sábado, 13 de abril de 2024

DOMINGO III DA PÁSCOA

As leituras de hoje desafiam-nos a sermos testemunhas do Amor de Deus no nosso quotidiano, onde estivermos, vivermos, ou nos deslocarmos. Este desafio é feito numa dupla perspetiva, pois, por um lado, é baseado no testemunho de vida dos que conviveram com Jesus antes da Sua morte, mas também nos que O viram e com Ele estiveram, comeram, falarem e se encontraram depois da Sua Ressurreição. É o Espírito Santo em nós, que nos transforma em testemunhas do Ressuscitado, como fez com os primeiros discípulos. Abramos o nosso coração, de par em par, à ação do Espírito do Senhor e deixemo-nos moldar por Ele.

Na 1ªleitura (At 3, 13-15.17-19) Pedro, que também teve as suas dificuldades no crescimento da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, ao anunciar Jesus Ressuscitado, analisa o que se passou na crucifixão e morte de Jesus, mas não condena, antes pelo contrário, apela à conversão. Pedro testemunha na sua vida, através de palavras e gestos, que Jesus está vivo, ressuscitado, habita em nós e n’Ele é sempre possível a conversão e o perdão dos pecados. O Amor de Deus ultrapassa sempre o nosso pecado. Deus ama-nos na nossa totalidade! Deixemo-nos amar por Ele.

“Naqueles dias, Pedro disse ao povo: «O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos, estando ele resolvido a soltá-l’O. Negastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação dum assassino; matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-O dos mortos, e nós somos testemunhas disso. Agora, irmãos, eu sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. Foi assim que Deus cumpriu o que de antemão tinha anunciado pela boca de todos os Profetas: que o seu Messias havia de padecer. Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados».” 


Na 2ªleitura  (1 Jo 2, 1-5a)  o testemunho de S.João vai na mesma linha do de S.Pedro, que escutámos na 1ªleitura, pois somos chamados a dar testemunho do Amor de Deus na nossa vida, na certeza de que Deus nos perdoa os nossos pecados e de que ultrapassa em misericórdia, em amor infinito, todas as nossas misérias e limitações. E é desse Amor total, sem limites, que vai para além de tudo o que possamos imaginar, que somos chamados a dar testemunho, na nossa vida, onde quer que estejamos. Como nos amas Senhor! Muito, muito obrigada. Louvemos e demos graças a Deus, pelo Seu Amor por todos e por cada um de nós.

“Meus filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro. E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-l’O e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guardar a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito.” 


No Evangelho (Lc 24, 35-48) de hoje misturam-se, em nós, que nos projetamos também naquela sala, sentimentos diferentes: primeiro surpreendemo-nos com a dificuldade dos primeiros discípulos em acreditarem que Jesus estava ali, no meio deles, que tinha ressuscitado; depois, alegramo-nos com todos, quando O reconhecem e se entregam de coração; a seguir, no Espírito Santo, entendemos o que Jesus nos explica; por fim, sentimo-nos impelidos a testemunhar, com a nossa vida, o Amor Infinito de Deus, por cada ser por Ele criado.

"Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas»." 

Senhor, envia sobre mim o Teu Santo Espírito, para que dê testemunho do Teu Amor, todos os dias da minha vida.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste terceiro domingo de Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, como que guiados pelos dois discípulos de Emaús, que tinham ouvido com grande emoção as palavras de Jesus ao longo do caminho e depois o reconheceram «ao partir o pão» (Lc 24, 35). Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado apresenta-se no meio do grupo de discípulos, saudando-os: «A paz esteja convosco!» (v. 36). Mas eles, assustados e perturbados, pensaram que «viam um espírito», assim diz o Evangelho (v. 37). Então Jesus mostra-lhes as feridas do seu corpo e diz: «Vede as minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou eu mesmo; palpai-Me e vede» (v. 39). E para os convencer, pede comida e come-a sob os seus olhares atónitos (cf. vv. 41-42).

Há aqui um detalhe nesta descrição. O Evangelho diz que os Apóstolos, «vacilando eles ainda e estando transportados de alegria», não acreditavam. Tal era a alegria que sentiam, que não podiam acreditar que o que viam era verdadeiro. E um segundo detalhe: ficaram estupefactos, surpreendidos; admirados pois o encontro com Deus leva sempre à admiração: vai além do entusiasmo, além da alegria, é outra experiência. E eles rejubilaram, mas um júbilo que os fez pensar: não, isto não pode ser verdade!... É o espanto da presença de Deus. Não vos esqueçais deste estado de espírito, que é tão bom.

Esta página do Evangelho é caraterizada por três verbos muito concretos, que num certo sentido refletem a nossa vida pessoal e comunitária: ver, tocar e comer. Três ações que podem proporcionar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo.

Ver. «Vede as minhas mãos e os meus pés» – diz Jesus. Ver não é apenas olhar, é mais, requer também a intenção, a vontade. É por isso que é um dos verbos do amor. A mãe e o pai veem o filho, os amantes veem-se um ao outro; o bom médico vê o paciente com atenção... Ver é um primeiro passo contra a indiferença, contra a tentação de virar o rosto para o outro lado face às dificuldades e sofrimentos dos outros. Ver. Vejo ou olho para Jesus?

O segundo verbo é palpar. Convidando os discípulos a palpá-lo, a ver que ele não é um fantasma – palpai-me!  –  Jesus indica-lhes, a eles e a nós, que a relação com Ele e com os nossos irmãos não pode permanecer “à distância”, não existe um cristianismo à distância, não existe um cristianismo apenas ao nível do ver. O amor pede que se veja mas também a proximidade, pede contacto, a partilha da vida. O Bom Samaritano não se limitou a olhar para o homem que encontrou meio morto ao longo do caminho: parou, inclinou-se, ligou as suas feridas, tocou-o, carregou-o no seu cavalo e levou-o para a estalagem. O mesmo seja feito com o próprio Jesus: amá-lo significa entrar numa comunhão de vida, uma comunhão com Ele.

E chegamos ao terceiro verbo, comer, que exprime bem a nossa humanidade na sua natural indigência, ou seja, a necessidade de nos alimentarmos para viver. Mas comer, quando o fazemos juntos, em família ou entre amigos, torna-se também uma expressão de amor, uma expressão de comunhão, de festa... Quantas vezes os Evangelhos nos mostram Jesus a viver esta dimensão de convívio! Também como Ressuscitado, com os seus discípulos. Ao ponto que o Banquete eucarístico se tornou o sinal emblemático da comunidade cristã. Comer juntos o Corpo de Cristo: este é o centro da vida cristã.

Irmãos e irmãs, esta página do Evangelho diz-nos que Jesus não é um “fantasma”, mas uma Pessoa viva; que quando Jesus se aproxima de nós enche-nos de alegria, a ponto de não acreditarmos, e deixa-nos estupefactos, com aquele espanto que só a presença de Deus dá, porque Jesus é uma Pessoa viva. Antes de tudo, ser cristão não é uma doutrina ou um ideal moral, é a relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: vemo-Lo, palmamo-Lo, alimentamo-nos d’Ele e, transformados pelo seu Amor, vemos, palpamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs. A Virgem Maria nos ajude a viver esta experiência de graça.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 18 de abril de 2021)

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