rigor um ateu é um crente tão convicto como um beato, com a diferença que o primeiro crê no intranscendente e o segundo no transcendente.


Ambos são criaturas obra do criador, e como tal não podem ser maus ou bons porque têm convicções diferentes.


Na verdade Deus não pode existir ou inexistir em função das crenças dos mortais.


O transcendente é algo real, que existe, embora impalpável e invisível, e não é pertença de nenhuma religião ou de nenhum mortal, seja muito ou pouco crente na instranscendência, ou transcendência.


Tudo isto para dizer que estou um pouco com o Prof. Leonardo Boff quando este coloca a substância acima da forma, o conteúdo da teologia da libertação sobre o seu formalismo.


Porém, sendo o Papa Francisco o autor duma encíclica dificilmente não será ou deixará de ser um teólogo.


Recentemente, num programa noturno, um pouco apalermado, na televisão da "rtp" da Fátima qualquer-coisa, "prós e contras", paga pelos contribuintes, e que por isso reivindica o estatuto de "serviço público", como se a "sic", e a "tvi" não fizessem um verdadeiro serviço público, grátis(!), em jeito de tertúlia que não aquece nem arrefece, abordou-se um falso tema; "A revolução do Papa Francisco", com a intervenção de várias figuras de proa nestas, e noutras andanças, onde pontuou Freitas do Amaral com brilhantismo. 


O título dado ao programa é capcioso porque veste o Papa Francisco com a farda do guerrilheiro "Che" da América Latina, o que é uma parvoíce, e até ofende o trabalho que o bispo-mor de Roma tem vindo a fazer desde que substituiu João Paulo II, tendo em conta que Ratzinger foi mais um líder de circunstância enquanto não se encontrou o substituto do segundo.



Tem o seu interesse assinalar que no referido programa-tertúlia televisivo o padre e professor de filosofia Anselmo Borges tenha dito a quem o viu e ouviu que o Papa Chico, como carinhosamente lhe chamam, tem de converter os bispos e os padres católicos, o que faz supor que estes não são suficientemente crentes ou praticantes do catolicismo, e que afasta a intervenção de um dos participantes na tertúlia quando proclamou que os não-crentes, seja isso o que for, porque todos somos crentes em algo, nem que seja a "bóson", estavam sedentos de fé(?!...).


 A razão pode emparelhar com a fé, e podem andar de mãos juntas e nada justifica o seu divórcio desde o século XVII até aos dias de hoje. 


Deus "é" a ciência, e não existe Deus "e" a ciência. Deus "é" o bigue bangue.


Sendo verdade que o Papa Chico tenha também dito a Eugenio Scalfari, do jornal italiano "La Reppublica", em Outubro passado que; "não há Deus católico, só há um Deus", o pai, que é a luz e o Criador", o que, a meu ver, faz todo o sentido do mundo, e dos arredores, porque acaba com o maniqueísmo religioso e todas as guerras religiosas, aquele faz ainda jus à sua devoção a Cristo quando este expulsou os vendilhões do Templo, segundo Lucas 19:46, "A minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores."


Portanto, o Papa Chico apenas tem sido coerente consigo, e com as suas raízes, - a Igreja de Roma nunca será a mesma, findos dois milénios renovar-se-á, - e com a sua devoção ou lealdade religiosa a Cristo, e não vale a pena colá-lo a Guevera ou ao avô Marx.


Os poderes temporais e todos os humanos devemos estar atentos às palavras e à ação do Papa Chico em todos os domínios, seja religioso, social, económico e político e cultural.Os vendilhões é que podem estar um pedacinho preocupados, embora a fogueira esteja apagada.

Gil Teixeira

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