DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Aleluia! Hoje
acordamos nosso coração com a maior das esperanças. Porque Ele está VIVO, Ele
está aqui no meio de nós, Ele continua a caminhar no meio dos seus. E por isso,
como aos discípulos, o nosso coração arde. Hoje é esse dia, em que o coração se
enche desse entusiasmo, desse ardor. Porque compreendemos que na Ressurreição
de Jesus é a nossa vida que se amplia, é a nossa vida que se ilumina, é a nossa
vida que ganha uma outra forma. Ela passa a ser mais de Deus, ela passa a ser o
triunfo de Deus.
Uma das
antífonas mais repetidas nesta época de Páscoa nos serve como um poderoso
contraforte para a fé. É esta: ‘Resurrexit sicut dixit’. Jesus ressuscitou como
havia prometido. Também é bom pensar na variação que um copista medieval
introduziu, talvez por engano, talvez devido a um esforço de aprofundamento
teológico. Deus realmente escreve certo em nossas pobres linhas tortas. Um
amanuense escreveu: ‘Resurrexit sicut dilexit’. Ele ressuscitou como amou. Ele
ressuscitou não apenas como havia predito a seus discípulos, mas de acordo com
a constante qualidade de seu amor. Para aquele Filho “obediente até a morte e a
morte da cruz”, Deus permanece fiel com todo o seu amor. E amar é dizer ao
outro: você não morrerá. Esta é a garantia de Deus, seu gesto definitivo que
recria a história.
Queridos irmãs
e irmãos, Aleluia. Como dirá o autor da Carta aos Colossenses: “Nós morremos, e
a nossa vida está escondida com Cristo em Deus”, essa vida nova, que agora se
vai revelar num tempo novo, marcado por este acontecimento inamovível da
história que é a Ressurreição de Cristo.
Sejamos dignos
desta verdade, sejamos dignos desta palavra “Aleluia”, que de nenhuma maneira é
uma palavra banal, que não é uma palavra das nossas línguas, mas é uma palavra
recebida.
A grande
palavra humana: “Aleluia!” Aquela certeza de que o alto se fez baixo. E que,
tomando, abraçando o rés da terra, de novo se elevou até Deus. Aleluia!
— Cardeal D. José Tolentino Mendonça (Domingo de
Páscoa da Ressurreição do Senhor).
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As leituras do Domingo de Páscoa
introduzem-nos no mistério maior da nossa fé, a Ressurreição de Jesus.
Mergulhados no imenso Amor de Deus, que Seu Filho nos revela, percebemos que a
partir da ressurreição de Jesus tudo passa a ser diferente, a vida ganha outro
sentido. Sabemos, agora, o quanto somos preciosos para Deus, o quanto Deus ama
cada um de nós, a ponto de sermos redimidos pelo Seu Único e Muito
Amado Filho. Agora podemos branquear a nossa alma n’Ele, que de braços
abertos nos acolhe e estreita contra o Seu peito. Deixemo-nos habitar por este
Amor sem fim, para que também os que connosco convivem, ou se cruzam nas
estradas da vida, possam sentir-se totalmente amados por Deus.
Na 1ª leitura (At.10,34a,37-43), escutamos
Pedro, completamente entregue à missão que Jesus lhe confiou, proclamando
a Boa Nova de Jesus ressuscitado com todo o desassombro e
coragem, que, só quem se sente verdadeiramente amado pelo Senhor, tem, apesar
de saber os riscos que corria.
“Naqueles
dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a
Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu
com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e
curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele.
Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém;
e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e
permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão
designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter
ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele
foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os
profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a
remissão dos pecados».”
Na 2ª
leitura (Col. 3, 1-4) S.Paulo reintroduz-nos
no nosso batismo, pelo qual recebemos o Espírito Santo e a garantia da
ressurreição. N’Ele somos exortados a viver conforme Jesus nos ensinou,
afeiçoando-nos às coisas do alto e não às da terra.
“Irmãos: Se
ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra,
sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando
Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de
manifestar com Ele na glória.”
No
Evangelho (Jo 20,1-9) acompanhamos, primeiro Maria Madalena e depois
João e Pedro na ida ao sepulcro, onde estava depositado o corpo de Jesus. As
reações são diferentes, mas, com maior ou menor dificuldade, cada um ao seu
jeito, acabam por acreditar que Jesus ressuscitou. Se, para alguns deles, que
tinham convivido diariamente com Jesus, foi difícil acreditar que Ele tinha
ressuscitado, não admira que, ainda hoje, haja muita gente que não acredite na
ressurreição de Cristo. Que, pelo nosso testemunho e oração, testemunhemos que
Jesus ressuscitou, está vivo, nos habita por inteiro e que o Seu Amor por cada
um de nós não tem fim.
“No primeiro
dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e
viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com
o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e
não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos
ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se,
correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou
também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no
chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as
ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara
primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a
Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.”
Senhor, eu te
louvo e bendigo por nos amares tão infinitamente. A ti o louvor a glória a
honra e o poder pelos séculos sem fim.
Queridos
irmãos e irmãs, Cristo ressuscitou!
Hoje proclamamos que Ele, o
Senhor da nossa vida, é «a ressurreição e a vida» (Jo 11, 25) do
mundo. É Páscoa, que significa «passagem», porque, em Jesus, realizou-se a
passagem decisiva da humanidade, ou seja, a passagem da morte à vida, do pecado
à graça, do medo à confiança, da desolação à comunhão. N’Ele, Senhor do tempo e
da história, quero, com o coração repleto de alegria, dizer a todos: feliz
Páscoa!
Seja ela para cada um de vós,
queridos irmãos e irmãs, em particular para os doentes e os pobres, os idosos e
quantos atravessam momentos de provação e dificuldade, uma passagem da
tribulação à consolação. Não estamos sozinhos: Jesus, o Vivente, está connosco
para sempre. Alegrem-se a Igreja e o mundo, porque hoje as nossas esperanças já
não se quebram contra o muro da morte, mas o Senhor abriu-nos uma ponte para a
vida. Sim, irmãos e irmãs! Na Páscoa, mudaram as sortes do mundo, e hoje (dia
que coincide com a data mais provável da ressurreição de Cristo) podemos
alegrar-nos de celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da
história.
Cristo ressuscitou, ressuscitou
verdadeiramente: como se proclama nas Igrejas do Oriente. O termo verdadeiramente diz-nos
que a esperança não é uma ilusão; é verdade! E que, a partir da Páscoa, o
caminho da humanidade assinalado pela esperança é percorrido com passo mais
rápido. Assim no-lo mostram, com o seu exemplo, as primeiras testemunhas da
Ressurreição. Os Evangelhos narram aquela pressa boa com que, no dia de Páscoa,
«as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos» (Mt 28, 8). E
ainda que Maria de Magdala, «correndo, foi ter com Simão Pedro» (Jo 20,
2); e em seguida João e o próprio Pedro «corriam os dois juntos» (20, 4) para
chegar ao lugar onde Jesus estivera sepultado. E ao entardecer daquele dia de
Páscoa, depois de terem encontrado o Ressuscitado no caminho para Emaús, os
dois discípulos «voltaram imediatamente para Jerusalém» (Lc 24, 33)
percorrendo a toda a pressa vários quilómetros em subida e na escuridão da
noite, movidos pela alegria irrefreável da Páscoa que inflamava os seus
corações (cf. 24, 32). A mesma alegria pela qual Pedro, ao ver Jesus
ressuscitado nas margens do lago da Galileia, não pôde demorar-se no barco com
os outros, mas lançou-se logo à água nadando velozmente ao encontro d’Ele
(cf. Jo 21, 7). Em suma, na Páscoa, acelera-se o passo na
caminhada que se torna uma corrida, porque a humanidade vê a meta do seu
percurso, o sentido do seu destino, Jesus Cristo, e é chamada a apressar-se ao
encontro d’Ele, esperança do mundo.
Apressemo-nos, também nós, a
crescer num caminho de confiança recíproca: confiança entre as pessoas, entre
os povos e as nações. Deixemo-nos surpreender pelo anúncio feliz da Páscoa,
pela luz que ilumina as trevas e obscuridades em que demasiadas vezes se
encontra envolvido o mundo.
Apressemo-nos a superar os
conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados.
Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade. Alegremo-nos com os
sinais concretos de esperança que nos chegam de tantos países, a começar daqueles
que oferecem assistência e hospitalidade a quantos fogem da guerra e da
pobreza.
Entretanto, ao longo do
caminho, há ainda muitas pedras de tropeço, que tornam árduo e fadigoso este
apressarmo-nos para o Ressuscitado. Supliquemos-Lhe: Ajudai-nos a correr ao
vosso encontro! Ajudai-nos a abrir os nossos corações!
Ajudai o amado povo ucraniano
no caminho para a paz, e derramai a luz pascal sobre o povo russo. Confortai os
feridos e quantos perderam os seus entes queridos por causa da guerra e fazei
que os prisioneiros possam voltar sãos e salvos para as suas famílias. Abri os
corações de toda a Comunidade Internacional para que se esforcem por fazer
cessar esta guerra e todos os conflitos que ensanguentam o mundo, a começar
pela Síria, que ainda espera a paz. Sustentai quantos foram atingidos pelo
violento terremoto na Turquia e na própria Síria. Rezemos por aqueles que
perderam familiares e amigos e ficaram sem casa: possam receber conforto de
Deus e ajuda da família das nações.
Neste dia confiamo-Vos, Senhor,
a cidade de Jerusalém, primeira testemunha da vossa Ressurreição. Expresso
profunda preocupação com os ataques dos últimos dias que ameaçam o desejado
clima de confiança e respeito mútuo, necessário para se retomar o diálogo entre
israelenses e palestinos, de modo que a paz reine na Cidade Santa e em toda a
região.
Ajudai, Senhor, o Líbano, ainda
à procura de estabilidade e unidade, para que supere as divisões e todos os
cidadãos trabalhem, juntos, pelo bem comum do país.
Não Vos esqueçais do querido
povo da Tunísia, especialmente dos jovens e daqueles que sofrem por causa dos
problemas sociais e económicos, a fim de não perder a esperança e colaborar na
construção dum futuro de paz e fraternidade.
Olhai para o Haiti, que há
vários anos está a sofrer uma grave crise sociopolítica e humanitária, e
sustentai o empenho dos atores políticos e da Comunidade Internacional na busca
duma solução definitiva para os inúmeros problemas que afligem aquela população
tão atribulada.
Consolidai os processos de paz
e reconciliação empreendidos na Etiópia e no Sudão do Sul e fazei cessar as
violências na República Democrática do Congo.
Sustentai, Senhor, as
comunidades cristãs que hoje celebram a Páscoa em circunstâncias particulares,
como sucede na Nicarágua e na Eritreia, e lembrai-Vos de todos aqueles a quem é
impedido professar, livre e publicamente, a sua fé. Dai conforto às vítimas do
terrorismo internacional, especialmente no Burkina Faso, Mali, Moçambique e
Nigéria.
Ajudai o Myanmar a percorrer
caminhos de paz e iluminai os corações dos responsáveis para que o martirizado
povo roynga encontre justiça.
Confortai os refugiados, os
deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais
vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os
efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão.
Inspirai, Senhor, os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher
seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito
dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais, se procure
sempre e só o bem comum dos cidadãos, se garanta a segurança e as condições
necessárias para o diálogo e a convivência pacífica.
Irmãos, irmãs, voltemos também
nós a encontrar o gosto do caminho, aceleremos o pulsar da esperança,
saboreemos a beleza do Céu! Tiremos deste Dia as energias para continuar ao
encontro do Bem que não desilude. E, se «o maior pecado – como escreveu um antigo
Padre – é não acreditar nas energias da Ressurreição» (Santo Isaac de
Nínive, Sermões ascéticos, I, 5), hoje acreditemos! «Sim, temos a
certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou» (Sequência). Acreditamos em
Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho
continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a
nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: «A paz esteja convosco» (Jo 20,19.21)
Papa Francisco
( Mensagem Urbi et Orbi, 9 de abril de 2023)