DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM-2025-ANO C
Neste domingo, as leituras questionam-nos sobre a forma como nos relacionamos com o dinheiro e, ainda, quanto ao modo como administramos o que o Senhor nos dá e, ou, nos permite obter no dia a dia da vida. Afinal, a pergunta que se impõe é esta: quem é o nosso mais que tudo, isto é, em quem pomos a nossa confiança, em Deus, ou no dinheiro?!
A 1ªleitura (Am 8, 4-7) projeta-nos para os tempos de hoje, para um fenómeno transversal na nossa sociedade, que é a corrupção. Em nome do dinheiro tudo é permitido! Mas, Jesus veio mostrar-nos que, por mais que o homem corra atrás do dinheiro, este, por si só, não lhe trará a felicidade, pois uma só coisa é necessária para se ser feliz: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
“Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da
terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso
grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo?
Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças
falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de
sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela
glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».”
Na 2ªleitura (1 Tim 2, 1- 8) S.Paulo, realça que todos
os homens têm direito a conhecer Jesus, como Aquele que, dando-Se todo, nos
veio revelar o quanto Deus ama infinitamente cada ser humano. Propõe-nos a
oração universal, como caminho de intercessão para que todo o homem possa experimentar
o que é ser amado pelo próprio Deus e assim, na plenitude dos tempos, Deus seja
tudo em todos.
“Caríssimo: Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.”
A parábola que Jesus nos conta no
evangelho (Lc 16, 1-13), sendo meio desconcertante, é
clara na mensagem: não podemos servir a Deus e ao dinheiro. Não há lugar para
ambos no nosso coração, um leva a desprezar o outro.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’. Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedica a um e despreza o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».”
Senhor, meu Deus, peço-te por todos os homens, para que Tu sejas o único Senhor das nossas vidas. Que tudo o que temos e somos seja posto ao serviço dos que mais precisam. Ensina-nos a amar os nossos irmãos.
(...) São Lucas, o evangelista que, mais do que os outros, se preocupa por mostrar o amor que Jesus tem pelos pobres, ofereceu-nos diversos temas de reflexão sobre os perigos de um apego excessivo ao dinheiro, aos bens materiais e a tudo o que nos impede de viver em plenitude a nossa vocação para amar Deus e os irmãos. Também hoje o faz, através de uma parábola que provoca em nós uma certa estranheza, porque se fala de um administrador desonesto que é elogiado (cf. Lc 16, 1-13). Vendo bem, o Senhor reserva-nos um ensinamento sério e muito saudável. Como sempre o Senhor inspira-se em acontecimentos da vida quotidiana: fala-nos sobre um administrador que está para ser despedido pela gestão desonesta dos negócios do seu patrão e que, para garantir o seu futuro, procura com astúcia pôr-se de acordo com os devedores. É sem dúvida um homem desonesto, mas também é astuto: o Evangelho não no-lo apresenta como modelo para seguir na sua desonestidade, mas como um exemplo a ser imitado pela sua habilidade previdente. De facto, a breve parábola concluiu-se com estas palavras: "O senhor elogiou o administrador desonesto por ter procedido prudentemente" (Lc 16, 8).
Mas o que nos
quer dizer Jesus com esta parábola? Com esta conclusão surpreendente? À
parábola do administrador infiel, o evangelista faz seguir uma breve série de
afirmações e de advertências sobre a relação que devemos ter com o dinheiro e
com os bens desta terra. São pequenas frases que convidam a uma opção que
pressupõe uma decisão radical e uma tensão interior constante. Na realidade, a
vida é sempre uma opção: entre honestidade e desonestidade, entre fidelidade e
infidelidade, entre egoísmo e altruísmo, entre bem e mal. É incisiva e perentória
a conclusão do trecho evangélico: "Servo algum pode servir a dois
senhores; ou há de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se-á a um e
desprezará o outro". Com efeito, diz Jesus: "É preciso decidir-se.
Não podeis
servir a Deus e ao dinheiro" (Lc 16, 13): Mamon é
uma palavra de origem fenícia que evoca segurança económica e sucesso nos
negócios; poderíamos dizer que na riqueza é indicado o ídolo ao qual se
sacrifica tudo para alcançar o próprio sucesso material e, assim, este sucesso
económico torna-se o verdadeiro deus de uma pessoa. É necessária, portanto, uma
decisão fundamental entre Deus e mamon, é necessária a escolha entre a lógica do
lucro, como critério último no nosso agir, e a lógica da partilha e da
solidariedade. A lógica do lucro, se é prevalecente, incrementa a desproporção
entre pobres e ricos, assim como uma exploração destruidora do planeta. Quando,
pelo contrário, prevalece a lógica da partilha e da solidariedade, é possível
corrigir a rota e orientá-la para um desenvolvimento equitativo, para o bem comum
de todos. Na realidade, trata-se: da decisão entre o egoísmo e o amor, entre a
justiça e a desonestidade, ou seja, entre Deus e Satanás; de saber se amar Cristo e os
irmãos não é considerado como uma espécie de acessório e superficial, mas antes
como a finalidade verdadeira e última de toda a nossa existência. É preciso
saber fazer opções básicas, estar disposto a renúncias radicais, e se
necessário ao martírio. Hoje, como ontem, a vida do cristão exige a coragem de
ir contra a corrente, de amar como Jesus, que chegou ao sacrifício de Si na
cruz.
Podemos então
dizer, parafraseando uma consideração de Santo Agostinho, que por meio das
riquezas terrenas devemos conquistar as verdadeiras e eternas: de facto, se há
quem está pronto a qualquer tipo de desonestidade para garantir um bem-estar
material, sempre aleatório, muito mais nós, enquanto cristãos, nos devemos preocupar por
prover à nossa felicidade eterna com os bens desta terra (cf. Sermão 359,
10).
Mas, a única maneira de fazer frutificar para a eternidade os nossos talentos e
capacidades pessoais, assim como as riquezas que possuímos, é partilhá-las com os
irmãos, mostrando-nos deste modo bons administradores de quanto Deus nos
confia. Diz Jesus: "Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é
infiel no pouco também é infiel no muito" (Lc 16, 10-11).
Da opção
fundamental, atrás referida, que se deve fazer todos os dias, fala também hoje, na primeira leitura, o
profeta Amós. Com palavras fortes, ele estigmatiza um estilo de vida típico de
quem se deixa absorver por uma busca egoísta da riqueza de todos os modos
possíveis e que se traduz numa sede de lucro, num desprezo pelos pobres e numa
exploração da sua situação em benefício próprio (cf. Am 4, 5). Pelo contrário, o cristão deve rejeitar com energia tudo isto, abrindo o coração a sentimentos de generosidade autêntica. Uma generosidade que, como exorta o
apóstolo Paulo na segunda leitura, se exprime num amor sincero a todos e se
manifesta na oração. Na realidade, é um gesto grandioso de caridade rezar pelos
outros. O Apóstolo convida em primeiro lugar a rezar pelos que desempenham
tarefas de responsabilidade na comunidade civil, porque, explica ele, das suas
decisões, se tenderem para realizar o bem, derivam consequências positivas,
garantindo a paz e "uma vida calma e tranquila com toda a piedade e
dignidade" para todos (1
Tm 2, 2).
Portanto, nunca falte a nossa oração, contributo espiritual para a edificação
de uma comunidade eclesial fiel a Cristo e à construção de uma sociedade mais
justa e solidária. (...)